sábado, 12 de outubro de 2013

Homenagem a Fernanda Ramos - Rafael e Bernardo sobre a Avó


Do neto Rafael Ramos Pimenta

 Vovó Fernanda hoje nos deixou... ficara a saudade de uma avo que esteve sempre presente, líder nata, que sobretudo amou intensamente os seus amigos e a sua família, que tinha sempre uma opinião formada na ponta da língua sobre qualquer assunto que fosse e que defendia com unhas e dentes a moral e os bons costumes. Generosa, solidaria, carinhosa e sobretudo forte. Forca essa que usou ate quando pode para estar presente connosco e se despedir. A senhora n conseguiria sobreviver fraca e dependente, esse não seria o seu mundo. Qtas coisas a senhora me ensinou, qtos broncas, qtos conselhos e qto fui ajudado em todos os sentidos qd precisei e a todos que a te procuravam. Estou muito triste pela perda da senhora, mas eternamente agradecido a deus por ter sido seu neto e por tudo. Vai com Deus...um bjo



Do neto Bernardo Ramos Trindade


Se eu iniciasse a descrição de Vovó Fernanda sem que soubessem a quem eu  estava me referindo, achariam que eu estaria descrevendo uma pessoa no auge dos seus 30/40 anos de idade.

Ao mesmo tempo, se eu tivesse que pensar aqui nas características de uma avó, daquelas típicas de contos e filmes, que fazem doces e contam estórias para seus netinhos, jamais conseguiria descrever minha avó.

Ela era assim, única. Extremamente moderna em seus atos, pensamentos e conselhos, mas também incrivelmente conservadora em seus valores, conceitos e regras.

Uma Senhora que nos meados de seus setenta anos resolveu que tinha mais um sonho, o de ter um hotel. E, contra tudo e contra todos, conseguiu realizá-lo. Realizou como se fosse uma jovem empreendedora, investindo, ali no seu sonho, todas as suas forças e energias. E mesmo nos seus últimos dias, já quase sem forças, queria saber quantos hóspedes tinham, quantos saíram e quais suítes estavam ocupadas. Uma energia, uma vontade de viver, inigualável.

Recordo-me um dia de chegar na fazenda com um amigo meu e ela estava no telefone discutindo com o Google sobre a postagem da página do hotel no site de busca, já que o Cadê não havia cobrado nada para postá-lo. Meu amigo achou aquilo incrível, e eu também, pois naquela idade quem acreditaria que ela entenderia de internet e quanto menos que estaria discutindo com um site o porquê de cobrarem a postagem da página do seu hotel na internet.

Lembro-me dela gozando minha irmã, pois nos chamou para sair e minha irmã disse estar cansada. Ela disse "você está mais velha que eu, eu saio todos os dias à noite e não estou a reclamar de cansaço".

Vovó Fernanda era assim, saia todos os dias para seus inúmeros compromissos sociais, homenagens, festas, ou apenas para jogar conversa fora. Conhecia a todos, os garçons, os prefeitos, os delegados, pessoas simples e pessoas importantes e mesmo com seu jeito durão tratava todas com muito carinho, de um jeito que era só seu. Onde quer que fossemos era visível o tanto que todos gostavam dela.

Olhando assim, poderíamos achar que uma mulher tão atarefada não teria tempo para sua família, mas pelo contrário (acho que seu dia tinha 48 horas e não 24 como o nosso), sabia cada passo de cada pessoa da família, de norte ao sul do Brasil e mesmo fora do Brasil. Dava notícia de todos e se preocupava com cada um de nós, queria ajudar e opinar em tudo, era uma verdadeira matriarca, a maior que já conheci.

É Vó, se hoje somos pessoas do bem, honestas, justas, leais e com boa índole, muitos destes valores devemos à Senhora. Mas dentre estes valores, Vó, a Senhora nos ensinou um valor ainda maior, o valor da família, e este nunca esquecerei e espero que ninguém se esqueça. Mesmo com seus familiares uns mais distantes que os outros a Senhora conseguiu nos manter assim, unidos.

Sentirei muitas saudades de sair do trabalho e passar na sua casa para lanchar, dos almoços de domingo, de irmos à fazenda em julho, de conversar com a Senhora. A saudade é realmente grande, mas maior ainda é a gratidão por ter vivido todos estes momentos ao seu lado.

No dia do seu enterro o Zé disse ao meu lado "Olha que pôr do sol lindo que mamãe vai ser enterrada". E era lindo mesmo! Nada mais digno para a Senhora. No entanto, vi naquele pôr do sol mais que beleza, vi que ele significava exatamente o que acabara de ocorrer em nossas vidas. A Senhora era nosso pôr do sol daquele dia, que deixava de brilhar aqui na Terra, mas que brilhará sempre, no céu e em nossos corações.

Te amo Vó, obrigado por tudo. Vá em paz e que Deus a acompanhe.


Um beijo. Bê.



Um Casal Inesquecível

27/07/2012 - 20h40m
Ruth Tupinambá Graça

A poeira dos tempos cobre os fatos com o manto do esquecimento. Mas uma velha que vive debruçada sobre o passado, com seu espanador indiscreto, remove as tecidas teias de aranha, pondo em evidência o que aconteceu.

