quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

2015, o ano da morte de Maria Barroso

! - Num tempo propício a festas de família, balanços e prognósticos políticos, estava eu posta perante a dificuldade da escolha de tema para esta coluna, enquanto ouvia, na Antena 1, um programa sobre os factos marcantes de 2015. Primeiro pronunciaram-se comentadores e celebridades, depois a voz do povo, glosando motes: a aliança de esquerda pós eleitoral, o Banif e outros buracos negros, o desaparecimento de três vultos da vida portuguesa, dois cineastas e um poeta…
Reagi, de imediato ao esquecimento em que via deixada uma grande personalidade que, em julho, partira do nosso convívio, a Dr.ª Maria Barroso. Tinha de escrever sobre ela…

2 - Maria Barroso foi um símbolo de excelência em tudo quanto fez durante uma vida longa, em tantas e diversas vestes – jovem e talentosa atriz do Teatro Nacional D Maria II, pedagoga e diretora de um colégio que colocou no topo dos “rankings”, militante da causa da liberdade, que usou o palco do teatro, a expressão artística, a força da poesia na sua voz, como instrumento de luta, mulher que ousou subir ao mundo masculino dos comícios políticos e falar sem medo.
Esteve no centro da sua própria família como esteve no centro da vida pública nacional, com a mesma dedicação e competência. Foi o rosto da cultura, da inteligência e da elegância das mulheres do seu país, na Europa e no mundo. A conversão, sincera e emotiva ao catolicismo, aprofundou o seu sentido de missão, a vontade de viver para os outros, num mundo melhor, que foi o fio condutor do seu percurso, nas Artes, na Política (com letra grande), no Voluntariado. O trabalho que, nas últimas décadas levou a cabo, no campo dos direitos humanos, na Fundação Por Dignitate, foi notabilíssimo, ultrapassou fronteiras, em especial no espaço da Diáspora e da lusofonia (no processo de paz de Moçambique, em Angola, na Guiné), no combate ao tráfico de armas, à intolerância e à violência nos “media” (e sobre todas as formas!), no apelo à participação das mulheres nas suas comunidades - como eu pude testemunhar, durante os chamados “Encontros para a Cidadania”, nos quatro cantos do mundo, admirando, de perto, a sua energia contagiante, uma enorme proximidade das pessoas, feita de compreensão dos problemas e de simpatia, uma rara capacidade de mobilização, pelo discurso e pelo exemplo - ia já nos 80, quase nos 90 anos.
Uma caminhada intensamente vivida em todas as idades, com a sabedoria dos que não envelhecem intelectualmente, com uma espantosa modernidade de pensamento e vontade de ação – até ao seu último dia entre nós!
Maria Barroso foi a maior figura feminina do século XX português, um incomparável exemplo de cidadania, que seu (e nosso) tempo lega ao futuro, um legado verdadeiramente intemporal, como o cinema de Oliveira ou os versos de Helberto Hélder.

3 – Há alguns anos, numa brilhante intervenção na cidade de Joanesburgo, a Dr.ª Maria Barroso lembrava que “apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens, só a estes é dada relevância”.
 Não deixemos que isso aconteça no seu caso!


Maria Manuela Aguiar

1985 - O CCP, O ENCONTRO DE VIANA E AS POLÍTICAS DE GÉNERO

1985 - O CCP, o Encontro de Viana e as políticas de género
1- 2015, num momento em que o CCP, renovado por um processo eleitoral, tem de repensar a sua atuação, para ocupar, mais e melhor, o espaço privilegiado, que é o seu, no diálogo e cooperação entre portuguesas e portugueses do mundo inteiro e na sua representação perante o Governo, a diplomacia, as entidades públicas de Portugal, num momento em que está essencialmente voltado para hoje e amanhã, é interessante lançar um olhar retrospetivo sobre a sua evolução, em especial no que respeita ao equilíbrio de participação de género. Como tornar esta singular instituição mais inclusiva, mais democrática, mais capaz de levar a Lisboa toda uma grande diversidade de situações em mudança e de problemas, novos ou recorrentes, a solucionar na emigração? O equilíbrio de género será factor decisivo para que cumpra melhor as expetativas e os meios nele investidos? A paridade, globalmente, é ainda uma meta utópica, mas foi agora alcançada na Venezuela, na Argentina,em Macau...A diferença que as mulheres aí - e porventura, também noutros países - conseguirem fazer poderá mudar a forma de ser e de estar de um órgão, desde o seu início tão marcadamente masculino?

2- Na sua primeira vida, entre 1981 e 1988, o CCP era eleito dentro do círculo das associações do estrangeiro. Espelhava, naturalmente, a realidade de um universo institucional liderado por homens, não havendo entre os seus representantes eleitos uma única mulher. Mas no Conselho tinham também assento representantes da comunicação social, e foi no interior desta segunda componente que se registaram, nas eleições de 1983, as primeiras presenças femininas, Maria Alice Ribeiro (Canadá) e Custódia Domingues (França).
Foi Maria Alice Ribeiro, do Canadá, quem, na reunião Regional da América do Norte, em 1984, propôs a convocação de um encontro mundial de Portuguesas do estrangeiro, A ideia obteve fácil consenso e a Secretaria de Estado da Emigração promoveu a sua organização em 1985 .
A seleção das participantes foi feita com base em comunicações apresentadas por mulheres dirigentes na esfera associativa ou envolvidas na atividade jornalística - as duas vertentes em que se centrava o CCP. O 1º Encontro Mundial trouxe ao Minho, a Viana do Castelo, uma elite feminina, que se distinguiu pela sageza, visão e capacidade de chegar a consensos. Foi uma reunião diferente de todas as outras,verdadeiramente excecional... Falaram da especificidade de género nas migrações, mas também da emigração como um todo: o ponto de vista feminino, até essa altura, desconhecido, sobre sociedades em transformação, às quais queriam poder dar, livre e responsavelmente, a sua parte.
Essa primeira audição governamental foi uma espécie de "Conselho no feminino", preenchendo um vazio absoluto, convertendo-se em prenúncio de leis e programas, visando a paridade. A Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas instituira, em 1987, a Conferência para a Igualdade de Participação, que, a par de outras conferências temáticas, funcionaria na órbita do Conselho. Porém, no verão desse ano, caiu o Governo, e com o novo Executivo caiu o CCP e tudo o que com ele se relacionava, como era o caso das conferências periódicas. E a questão de género na Diáspora e no CCP ficou esquecida durante duas décadas.

3- O Encontro de Viana era precursor, em termos europeus (e, ao que se afirmou, nas sessões d 1º Encontro, em termos universais - ninguém tinha conhecimento de convocatória semelhante por parte de um governo em favor das mulheres expatriadas). Portugal era, por sinal, um Estado improvável para se tornar pioneiro neste domínio, com as suas políticas particularmente misóginas, desde os tempos da Expansão até ao 25 de Abril... E mesmo depois da revolução de 1974, continuara a centrar os esforços de promover a igualdade apenas dentro das suas fronteiras - as prioridades da Comissão para a Igualdade denunciam esta visão" territorialista" das suas tarefas. Em 1984/85, o impulso para a inovação e para a mudança veio do CCP, onde uma mulher "fez a diferença". As pioneiras do Conselho eram poucas, mas notáveis e estiveram, em 1993, entre as fundadoras da Associação Mulher Migrante, animadas pelo projeto de criar uma associação feminina internacional, segundo a estratégia delineada no Encontro de 1985.
4- Na sua segunda vida, em 1996, o CCP tornou-se um órgão eleito por sufrágio direto e universal, seguindo os novos moldes entretando adotados pelos congéneres europeus. Mas, de facto, em muitos domínios, (ensino, cultura, segurança social, recuperação da nacionalidade, participação cívica e política) as suas preocupações inseriam-se na senda do Conselhos anterior. Todavia, apesar do escasso número de eleitas em cada novo ato eleitoral, o CCP não retomou, nos seus plenários, a ideia de um forte chamamento cívico das mulheres a uma intervenção mais ativa no seu funcionamento e nas comunidades. As principais exceções foram o Canadá, que, com Maria Alice Ribeiro e o coordenador nacional Manuel Leal, colocaram esta problemática nas prioridades da agenda no plano local (dinamizando, com sucesso, colóquios e work shops em diversas cidades), os EUA, com Manuela Chaplin e o coordenador João Morais e o Uruguai, com Luis Panasco Caetano ( que se envolveu ativamente na promoção do associativismo feminino no sul da América) . Não haverá muito mais a assinalar.
A decisão de promover o aumento da presença feminina na instituição acabou por vir de fora, não em cumprimento de uma qualquer recomendação dos conselheiros, mas "ex vi legis", com a extensão às eleições do CCP das regras da Lei da Paridade, que rege a composição do Assembleia da República, das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas e das Autarquias.
E, por puro acaso, fruto da cronologia eleitoral, a primeira experiência da aplicação da chamada "lei das quotas" foi justamente a elaboração das listas para o Conselho. Um teste positivo, já que a proporção da mulheres aumentou, sem prejuizo da sua competência. Porém, no que respeita a cargos formais (presidência do órgão ou das comissões), o CCP tem sido sempre um "mundo de homens", ao contrário da Assembleia da República, ondea presidência, vice-presidência, chefia de delegações internacionais, dos grupos parlamentares e de comissões por deputadas entrou no domínio da normalidade ..
.5- A composição do Conselho saído das eleições de setembro passado, está muito longe da igualdade de género, com apenas 12 mulheres conselheiras, embora a paridade tenha sido alcançada, aqui e ali.... A Venezuela figura, doravante, nos anais da instituição, com a liderança feminina das listas vencedoras no conjunto das duas áreas consulares, e os nomes de Milú de Almeida e de Fátima Pontes, que encabeçaram listas rigorosamente paritárias. O mesmo se diga da Argentina, com Maria Violante Martins, e de Macau, com Rita Santos.
Se quantitativamente o resultado fica muito àquém do ideal da paridade, já de um ponto de vista qualitativo ( olhando o movimento que leva as mulheres ao "empoderamento" na assembleia representativa dos emigrantes, que é o CCP), há sinais promissores de mudança. Pela primeira vez, são eleitas conselheiras oriundas de um associativismo de matriz cívica, de um "congressismo" que se reconhece no " espírito de Viana" - caso da "Mulher Migrante" com as suas ramificações internacionais, particularmente fortes na América do Sul, na Venezuela, na Argentina. Maria Violante, Milú de Almeida e Fátima Pontes são associadas e dirigentes da "Mulher Migrante"..
6 - O CCP fez história das políticas de género com a proposta do Encontro Mundial de 1985, que designámos como uma espécie de "CCP no feminino". Tem agora, com militantes de movimentos que aí nasceram, a possibilidade de levar por diante essas políticas, incluindo na sua agenda de preocupações e de prioridades de ação a metade marginalizada das comunidades, as mulheres, ou seja, de integrar, definitivamente "o feminino no CCP".

