domingo, 26 de abril de 2015

DOUTORA ILDA JANUÁRIO

UMA MULHER IMIGRANTE COMO TANTAS OUTRAS

Universidade de Toronto e CRIA – Universidade Nova de Lisboa

(Instalação)

Ilda Januário

14 de outubro de 2014

Tivemos o prazer, como comunidade, de ter em Toronto a visita das dirigentes da Associação

Mulher Migrante para celebrar o 40º aniversário da Revolução dos Cravos, na Universidade de

Toronto. Este evento deu-nos a oportunidade de pensar em algumas iniciativas para

apresentarmos aos estudantes e ao público luso-canadiano em geral.

Como pesquisadora que tem feito desde 1980 centenas de entrevistas com homens e mulheres

imigrantes, e não só, decidi escolher uma delas, muito pertinente, para acompanhar uma

modesta instalação preparada com objetos e fotos. Antes de dar a palavra a esta mulher

imigrante já falecida, passarei a enumerar os seus dados biográficos mais importantes:

 Nasceu em 1920, no Continente, filha de lavrador abastado. Tinha uma irmã

 Casou por procuração em 1947 e foi juntar-se ao marido nos Açores, onde teve os filhos

 Era dona de casa e o marido controlador aéreo

 O marido emigrou para o Canadá em 1961, aos 40 anos de idade

 A entrevistada chegou a Montreal, em 1966, aos 46 anos de idade, com dois filhos

adolescentes. O mau relacionamento conjugal ocasionou-lhe um esgotamento nervoso

 Trabalhou durante alguns anos num atelier de chapelaria e depois num laboratório a

encher frascos de comprimidos. Adorou estas experiências

 Separou-se em 1972 e passou a viver da pensão de alimentos, depois da assistência

social e, por fim, da pensão de reforma. Por vezes cuidava de crianças ao domicílio.

 Seu único luxo: passar o verão em Portugal na casa herdada dos pais

 Viveu o resto dos dias sozinha, sendo mulher de um homem só, como afirmava.

Candidatou-se a um apartamento subsidiado para idosos

  no Lar de Sta. Cruz de Montreal, onde residiu durante os derradeiros 20 anos de vida

  Durante a última década raramente saía de casa. Com o apoio do filho, foi cuidada por

senhoras portuguesas, que trabalhavam por turnos.

 Faleceu em 2008, aos 87 anos de idade. Repousa em paz no cemitério da sua aldeia.

Seguem-se as respostas dadas pela idosa no decorrer de uma entrevista feita no âmbito de um

projeto de pesquisa que teve lugar em Montreal no início dos anos 2000, tendo ela pouco mais

de 80 anos de idade. A entrevista foi gravada em cassete, transcrita e adaptada.

“Todo o homem tem duas mãos, como a mulher. Quanto a inteligência, dizem

que o homem tem um pensar mais forte e que às vezes a mulher é mais vaidosa com a

aparência e puxa mais para se embelezar e andar mais bem vestida, mas, a inteligência,

os dois a têm, um mais, outro menos, e às vezes a da mulher é superior à do homem. Os

dois sabem pensar e agir, um melhor ou pior do que o outro. Se um fala o que outro

pensa, é melhor.

Penso que se a mulher tem um marido bem-intencionado de trabalhar para a

casa e não estragar dinheiro, como o meu fazia, e a mulher vê essa qualidade no marido

para comprarem uma casa ou dar estudo aos filhos, ou ter um carro melhor para o bem

de todos, faz bem entregar os filhos pequenos a uma pessoa para os cuidar. Agora, se a

mulher vai ganhar o dia fora de casa, deixa os filhos mas vê que o marido gasta o

dinheiro mal gasto, então não deve trabalhar. Se ele não lhe der dinheiro para

sobreviver, que faça como eu, ponha-se ao fresco!

A pensão que ele me passou a dar [depois da separação] era só para mim,

porque eu já tinha mais de 50 anos e vivia doente, foi só por isso, enquanto ele

trabalhava e tinha saúde. Não ficou a dar nada aos filhos porque o menor ficou com ele

e a mais velha já trabalhava e tinha mais de 18 anos, e estudava.

Eu não gostava de ter trabalhado em Portugal, porque não valia a pena e porque

ele gastava o dinheiro com outras coisas, não para o bem de todos. Depois de um ano

de aqui chegar, que vi que ele não procedia bem, foi uma pena não me ter separado

imediatamente. Tinha mais saúde e melhores nervos, que estraguei ao lado dele

durante 6 anos. Tenho tido uma vida muito mais feliz desde que me separei e fiquei

numa casa sozinha. (…) Se tenho tido mais saúde, mais equilíbrio no sistema nervoso,

tinha trabalhado até à pensão de reforma porque os meus filhos já estavam grandes.

Em Portugal, eu era de classe média, porque os meus pais eram proprietários,

traziam pessoas a trabalhar e a gente estava mais em casa, já tínhamos um certo nível,

não éramos mandados, mandávamos.

Sou de classe média aqui, só vivo da minha reforma. Não tem nada a ver se sou

imigrante ou não. Porque quase todos aqui ou são imigrantes ou filhos de imigrantes.

Não me sinto desconsiderada por ser imigrante porque a maior percentagem são

imigrantes. É uma palavra vulgar. Nunca me ressinto disso.

Eu só gostava de ter tido uma casa aqui. Como tantos o fazem e chegam sem

nada! Nunca fui ajudada pelo meu marido e eu não ganhava muito. Se pudesse viver

tudo de novo, mudava não saber inglês e francês, porque me estraguei dos nervos.

Sempre puxei para ir à escola, mas a vida e os olhos também pioraram e, mesmo

dizendo às professoras para não me perguntarem para eu ler, era só para ouvir, porque

já não posso ler. Eu tinha vontade ardente de saber mas, estragada do sistema nervoso,

nunca consegui fazer. E a outra coisa que eu mudaria era a falta de comunicação com as

pessoas estrangeiras. Porque de resto, fico sempre pensativa: o que ele me diz? Isto

também enerva. Como me sentia só e triste, chegava-me para os portugueses, com

quem desabafava.