Numa tarde de sol, quando Montes Claros era apenas uma cidadezinha do interior longe da /civilização e esquecida, plantada no coração das Gerais e o trenzinho de ferro nosso melhor e único transporte trazia sempre muita gente boa , certa vez trouxe um guapo rapaz de cabelos pretos pele e olhos claros (característica do estrangeiro ) boa postura, que vinha como um bravo desbravador lusitano, deixando transparecer em seu rosto bem jovem, grande coragem, força de vontade e energia., característica de sua raça. Eu me lembro perfeitamente, era também jovem, estudante naquele “Casarão” decadente, prédio da antiga Fafil, mas muito acolhedor, e entre a camaradagem das colegas ávidas de “novidades e fofocas” ouvi este comentário: _”Fiquem sabendo que chegou um português para as “Casas Pernambucanas”. Veio como gerente da mesma e é um tipo para ninguém botar defeito. Bom partido e se chama Arthur Loureiro Ramos”.

Na simplicidade de expressão sem maldade e no entusiasmo da juventude a colega lançou uma “bomba”!

Naquele tempo em que as “Evas” se queixavam da falta de “Adão” na nossa cidade, poderão imaginar o que significava aquela noticia alviçareira.

E coitado do Português !...

As candidatas se alvoroçaram cheias de pretensões numa disputa ferrenha.

Ele tornou-se logo conhecido. Era bonito, elegante, forte e muito educado. Frequentava os “saraus” e as festas em casa das famílias (não existiam Clubes Sociais em nossa cidade) dançava muito bem, cantava “fados” com bonita voz, e isto mais encabulava as donzelas da nossa sociedade.

Adaptou-se logo no meio comercial e possuindo experiências dos grandes centros civilizados se estabeleceu por contra própria, fundando a grande loja “Casa Ramos” o melhor e maior estabelecimento comercial de nossa terra com as mais modernas mercadorias. Trabalhador e simpático

Conquistou logo a freguesia e todos o chamavam Seu Ramos. Trouxe para nossa terra os dois irmãos José e Antônio Ramos e os três juntos ficaram famosos dominaram o comercio enriqueceram. Mais tarde seu Ramos sentindo saudade da família foi passar suas férias em Portugal.

E o que aconteceu para surpresa de todos?

Meses depois Seu Ramos chegou em Montes Claros casado com uma bonita portuguesinha.

Foi aquele comentário...todos queriam tirar a limpo como aquilo acontecera pois ele deixara aqui uma namorada que o esperava com muita saudade

Mas ele se apaixonou pela Fernanda. Foi amor a primeira vista. Casaram-se e ainda na “lua de mel” vieram para Montes Claros. Todos aqui estavam ansiosos para conhecer a esposa de Seu Ramos pois aqui era raríssimo se aportar um estrangeiro.

Naquela época ainda existia a Igrejinha do Rosário, na Praça Portugal e lá eu assistia a missa aos domingos. Numa dessas manhãs eu estava contritamente rezando o terço (antes de começar a missa )quando uma senhora, ao meu lado virou para a companheira e disse:

—“Olha quem está entrando, é a portuguesa esposa do Seu Ramos !..

Eu levantei os olhos e vi realmente uma mulher diferente.

Ela entrou na Igreja percorrendo o espaço até o altar e com voz firme com o sotaque estrangeiro ela cumprimentou o Padre Marcos que era o vigário da nossa .Paróquia. Ele estendeu-lhe a mão e a conduziu até o banco mais próximo do altar. Todos admiraram aquele procedimento da Portuguesa, pois não era costume nosso cumprimentar o Padre no altar. Ela continuou piedosamente assistindo a missa como se nada tivesse acontecido.

Quando saiu pude observá-la. Era uma mulher bastante nova, pele muito clara olhos esverdeados e uma cabeleira cor de mel emoldurando o seu rosto muito corado. Era realmente uma mulher muito bonita e elegante., num traje simples de legitima portuguesa: saia comprida e um autentico xale de estamparia alegre cobria-lhe graciosamente o busto.

Com passos firmes ela saiu pela mesma entrada e o Seu Ramos a esperava na porta com um sorriso. Foi um encontro tão bonito!...

Eu que acompanhei toda aquela cena, vi que se tratava de uma pessoa muito especial: Era a Fernanda recém-chegada a nossa terra e constatei logo que o Seu Ramos fizera uma excelente escolha.

Pensávamos que ela não se acostumaria em nossa terra, trocar Portugal pelo nosso sertão mineiro tão pobre e sem conforto!...

Mas o amor vence tudo e só o amor constrói. Ao lado do marido ela se adaptou ao nosso meio tornando-se uma verdadeira filha de Montes Claros, uma filha dedicada e sincera durante toda a sua vida.

Eu me casei e fui morar justamente na Praça Portugal onde o casal morava. Tive a felicidade de conviver com a Fernanda e nos tornamos amigas. Os deveres e trabalhos do casamento, a criação dos filhos as exigências da família tornaram-na mais madura . Era agora uma mulher decidida e muito forte nas suas decisões . Inteligente tinha o jeito durão da matriarca, mas possuía um coração de manteiga. Enérgica, positiva mas muito sincera. Embora eu fosse mais velha seus conselhos muito me valeram., nas nossas trocas de experiências de esposa e mãe.

Fernanda era uma mulher dinâmica e sabia administrar e enquanto criava e educava seus nove filhos colaborava com o marido nos negócios e nunca deixou de se interessar pelos problemas políticos, sociais e religiosos da. nossa terra. Soube amar sem medidas, servir sem limites a quem dela necessitasse. Por onde andou plantou carinho, amor, compreensão e outros valores.

Hoje Montes Claros está de luto! Chora com saudade a sua falta

Vá em paz Fernanda !

La no céu encontrará a recompensa, colhendo a mãos cheias, o que você plantou aqui na terra!

(Texto publicado em homenagem a Fernanda Ramos, Cônsul de Portugal, que faleceu no mês de junho)

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