Maria Mnauela Aguiar

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

2015 Os COLÓQUIOS NAS UNIVERSIDADES UAB (maio) e SORBONNE (setembro)





Colóquio
Migrações e Género. Novas Perspetivas de Intervenção
Universidade Aberta - Palácio Ceia
Rua da Escola Politécnica nº 147 - Lisboa
21 de Maio de 2015
15h00 – Abertura dos Trabalhos
Profª Drª Rosa Sequeira – Coordenadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), Universidade Aberta
Profª Drª Ana Paula Beja Horta, CEMRI, Universidade Aberta
Drª Maria Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade – Mulher Migrante (AEMM)
Drª Rita Gomes, Presidente da Direção da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade – Mulher Migrante (AEMM)
15H35 – Homenagem Póstuma ao Dr. Carlos Pereira Correia
16h30 – Lançamento da Publicação da AEMM: 1974 – 2014 - 40 Anos de
Migrações em Liberdade
Drª Maria Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da AEMM
17h00 – 17h30 - Temas em Análise e Debate
Tema I. Revisão da Lei do Conselho das Comunidades Portuguesas e perspetivas de participação das mulheres
Dr. Victor Gil. Ex-diretor do Gabinete de Ligação ao Conselho das Comunidades Portuguesas
Moderadora: Profª Doutora Maria Beatriz Rocha Trindade, CEMRI, Universidade Aberta
17h30-17h45 - Debate
17h45 – 18h30
Tema II. Desenvolvimento e Género
Profª Drª Sónia Frias, ISCSP, Universidade de Lisboa, Investigadora do CEsA, ISEG, Universidade de Lisboa e Investigadora do CEMRI, Universidade Aberta.
Profª Drª Joana Miranda, Universidade Aberta, Investigadora Responsável pelo Grupo de Investigação – Estudos sobre as Mulheres, CEMRI, Universidade Aberta
Moderadora: Profª Drª Natividade Monteiro, Investigadora do CEMRI, Universidade Aberta.
18h30 – 19h00 - Debate final
Encerramento



PROGRAMA

Diálogos sobre Cultura, Cidadania e Género
Universidade da Sorbonne Nouvelle
17 rue de la Sorbonne
75005 Paris
Sala Bourjac
10 de setembro de 2015

15h00 - SESSÃO DE ABERTURA
Professora Doutora Isabelle OLIVEIRA – Universidade da Sorbonne Nouvelle.
Sua Excelência o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. JoséCESÁRIO.


16h00 – “O papel dos mídias portugueses na emergência de uma diáspora lusófona”Dr. José ARANTES – Director RTP África.

16h30 – “Homenagem à Drª Maria Barroso. A génese das políticas de género para aemigração. Encontros para a Cidadania – 2005- 2009”Drª Manuela AGUIAR – Presidente da Assembleia Geral da Associação MulherMigrante.
17h00 – IntervençãoDrª Rita GOMES – Presidente da Direção da Associação Mulher Migrante.
17h20 - Lançamento da PUBLICAÇÃO da AEMM1974- 2014 – 40 Anos de Migrações em Liberdade
Drª Maria Manuela AGUIAR (Coordenadora da Publicação)

17h30 – Encerramento

CULTURA
21h – CONCERTO NO CONSERVATÓRIO JEAN-BAPTISTE LULLY – MAIRIE
DE PUTEAUX (5 bis rue Francis de Pressensé 92800 PUTEAUX).
Maestro Vitorino d’Almeida
Maestro Miguel Leite


TEXTOS PARA PUBLICAÇÃO


5 - O ano de 2015 

(15paginas mais.  Total 40)


Sinopse de actividades: 

. Lançamento do livro " Califórnia madrasta dos meus filhos"  Deolinda Adão 

    19 janeiro na Biblioteca José Marmelo e Silva em  Espinho e na Associação..... No Porto 

. Comemoração do Dia Internacional da Mulher  - 7 de março no pavilhão Multimeios em Espinho 

. Comemoração do Dia Internacional da Mulher na Venezuela e na Argentina -    (Graça Guedes nota  sobre o  dia na Argentina  e Venezuela).     . Falta 

  . Lançamento da Publicação da AMM 2014 

          -    Porto ,       22 abril  no Café Guarany 

       -    Espinho,  13 maio na Biblioteca José Marmelo e Silva

      -     Lisboa ,            Universidade Aberta                         falta  

   . colóquio maio e texto da Joana Miranda  e Rita - homenagem a CARLOS CORREIA 

.  Colóquio e exposição " Expressões de Cidadania no Feminino " 5 de setembro Monção

.  Concerto no Luxemburgo , outubro ( recortes de jornal)

 - Paris  10 setembro   - Sorbonne  Homenagem a Maria Barroso( recortes de imprensa 

-  Maria Archer em Lisboa Elizabeth Batista outubro

(35 páginas)

 Porto Mª Ant Jardim - liro

Outros lançamentos (Berlim, etc)

  

 Colocar aqui os textos , desenvolvimento de cada actividade

19 Janeiro 

Texto que saiu no jornal sobre o lançamento do livro de Deolinda Adão na Biblioteca José Marmelo e Silva em Espinho


"Deolinda Adão, professora e investigadora da universidade de San José e de Berkeley na California através  da recolha e  organização de cartas trocadas por Maria Ignacia e os seus filhos entre 1909 e 1916,  revelou-nos uma historia da diáspora dentro da História . Com apenas 15 e 16 anos emigraram estes jovens para o mundo novo, num período  de grandes transformações a nível mundial com o rebentar da primeira grande guerra e em Portugal a implantação da república . A forma como estes acontecimentos e as novas leis foram vividas no seio de uma família açoreana despertou o interesse dos muitos jovens presentes nesta sessão , estudantes do Agrupamento de Escolas  Dr Manuel Gomes de Almeida, acompanhados pelos seus professores.O problema da emigração cada vez mais actual, agora  com novos contornos foi também abordado e ficou no ar mais um novo projeto que a Associação mulher migrante muito gostaria de colaborar: abrir novos horizontes do outro lado do mundo, destinado a jovens das escolas de Espinho. Deolinda Adão já colaboradora em projetos anteriores aderiu de bom grado. 

Está de parabéns a Associação de Estudo, cooperação e Solidariedade - Mulher Migrante  por mais esta iniciativa e responsável pela edição deste livro que  dá a conhecer outra faceta da emigração portuguesa, como referiu Manuela Aguiar, presidente da Assembleia da Associação  Mulher  Migrante . Fazer o lançamento deste livro em Espinho foi uma honra para a cidade como referiu Leonor Fonseca, vereadora da cultura, presente na sessão e que tem sido apoiante destes projetos entre as escolas e  a Associação."




 7 março em Espinho 

  Dia Internacional da Mulher em Espinho pavilhão Multimeios



A Associação de Estudo , Cooperação e Solidariedade - Mulher Migrante associou-se a algumas iniciativas que  marcaram a agenda do Agrupamento de Escolas Dr Manuel Gomes de Almeida nas comemorações do Dia Internacional da Mulher.

 O desafio proposto por esta Escola com quem a Associação tem já realizado trabalhos de cooperação, foi aceite e, na tarde do dia 7 de março, no Pavilhão Multimeios de Espirealizou-se uma  mesa redonda  com o tema " A revolução  nas mulheres da diáspora", com  intervenção de três membros da Associação: Manuela Aguiar, , Presidente da Assembleia Geral, Graça Guedes, Secretaria Geral  e Arcelina Santiago.

 Isabel Nobre , professora e organizadora desta iniciativa começou por fazer a apresentação, destacando o que de comum liga estas três mulheres: a defesa dos direitos humanos, a luta pela igualdade das mulheres, em particular, das Mulheres  da diáspora .

 Manuela Aguiar deu destaque a Maria Inácia Meneses Vaz, personagem do livro "Califórnia , madrasta dos meus filhos",  publicação lançada recentemente pela Associação Mulher Migrante, com enfoque na  emigração pelo lado de quem fica. A faceta empreendedora desta mulher, a forma como  soube gerir  o património foi alvo de relevo, num mundo essencialmente marcado pelo masculino.