Gosto da comunidade portuguesa aqui: são muito trabalhadores e religiosos,

educam os filhos o melhor possível, eles transgridem mas não é por falta dos pais

quererem que sejam boas pessoas. Os portugueses são como todos os outros

imigrantes, nas outras comunidades também se fazem mexericos. Os portugueses são

dos que vão menos a tribunal. Mesmo os que trabalharam, muitos já estão na pensão

de reforma, como eu.

mesma maneira, não interessa a classe: trabalhar, poupar, guardar para amanhã, não

nos metermos em despesas e em dívidas. Eu estou naquela casa do governo [lar], onde

há só portuguesas e vejo que todas temos a mesma mentalidade.

que viviam mal e eu sei que foi assim. O Salazar não ia pedir às nações grandes para

nos emprestar ou dar, como fazem agora os ministros, por isso é que dizem mal dele

mas nesse tempo não se usava. Amanhava-se com a prata da casa. Depois do 25 de abril

é que se começou a fazer isso. Os ministros vão pedir dinheiro emprestado às nações

grandes, para eles e para os pobres.

instrução, eles eram ciumentos, ganhavam pouco mas Portugal que é das mais

pequenas nações, claro que não se vivia lá bem. E a gente vê que elas sofreram

bastante. Não é o meu caso, que vivi melhor em Portugal do que vivo aqui. Eu, no

tempo dos meus pais, vivi bem. Não luxava, nem estragava e tinha para vestir o que me

era preciso e aqui não me aconteceu isso, especialmente no calçar e no vestir.

mesmo com autorização. Não gosto de transgredir ordens ou o dinheiro de ninguém.

Com o meu marido era a mesma coisa. Eu sentia-me responsável pelos filhos, tinham

que se apresentar e muitas vezes não podia vesti-los nem calçá-los.

luxos e que nada leva com ela, ter o pão de cada dia e um pouco mais. (…) Os meus pais

pensavam igual, só que eles não se entendiam sobre o trabalho: vinha chuva, o milho

estava na eira, ela é que tinha culpa de o milho se molhar, porque o recolheu tarde de

mais, ela é que tinha culpas de tudo. Mas era assim o homem antigamente, pensava que

podia dizer o que queria e mandar tudo, podia falar e nada o afetava, mulher e filhas

tinham que se calar.

maneira, tem que trabalhar a mulher e o homem, tem que haver um grande

entendimento entre eles: a mulher a ver se o homem a está a explorar, o homem se a

mulher o está a explorar. Desejo felicidades a todas as mulheres porque eu agora estou

feliz, porque o recebo sozinha, gasto o que tenho que gastar e não dou satisfações a

ninguém. O tempo melhor da minha vida é este, apesar de estar doente, não estou

contrariada. ”

Os da nossa idade, criados no tempo de Salazar, pensamos quase todos da

A mulher portuguesa achou-se explorada no tempo de Salazar. Elas queixam-se

Algumas mulheres teriam sido mal tratadas, sim: a mentalidade era fraca, sem

No tempo do meu pai tinha que lhe ir pedir, não gostava de ir à carteira dele,

A pessoa deve pensar o melhor que pode sobre esta terra: não viver debaixo de

Por isso eu digo, agora é outra ordem de ideias, a vida agora está de outra

ANÁLISE DA ENTREVISTA

Se, por um lado, os temas que ressaltam exemplificam bem a visão comum que tiverem estas

mulheres imigradas de primeira geração - independentemente da classe social -, por outro

lado, a entrevistada teve uma tomada de consciência de cariz feminista que resultou da

emigração, da separação conjugal e do próprio amadurecimento pessoal. Passo a pôr em relevo

algumas destas constatações:

 Os dois géneros têm inteligência semelhante, embora por vezes desigual no casamento

 À mulher fica bem trabalhar fora de casa e dar os filhos a guardar, desde que haja um

plano comum para melhorar a economia familiar; caso contrário, a mulher deve ficar

em casa com os filhos

 Perante certos abusos dentro do casamento, deve optar por se separar

 A experiência de trabalho remunerado é libertadora

 A aprendizagem da língua ou línguas oficiais do país, tantas vezes descurada pelos

imigrantes portugueses, é necessária e desejável

 A comunidade portuguesa imigrante é digna de louvor e constituiu uma zona de

conforto e de apoio para os que emigram

 Ser imigrante no Canadá não é sentido como um estado de inferioridade

 Os imigrantes de classe média sentem por vezes maiores dificuldades de adaptação e

menor sucesso financeiro do que os de classe trabalhadora, nomeadamente no que diz

respeito à compra de casa

 As mulheres portuguesas foram marcadas pelo inegável machismo que se vivia no

tempo de Salazar. O antes e o depois da Revolução são resumidos sucintamente, tanto

do ponto de vista da condição das mulheres como da situação económica do país, ou

seja, a deplorável dependência de Portugal das grandes nações, no pós-revolução

 A terceira idade solitária pode ser vivida com conforto e satisfação, mesmo quando a

saúde falta, sobretudo se facilitada pelo acesso a alojamento subsidiado. Pode ser o

tempo de uma reflexão e tomada de consciência sobre o que a mulher se recusa a

tolerar ou aceitar quando era mais nova e tinha filhos a seu cargo.

A literatura sobre as migrações femininas pode confirmar estas constatações, que não

proponho passar em revista nesta comunicação. Nela, as palavras da entrevistada e a instalação

constituem as principais facetas que quis explorar no espaço que me foi dado no programa

deste encontro com as responsáveis da Associação Migrante, as Doutoras Manuela Aguiar e

A entrevista feita na terceira pessoa com esta mulher foi, afinal, aquela a quem tive a honra de

chamar mãe, Ilda Natária de Jesus, uma imigrante como tantas outras. Foi precisamente neste

dia, a 14 de outubro de 1961, que começou a saga dela, ao despedir-se do marido que emigrou

Convido-vos, então, a examinarem a pequena instalação que dará mais substância às palavras

que transcrevi e convosco partilhei. Como já foi investigado nas ciências sociais, o sentido da

leitura na página afeta a representação cultural do tempo: os eventos mais tardios são

representados à esquerda e os mais recentes à direita (Fuhrman & Boroditsky, 2010).*

(*) Fuhrman, O. & L. Boroditsky (2010). Cross-Cultural Differences in Mental Representations of

Time: Evidence From an Implicit Nonlinguistic Task. Cognitive Science 34 (2010) 1430–1451

Fotos 1 e 2: vista geral da instalação



Fotos 1, 2 e 3: Secções e legendas

Em terceiro plano: Peça de enxoval, foto da aldeia natal e poema do noivo (transcrito na página final).

Nos Açores, com o primeiro filho, em 1950

Em segundo plano: Mantilha, objetos religiosos e fotos:

com a irmã, em solteiras, e na casa dos vinte anos, já casadoira.

