quinta-feira, 27 de junho de 2019

GRAÇA GUEDES NA BIENAL DE GAIA


Diálogos na Bienal – Mulheres e Cidadania
Gaia, 12 de Junho de 2019


A MULHER NO MUNDO DO DESPORTO


    Prof. Doutora Maria da Graça Sousa Guedes
Professora Catedrática aposentada da Universidade do Porto
Presidente da Direção da Associação Mulher Migrante



INTRODUÇÃO


O comportamento social da mulher e o desenvolvimento dos mecanismos responsáveis pelo seu ajustamento, ocorre em função da cultura, que parece funcionar como elemento determinante do seu bem–estar.

A auto-estima e o auto-conceito da mulher ocidental, reflete o efeito de uma forte influência social, agindo como fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental.

As diferenças de género, bem impressas nas estruturas sociais e mentais (Bordieu, 1996), potenciam-se ainda hoje no âmbito da Atividade Física e do Desporto.

E a Escola, forja das novas gerações, considerando a pluralidade cultural que caracteriza o Desporto, tem vindo gradativamente a propiciar práticas de Atividade Física, não só na disciplina de Educação Física ministrada ao longo de todo o ensino Básico e Secundário, como também no Desporto Escolar, favorecendo assim a auto-estima e a competência, qualquer que seja o género, balizando criar uma Cultura Motora que favoreça a inclusão de práticas corporais no seu quotidiano que devem permanecer ao longo das suas vidas.


CORPORALIDADE VERSUS GÉNERO FEMININO

Na grande maioria das sociedades humanas, existe um desequilíbrio entre géneros: a mulher perceciona-se inferior ao homem no desempenho de papéis socialmente determinantes, ocasionando conflitos que interferem na sua auto-estima.

Segundo Fox (1998), é com frequência que as mulheres não têm confiança nas suas habilidades, quando se comparam com os homens, pelo que interfere na sua auto-confiança e na relação com o seu corpo, bem como nas expectativas das suas eficácias no Desporto.

A auto-estima e o auto-conceito da mulher ocidental, reflete o efeito de uma forte influência social, seguido como fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental.

É cada vez maior o número de mulheres que recorrem à prática de atividades físicas, com a finalidade de encontrarem o seu bem-estar psicológico e assim combaterem os efeitos de conflitos internos e de pressões causadas pelo modelo social, que se traduzem em ansiedade, depressão, folias, alterações negativas de humor, do auto-conceito e de auto-estima.

As diferenças de género, que estão bem impressas nas estruturas sociais e mentais (Bordieu, 1996), parecem potenciar-se no âmbito de Atividade Física e do Desporto.

Verifica-se o desenvolvimento de atitudes preconceituosas e de estereótipos de género, que são limitadores na construção de feminilidade e de masculinidade. Incutem, subtilmente, a ideia de uma imagem hegemónica masculina, expressa num padrão legítimo de masculinidade (Botelho Gomes et al., 2002)  

Ora é a Escola, forja das novas gerações, que tem de respeitar e de implementar os princípios de equidade, que assegurem justeza e justiça no processo educativo, dispondo para tal da pluralidade cultural que caracteriza o Desporto, mas que e segundo Thoberge (1991), mantém uma irrisória mentalidade na construção dos géneros.

Esta falha relativamente à importância do Desporto, lidando com os alunos e as alunas da mesma maneira, numa errónea suposição de que assim se atinge a justiça e a igualdade de oportunidades, tem inquinado a Educação, muito embora as novas políticas evidenciem um gradativo aumento da valorização da Educação Física e do Desporto, agora obrigatória ao longo de todo o ensino Básico e Secundário.

A Atividade Física e o Desporto devem propiciar a auto-estima e a competência, mas percebida pelos alunos e pelas alunas, de modo a que todos, não importa o género, vejam estas práticas corporais como atividades incluídas no seu quotidiano e a permanecer ao longo das suas vidas, razão pela qual é fundamental que tenham prazer ao praticá-las.

Hoje são consensuais as noções de que a atividade física regular assume um papel relevante na promoção de um estilo de vida saudável e de que níveis elevados de atividade de uma participação similar quando adultos. No entanto, a realidade portuguesa tem revelado uma fraca aquisição de hábitos desportivos, tanto nos homens quanto nas mulheres, sendo este quadro ainda mais preocupante no que se refere às mulheres (Marivoet, 1998), condicionando assim a sua qualidade de vida.