 Graça Guedes abordou o tema da liberdade e da democracia que aconteceu com a chegada de abril, as conquistas obtidas e as mudanças no panorama das oportunidades para as mulheres. Lembrou que neste desafio houve mulheres e homens que se destacaram e que não poderia deixar de mencionar  duas figuras femininas que a  Associação  homenageou Maria Lamas e Maria Archer.

 Arcelina Santiago, lembrou a longa caminhada nesta luta pela igualdade,  ainda não plenamente conseguida e para prova-lo , referiu os dados estatísticos recentemente publicados, que nos revelam que, apesar das mulheres terem mais sucesso académico, com a conclusão dos cursos em tempo devido e com melhores notas, são as que no mundo do trabalho, menos integram cargos de nível superior e, em igualdade de funções, obtém salários mais baixos do que os homens.

 Fez depois uma breve apresentação a Maria Archer para antecipar um pouco a representação .Lembrou  que a Associação Mulher  Migrante homenageou esta mulher ,vanguardista para o seu tempo, denunciadora e critica  da situação da mulher. Esta sua posição em período da ditadura, remeteu-a ao exílio. 


Seguiu-se a entrevista imaginária  a Maria Archer, encantadoramente assumida pelas alunas do ensino secundário, Mariana Patela na figura de Maria Archer , e Inês Pais, a jornalista. Esta não é a primeira vez que encarnam estas duas personagens mas é sempre com muito entusiasmo e perfeição que o fazem.  O guião teve como fonte o trabalho de duas investigadoras sobre a vida e obra de Maria Archer, Dina Botelho e Elizabeth Battista. 

 O debate final e os elogios às diversas facetas da jornalista e escritora, Maria Archer, e da mulher empreendedora, Maria Inácia Menezes Vaz foi uma boa maneira de participar de forma reflexiva  neste Dia internacional da Mulher.


22 de Abril, Café Guarani, 17.30-19.00   Manuela Aguiar

Num dos mais emblemáticos e antigos cafés da Baixa portuense, no ambiente informal de tertúlia, o primeiro lançamento da nova publicação da AEMM - publicação que constitui o relato possível do acontecido numa série de debates, em Portugal e em comunidades portuguesas do estrangeiro, sobre o significado da democratização da vida política no País, a partir da revolução de 1974, sobre a sua projeção nas políticas de emigração, no relacionamento com os cidadãos e as instituições da "Diáspora"..


Nesses debates, em auditórios de Universidades - Berkeley, Universidade Aberta de Lisboa, Sorbonne, Toronto - de escolas do ensino secundário - em Espinho, em Elizabeth, New Jersey - do MNE, dos Municípios de Gaia e de Espinho, houve muitas oportunidades de ouvir mulheres e homens sobre o quadro geral do fenómeno migratório, assim como sobre a evolução do papel das mulheres nos movimentos de expatriação e de retorno e no movimento associativo: partindo da história e da memória de sucessivas gerações até aos dias de hoje, com a avaliação da dimensão atual do fenómeno, da sua componente feminina, das novas formas de associativismo e de vivência das relações com as sociedades de origem e de destino.


No Guarany, muitas participantes, e alguns participantes também, dialogaram sobre o renascimento da democracia em Portugal e a sua projeção no domínio das migrações de saída e regresso.


Moderou, como sempre muito bem, Nassalete Miranda, começando rigorosamente às 17.30 e terminando, como previsto, um pouco depois das 19.00. Foram cerca de 100 minutos de conversa animada, que passaram depressa demais. Mas todos terão ocasião de falar do que ainda ficou por dizer na próxima apresentação, em Espinho, na Biblioteca José Marmelo e Silva, no dia 13 de maio às 16.00.


No Porto, estiveram as coordenadoras da publicação - Graça Guedes e Manuela Aguiar, tendo Arcelina Santiago enviado mensagem do Alto Minho, onde trabalho profissional a retinha,


Dos co-autores dos textos publicados, para além das dirigentes da AEMM, há a destacar a presença e intervenção do dr Amândio de Azevedo.


Entre as animadoras da reunião, uma maioria de "mulheres d'artes", que têm colaborado, de uma forma contínua e admirável, com a Associação. E entre as entidades parceiras da AEMM, a presidente do Observatório dos Luso- descendentes, Drª Emmanuelle Afonso.


À despedida, um agradecimento especial para o Senhor Barrios, o nosso anfitrião - o antigo emigrante no Brasil, que veio para o Porto, restituir à cidade os seus mais belos cafés - o Majestic, o Guarany, onde renasceu o ambiente, o espírito do "café-tertúlia".





Apresentação da publicação em Espinho -  13Maio 2015 


Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade  - Mulher Migrante apresentou mais uma publicação " 40 anos de migrações em Liberdade " dia 13 maio 2015


Foi uma tarde marcada por uma forte presente, especialmente por jovens  das escolas secundárias : Dr Manuel Gomes de Almeida e Dr Manuel Laranjeira


A Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade  - Mulher Migrante marcou de novo encontro na Biblioteca José Marmelo e Silva,  para apresentação da sua última edição, dedicada ao tema" 40 anos de Migrações em Liberdade". 

 Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação agradeceu a presença da senhora vereadora da cultura,  Leonor Lêdo Fonseca , uma grande aliada da Associação,  na defesa dos  direitos e liberdade das mulheres. Agradeceu também a  presenca de tantos participantes nesta sessão, em particular, aos inúmeros jovens das duas Escolas Secundárias de Espinho e que estão retratados nesta edição por  textos por desenhos extraordinários que fazem parte da contracapa do livro.

 Graça Guedes congratulou-se por mais uma edição, a juntar a outras  tantas, reunindo um conjunto significativo de actividades desenvolvida pela Associação ao longo do ano de 2014, ano marcado para celebrar as migrações em liberdade com o 25 de abril.

 Arcelina Santiago, referiu a honra em ter participado na equipa de coordenação desta edição, constituída por duas fantásticas mulheres, conhecedoras como ninguém do fenómeno português da diáspora. Lembrou o papel da Dra Manuela Aguiar, cidadã defensora de causas e com uma intervenção  política de grande relevo  enquanto Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. Como acentuou, falar de emigração sem se referir o seu nome é impensável.

Destacaram-se alguns dos textos do livro em análise, nomeadamente o que refere a figura incontornável de  Leonor Lêdo Fonseca , vereadora  da cultura de Espinho

 enquanto cidadã, mulher da cultura, política e defensora de causas . Também as  narrativas de vida de mulheres da diáspora, algumas de sucesso,  outras, vivências trágicas a lembrar episódios presentes que jamais se pensaria ver repetidos - os desastres da emigração no mediterrâneo e a situação dramática vivida pelos refugiados da guerra e da fome.

 O Projeto Berkeley/San José  - Espinho foi posto em relevo , tendo Arcelina Santiago agradecido a colaboração dos diretores das Escolas envolvidas e dos professores, João Paulo e Carminda Costa, orientadores deste projeto em articulação com a Professora Deolinda .Acima de tudo, referiu o excelente trabalho dos alunos.

Depois, seguiram-se os testemunhos vivos e intensos da experiência vivida pelos jovens. Referiram a experiência positiva , jamais esquecida, proporcionada pela Associação com este projeto que juntou jovens de dois países.  Foi com muito alegria e dedicação que preparam os trabalhos e se dedicaram a apresentá-lo com tanto entusiasmo, referiu a professora  Carminda Costa.

 "Ainda hoje, mantemos  laços com os jovens americanos que nos visitaram " , "  Jamais esqueceremos essa experiência tão positiva e gostaríamos que houvesse uma continuação " , " foram momentos únicos que uniu alunos das duas escolas na preparação dos trabalhos" , " procuramos dar a conhecer   Fernando Pessoa e a escolha do poema de Jorge Palma  esteve presente o nosso sentido patriótico" estes  foram alguns dos  testemunhos dos jovens elucidativos  da marca positiva deste encontro.

Seguiu-se  um debate vivo e muito participado  pelos jovens, sobre , por um lado, as oportunidades da partida face ao país sem perspectivas, mas por outro, as preocupações das expectativas defraudadas.

Leonor Fonseca respondeu a algumas questões colocadas pelos jovens , sobre a nova diáspora sentindo o quão frustrante era ver os  jovens partir e elogiando a coragem daqueeles que partem com um potencial enorme, fruto de haver em Portugal um ensino de muita qualidade.


 Manuela Aguiar referiu a preocupação da diáspora dos que partem sem grande formação, armas para se defenderem num mundo novo e as expectativa frustadas quando na emigração do passado era diferente. 

Por fim, Leonor Fonseca sintetizou esta sessão tão participativa com estas palavras: a Associação cumpriu o seu papel, está de parabéns!


Em Lisboa ( textos de  Vitor Gil e Joana Miranda)...

Desenvolvimento, Migrações e Género

Joana Miranda

Professora Universidade Aberta/ Investigadora CEMRI


No mundo actual as migrações, o desenvolvimento e o género constituem elementos profundamente interrelacionados que se influenciam reciprocamente e cuja dinâmica é constante e se encontra em permanente transformação, revelando a cada momento novos dados e sugerindo novas leituras. Estes três elementos configuram poderosos eixos de interpretação de um mundo marcado pela mudança acelerada a todos os níveis e pela coexistência da globalização e da homogeneização com a fragmentação, permitindo-nos aproximações deste período que Balandier (1997) designa de "sobremodernidade", período de mudança e ambivalência, de "mudança mais incerteza".