Em primeiro plano: missal, sendo a missa do domingo a principal distração da semana.

Peças expostas: camisa de noite, lençol e fronha de almofada em algodão.



As tarefas de solteira incluíram fazer o enxoval.

Em terceiro plano: Foto já referida e outra tirada antes da emigração, nos anos 1960: com os pais, irmã, tia, filhos e

O relógio invoca a passagem das gerações e o facto de que “O tempo tudo traz e tudo leva”

Em primeiro plano: bata branca para o trabalho no laboratório, que adorava; vestido e colar.

sobrinho em frente da casa da quinta. Foto da casa em Portugal.

Em segundo plano: Fotos com o primeiro neto no Canadá, e com o filho

Apesar da obesidade, caprichava no vestir e não dispensava o bâton.



Em terceiro plano: mala de mão e lenço favoritos, o chá Bekunis e derradeira foto com cartão de pêsames

Em segundo plano: Fotos do apartamento em Montreal (na horizontal) retratado com a sua máquina Polaroid.

Nos últimos anos o telefone passou a ser o seu único meio de comunicação com o mundo exterior.

Em primeiro plano: era excelente cozinheira e, enquanto pôde ler, recorria a esse clássico da culinária portuguesa,

Amava o Canadá e o seu apartamento em Montreal.

O Livro de Pantagruel, versão original de 1950; e ao livro de endereços.

Por fim, cinta inteira com a maioria dos seus óculos.

A forte miopia, a obesidade e o casamento infeliz (piorado pela emigração) agudizaram vários problemas de saúde.

A tensão alta tardiamente tratada e a degenerescência macular baixaram-lhe a visão para 25%. Foi o fim da sua

existência como mulher que reassumira a sua autonomia em contexto migratório.

Canção de amor

À menina Ilda Natária

Vai tecendo a renda

Do nosso enxoval

Com agulha de aço

E áureo dedal

Vai tecendo, vai

Meu bem, minha amada

Com meu coração

Que é branca meada

Olha meu amor,

Vai bordando bem

A roupa daqueles

De quem hás-de ser mãe

Toma lá minha alma,

Meu bem, minha amada

Faz dela que é branca

Uma branda almofada

Faz de mim se podes,

Um berço a embalar

Que trago a minh’alma

Sem poder parar

Tece, vai tecendo,

Minha real senhora,

Na roca, as estrigas,

De luar e aurora

Sapatinhos brancos

Tu hás-de tecer,

Ao luar dos olhos

Que te estão a ver.

E compondo irás,

Até de manhã,

A touquinha branca

Da mais fina lã;

Como assim também,

Muito de mansinho,

Os lençóis e as fraldas

Do mais branco linho

Vai tecendo enquanto

Eu fico a velar

Pra falar contigo

Para te animar

Dar-te o braço quando

Pra que dormir possa

Quem não pode mais

E ante novos céus

Rasgados, abertos

Contemplem pra sempre

Estes olhos meus

O mesmo que os anjos

Na visão de Deus.

Repoisar-te vais,

A. Vieira Januário in Samouco (1996)

28-08-1943 (p. 23-24)