Num estudo desenvolvido por Marivoet (2001) sobre os hábitos desportivos da população portuguesa e realizado no concelho de Matosinhos (Quadro nº. 1), da qual foi selecionada uma amostra constituída por 450 alunos, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos, sendo 224 do género feminino (50,2%) e 226 do género masculino (49,8%), foi constatado que a maioria dos alunos (55,8%) são praticantes desportivos, para além das práticas nas aulas regulares de Educação Física, mas são sobretudo do género masculino (71,2%).



Quadro nº. 1 – Hábitos desportivos da população portuguesa

   Praticantes                    Não                   Total
    Praticantes
                                   N                %                N            %                 N         %
                               Feminino         90                      40,2%            134         59,8%               224          100%
           Género                                                                                                                              
                               Masculino        161                   71,2%            65           28,8%                226         100%


Total


251


55,8%


199


44,2%


450


100%


Há esperança de um novo rumo para a prática desportiva dos jovens, sobretudo se verificar a evolução registada num estudo desenvolvido no Instituto de Desporto de Portugal (Quadro nº. 2) e realizado por Adelino; Vieira & Coelho (2004), onde é comparada a percentagem de jovens, com idades compreendidas entre os 10 e os 16 anos que praticam desporto federado e com base nos censos populacionais de 1991 e de 2001.

Apesar desta evolução, é importante que os políticos desportivos e as instituições responsáveis pela sua aplicação, tomem as medidas necessárias para concretizar as intenções manifestadas na legislação portuguesa e nas cartas e acordos internacionais, de forma a que cada vez mais os cidadãos, independentemente o género, acedam ao Desporto.

Quadro nº. 2 – Praticantes de desporto federado (10 / 16 anos  de idade)

Praticantes

1998

2004

Masculinos


Praticantes

91874

20,7%

109790
27,3&



Dados do Censo

444151




402646


Femininos

Praticantes
24885
5,9%
53358
9,2&



Dados do Censo
421930



384971



Total

Praticantes

116759

13,5%

145148

18,4%


Dados do Censo
866081

787617



Apesar de ser um tema estudado e de reconhecida importância, só 9% de indivíduos em Portugal pratica atividades físicas e desportivas regularmente (pelo menos 5 vezes por semana) e 33% praticam com alguma regularidade (pelo menos 1 vez por semana). A diferença de uma participação regular em atividades físicas e desportivas de rapazes e raparigas situa-se nos 17%.  Similar aos dados da EU, a percentagem de mulheres que participam em atividades físicas e desportivas é menor quando comparadas com a dos homens: 24% dos homens praticam e o valor reduz para 7% nas mulheres).  

A realidade portuguesa tem efetivamente revelado uma fraca aquisição de hábitos desportivos, tanto nos homens quanto nas mulheres, sendo este quadro ainda mais preocupante no que se refere às mulheres (Marivoet, 1998), condicionando assim a sua qualidade de vida.

As evidências sugerem, que a partir da adolescência, as diferenças de género influenciam atitudes e oportunidades de prática, com repercussões nos níveis de participação [Baptista, F. et al, 2011; Eurobarometer, 2010; Eurobareter, 2014).

A socializção de género é complexa e está muito enraizada na cultura portuguesa. São necessários abordagens teóricas bem como explorar como a ordem de género é reproduzida, permitindo a reinterpretação de dados empíricos que permitam o desafiar e não reforçar  essa reprodução. [Fisette, J.L., 2012].

A perceção de atividades físicas e desportivas mais adequadas ao ‘masculino’ ou ao ‘feminino’ mantém-se: uma construção social que define os corpos de rapazes e de raparigas, limitando a fisicalidade de jovens e, em especial, das raparigas.

Decorridos quase quinze anos desde este estudo, os dados de 2018 do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) revelam que em Portugal houve um aumento de praticantes registados nas Federações (quadro nº 3).