Na mesma linha o sociólogo Zygmunt Bauman (2007) caracteriza a época em que vivemos como "modernidade líquida"- leve, fluida, dinâmica mas incerta. Para Bauman (2007:11) o que torna a modernidade líquida é a modernização compulsiva e obsessiva, permanentemente em aceleração, através da qual nenhuma forma de vida social, à semelhança dos líquidos, é capaz de reter os seus contornos durante muito tempo.

Para o autor, a terceira vaga de migração moderna (Bauman, 2007:18) que no momento actual assume plena força e se encontra em crescendo conduz à “idade das diásporas”: um “arquipélago mundial de povoamentos étnicos/religiosos/linguísticos esquecidos dos caminhos queimados e trilhados pelo episódio imperialista colonial”.

Ao mesmo tempo que a globalização representa uma certa forma de interconexão e interpenetração entre regiões e comunidades locais, marcada pela hegemonia do capital e do mercado, ela faz-se acompanhar por uma procura de singularidade e de espaço para a diferença e para o localismo (localização da cultura, Bhabha, 1994).

Neste contexto são diversos os discursos em torno do desenvolvimento. O que é, afinal, o desenvolvimento? O discurso dominante é o discurso economicista focalizado na ideia de que o desenvolvimento económico e o crescimento do mercado são as formas de iniciar um processo de desenvolvimento (em sentido mais amplo) e de que, por seu turno, esse mesmo desenvolvimento estimularia o desenvolvimento económico e o crescimento do mercado.

Vejamos o Human Development Report da ONU de 2014 com o título Sustaining Human Progress: Reducing Vulnerabilities and Building Resilience. O índice de desenvolvimento humano foi criado em 1990 para enfatizar que as pessoas e as suas capacidades devem ser o critério principal de avaliação do desenvolvimento de um país (por contraponto com o PIB per capita). É um indicador social estatístico composto por três parâmetros: Vida longa e saudável (medida pela esperança de vida ao nascer), educação (medida através da taxa de alfabetização de adultos, da taxa de escolarização e do número de anos de escolaridade obrigatória) e nível de vida (medido pelo PIB per capita em dólares).


No relatório de 2014, Portugal ocupa o 41º lugar no ranking de desenvolvimento (o relatório de 2014 refere-se ao ano 2013). Em 2010 foram introduzidos índices complementares ao IDH, nomeadamente o Índice de Desigualdade de Género (IDG). O Índice de Desigualdade de Género (IDG) reflete desigualdades com base no género em três dimensões - saúde reprodutiva, autonomia e atividade econômica. A saúde reprodutiva é medida pelas taxas de mortalidade materna e de fertilidade entre as adolescentes; a autonomia é medida pela proporção de assentos parlamentares ocupados por cada género e a obtenção de educação secundária ou superior por cada género e a atividade económica é medida pela taxa de participação no mercado de trabalho para cada género. O IDG substitui os anteriores Índice de Desenvolvimento relacionado com o Género e Índice de Autonomia de Género. Ele mostra a perda no desenvolvimento humano que decorre da desigualdade entre as conquistas femininas e masculinas nas três dimensões do IDG.


O conceito de vulnerabilidade é central no relatório. A vulnerabilidade varia ao longo do ciclo de vida, sendo maior nas crianças, nos adolescentes e nos velhos. Varia, ainda, consoante a zona geográfica, o género e a etnicidade, sendo grande nos povos indígenas e nos que vivem na pobreza extrema. Mais de 2.2 billiões de pessoas vivem ou estão perto de viver uma pobreza multidimensional, mais de 15% da população mundial está vulnerável à pobreza multidimensional, 80 % não tem proteção social, 5 a 12% (842 milhões) sofrem de fome crónica. Mais de 1.5 billiões de pessoas desenvolvem trabalho informal ou precário. Vulneráveis são também os deficientes e as pessoas que habitam zonas geográficas que sofreram alterações do clima. Entre 2000 e 2012 mais de 200 milhões de pessoas, a maioria de países em desenvolvimento, foram atingidas por desastres naturais, especialmente por cheias e por secas. Crises económicas, doenças, guerras, desastres naturais são factores que criam vulnerabilidade.

Mas o desenvolvimento humano engloba mais dimensões para além das avaliadas pelo IDH como, aliás, a ONU reconhece e como explicitado na figura infra. O relatório apenas avalia a dimensão assinalada na parte superior do esquema, não avaliando a dimensão apresentada na parte inferior.





Fonte: ONU, Relatório do Desenvolvimento Humano, 2014


Assim, o desenvolvimento é um processo holístico, que deve visar a melhoria das condições de vida da população, a expansão das oportunidades de educação, de saúde e o acesso aos recursos, o desenvolvimento humano de pessoas, para as pessoas e com as pessoas, melhorar o social nas suas diversas dimensões, atender ao respeito pelos direitos humanos, criar sustentabilidade, possibilitar a expansão das capacidades e das liberdades, a inclusão e o empoderamento dos mais pobres.

O género revela-se uma dimensão fundamental de análise. A feminização das migrações é uma das cinco características que definiriam a actual era das migrações (Castles e Miller, 1998). A feminização das migrações refere-se quer ao aumento do número de mulheres migrantes quer ao empoderamento. De acordo com dados da ONU, aproximadamente 50% dos migrantes da actualidade são mulheres, sendo o número de mulheres superior ao dos homens nos países desenvolvidos. A migração das mulheres sofreu grandes alterações nas últimas décadas. No cenário anterior jovens imigrantes masculinos atravessavam as fronteiras, ocupando as mulheres uma posição passiva nos processos migratórios, acompanhando os pais/maridos/companheiros em resultado das decisões migratórias daqueles. As mulheres permaneciam na esfera doméstica, sem acesso ao domínio público. Esta situação passiva das mulheres foi substituída por um maior empoderamento, por uma maior participação pública das mulheres e por maior poder de decisão política nos vários níveis, participação ou liderança das associações de migrantes, papel no seio da família e no envio de remessas para os países de origem, maior divisão das tarefas domésticas, papel mais dinâmico nas redes sociais. Visões mais otimistas perspetivam as mulheres como os “novos agentes do desenvolvimento”.


Quando se coloca o empoderamento na balança e se procura avaliar o impacto das mulheres na igualdade de género considera-se que existe empoderamento se existe poder de tomada de decisão no seio da família, melhoria de qualidade de vida no país de origem, acesso das crianças à educação, aumento de auto-estima, maior autonomia, renegociação dos papéis familiares, aumento de estatuto na comunidade, compra de casa ou de negócio e aumento do poder de compra. Pelo contrário, existe desempoderamento se existe trabalho mal pago, abuso e exploração, frustração, dificuldade em poupar dinheiro (auto-sacrifício), duplo vínculo (trabalho produtivo e reprodutivo), isolamento, estigma da má mãe (abandonando crianças no país de origem), invisibilidade (vozes não ouvidas), capacidades não  aproveitadas e dupla discriminação mulher/imigrante.


As representções das mulheres migrantes são muito extremadas variando entre, por um lado,  representações muito pejorativas e miserabilistas e, por outro lado, representações idealizadas. De acordo com estas últimas representações as mulheres migrantes seriam coordenadoras das vidas familiares transnacionais, emissoras de remessas, detentoras de espíritos sacrificiais e de grande altruísmo, protectoras e nutridoras e trabalhadoras empenhadas.


Uma perspectiva de género do desenvolvimento não se limita a desagregar os dados por sexo ou apenas considerar o género uma variável da equação, tal como a idade ou o nível educacional. Há que entender que as relações de género afectam e são afectadas por cada passo do ciclo migratório. A análise deve ter em conta o nível das famílias, mas também o nível das comunidades, das instituições, nacional e transnacional, tendo em conta a diversidade de homens e de mulheres e as formas como os géneros são construídos e reconstruídos ao longo dos processos migratórios. É também importante considerar os comportamentos e as identidades dos homens - ou o que é colectivamente designado por “masculinidades”- uma vez que também eles se relacionam com o processo migratório.


Numa perspectiva de género, de forma a compreender a complexidade do processo migratório e do seu impacto no desenvolvimento há que ter em conta 4 eixos de análise (Petrozziello, UN Union, 2013):


I. Género como categoria central de análise (que não se focaliza apenas nas mulheres mas nas relações de poder entre homens e mulheres, modificando e produzindo novas identidades através dos processos migratórios)

II. Direito ao desenvolvimento humano - visão holística das capacidades e da liberdade dos indivíduos (diferente de desenvolvimento económico).

III. Dimensão espacial do desenvolvimento – do transnacional ao local – Analisar “what is happening there and what is happening here” de forma a identificar pontos chave de intervenção.

IV. Migrantes como protagonistas do desenvolvimento (lucrando com o desenvolvimento e com a melhoria das condições de vida, intervindo activamente no processo de desenvolvimento e decidindo sobre o processo de desenvolvimento).


Convem ter uma perspectiva mais realista da mulher migrante, perspetivando-a como alguém que lucra com o processo de desenvolvimento, que intervem no processo de desenvolvimento e que decide sobre o processo de desenvolvimento.


Enquanto investigadores/investigadoras deveremos dar voz às mulheres. Dar voz é dar poder. Dar oportunidades de romper o silenciamento, recorrendo a metodologias participativas, recolha de histórias de vida, recolha fílmica em que a mulher seja o centro da análise.