Prof Doutora Maria Benedicta Monteiro MARIA LAMAS:Migrações para a Liberdade


Maria Lamas: Migrações para a liberdade
Maria Benedicta Vassalo Pereira Bastos Monteiro (ISCTE)
40 anos de migrações em liberdade é um título que por si só nos
convoca para o antes e para o depois do dia 25 de Abril: para o modo
como muitos portugueses se envolveram na defesa dessa liberdade tão
longamente negada, como para o modo como a conquista da
liberdade se traduziu nos múltiplos quotidianos da Democracia.
Defendo hoje a ideia de que as mulheres do nosso país, apesar do
enorme caminho andado desde que Portugal se tornou numa
Democracia, em 1974, continuam a precisar de mais atenção, de mais
cuidados, de mais respeito. Ou seja, continuam a merecer uma
tradução mais sólida e persistente das regras formais da Democracia em
formas que as libertem de todas as velhas servidões do
passado.
Merecem mais atenção, mais cuidado e mais respeito. Por parte de nós,
cidadãos. Por parte das instituições de governo da nação. Muitas
vezes por parte delas próprias.
Assim, lembrarei aqui como Maria Lamas, essa mulher torrejana (Torres
Novas, 6 de Outubro de 1893) dedicou a sua vida, que
inicialmente parecia burguesamente pacata, a grandes causas do mundo a
paz mundial ameaçada, a liberdade política e a educação das
mulheres. Para o fazer, cedo teve que se incluir no grupo das mulheres
migrantes, e como elas foi primeiro vigiada e perseguida no seu
país, nomeadamente desde 1945, e depois empurrada para outras
paragens, até poder reentrar em 1970 num Portugal já Marcelista,
quebrado por uma guerra colonial sem fim à vista, empobrecido e ignorante.
Agradeço o convite da Associação Mulher Migrante, e espero poder
contribuir para o que Maria Lamas esperaria também hoje se aqui
estivesse: celebrar os 40 anos da revolução de Abril, celebrar 40 anos
de liberdade cívica e política. E com essa celebração tomar
consciência da situação actual das Mulheres, como primeiro passo para
querer intervir nela, para de novo criar as condições para a
mudança necessária.
Foi a isso que dedicou a sua vida.
1. A educação das mulheres
A preocupação com a educação das mulheres chegou muito cedo na vida de
Maria da Conceição Vassallo e Silva, vinda da sua própria
experiência como jovem mulher apaixonada aos 17 anos, casada,
divorciada e separada em dois casamentos em pouco mais de 10
anos, sem armas para afrontar a vida, sem uma formação profissional e
com três filhas a seu cargo.
Essa preocupação veio também das suas intensas leituras, onde pôde
saber que noutras partes do mundo muitas mulheres estudavam,
trabalhavam, votavam, ganhavam a sua autonomia e o respeito da
sociedade: 'Procurava nos livros o que as pessoas com quem vivia me
não diziam da vida' (Lamas, M., 1949, O despertar de Sílvia; in As
Quatro Estações, vol.1, p. 18).
E veio finalmente da fase inicial da sua vida profissional, como
jornalista e como editora. Aí proliferam os contactos e colaboração
com
Escritores, Editoras e Jornalistas, que alargaram as suas
oportunidades de afirmação, como escritora e como militante cívica e
política: 'O
jornalismo foi a minha grande escola. Foi ele que me fez tomar
consciência da possibilidade de me exprimir escrevendo, dando-me
confiança para o fazer' diria Maria Lamas mais tarde.
O seu trabalho para a educação das mulheres, para a maternidade, para
a profissionalização e o respeito por si próprias, e ainda para a
intervenção activa na vida cívica e política, traduziu-se
progressivamente em reuniões, organização de exposições, escrita de
livros e de
artigos em jornais e revistas, convites a mulheres portuguesas e
estrangeiras para exporem os seus trabalhos.
De que falamos concretamente? Falamos de romances autobiográficos,
como 'O Caminho Luminoso', (1927) , 'Para Além do Amor'
(1935) ou a 'A Ilha Verde' (1938), onde se entrecruzam o mito do amor
romântico com pinceladas neo-realistas, em que a figura central
da mulher é retratada de forma polémica, buscando amores virginais e
simultaneamente afrontando relações amorosas difíceis e
heterodoxas: '...entre o sonho mais puro e a realidade mais cruel'.
(Ferreira, E. M., 2004, Cartas de Maria Lamas a Eugénio Ferreira, pp.
30-31. Porto, Companhia das Letras).
Falamos da direcção, durante 20 anos, da revista 'Modas & Bordados',
suplemento do jornal 'O Século'. Neste período, entre 1929 e 1947,
a sua profissão central é o jornalismo orientado para a vida e a
educação das mulheres.
Durante este longo período desenvolve a sua maturidade profissional e
cívica: cerca-se de colaboradores, cria uma coluna de correio
com as leitoras, publica notícias, obras e fotografias de mulheres
portuguesas e estrangeiras que se notabilizam como escritoras,
cientistas, artistas, empresárias, modelos e artesãs, propõe e ensina
actividades culturais e desportivas, a par de actividades
domésticas de saúde, alimentação, moda, lazer e de educação dos filhos.
É ao longo destes anos de direcção da Revista que toma consciência da
pobreza física e educativa e do sofrimento calado em que muitas
mulheres vivem, do seu estatuto cívico de menores (o decreto que
concede o voto às mulheres, desde que tenham estudos secundários,
só é aprovado por Salazar em 1931), ignorando alternativas, amarradas
a um destino que uma forte simbiose entre o fascismo e o
catolicismo foram cristalizando em instituições, como a 'Obra das
Mães', ou a Mocidade Portuguesa Feminina; e onde a função social da
mulheres se fechava no círculo da organização da casa, da educação dos
filhos, e eventualmente de práticas de caridade e de
assistência social.
É para sacudir as mulheres desse torpor sem esperança que multiplica
os contactos e as iniciativas: cria novas revistas para crianças e
jovens, como 'A Joaninha', organiza exposições e eventos, de carácter
científico, literário e artístico, como o Ciclo de Conferências sobre
'As mulheres', que organiza com Manuela Porto, Sara Beirão e outras,
ou a exposição dos Tapetes de Arraiolos feitos por mulheres da
'Cadeia das Mónicas'.
No rescaldo da II Guerra Mundial e do desenvolvimento na Europa de
movimentos femininos de reconhecimento do papel das Mulheres
na resistência ao domínio dos países do Eixo, uma iniciativa de Maria
Lamas viria a adquirir um significado e um impacto que mudou a
sua trajectória profissional e a envolveu necessariamente na
resistência ao fascismo em Portugal. Tratou-se da 'Exposição de Livros
Escritos por Mulheres', que organizou em 1947, na Sociedade Nacional
de Belas Artes, em Lisboa, enquanto presidente do Conselho
Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), cujo catálogo incluía mais
de 2000 títulos de escritoras de 28 países da Europa, Ásia e
Américas. A exposição abriu no dia 4 de Janeiro, com uma conferência
proferida por Maria Lamas, explicando os objectivos da exposição
e do conselho a que presidia.
O encerramento da actividade do CNMP pelo Governo Civil de Lisboa, na
sequência desta exposição, constituiu o ponto de ruptura de
Maria Lamas com a Censura política pela ameaça directa à sua liberdade
profissional. Mas foi também o ponto de partida para a sua obra
de maior fôlego e que a notabilizou, não só nos meios académico e
literário, mas no meio político: 'As Mulheres do meu País'.
A publicação de 'As Mulheres do meu País', 'nascida da urgência e da
ofensa', foi o culminar de um enorme esforço e determinação para
superar, quer as dificuldades económicas resultantes da sua saída
forçada de Directora da Revista 'Modas e Bordados: Vida Feminina' do
jornal 'O Século', quer os recursos logísticos e de adaptação cultural