Quadro nº. 3 – Praticantes desportivos em 2004 e 2017 por escalão etário

Praticantes
2004
2017
Masculinos

Até júniores - jovens



Femininos

Até júniores - jovens

49984
113980
Masculinos

Júniores – jovens


Femininos

Júniores - jovens

10731
15174
Masculinos

Séniores - adultos



Femininos
Séniores - adultos
18373
28405
Masculinos
Veteranos - adultos


Femininos
Veteranos - adultos
3201
27721
                Fonte: IPDJ, 2018

Os dados fornecidos pelo IPDJ, revelam quais são as práticas desportivas preferidas e distribuídas por escalão etário (quadros nº 4, 5, 6 e 7), que se apresentam a seguir.


Quadro nº. 4 – Modalidades desportivas praticadas por jovens (até júniores)

Modalidades
Praticantes
2004
2017
Andebol

Masculinos
17112
25323
Andebol

Femininos

9578
17988
Atletismo

Masculinos
3965
4729
Atletismo

Femininos
2897
5228
Basquetebol

Masculinos

9111
19471
Basquetebol
Femininos
4587
13814
Futebol
Masculinos
73076
120553
Futebol
Femininos
238
3937
Ginástica
Masculinos
3792
1332
Ginástica
Femininos
5366
9731
Golfe
Masculinos
958
1036
Golfe
Femininos
276
448
Hoquei
Masculinos
235
776
Hoquei
Femininos
25
660
Judo
Masculinos
5032
7548
Judo
Femininos
1379
2622
Natação
Masculinos
2878
19046
Natação
Femininos
2095
17326
Patinagem
Masculinos
5377
5483
Patinagem
Femininos
1992
8024
Surf
Masculinos
396
669
Surf
Femininos
150
262
Ténis
Masculinos
5113
5954
Ténis
Femininos
2123
2033
Ténis de Mesa
Masculinos
1315
1120
Ténis de Mesa
Femininos
646
513
Voleibol
Masculinos
12067
18239
Voleibol
Femininos
11822
22178
               Fonte: IPDJ, 2018


Quadro nº. 5 – Modalidades desportivas praticadas por jovens (Júniores)

Modalidades
Praticantes
2004
2017
Andebol

Masculinos
1290
2387
Andebol

Femininos

376
824
Atletismo

Masculinos
739
878
Atletismo

Femininos
403
575
Basquetebol

Masculinos

567
3591
Basquetebol
Femininos
730
2604
Futebol
Masculinos
15921
17494
Futebol
Femininos
2358
992
Ginástica
Masculinos
369
490
Ginástica
Femininos
1474
3960
Golfe
Masculinos
372
136
Golfe
Femininos
72
36
Hoquei
Masculinos
73
143
Hoquei
Femininos
7
0
Judo
Masculinos
411
384
Judo
Femininos
141
133
Natação
Masculinos
412
808
Natação
Femininos
424
840
Patinagem
Masculinos
934
742
Patinagem
Femininos
263
260
Surf
Masculinos
116
194
Surf
Femininos
54
69
Ténis
Masculinos
444
864
Ténis
Femininos
169
470
Ténis de Mesa
Masculinos
566
358
Ténis de Mesa
Femininos
166
110
Voleibol
Masculinos
494
496
Voleibol
Femininos
535
1059
               Fonte: IPDJ, 2018






Quadro nº. 6 – Modalidades desportivas praticadas por adultos (Séniores)

Modalidades
Praticantes
2004
2017
Andebol

Masculinos
2205
2777
Andebol

Femininos

433
917
Atletismo

Masculinos
3196
1971
Atletismo

Femininos
2897
968
Basquetebol

Masculinos

1687
1611
Basquetebol
Femininos
587
620
Futebol
Masculinos
39204
29939
Futebol
Femininos
2714
3434
Ginástica
Masculinos
571
517
Ginástica
Femininos
2549
1836
Golfe
Masculinos
6472
3158
Golfe
Femininos
1648
443
Hoquei
Masculinos
258
366
Hoquei
Femininos
99
113
Judo
Masculinos
1313
420


Quadro nº. 4 – Modalidades desportivas praticadas por crianças (até júniores)