Referências bibliográficas


Balandier, Georges. (1997). A desordem: elogio ao movimento. Rio de Janeiro: Bertrand.


Bauman, Zygmunt (2007). Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.


Bhabha, H. K. (1994). The Location of Culture. Londres e Nova Iorque: Routledge.


Castles, S. & Miller, M.J. (1998). The Age of Migration: International Population Movements in the Modern World. Londres: Macmillan.


ONU (2014). Human Development Report 2014. Sustaining Human Progress: Reducing Vulnerabilities and Building Resilience. Nova Iorque: UNDP.


Petrozziello. A. (2013). Gender on the moove. Working on a Migration Developement nexus from a Gender Perspective. UN Women.

















      Homenagem Carlos Correia




Em  Monção  (todos as comunicações )....

 5 setembro  Iniciativas da AMM em  Monção colóquio e exposição " Expressões de cidadania no feminino" 


Texto introdutório

Catálogo da exposição de pintura e escultura " Expressões de cidadania no feminino" 

Monção, terra minhota , traz na sua memória e génese uma figura feminina de notável destaque - Deu-la-Deu Martins. O brasão da vila contempla esta  mulher lendária t que graças à sua inteligência e perspicácia deu a esta terra, fronteira com Espanha, um futuro independente e promissor. 

Atualmente, ela está representada na escultura de João Cutileiro, sobranceira ao rio Minho, figura imponente, desmultiplicada, aberta a interpretações variadas  que só a arte sabe oferecer: simboliza talvez as múltiplas facetas da cidadania do feminino que tem uma força especial e única na forma como as mulheres veem o mundo, e a importância e riqueza  do coletivo que faz um ideal erguer-se e ser vencedor.

Se esta exposição tem como base a inspiradora figura do passado desta vila, figura da nação, que carrega consigo uma longa e vencedora história de afirmação, as protagonistas nela representadas apresentam-nos, agora, várias propostas. Estamos perante seis mulheres criadoras, com diferentes formas de expressão, reflexo de vivências múltiplas, com algo em comum - o olhar feminino do mundo que as rodeia, a sua sensibilidade estética como expressão de cidadania. 

Assim, estas obras de arte afiguram-se como metáforas poéticas  onde se pode contemplar o pormenor e o geral, o concreto e o abstracto, o simbólico e o real, o particular e o  universal. Busca-se pelo traço, pelos efeitos cromáticos, pela luminosidade, pelos materiais e pelas texturas, a dimensão das pessoas, dos seus rostos, sulcados de histórias de vida;  as formas, os movimentos, a leveza da expressão, enquanto seres em mudança; procura-se na natureza e no enraizamento, necessário para nos tornarmos mais Pessoas, a busca do pormenor e do geral, patente em descrições de equilíbrio e serenidade que só as  árvores, enquanto símbolo anímico  da vida, nos sugerem. Abraçar o abstracto faz-nos mergulhar nos sonhos e nas utopias que alimentam a vida e a dimensão cósmica, permite-nos ter uma visão ainda mais abrangente, onde o homem, elemento do universo, na dialética constante vida-morte, espreita em várias telas . São apenas algumas propostas de leitura que deixo em aberto...

Trata-se de pintura e escultura contemporânea, uma primeira mostra em Monção de uma manifestação artística que quer  promover o debate de ideias em torno da expressão de cidadania no feminino que não se esgota na arte, mas que tem nela um ponto alto da sua expressão, daí a realização de um colóquio que antecede a exposição.  Aliar esta exposição  ao  debate sobre questões relacionadas com as expressões da cidadania do feminino será uma forma de proporcionar reflexão e mobilizar para uma sociedade mais justa e equilibrada.

 E porque a arte e as questões do género dizem respeito a homens e mulheres e porque os desafios da defesa dos direitos humanos devem ser enfrentarmos lado a lado, integramos de forma simbólica, um artista da terra monçanense que acompanhará esta coletiva de mulheres. - o pintor Ricardo de Campos. Este jovem artista, já com uma caminhada de sucesso com obras marcadas por simbolismos e expressões onde, do ecletismo das formas, texturas e materiais, jorra uma intensa sensibilidade, criatividade, grandeza e irreverência e onde as mulheres têm também um lugar de destaque.

 Como comissária desta exposição, convido-vos a apreciar a pluralidade da riqueza estética nela patente, observando o visível e o invisível das  propostas dos artistas, janelas abertas a novas interpretações.

Arcelina Santiago




Colocar catálogo também e fotos 







Comunicação do Senhor Vereador da Cultura, Dr Paulo Esteves 

Começo por saudar os distintos membros  da Mesa e os convidados presentes e apresentar , em nome da Câmara Municipal, sinceros agradecimentos à Organização deste evento. Sentimo-nos  honrados pelo convite feito pela Dra Arcelina Santiago, membro da direção da Associação Mulher Migrante e pelo facto de terem escolhido Moncão, terra cheia de potencialidades em termos culturais e sempre aberta a novos desafios.

 A temática em torno  da diáspora,  cultura, e igualdade  do género combina com esta terra com longo historial de emigração e integrada no projetos de igualdade  de género. Por isso, foi com muito prazer que aderimos de imediato, como parceiros desta iniciativa que trará visibilidade a Monção e a desafiará para outros projetos.

O município tem vindo a tomar um conjunto de iniciativas, a saber: assinou protocolo de cooperação  com a CIG em Julho de 2014 e, na mesma data, foram nomeados  conselheiro  e conselheira municipal para a igualdade - Paulo Esteves e Cristina  Dias respectivamente.  

Com a assinatura do protocolo,  o município  comprometeu-se a criar um plano municipal para a igualdade, encontrando-se neste momento numa fase de diagnóstico   junto dos/ das colaboradores/as acerca da sua percepção face à  igualdade de género, permitindo, numa segunda fase, adaptar um plano face às necessidades identificadas.

Paralelamente, tem realizado actividades promotoras de igualdade a nível interno, nomeadamente, sinalização  do dia internacional  do homem (19 de Outubro ) e dia da mulher (8 de Março) com sessões  sobre saúde. No âmbito do protocolo  alguns colaboradores e o conselheiro e a conselheira tiveram formação sobre  igualdade  de género, violência doméstica e tráfico  de seres humanos. 

A nível  externo foram realizadas várias ações de informação  para jovens sobre violência  no namoro, ações  de informação  sobre violência doméstica dirigida a diferentes  públicos: forças  de segurança,  bombeiros,  técnicos de saúde e profissionais da área  da educação. 

Também foi comemorado o o dia internacional  pela eliminação da violência  contra as mulheres.

Está a ser criado um   guia para uma linguagem não discriminatória a ser divulgado  junto  dos funcionários da autarquia para  que seja usada nos documentos  da autarquia. 

O município  estabeleceu também  parceria  com o GAF e o centro  de atendimento  a vítimas  de violência doméstica  de Vila Praia  de Âncora, para onde são encaminhadas as vítimas e agressores.

O Município sabe que estes são pequenos passos, mas  que farão a diferença e continuará a trabalhar porque tem consciência de que há ainda muito a fazer. 

Estou também em representação do D. Arturo , Alcalde de Salvaterra do Mino  que não podendo estar presente louva está iniciativa. Sobre Salvaterra a informação a que tive acesso é que em termos de género , no município, 80% das pessoas que trabalham no serviço externo são homens e 20% do serviço interno é assegurado por  mulheres. Trata-se de um quadro muito semelhante ao que acontece no nosso município. Daí concluirmos que há ainda um grande trabalho a desenvolver nesta área. 

Sobre o desafio que foi aqui proposto e já ventilado pela Dra Arcelina Santiago em reuniões preparatórias , gostaria de declarar que a Câmara Municipal  está inteiramente de acordo e aceita o desafio proposto - realizar uma Cimeira em 2016 sobre o tema " Expressões de cidadania no feminino"  de âmbito Luso Galaico, por isso, convidamos desde já,  todos os elementos envolvidos nesta iniciativa. 



Comunicação professora Luisa Malato





Comunicação da  Dra Manuela Aguiar 


Comunicação professor  Viriato Capela

Mulheres, figuras de Nação. Rosalía de Castro e Maria da Fonte


José Viriato Capela

Prof. Catedrático

Presidente da Casa Museu de Monção/Universidade do Minho


A ideia de Nação e Nacionalismo, como é sabido, é uma ideia “moderna”, do nosso século XIX, depois levada ao paroxismo com os Estados-Nação do século XX. Na base tem comumente o sentido de construção e reforço de identidade nacionalista e patriótica dos povos, com horizontes expansionistas assentes em múltiplos fatores, linguísticos, étnicos, geográficos, históricos, económicos, entre outros.

Na Península Ibérica eles também atuariam no sentido de reforço dos Estados e estão na origem da construção de Estados totalitários – Franquista e Salazarista – que se formaram em paralelo dos violentos Estados Fascistas italiano e nazi-alemão.

No que diz respeito a Portugal e Espanha, no seio da Península Ibérica, eles serviram para firmar as identidades e claras separações entre os dois Estados Peninsulares, isto sem embargo, algumas colaborações e aproximações entre ambos os regimes. A construção do Nacionalismo unitário franquista em Espanha teve, de algum modo, de se construir com e contra os nacionalismos e autonomias regionais; em Portugal o Nacionalismo português não se debateu com projetos de nacionalismos ou autonomias regionais. Reforçou a identidade nacional face a Espanha, de algum modo também o todo unitário de Estado colonial. E na Historiografia desenvolveu os estudos na perspetiva de valorizar dos fatores da identidade e singularidade da História portuguesa no conjunto peninsular.