que aquele trabalho etnográfico de amplitude nacional envolvia,
quer a a ameaça constante da censura do regime. Alguns chamaram-lhe
'jornalismo de iniciativa', ou 'jornalismo-reportagem', o
jornalismo que consegue trazer para a luz do dia as vidas invisíveis
ou ocultas das 'minorias' grupos humanos subordinados, com pouco
controlo sobre o seu destino - normalmente ignoradas e estigmatizadas
pelo grupo dominante na sociedade. Neste caso, as mulheres.
O grande empreendimento em que se tornou a publicação de 'As Mulheres
do meu País' exigiu de Maria Lamas que se tornasse uma
migrante no seu próprio país. Percorreu todos os seus distritos,
continentais e insulares, não em busca dos protótipos de figuras
femininas e de festas folclóricas que então o regime divulgava como
símbolo do nacionalismo florescente, mas procurando registar os
múltiplos quotidianos das Mulheres, nomeadamente no trabalho rural e
urbano. O texto e as fotografias com que Maria Lamas registou o
que ouviu e observou ao longo de 2 anos, (muitas das fotografias são
hoje consideradas obras relevantes e representativas do neo-
realismo português), vistos hoje, à distância de 70 anos, tornam mais
saliente a sua figura determinada, consciente da responsabilidade
de representar as Mulheres portuguesas, e de com elas enfrentar a
ideologia da mulher doméstica, humilde e resignada que o regime
impunha.
2. A paz mundial e a liberdade política.
Chegamos então a Maria Lamas, Mulher lutadora, pelas mulheres, pelos
direitos cívicos, contra o regime da ditadura e pela Paz. E
também, de novo, mulher migrante.
Maria Lamas torna-se consciente do progressivo isolamento de Portugal
em relação às democracias europeias, e dedica a maior parte
dos anos a partir do pós-guerra a defender as causas da liberdade
política, dos direitos das mulheres e da paz no mundo.
Aceita fazer conferências, escrever artigos em Jornais, adere a
Associações para a paz, nacionais e estrangeiras, representa Portugal
em
conferências internacionais, faz crónicas para a 'Rádio Moscovo' (sob
o pseudónimo de Helena Torres).
Em 1946, por exemplo, representa Portugal, enquanto Presidente do
CNMP, no I Congresso Mundial das Mulheres, que reuniu mulheres
da Resistência, ex-detidas em campos de concentração nazis, como foi o
caso de Eugénie Cotton.
Volta a representar Portugal em 1948, no II Congresso da 'Federação
Democrática Internacional das Mulheres ́ (FDIM), entretanto criada.
Vêmo-la depois, em 1949, quando sai da prisão, ao lado de outros
ex-presos políticos como Pinto Rodrigues, Rui Luís Gomes, Virgínia
Moura, José Morgado, Albertino de Macedo, Pinto Gonçalves e António
Areosa Feio, todos signatários de um 'abaixo-assinado' contra a
instalação da Base Americana das Lages nos Açores.
Em 1950 faz a Conferência 'A paz e a vida' em Lisboa, no Museu João de
Deus, e uma outra no Porto, no 15o aniversário da Associação
Feminina para a Paz, onde afirma: 'A batalha da vida é a batalha da
Paz'. É de novo presa meses depois, em 18 de Julho, por sentença do
Tribunal, sendo libertada em Janeiro de 51.
Em 1952 participa no Congresso dos Povos para a Paz, em Viena, e em
1953, está de novo a representar Portugal no III Congresso Mundial
das Mulheres em Copenhaga.
Em 1962 participa, em Moscovo, na 'Conferência sobre Desarmamento
Geral', o que comprometeu definitivamente a sua segurança em
Portugal. No regresso ao país, face à ameaça de prisão política pela
PIDE, a decisão está tomada: exilar-se-á em Paris, onde colaborará
com outros expatriados na luta contra a Ditadura.
Aí viveu, mulher migrante no Quartier Latin, Rue Cujas, no Grand Hotel
Saint Michel onde recebia ininterruptamente membros das
oposições ao regime - do grupo de Argel aos membros do Partido
Comunista na clandestinidade e aos desertores das guerras coloniais de
Portugal em África - jovens emigrados ao desamparo, amigos de Lisboa e
pessoas sozinhas a precisar de uma palavra.
Lembro-me de ver entrar Jorge Reis, António José Saraiva, Maria Nobre
Franco, José Carlos Ferreira de Almeida, João Freire, a Miriam e a
Teresa Rita Lopes, Helena Pato e Mário Neves, Eugénia Pereira de
Moura, Helena Neves e Maria Antónia Palla. Procuravam ajuda, mas
também lhe escreviam cartas e lhe traziam notícias, coisas suas, como
presentes: livros, pintura, gravura desenho, escultura,
fotografias, roupa, alimentos. Passavam, ficavam, partiam. Às
centenas. Iam passear com ela para o Jardim do Luxemburgo. Era a 'Avó
Maria ́. Que continuava a trabalhar nos intervalos nos seus projectos,
na sua correspondência e nas suas traduções, na pequena mesa
que tinha no quarto, dedilhando a máquina de escrever com estojo
verde, qua ainda hoje guardo comigo. Quem não leu, por exemplo, a
sua belíssima tradução de ́As Memórias de Adriano', de Marguerite Yourcenar?
Nós ficávamos também no Hotel. Em 1967 tínhamos ido frequentar,
através da Pragma, Associação Cultural, em Lisboa (que a PIDE viria
a encerrar algum tempo depois), primeiro um curso de formação em
Animação Cultural, e no ano seguinte, em pleno Junho quente de
1968, uma formação em Dinâmica de Grupos, ambos promovidos para
sindicalistas da CFDT. Mas nos intervalos saíamos com a Avó
Maria Lamas, esfomeados de bons filmes, de teatro, jornais e livros a
que não podíamos ter acesso em Portugal: Bunuel, Bergman,
Nicholas Ray, Fellini, Jean Cocteau, Elia Kazan, Fritz Lang, Murnau,
Claudel, Genet. Foi um deslumbramento que a companhia da Avó
Maria Lamas enriquecia com reflexões e comentários, de tal modo que os
seus 75 anos não era um peso, mas uma energia inesgotável e
que sempre nos surpreendia.
Em Paris, Maria Lamas continuou a sua actividade política. Em 1963,
estava na Mesa da Presidência do V Congresso Mundial das
Mulheres, em Moscovo, que reuniu 1400 delegadas de todo o mundo. Ao
seu lado, estavam Dolores Ibarrurri, a Passionária, Eugénie
Cotton, Marie Claude Couturier, heroína da resistência francesa, Gusta
Fuchikova, resistente checoslovaca e Valentina Teereskova,
primeira mulher cosmonauta a viajar no Cosmos.
De regresso a Portugal em 1969, na 'abertura' da Primavera Marcelista,
espera-a muita actividade, e é ainda antes da Revolução que é
homenageada por outras mulheres em Portugal. Em 1973 tem 80 anos.
O seu entusiasmo com a Revolução de Abril, em 1974, trouxe-a para a
rua, a desfilar no 1o de Maio ao lado da multidão. E uma das
actividades mais importantes foi o seu papel central, de novo em favor
das mulheres portuguesas, na criação do Movimento
Democrático de Mulheres, de que foi eleita Presidente Honorária em 1975.
A sua posição de Directora da revista 'Mulheres' criada pelo Movimento
em 1978 representou, antes de mais, para Maria Lamas, o
regresso à imprensa feminina, onde a sua vida profissional começara,
na defesa da educação das Mulheres, da liberdade política e da paz
mundial.
Maria Lamas morre em Lisboa em Dezembro de 1983, dois meses depois de
completar 90 anos.
Nesta dia de evocação de 40 anos de democracia e de migrações em
liberdade, relembrar Maria Lamas, Uma Escritora Portuguesa em
Luta pelas Mulheres do seu país, quero deixar esta mensagem de que é
preciso e urgente, como ela, não baixar os braços, mas continuar
a levantar a voz, a estudar velhos e novos problemas - como o das
trajectórias e trabalhos das mulheres das novas migrações. É preciso
ir
de novo ver como vivem e pensam as mulheres e os homens do nosso país.
Um trabalho já começado em dissertações de Mestrado, Teses de
Doutoramento, levantamentos estatísticos sistemáticos das condições
de vida dos portugueses, que espera pela nossa colaboração.