Modalidades
Praticantes
2004
2017
Andebol

56756Masculinos


Andebol

Femininos

9578
17988
Atletismo

Masculinos


Atletismo

Femininos
2897
5228
Basquetebol

Masculinos



Basquetebol
Femininos
4587
13814
Futebol
Masculinos


Futebol
Femininos
238
3937
Ginástica
Masculinos


Ginástica
Femininos
5366
9731
Golfe
Masculinos


Golfe
Femininos
276
448
Hoquei
Masculinos


Hoquei
Femininos
25
660
Judo
Masculinos


Judo
Femininos
1379
2622
Natação
Masculinos


Natação
Femininos
2095
17326
Patinagem
Masculinos


Patinagem
Femininos
1992
8024


Judo
Femininos
263
284
Natação
Masculinos
567
1471
Natação
Femininos
311
1086
Patinagem
Masculinos
1386
1128
Patinagem
Femininos
404
255
Surf
Masculinos
613
874
Surf
Femininos
79
138
Ténis
Masculinos
1245
1460
Ténis
Femininos
287
447
Ténis de Mesa
Masculinos
1345
1310
Ténis de Mesa
Femininos
282
170
Voleibol
Masculinos
1243
998
Voleibol
Femininos
837
1122
               Fonte: IPDJ, 2018

Quadro nº. 7 – Modalidades desportivas praticadas por adultos (Veteranos)

Modalidades
Praticantes
2004
2017
Andebol

Masculinos
0
0
Andebol

Femininos

0
115
Atletismo

Masculinos
330
0
Atletismo

Femininos
29
945
Basquetebol

Masculinos

0
98
Basquetebol
Femininos
0
0
Futebol
Masculinos
0
0
Futebol
Femininos
0
0
Ginástica
Masculinos
121
74
Ginástica
Femininos
342
372
Golfe
Masculinos
4377
8115
Golfe
Femininos
1536
2475
Hoquei
Masculinos
0
0
Hoquei
Femininos
0
0
Judo
Masculinos
0
1116


Quadro nº. 4 – Modalidades desportivas praticadas por crianças (até júniores)

Modalidades
Praticantes
2004
2017
Andebol

Masculinos


Andebol

Femininos

9578
17988
Atletismo

Masculinos


Atletismo

Femininos
2897
5228
Basquetebol

Masculinos



Basquetebol
Femininos
4587
13814
Futebol
Masculinos


Futebol
Femininos
238
3937
Ginástica
Masculinos


Ginástica
Femininos
5366
9731
Golfe
Masculinos


Golfe
Femininos
276
448
Hoquei
Masculinos


Hoquei
Femininos
25
660
Judo
Masculinos


Judo
Femininos
1379
2622
Natação
Masculinos


Natação
Femininos
2095
17326
Patinagem
Masculinos


Patinagem
Femininos
1992
8024


Judo
Femininos
0
195
Natação
Masculinos
131
7902
Natação
Femininos
62
17020
Patinagem
Masculinos
0
0
Patinagem
Femininos
0
0
Surf
Masculinos
5
159
Surf
Femininos
1
17
Ténis
Masculinos
1815
3252
Ténis
Femininos
330
729
Ténis de Mesa
Masculinos
0
0
Ténis de Mesa
Femininos
0
0
Voleibol
Masculinos
0
110
Voleibol
Femininos
0
0
               Fonte: IPDL, 2018

QUAL SERÁ A REALIDADE NO GRANDE PORTO?

E O QUE SE PASSA NA COMUNIDADE PORTUGUESA ESPALHADA PELO MUNDO?

Estes serão os OBJETIVOS de um estudo que estou a desenvolver e cujos dados poderão ser comparados com os das comunidades portuguesas..

DESPORTO, GÉNERO e CIDADANIA - AS PRÁTICAS DESPORTIVAS DAS PORTUGUESAS EM PORTUGAL E NA NOSSA DIÁSPORA

Estudo comparativo entre a região Porto, USA, Canadá, Brasil e França


Conhecer a realidade portuguesa, em Portugal e no espaço da língua portuguesa, destacando as preferências desportivas em questão de género, é o propósito da nossa investigação que terá o apoio da Prof. Doutora Paula Silva, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Trata-se de uma investigação pioneira, que contribuirá para novos conhecimentos acerca do  envolvimento da mulher do mundo português nas práticas desportivas, propiciados por novas investigações que se venham a desenvolver nas universidades envolvendo questões de género, desporto e cidadania.