A História Portuguesa, tem sido construída na base de uma Historiografia escrita por homens. Em particular, esta História dos Nacionalismos, que sendo um capítulo que envolve, de modo especial, domínios ligados a Ação política e militar, tem sido escrita sobretudo com base na História Política e militar e dos feitos heroicos dos portugueses.

As formas de nacionalismos, de base regional, que querem exprimir a força e identidade dos povos, numa perspetiva da sua afirmação particular em conjuntos mais vastos, que não passam necessariamente pela construção de grandes Estados, é uma realidade que não deve ser esquecida da História dos Povos, até porque eles põem em marcha outros agentes e referentes.

E relativamente a Espanha aí estão as múltiplas formas históricas de lutas, com base nas suas identidades «nacionais», pelos regionalismos, pelos estatutos autonómicos, pela própria independência nacional. Em Portugal, as manifestações desta índole nunca foram além de reivindicações regionalistas, sem horizontes políticos que não sejam o de defesa e promoção dos interesses regionais e num vago Provincianismo de base administrativa. A Língua Portuguesa – que é única e forte no todo nacional e nas terras da Expansão Portuguesa – e a precoce construção de um Estado centralizado nunca propiciaram desenvolvimento de entidades regionais. O que é facto é que estes Estados fortemente centralizados provocam os maiores desequilíbrios no desenvolvimento nacional, que tanto ou mais que outros sentimentos de secundarização política, social, ou cultural, provocaram os movimentos reivindicativos regionais.

São conhecidos em Espanha desde o século XIX as lutas de algumas regiões, designadamente na nossa vizinha Galiza que desembocaram nos Estatutos Autonómicos. São também conhecidos em Portugal as reivindicações regionalistas da mesma etapa, que acabam por definir prosaicamente e temporariamente a Província (1936) como entidade administrativa. A tradição municipalista entre nós, desembocou, no Poder Local. A História dos movimentos regionalistas e pela autonomia ou mais prosaicamente, pela defesa das tradições e «liberdades» dos povos – face às Culturas e Estados Nacionais – escreve-se na Galiza e em Portugal, também com o nome de duas mulheres, Rosalía de Castro e Maria da Fonte. Elas vão associadas a processos de defesa e construção de identidades nacionais no século XIX de base regional e deixam bases para o futuro. Nessa perspetiva se lhes aplicará também o epíteto de Figuras de Nação, porque vão associadas à construção das bases e ideias dos Nacionalismos para as suas terras e regiões (caso de Rosalía) ou de outro modo de conhecer (defender) a Nação tradicional Portuguesa face às mudanças do Liberalismo (Maria da Fonte).

Apesar destas circunstâncias, não parecerá a muitos admissível a aproximação destas duas figuras, que exprimem a sua intervenção de modo muito diferenciado. De facto, uma, Rosalía de Castro, figura histórica bem fixada, na sua terra natal, na sua biografia, na sua obra literária e cultural; outra, Maria da Fonte, de difícil se não impossível fixação pessoal – identitária, mais expressão de movimento coletivo de mulheres, do que ação individual, isto é, mais mito do que realidade.

Mas a razão desta aproximação decorre do papel que ambas as figuras tiveram no processo de defesa e construção de identidades locais e regionais, em tempo de ativa absorção estadual e cultural dos seus territórios, a Galiza no grande Estado e Nação de Espanha, o Minho, e por ele uma certa personalidade e identidade social e cultural, no Estado e Nação Portuguesa, no século XIX.

São ambas contemporâneas do processo de abolição do Antigo Regime e de construção do Liberalismo em Espanha e Portugal, de disputas entre liberais e absolutistas e dos seus diferentes projetos de Sociedade. Atentam ambas por meados do século XIX, num estádio já desenvolvido da implantação do novo Estado Liberal, mais centralista que o Estado Absolutista do passado. E vivem e refletem o quanto essa evolução política tem sido feita contra ou a desfavor dos Povos e das Culturas das suas regiões e províncias.

Rosalía fixará por então desde meados do século XIX em prosa e poesia a mais dolorida expressão a que está a ser votado o Povo Galego, pelo desprezo e desclassificação a que está a ser votada a Língua galega e sua Cultura no seio de outras Nações peninsulares, face a Castela, sobretudo. E também, às forças económicas e anímicas da Galiza, que se estão a exaurir sob o efeito da Emigração. Galiza que considera e elege como mais rica e úbere região de Espanha se a libertarem dos estrangulamentos a que vai submetida.

Maria da Fonte, de armas na mão, a partir da Póvoa de Lanhoso, também a meados do século, desde 1846, mobilizará o povo minhoto e nortenho contra as instituições do Liberalismo e do Cabralismo em defesa das «Santas Liberdades» que aqui são a uma expressão mobilizadora a defesa das velhas tradições contra um Estado e Governo Ditatorial.

Aproxima então Rosalía de Castro e a Maria da Fonte o mesmo sentido de defesa da autonomia das terras e das regiões e vontade da sua afirmação política e cultural, em tempos, em que regiões e províncias periféricas como a Galiza e o Minho estão a ser secundarizadas e diminuídas.

Estamos em face de movimentos de natureza diferente: um que pelas Letras e Cultura quer defender e promover o seu povo e lançar os fundamentos do resgate do Povo galego; outro que pelas Armas quer combater um Estado centralista e opressor que governa contra a Nação, isto é, contra os Povos.

São conhecidas as armas e as gestas militares da Revolução da Maria da Fonte que logo se estenderá a todo o Minho e que tomará a designação de Revolução do Minho.

Para Rosalía de Castro é a Cultura e a Língua que devem ser as Armas defesa do Povo Galego. Vale a pena fixar aqui a apresentação de Rosalía à sua mais notável obra que virará matriz do galeguismo, os «Cantares galegos» (1ª ed., 1863; 2ª ed., 1872)..

«E a nossa língua não é aquela que bastardeiam e champorrem torpemente nas mais ilustradíssimas províncias, com uma risa de mofa, que a dizer verdade (por mais que esta seja dura), demonstra a ignorância mais crassa e a mais imperdoável injustiça que pode fazer uma provincia à outra provincia irmã, por pobre que esta seja. Mais é aqui que o mais triste nesta questão é a falsidade com que fora daqui pintam, assim os filhos da Galiza como a Galiza mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciado e feio de Espanha, quando acaso seja o mais fermoso e digna de alabança».

Qual o diferente legado das ações e obras destas duas figuras (movimentos)?

Em Rosalía de Castro o mais profundo sentido otimista do destino do Povo e Nação galega. E também do papel e lugar da sua Língua que com a sua obra será a verdadeira fundadora do Galego como Literatura Moderna. Na Maria da Fonte e Revolução do Minho, o sentido da luta contra os autoritarismo e despotismos e a defesa dos valores tradicionais dos povos e regiões.

A Maria da Fonte, como ação política teve efeito imediato no Levantamento Minhoto, Nortenho e Nacional contra o Governo de Costa Cabral e suas medidas, que levam à sua queda. A obra literária e poética de Rosalía de Castro só será o fundamento da luta pelo nacionalismo galego, mais tarde, porque a sua obra só será publicada lida e reconhecida, por finais do século XIX e no século XX em que perduraria pela «atração insuperada dos seus versos regionais».

De qualquer modo ambas tiveram um papel importante nos processos dos ressurgimentos nacionais e nacionalistas de finais do século XIX, que preparam os movimentos republicanos, em Espanha e Portugal, e que passam, em ambos os casos pela valorização, papel e lugar que devem ter os territórios, as províncias, as regiões no processo global dos Ressurgimentos Nacionais.

Rosalia de Castro virará a maior referência dos promotores do Nacionalismo Galego. Maria da Fonte, suporte de um vago Regionalismo e Provincianismo bandeira de forças liberais e conservadoras, na sempre expressão da capacidade das terras e regiões de afirmar a sua identidade e tradição.

No final de contas, também, dois modos diferentes de intervir, de base feminina: o literário, o cultural, da obra individual que mobilizará as vontades a mais largo prazo do povo que contra e a quem se dirige; o belicoso e guerrilheiro do movimento coletivo, de rutura e gestos violentos mas que sempre também se perpetuam e vem à memória.



Comunicação de Arcelina Santiago    

Arte no Feminino

Os meus cumprimentos a todos os  excelentíssimos membros da mesa e convidados e um agradecimento muito especial ao Sr Prof Dr. Viriato Capela e Dra Sandra por terem desde o começo abraçado esta iniciativa.

Fazendo a ligação entre os dois temas aqui abordados, diáspora e literatura, com a arte, tema que tratarei, embora não seja especialista de arte, mas sim apreciadora e considero-a mobilizadora de causas.   

Começarei  por mencionar Ana Harthely que reúne estas três dimensões, uma forma singela também, de prestar  homenagem  a uma mulher portuguesa da diáspora que ao deixar-nos, deixa o mundo cultural português mais pobre. Artista plástica , poeta, romancista, ensaísta, estudiosa da poesia barroca, "a pintora da palavra", como alguém a chamou, tem mais de 400 poemas publicados." Tisanas " livro de pequenos poemas foi o mais conhecido. Deixa-nos uma extensa obra , patente na fundação Calouste   Gulbenkian, no Museu de Arte contemporânea , Serralves , Museu do Chiado e muitos mais.


Abordarei, então , a perspectiva da arte, fazendo a ponte para  a exposição que também nos traz hoje aqui a está Casa Museu e que muito me apraz pois está casa  faz  parte da história da minha família. 