EM ESPINHO ACONTECEU

Com a presença das associadas da AEMM-Norte

As tertúlias da cooperativa Nascente

1 de Abril - 21.30:  Portugal Cais do mundo?
Convidada Drª Maria Manuela Aguiar. Moderador; Mestre Teixeira Lopes

III Bienal Internacional Mulheres d'Artes
25 de abril  FACE 16.00.
Participação de algumas das Artistas Plásticas que têm colaborado com a AEMM - e mulheres migrantes, como Ana del Rio e Ludmilla, Alvarenga Marques, Ana Maia, Ariadne Papucciu, Inês Abrantes, Ny Machado, Paula Robles, Setas Ferro,Yessica de Sousa

SITE DA AEMM

http://mulhermigrante.wix.com/mulher-migrante

Informação que acabamos de receber da Drª Rita Gomes, presidente da Direção da Mulher Migrante, responsável pela sua organização e conteúdos, a quem a "AEMM - Norte" felicita pela iniciativa.

Lançamento da publicação da AEMM (1974-2014: 40 anos de migrações em liberdade) no PORTO

22 de Abril, Café Guarani, 17.30-19.00

Num dos mais emblemáticos e antigos cafés da Baixa portuense, no ambiente informal de tertúlia, o primeiro lançamento da nova publicação da AEMM - publicação que constitui o relato possível do acontecido numa série de debates, em Portugal e em comunidades portuguesas do estrangeiro, sobre o significado da democratização da vida política no País, a partir da revolução de 1974, sobre a sua projeção nas políticas de emigração, no relacionamento com os cidadãos e as instituições da "Diáspora"..
Nesses debates, em auditórios de Universidades - Berkeley, Universidade Aberta de Lisboa, Sorbonne, Toronto - de escolas do ensino secundário - em Espinho, em Elizabeth, New Jersey - do MNE, dos Municípios de Gaia e de Espinho, houve muitas oportunidades de ouvir mulheres e homens sobre o quadro geral do fenómeno migratório, assim como sobre a evolução do papel das mulheres nos movimentos de expatriação e de retorno e no movimento associativo: partindo da história e da memória de sucessivas gerações até aos dias de hoje, com a avaliação da dimensão atual do fenómeno, da sua componente feminina, das novas formas de associativismo e de vivência das relações com as sociedades de origem e de destino.
No Guarany, muitas participantes, e alguns participantes também, dialogaram sobre o renascimento da democracia em Portugal e a sua projeção no domínio das migrações de saída e regresso.
Moderou, como sempre muito bem, Nassalete Miranda, começando rigorosamente às 17.30 e terminando, como previsto, um pouco depois das 19.00. Foram cerca de 100 minutos de conversa animada, que passaram depressa demais. Mas todos terão ocasião de falar do que ainda ficou por dizer na próxima apresentação, em Espinho, na Biblioteca José Marmelo e Silva, no dia 13 de maio às 16.00.
No Porto, estiveram as coordenadoras da publicação - Graça Guedes e Manuela Aguiar, tendo Arcelina Santiago enviado mensagem do Alto Minho, onde trabalho profissional a retinha,
Dos co-autores dos textos publicados, para além das dirigentes da AEMM, há a destacar a presença e intervenção do dr Amândio de Azevedo.
Entre as animadoras da reunião, uma maioria de "mulheres d'artes", que têm colaborado, de uma forma contínua e admirável, com a Associação. E entre as entidades parceiras da AEMM, a presidente do Observatório dos Luso- descendentes, Drª Emmanuelle Afonso.
À despedida, um agradecimento especial para o Senhor Barrios, o nosso anfitrião - o antigo emigrante no Brasil, que veio para o Porto, restituir à cidade os seus mais belos cafés - o Majestic, o Guarany, onde renasceu o ambiente, o espírito do "café-tertúlia".

terça-feira, 21 de abril de 2015

MUTU GRANDI MERSEH JOAN

Mutu Grandi Merseh Manuela. Onti pos jah lebah pra yo libru Mulher Migrante ( 1974 -2014 40 Anos de Migracoes em Liberdade) Korsang yo fikah mutu allegrih pra olah na pg 103 yosa email kung bos ki falah nos sa encontra na Melaka kung jah fikah yo sa kambradu teng binti seti anu. Mas bos sa saportah kung inspirah kung yo fikah ung skribang pra dokumentah ' Papiah Kristang' Ozindia yo fikah gabadu pra falah agora yo jah publikah tres libru na Linggu Papiah Kristang. Yo lo kontinua isti sibrisu pra skribeh Linggu Kristang pra mas tantu anu, ateh teng jenti kristang idadi ka mas krensa di yo sigih skribeh kung kontinua yosa sibrisu ki yo tantu amor. Masembes, mutu grandi merseh pra tudu ki bos jah fazeh pra yo.

English Translation:

Thank you so much Manuela. Yesterday, the Post brought me the Migrant Women Report - 1974-2014 ( 40 years of Freedom Migration) I was filled with happiness to note of an email article from me on Page 103. It related of our 1st Meeting in Melaka in 1988 when I was introduced to you by Rev. Fr. M. J. Pintado. Photos show of our 2nd. Meeting at the Marbeck Family Home Museum in 1996. Our collaboration, your support and inspiration in my work of Reviving the Language and Culture has seen me publish 3 books in the Papiah Kristang language. I shall continue with this work of documenting the Papiah Kristang Language and Heritage as long as I am able to do so and until there are others especially the younger generation of Eurasians who will continue with interest and passion the work on our Heritage, Language and Culture for the future. Once more let me say a big Thank you for all you have done for me and the Eurasians of Malaysia.
 
Nóe é que temos de agradecer a Joan tudo quanto vem fazendo e vai continuar a fazer pela lusofonia no Oriente. Que bela é esta língua antiga que nos une ainda no século XXI! A "Lnggu Kristang"!