A MULHER, O DESPORTO E OS “MASS MEDIA

Atualmente, as mulheres não só competem, como praticam todas as modalidades desportivas; obtêm também cada vez com melhores resultados.

No entretanto, a cobertura que os “mass media” dão ao desporto feminino é significativamente inferior à efetuada no desporto masculino.

Diversos estudos realizados noutros países acerca da cobertura televisiva e dada pela imprensa escrita sobre o desporto feminino e masculino, revelam que o desporto feminino recebe pouca atenção, quando comparado com o masculino (Crossman et al; 1994; Duncan et al; 1994; Hargreaves, 1994; Lever & Wheeler, 1984).

Em Portugal, num estudo realizado por Pinheiro & Queiroz (2003), esta realidade é confirmada. As autoras analisaram durante um mês dois jornais diários, um desportivo (A Bola) e um generalista (Jornal de Noticias), tendo excluído todas as referências ao futebol, a tabelas de resultados, a agendas desportivas, a artigos de opinião e a notícias breves.

Para a análise, elegeram as seguintes categorias: artigos/notícias e fotografias de atletas portuguesas e estrangeiros. Cada categoria foi dividida em sub-categorias: masculino (artigo ou foto), feminino (artigo ou foto) e misto. Posteriormente, cada uma das sub-categorias foi analisada em função do número de artigos/notícias e fotografias, do espaço físico ocupado, da sua colocação em cada página (topo, centro e baixo).

Quadro nº. 8 – Os mass media e o desporto versus género


Género
A Bola
Jornal de Notícias
Artigos
Masculino
Feminino
Misto
334
72
32
225
31
17
Fotografias
Masculino
Feminino
Misto
337
66
15
135
22
2
 

Quadro nº. 9 – Os  mass media, o espaço físico das notícias versus género


Artigos/Fotos
Jornal de Notícias
A Bola

Género
N
Média
SD
N
Média
SD
Espaço físico
(cm2)
Artigos masculinos
225
39,3848
32,9598
335
111,2550
49,7169
Artigos femininos
31
20,8497
16,7290
72
86,2736
53,2259
Artigos mistos


57,5612
52,5373

120,7000
65,5275
Espaço físico
(cm2)
Fotografias masculinas
135
42,0467
50,7668
337
113,5469
93,3389
Fotografias femininas

22
24,9127
31,5451
66
109,9805
83,2288
Fotografias mistas


69,985
81,3385

120,4567
108,452
3


Quadro nº. 10 – Os mass media e a colocação dos artigos versus género



Artigos
Fotografias


Masculinos
Femininos
Mistos
Masculinas
Femininas
Mistas
       Jornal de Notícias
Topo
N
76
17
3
51
9
1
%
27,8
6,2
1,1
32,1
5,7
0,6
Centro
N
53
5
5
40
5
1
%
19,4
1,8
1,8
25,2
3,1
0,6
Baixo
N
42
5
7
13
4

%
15,4
1,8
2,6
8,2
2,5

Centro/Topo
N
34
4
1
23
4

%
12,5
1,5
0,4
14,5
2,5

Centro/Baixo
N
20

1
8


%
7,3

0,4
5




Total
N
225
31
17
135
22
2

82,4
11,4
6,2
84,9
13,8
1,3
                         A Bola
Topo
N
17
1

58
2
2
%
3,9
0,2

13,9
0,5
0,5
Centro
N
17
5
1
43
7
2
%

3,9
1,1
0,2
10,3
1,7
0,5
Baixo
N
69
30
8
67
14
4
%
15,8
6,8
1,8
16
3,3
1
Centro/Topo
N
139
21
15
98
26
7
%
31,7
4,8
3,4
23,4
6,2
1,7
Centro/Baixo
N
92
15
8
54
15

%

21
3,4
1,8
12,9
3,6



Total
N
334
72
32
337
66
15
%
76,3
16,4
7,3
80,6
15,8
3,6

Os resultados apresentados nos quadros 8, 9 e 10, revelam que se continua a verificar uma certa descriminação pela imprensa escrita, acompanhando a tendência detetada em outros estudos desenvolvidos em Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Finlândia.

Para Ducan et al. (1994), a pequena atenção dedicada ao desporto feminino, bem como a forma como são frequentemente tratados os atletas e também como são efetuados os comentários e a linguagem que é utilizada, tendem a reforçar a desigualdade entre géneros.