A arte é efetivamente  aglutinadora de culturas, de saberes e sentires e de reforço das relações humanas . Ela gera emprego, propicia a socialização, e promove mais valia quando se cruzam culturas, como tão bem referiu Isabel Ponce leão no Encontro Mundial da Diáspora, promovido pela Associação Mulher Migrante, em 2013  " A arte apresenta-se como um domínio propício a construções interculturais sendo, como é, expressão de criatividades idiossincráticas. É justamente neste encontro de diferenças que se gera a comunhão de saberes e de afetos e se demanda o cosmopolitismo de que o século XXI não abdica . A arte assume por si só , a superação de particularíssimos e difunde linguagens universais propiciadoras de um ecumenismo prático. Tendo como certo que as políticas públicas e os seus agentes podem e devem tornar-se mais amigos da criação artística de matriz intercultural. (...) Identidades e diferença são conceitos que apontam para um espaço continuo, sem fronteiras , onde o eu e o outro partilham crenças e estéticas fazendo desmoronar posições dominantes e subalternas...


Assim , sobre a riqueza que pode trazer esta multiculturalidade da arte no feminino, bem como a partilha de temas relacionado com as mulheres, lançamos um repto cultural aproveitando a presença dos excelentíssimos, representantes políticos e responsáveis do projeto  "Euro Cidade  Monçao  /Salvatera do Mino, a saber:  partilha e intercâmbio  de âmbito galaico português  nestes moldes -  exposição e colóquio numa cimeira a ser realizada de dois em dois anos, com o tema "expressões de cidadania no feminino " . Temos muito a partilhar e a debater sobre a forma como aconteceu a diáspora nos dois países e a sua relação  com a arte,  uma tentativa de leitura do mundo contemporâneo com vista à estruturação de uma cidadania multicultural , igualitária e emancipatória , de formação humanística  cosmopolita.


Depois deste repto, lembro o passado e as mudanças que aconteceram, provavelmente muito à semelhança do que se passou com as mulheres do nosso país vizinho. 


Da memória do passado, conservamos a imagem da mulher doméstica com funções e divisão de papeis, marcada por uma construção meramente social. A afirmação das mulheres foi uma caminhada árdua e ainda não acabada, num mundo dominado pelo masculino. Ainda hoje, se há áreas em que a discriminação foi praticamente  ultrapassada, outras há  em que um longo caminho ainda vai ser necessário  percorrer. Hoje as mulheres estão presentes em todos os domínios: da investigação à economia, da tecnologia ao empreendedorismo, da literatura à arte, da ciência ao desporto, do ensino à administração, do direito  à política . No entanto, a sua presença é ainda escassa  em lugares de topo,  e os seus salários  são quase sempre mais baixos em relação aos homens , no desempenho de  iguais tarefas.  O sistema de cotas imposto em alguns domínios veio obrigar a  algum equilíbrio, forçado, é bem verdade,  mas as experiências de alguns países, mostram-nos que pode ser um meio de estímulo para as mulheres e uma alteração do status quo, construído em termos sociais com dominância no masculino.

Do passado lembramos também a quase inexistência da presença de mulheres em certas áreas e a sua  concentração em áreas sócias, dos serviços e  na educação. A nível de literatura por exemplo, aconteceu escreverem com pseudónimos masculinos, para obterem melhores críticas e melhor aceitação social. Maria Archer , jornalista e escritora, mulher da diáspora,  já homenageada pela Associação Mulher Migrante, teve a ousadia de não o fazer e denunciou essa discriminação , que  lhe valeu o exílio. 


Felizmente que as conquistas de abril abriram portas  às mulheres na luta pelos seus direitos: liberdade, autonomia, independência... A Associação Mulher Migrante  com mais vinte anos de existência tem contribuído para esta luta pela igualdade e visibilidade das mulheres. Deu enfoque deste tema na sua última edição de 2014, com o título de " 40 anos de Migrações em Liberdade " e dedicou o tema " Expressões femininas da Cidadania" em 2013. Neste ano, no Encontro Mundial de Mulheres na Diáspora colocaram-se em debate estas duas questões que volto a trazê-las para este colóquio. 


. Será que as mulheres terão de percorrer um caminho mais árduo do que os homens para a sua afirmação no domínio artístico?

. Serão as artes um veículo com particular potencial para a afirmação da agenda da igualdade de género? 


Podemos constatar que, com a chegada de abril , também na arte aconteceram mudanças desejadas.  A liberdade de expressão e de exposição pública deu às  mulheres das artes possibilidade de darem o seu grito de explosão criativa.  A promoção da cultura e da divulgação da arte no feminino  tem sido um ponto forte de alguns municípios e associações, contribuindo com eventos diversificados. 

Os Estados vêm agora na cultura um grande potencial, um poderoso soft power utilizados nos seus esforços de diplomacia pública para afirmarem as suas identidades e potencialidades.


Quero salientar neste ponto, o contributo das mulheres intelectuais tão importante  na luta pela igualdade pois  transportaram para a ribalta trajetórias identitárias de mulheres que até agora estiveram nas margens, como tivemos a oportunidadede constataremos testemunho daprofessora Dra Luisa Malato. 


No mundo das artes as mulheres têm sido lutadoras através do acto criativo, construindo imagens pictóricas e metafóricas que invadem o nosso imaginário e que nos fazem sonhar bem alto e que só a arte tem esse condão , como disse um dia o poeta Adolpho Rosse " depois escutai : não é a cotovia quem canta ... é o pássaro cor do infinito" . 


E se a pintura e a escultura é uma reorganização permanente de metáforas,então,  que elas inspirem os nossos sonhos! É esta a proposta destes criativos e criadores que temos presentes na exposição hoje aqui a ser inaugurada.


Sobre ela, acrescentarei que  é essencialmente  feminina ,  não por acharmos  que devemos discriminar os homens,  mas sim para se aproveitar a ocasião para chamar a atenção para a questão da igualdade de género tema que a edilidade monçanense também abraçou.


A introdução de um artista monçanense, Ricardo de Campos, foi simbólica. Por um lado , queremos homenagear esta terra minhota,  por outro, mostrar  que nesta luta , homens e mulheres terão de estar unidos  porque deles depende a conquista de uma sociedade mais justa e equilibrada e promissor, mais feliz.

Temos então propostas abertas a novas interpretações de  seis mulheres criadoras, no domínio da escultura e da pintura contemporânea , com diferentes formas de expressão, reflexo de vivências múltiplas, com algo em comum - o olhar feminino do mundo que as rodeia, a sua sensibilidade estética como expressão de cidadania. Assim, estas obras de arte afiguram-se como metáforas poéticas  onde se pode contemplar o pormenor e o geral, o concreto e o abstracto, o simbólico e o real, o particular e o  universal. Busca-se pelo traço, pelos efeitos cromáticos, pela luminosidade, pelos materiais e pelas texturas, a dimensão das pessoas, dos seus rostos, sulcados de histórias de vida;  as formas, os movimentos, a leveza da expressão, enquanto seres em mudança; procura-se na natureza e no enraizamento, necessário para nos tornarmos mais Pessoas, a busca do pormenor e do geral, patente em descrições de equilíbrio e serenidade que só as  árvores, enquanto símbolo anímico  da vida, nos sugerem. Abraçar o  abstracionismo  permite-nos mergulhar nos sonhos e nas utopias que alimentam a vida. A dimensão cósmica, permite-nos ter uma visão ainda mais abrangente, onde o homem, elemento do universo, na dialética constante vida-morte, espreita em várias telas . São apenas algumas propostas de leitura que deixo em aberto...Trata-se de pintura e escultura contemporânea, uma primeira mostra em Monção de uma manifestação artística que quer  promover o debate de ideias em torno da expressão de cidadania no feminino e que não se esgota na arte, mas que tem nela um ponto alto da sua expressão, daí a realização de um colóquio que antecede a exposição. 


É para mim uma honra ser comissária desta exposição. Vou apresentar-vos as artistas, dando alguns breves tópicos, e certamente que os detalhes ser-vos-ão transmitidos pelas próprias. 

 Luísa Prior, com a sua avassaladora perspetiva cósmica do universo 

 Filomena Fonseca, retratista exímia da expressão humana

 Maria André, aguarelista da luminosidade e da mestria do pormenor.

 Teresa Heitor, com o destaque para uma intensa  força anímica da natureza -  as árvores.

 Lena Álvares, com a exuberância da arte em vidro aliado ao poder e simplicidade dos troncos.

 Filomena Bilber com as suas bailarinas cheias de graciosidade e muita alma.

 Ricardo de Campos com a sua arte irreverente, de impacto, onde  mulheres surgem despojadas de preconceitos 

  São as artistas desta coletiva, curiosamente, todas elas representadas na Bienal de Gaia, evento de grande referência cultural, a nível nacional e internacional. O mesmo acontece com Ricardo de Campos presente nessa  mesma  bienal e também na Bienal de Cerveira. São membros da Associação Mulher Migrante,   mulheres criadoras que, com a sua arte expressam a sua cidadania  ativa, defensora de causas.


 Termino, voltando a repetir o repto  inicial: a proposta da cimeira entre dois países vizinhos que têm certamente tanto para partilhar sobre as dimensões das mulheres aqui focadas, mas muitas outras existem. 


 Para dar corpo a esta iniciativa futura,  porque não começar com uma itinerância de arte e debate de ideias , no modelo aqui apresentado, ainda tímido, mas com uma força de querer avançar com outra dimensão?