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sobre o 2º Congresso da Mulher Migrante na Venezuela



Para a Associação Mulher Migrante, cuja primeira missão é mobilizar as portuguesas para participação cívica em todo o mundo, tem um enorme significado a filiação da Mulher Migrante na Venezuela nas suas estruturas e projectos, em perfeita sintonia de valores, propósitos e práticas.
É uma aliança com um poderoso movimento emergente, a que, através dos nossos programas de acção nos vários continentes, temos dado visibilidade, como exemplo de dinamismo e de vontade de transformar as sociedades em que vivemos, num novo milénio. Vamos crescer em conjunto, partilhando caminho com associações portuguesas dispersas da nossa Diáspora, que ganham em se conhecer e inspirar mutuamente!
De longe, geograficamente, mas de perto, com um sentimento de regozijo e de orgulho, acompanhámos este 2º Congresso, através das informações que nos chegaram pela internet e nos mantiveram a par da marcha da sua excelente organização, do primeiro ao último momento. Sabemos que constituiu uma manifestação impressionante da capacidade de pensar o futuro e de interagir coletivamente das suas participantes. E não tratando só aqueles temas que dantes se consideravam específicos de um “círculo feminino”, estreito e fechado, mas dos que respeitam às comunidades como um todo, às realidades do país em que estão e do país de onde vieram, nos quais exigem ter opinião e influência e exercer direitos iguais, para melhor cumprirem os seus deveres da cidadãs.
A Portugalidade na Venezuela está naturalmente enraizada nos sentimentos de pertença, que as mulheres sabem transmitir a partir do núcleo familiar e, cada vez mais, também através da tessitura associativa, desenvolvida com enfoque no campo cultural e social, sem segregação de género ou de geração. Nos dois Congressos da Mulher Migrante ocorridos em Caracas, deram, efetivamente, provas de uma grande abertura à colaboração entre todos. Esse desígnio de abrangência, de ir ao encontro dos outros, de dar atenção ao bem estar geral, reflete-se, de um modo muito claro e direto, no conteúdo do relatório, conclusões e propostas do Congresso. No centro das preocupações estão matérias como: o ensino da língua; o enaltecimento do “ser português”; a indispensabilidade de entrar no domínio das novas tecnologias, nas redes sociais; a renovação do associativismo, chamando os mais excluídos, os jovens e as mulheres; a urgente reestruturação do CCP (o Conselho das Comunidades Portuguesas); a necessidade de formação e intercâmbios no domínio das artes, do teatro, dos ”media”. Ao governo lembram a obrigação de corresponder e apoiar os esforços da sociedade civil, que tanto vem fazendo na Venezuela. Todavia, não deixam, ao mesmo tempo, de denunciar os preconceitos contra as mulheres no universo das agremiações existentes, por parte de alguns dirigentes, que continuam a negar a evidência das aptidões femininas na gestão da “res publica – e a afasta-las dos órgãos diretivos.
Esta abordagem coincide, em absoluto, com a que presidiu aos primeiros ensaios de uma política de género no espaço das comunidades do estrangeiro, que começou com a convocação de um Encontro Mundial de “Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo”, em 1985, (tornando Portugal o precursor num domínio onde nunca um país de emigração havia levado a cabo reunião semelhante, com o fim de promover a participação feminina).
Foi há precisamente 30 anos! Já então as notáveis portuguesas que deram rumo e futuro a esse Encontro se não limitaram a considerar a sua própria situação. Pronunciaram-se tanto sobre o papel imprescindível das mulheres como mediadoras da integração familiar e guardiãs da nossa cultura e tradições no estrangeiro, como sobre as questões gerais e as prioridades políticas no apoio às suas comunidades, precisamente como tem sucedido nos recentes congressos da Mulher Migrante da Venezuela.
As pioneiras do dirigismo associativo e do jornalismo, na década de 80, pretendiam estabelecer uma plataforma em que pudessem dar continuidade aos trabalhos então entusiasticamente iniciados, mas isso não foi possível no imediato… Decorreram alguns anos até que, em 1993, nasceu em Lisboa, com algumas das protagonistas do Encontro Mundial e com a mesma finalidade, a Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade. Uma designação tão lata permite-lhe atuar em várias frentes, como tem feito, ao longo de mais de 20 anos, colocando o enfoque nas migrações, no estudo e na luta contra o fenómeno da discriminação das mulheres, dos estrangeiros, das minorias étnicas, dos jovens, dos seniores…. Isto é, tendo começado na solidariedade e cooperação “com” as mulheres, continuou na solidariedade e cooperação “das” mulheres para com todos os excluídos. Por isso, escolheu como lema esta frase lapidar: “não há estrangeiros numa sociedade que vive os Direitos Humanos”. Assume, assim, o multiforme combate por uma verdadeira democracia, que não deixe ninguém de fora…
Olhando a história deste movimento em que nos integramos, pugnando por mais humanidade e mais cidadania, é de realçar um facto por demais esquecido: foi no CCP que ele nasceu como ideia, em 1984, por proposta de uma das primeiras mulheres que nele tiveram assento (a jornalista de Toronto, Maria Alice Ribeiro). Uma recomendação aprovada consensualmente na reunião do CCP da América do Norte, teve sequência logo no ano seguinte, na convocatória do 1º Encontro de Mulheres Portuguesas. Isso explica por que razão, o governo levou a cabo essa primeira audiência com as duas componentes principais do próprio Conselho, no seu modelo original dos anos 80: representantes eleitos de coletividades e jornalistas. Era uma primeira consulta ou audição de mulheres, que deveriam pertencer. mas não pertenciam, ao CCP, órgão consultivo quase 100% masculino . Essa ligação umbilical estava, por sinal, destinada a manter-se: a Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, por despacho de 21 de Abril de 1987, criou a “Conferência para a Promoção e Participação das Mulheres Migrantes”, a funcionar, com regularidade, na órbita do CCP (no contexto de uma reforma que instituía diversas Conferências, vistas como uma forma de alargar o âmbito do diálogo do Governo e dos próprios Conselheiros com setores importantes da sociedade).
O governo caiu escassos meses depois, o CCP entrou, entre 1988 e 1997, em longa hibernação, e, por isso, a reunião periódica das Portuguesas da Diáspora ficou no esquecimento. A meu ver, foi pena, porque teria antecipado o futuro!
Mas a ideia de avançar para um forum de cooperação internacional do associativismo feminino renasceu, foi incorporada nos planos da “Mulher Migrante” – à margem do CCP, é certo – e, através de uma parceria entre a Associação e a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, foram retomadas as politicas com a componente de género – primeiro através dos “Encontros para a Cidadania” (2005/2009), seguidamente com a realização de Encontros Mundiais e de conferências e colóquios temáticos (2011/2015)
É uma resposta firme à situação de desigualdade de participação que subsiste em muitas estruturas existentes na Diáspora. Permite às mulheres fazerem coisas diferentes, essenciais e admiráveis para o progresso das Comunidades. Talvez um dia seja prescindível, quando a igualdade for um dado adquirido, um dia que ainda não está na linha do horizonte... Mas já está conseguido, e é muito importante, um ambiente de forte cooperação, de integração do associativismo feminino num quadro global, em harmonioso relacionamento.
A metade invisível das comunidades, a feminina, apareceu nestas iniciativas do que chamamos “congressismo”, com enorme capacidade de inovação e generosidade. As portuguesas da Venezuela tem tido uma intervenção de primeiro plano nos encontros internacionais, como paradigma de modernidade e de polivalência, graças a um movimento que principiou e prossegue na área da beneficência e se estende agora à cultura, à convivialidade, com as famosas Academias da Espetada (combinando as vertentes lúdica e de bem-fazer) e ao combate pelos direitos de cidadania, sobretudo, com os grandes congressos da Mulher Migrante em Caracas.
No associativismo feminino, seguramente, e, cada vez mais, no geral ou misto, as portuguesas ou luso-venezuelanas estão hoje na vanguarda do mundo dinâmico das comunidades de cultura portuguesa.
É justo reconhece-lo! E felicitá-las, como faço, com muita admiração e amizade
 