Tal como refere Gerbner (1978, cit in Boutellier & SanGiovanni, 1983: 185), a menor atenção dedicada ao desporto feminino constitui na realidade “… uma imaginação simbólica de mulher”. Os meios de comunicação social ajudam assim a veícular a ideia de que o desporto feminino não é tão importante quanto o masculino e, como tal, as mulheres atletas e as suas prestações desportivas não são merecedoras da mesma atenção que é dada à dos homens atletas.

Para além de continuarem a mostrar o Desporto como área essencialmente masculina, ajudam a perpetuar ideias estereotipadas de feminilidade e de masculinidade.

Uma maior abertura do desporto feminino na comunicação social, pode efetivamente ajudar a mudar estas ideias estereotipadas relativas ao envolvimento de mulher em práticas desportivas, bem como às ideias inerentes às suas habilidades motoras e, consequentemente, encorajar mais raparigas e mulheres para o desporto.

Com a maior divulgação pelos mass media, as várias mulheres atletas podem inclusivamente funcionar como modelos para as jovens e assim favorecer o aumento dos hábitos de práticas corporais da população feminina.

Todos os atletas, sejam homens ou mulheres, merecem a mesma atenção. Uma atenção equilibrada, já que as relações entre géneros no desporto, assim como em qualquer outra prática social, são relações de poder (Hargreaves, 1994).

Estas preocupações, que exigem mudanças de mentalidade e pressupõem legislação própria, sensibilizaram já o Conselho da Europa.

Efetivamente, a Comissão sobre a Igualdade de Oportunidades para as Mulheres e os Homens da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, elaborou em 2005 um documento redigido pela Dra. Manuela Aguiar e intitulado Descriminação contra as mulheres e jovens nas atividades desportivas, que constituiu a Recomendação 1701 (2005), discutida e aprovada por aquela Assembleia em 27 de Abril.

Esta recomendação partiu de dois grandes objetivos:

A – As mulheres são confrontadas com numerosas descriminações no acesso à prática desportiva amadora e profissional, que são contrários aos princípios do Conselho da Europa. A persistência de estereótipos, a falta de estruturas de enquadramento e de apoio às mulheres desportivas e às jovens dotadas de um potencial desportivo, a dificuldade de conciliar a vida profissional / desportiva e familiar, a difícil reinserção no mundo do trabalho, uma cobertura mediática insuficiente dos desportos praticados pelas mulheres e os financiamentos privados limitados, são manifestações destas descriminações.


B – A Assembleia Parlamentar deveria pedir ao Comité dos Ministros do Conselho da Europa para desenvolver um “Estratégia para as Mulheres e os Desportos”, para desigualmente promover a participação das mulheres e dos jovens em atividades desportivas desde a escola e ao longo de toda a vida, considerando a dimensão do género nas políticas do desporto, apoiar os desportos femininos e a prática do desporto de alta competição, favorecer a participação das mulheres nas instâncias dirigentes e encorajar uma melhor cobertura mediática dos desportos femininos.



CONCLUSÃO

Apesar de ser cada vez maior o número de mulheres que recorrem à prática de atividades físicas, com a finalidade de encontrarem o seu bem-estar psicológico, a sociedade portuguesa é ainda hoje impressa de atitudes preconceituosas e de estereótipos de género, que são limitadores de uma prática desportiva feminina mais dinamizada, diversificada e divulgada.

Na Escola, que deve respeitar a pluralidade da cultura que caracteriza o desporto, mas aonde há ainda uma ilusória neutralidade na construção dos géneros, tudo deve ser feito para que a atividade física e o desporto propiciem a auto-estima e a competência, percebida pelos alunos e pelas alunas, de modo a que todos vejam estas práticas corporais como atividades incluídas no seu quotidiano e que devem permanecer ao longo das suas vidas.

Também uma maior cobertura do desporto feminino na comunicação social, que é significativamente inferior à efetuada no desporto masculino, poderá ajudar mudar as ideias estereotipadas relativas ao envolvimento das jovens e das mulheres em práticas desportivas, bem como às ideias inerentes às suas habilidades técnicas e, consequentemente, encorajar mais raparigas e mulheres para o desporto.