 
A Secretária Geral da AEMM Prof Doutora Graça Sousa Guedes realizou. em 2015, várias reuniões de trabalho com o núcleo da AEMM no Recife e de lá trouxe propostas de um conjunto de iniciativas, que merecem inteiro aplauso das colegas dos diversos órgãos diretivos da Associação.
Após o início de colaboração com o Bloco "Folia das deusas"em 2013, no colóquio realizado no Gabinete de Leitura, com a participação de ilustres representantes do Governo do Estado de Pernambuco, da Prefeitura de Recife, do Gabinete Português de Leitura e outras instituições da Comunidade Portuguesa, do Cônsul honorário de Portugal e de Universidades brasileiras foi criado o núcleo local. Em Abril de 2014, na sua primeira iniciativa publica, levou a cabo, com brilhntismo, grandes comemorações do 40º aniversário do 25 de abril, de novo na sede do Gabinete de Leitura.
O programa agora delineado tem, pois, as melhores perpetivas de efetiva e eficiente concretização, Nele pomos as maiores esperanças, para prosseguir projetos como os das Academias Séniores, o das histórias de vida, que têm estado no centro das preocupações da AEMM.
Aqui se reproduz a proposta formalizada pela MM do Recife, através de Graça Guedes

 Exmas. Senhoras Dras. Maria Manuela Aguiar e Rita Gomes

Digmas. Presidentes da Assembleia Geral e da Direção da AECSMulher Migrante


Assunto: Projetos para o Recife


Na minha última ida ao Recife (Brasil) em Fevereiro p.p. e sem qualquer encargo financeiro para a nossa Associação, procurei articular com o Bloco Folia das Deusas (nossa associada) a possibilidade de novas programações para 2015 e na decorrência do êxito do Encontro Expressões Femininas de Cidadaniaorganizado por este grupo em Novembro de 2013 no Gabinete Português de Leitura dessa cidade, que pelo presente tenho a honra de transmitir.

1 – Acompanhada da Dra. Berta Guedes Santana, visitei o Gabinete Português de Leitura e entreguei dois exemplares da nossa publicação Entre Portuguesas – Associação Mulher Migrante 20 anos, que contém as Atas do Encontro do Recife e que mereceu o maior elogio pela qualidade do trabalho, realçando o êxito deste Encontro que deveria ter continuidade. O Gabinete agradeceu e disponibilizou-se para novos eventos que a nossa Associação pretenda realizar, informando que agora dispõem de um site (Gabinete Português de Leitura), onde ainda está o nosso Encontro e que propicia ampla divulgação da programação, que tem permitido aumentar significativamente a participação nos espetáculos que aí se realizam. Como é do vosso conhecimento, as condições logísticas são excelentes e dispõe também de um piano da cauda.

2 - Foi proposto ao Bloco Folia das Deusas que avançassem com o projeto lançado no Encontro de 2013 e relativo às Universidades Seniores, num modelo inter Blocos (dado o número elevado que existe no Recife, sobretudo vocacionados para os festejos de Carnaval, tais como o Bloco da Saudade – ver site, Eu Acho é Pouco, Pessoal da Igreja, Salvé é Mujoca, Os Sujos, Cansei De Ser Enganadé, Chutando O Balde, Esses Boy Tão Muito Doido, Carangueijo No Caçuá, Bebiricar, A Cobra, Cabra, Tropical Trend, Fura Olho, De Bar Em Bar, Mordida Daxota, Não Acredito Que Te Beijei, Selinho Não É Gaia, Bofes De Elite, Desmantelados, Faça Amor Não Faça Barba, Comigo É Na Base Do Beijo, Bicaldinhos, Enquanto Isso Na Sala Da Justiça, Gia, Barbas, Osoltamassa, Pega Vareta, Queirogada, Passaram A Perna, Cavalheira Na Ladeira, Ressaca, Cavalo Branco, Movido A Álcool, Peixe ) e também inter geracional, uma vez que envolvem não só os mais velhos, como também os mais novos, que semanalmente reúnem para treino dos seus cantares e danças.


Nesta perspetiva, o Bloco Folia das Deusas coordenaria a Universidade Sénior, envolvendo todos os Blocos e, cada um deles, aproveitando as especialidades e disponibilidades dos seus associados para serem Animadores/Docentes, organizaria a lecionação de temáticas escolhidas e adequadas às potencialidades de cada um dos docentes, ministradas nas suas sedes e, caso não tenham, no Gabinete Português de Leitura. Consequentemente, seria divulgada a calendarização, horário e local para os diferentes cursos.

3 – Foi proposto ao Bloco Folia das Deusas que considerasse a possibilidade de realizar um novo encontro intitulado Expressões Femininas de Cidadania – Histórias de vida no Estado de Pernambuco, para o qual seriam convidadas figuras importantes para falar (de si próprias ou de seus familiares), com recurso a todo o material fotográfico que possuam. Este evento seria também de lançamento deste projeto, para motivar mais depoimentos, mesmo que para tal se efetuem entrevistas para as quais a Dra. Berta Guedes Santana se disponibilizou.

Este evento seria aproveitado para o lançamento das nossas últimas edições e, sobretudo, de uma separata da edição de 2013 contendo o Encontro de Recife

Na esperança da melhor atenção a esta proposta e de apoios para a sua concretização, cumprimento com a maior amizade
Graça Sousa Guedes