Comunicação Dr Nassalete Miranda 

Em vez dela uma nota da imprensa

Monção viveu no sábado , dia 5 de setembro , um momento importante, colocando na agenda do dia, a discussão em torno dos direitos humanos e da igualdade do género. A Associação Mulher Migrante foi a promotora desta iniciativa em parceria com a Casa Museu, a Câmara Municipal, ao Jornal Artes entre as Letras, a Quinta de Santiago em Monção e ainda a EPRAMI.


A inauguração da exposição e colóquio aconteceu na Casa Museu da Universidade do Minho com o tema “Expressões de cidadania no feminino” . Seis mulheres, pintoras e escultoras apresentaram-se juntamente com o monçanense Ricardo de Campos, dando o seu contributo de cidadania através da arte. Outas vertentes estiveram em  debate.


Nassalete Miranda , foi a moderadora deste colóquio. Directora de O Primeiro de Janeiro de 2000 a Julho 2008 e criadora do jornal  quinzenal “ As Artes entre As Letras” em Maio de 2009. O Jornal recebeu em 2011 a qualificação dada pelo governo português de "publicação de interesse cultural e literário para o país e mundo lusófono". Em Julho deste ano recebeu a Medalha de Mérito Cultural, Grau Ouro, da Cidade do Porto, graças à sua intervenção em prol da cultura.


A primeira intervenção foi a do senhor vereador , Dr. Paulo Esteves, que esteve em representação do senhor Presidente da Câmara e  também em representação de D. Arturo de Salvaterra do Mino.  A sua intervenção foi orientada para o projecto que a edilidade abraçou sobre “ igualdade de género”  tendo focado a sua preocupação até por ser a sua área de intervenção profissional. Admitiu haver muito a fazer mas que pequenos passos podem ser significativos para um melhor futuro nesta área.


 Seguiu-se a intervenção da  Professora  Dra Luísa Malato,  professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,  trazendo  para a ribalta uma mulher -  Catarina de Lencastre -  autora de muito géneros literários, líricos e dramáticos, esquecida no cânone historiográfico português. Váris  questões foram lançadas em jeito de reflexão,  com recurso a exemplos histórico-literários, onde as mulheres do século XVIII foram  apresentadas como mulheres impulsionadoras de mudanças,  mas que o século  seguinte as fez recolocar no seu papel tradicional.  


A Dra Manuela Aguiar foi Secretária de estado das Comunidades Portuguesas , teve cargos políticos importantes, e é Presidente da Assembleia geral da Associação Mulher Migrante. Na verdade, ela é a especialista das questões da diáspora. Apresentou-nos as características da emigração portuguesa, dominada pela partida de homens “sós”  aquilo que se pode referir à primeira política de género , com a proibição da migrações no feminino,  absolutamente discriminatória. As migrações maciças no feminino foram um fenómeno fortemente combatido, que cresceu, sem cessar a partir de novecentos, nas correntes intercontinentais, e atingiu a quase paridade a partir de meados do século XX, com o êxodo imparável de famílias inteiras para a Europa e, em menor escala, para outros destinos transoceânicos. Apelou ao estudo do papel  central  da Mulher nas novas diásporas, não suficientemente estudado e reconhecido. Há como referiu “uma anacrónica invisibilidade a dominar a verdade e o significado da emigração e da Diáspora feminina”. 



Mulher Migrante foi a promotora desta iniciativa em parceria com a Casa Museu, a Câmara Municipal, ao Jornal Artes entre as Letras, a Quinta de Santiago em Monção e ainda a EPRAMI.


A inauguração da exposição e colóquio aconteceu na Casa Museu da Universidade do Minho com o tema “Expressões de cidadania no feminino” . Seis mulheres, pintoras e escultoras apresentaram-se juntamente com o monçanense Ricardo de Campos, dando o seu contributo de cidadania através da sua arte. Outras vertentes estiveram em  debate.


Nassalete Miranda , foi a moderadora deste colóquio. Directora de O Primeiro de Janeiro de 2000 a Julho 2008 e criadora do jornal  quinzenal “ As Artes entre As Letras” em Maio de 2009. O Jornal recebeu em 2011 a qualificação dada pelo governo português de "publicação de interesse cultural e literário para o país e mundo lusófono". Em Julho deste ano recebeu a Medalha de Mérito Cultural, Grau Ouro, da Cidade do Porto, graças à sua intervenção em prol da cultura.

A primeira intervenção foi a do senhor vereador , Dr. Paulo Esteves, que esteve em representação do senhor Presidente da Câmara e  também em representação de D. Arturo de Salvaterra do Mino.  A sua intervenção foi orientada para o projecto que a edilidade abraçou sobre “ igualdade de género”  tendo focado a sua preocupação até por ser a sua área de intervenção profissional. Admitiu haver muito a fazer mas que pequenos passos podem ser significativos para um melhor futuro nesta área.

 Seguiu-se a intervenção da  Professora  Dra Luísa Malato,  professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,  trazendo  para a ribalta uma mulher -  Catarina de Lencastre -  autora de muito géneros literários, líricos e dramáticos, esquecida no cânone historiográfico português. Várias  questões foram lançadas em jeito de reflexão,  com recurso a exemplos histórico-literários, onde as mulheres do século XVIII foram  apresentadas como mulheres impulsionadoras de mudanças,  mas que o século  seguinte as fez recolocar no seu papel tradicional.  


A Dra Manuela Aguiar foi Secretária de estado das Comunidades Portuguesas , teve cargos políticos importantes, e é Presidente da Assembleia geral da Associação Mulher Migrante. Na verdade, ela é a  especialista das questões da diáspora. Apresentou-nos as características da emigração portuguesa, dominada pela partida de homens “sós”  aquilo que se pode referir à primeira política de género , com a proibição da migrações no feminino,  absolutamente discriminatória. As migrações maciças no feminino foram um fenómeno fortemente combatido, que cresceu, sem cessar a partir de novecentos, nas correntes intercontinentais, e atingiu a quase paridade a partir de meados do século XX, com o êxodo imparável de famílias inteiras para a Europa e, em menor escala, para outros destinos transoceânicos. Apelou ao estudo do papel  central  da Mulher nas novas diásporas, não suficientemente estudado e reconhecido. Há como referiu “uma anacrónica invisibilidade a dominar a verdade e o significado da emigração e da Diáspora feminina”. 

 O Professor Dr Viriato Capela, director da Casa Museu e Professor  catedrático do Departamento de História da Universidade do Minho, referiu, tendo em conta  a musa inspiradora desde coloquio e exposição, Deu- la- Deu Martins, duas  figuras de Nacion – Rosalia de Castro e Maria da Fonte. Trazer a este encontro  a memória e obra de Rosalia de Castro, com biografia organizada e com ampla divulgação, face ao seu distinto papel na construção da moderna língua galega, em contraste da Maria da Fonte, onde pouco  ou quase nada se sabe ao certo foi um desafio, uma forma de provocar reflexão.  Apresenta-se a mulher das letras e da cultura em contraste com a mulher guerreira, mas o que as une é, sem dúvida,  a luta e a promoção da liberdade e autonomia do seu povo.


 Fazendo a ligação entre os temas abordados  neste  colóquio - história, diáspora, arte e literatura , Arcelina santiago, comissária da Exposição, homenageou  Ana Harthely que reúne todas estas dimensões. Seguidamente, abordou a perspectiva da arte, fazendo a ponte para  a exposição. A arte como meio aglutinador  de culturas, de saberes e sentires e de reforço das relações humanas foi posta em destaque.  Sobre a riqueza da  multiculturalidade, a arte no feminino, bem como partilha de outros temas relacionado com as mulheres, foi mote para  lançar  um desafio cultural, aproveitando-se a presença dos responsáveis políticos do

projeto  "euro cidade" Monção  /Salvaterra do Mino". 

Depois, descreveu  a trajetória das mulheres na sua árdua conquista pela liberdade e referiu-se ao papel das mulheres das artes , lutadoras através  do acto criativo, construindo imagens pictóricas e metafóricas que invadem o nosso imaginário e que nos fazem sonhar bem alto.

Com esta  primeira mostra em Monção, de uma manifestação artística, pintura e escultura contemporânea no feminino,  pretendeu-se  promover o debate de ideias em torno da expressão de cidadania no feminino, que não se esgota na arte, mas que tem nela um ponto alto da expressão. 


Luísa Prior, Filomena Fonseca, Maria André , Teresa Heitor, Lena Álvares e Filomena Bilber são as artistas desta coletiva, membros da Associação, mulheres criativas que expressam a sua cidadania ativa, defensora de causas e curiosamente, todas elas representadas na Bienal de Gaia, evento de grande referência cultural, a nível nacional e intencional. O mesmo acontece com Ricardo de Campos, artista monçanense, simbolicamente representando a ideia de  que a luta  pelos direitos humanos é feita por homens e mulheres.

No final, em resposta ao repto lançado por Arcelina Santiago -  realização de uma cimeira de âmbito galaico-português  com este mesmo tema e segundo estes moldes, de exposição e coloquio, foi dada uma resposta pronta e firme de aceitação deste desafio por parte do senhor vereador.

  Muito trabalho teremos pela frente, mas será um bom desafio que permitirá conhecer melhor as realidades entre os dois países e  dará visibilidade aos problemas da mulheres e quiçá a uma melhor orientação para a sua resolução?




Comunicação da   Dra Rita

Expresssões de Cidadania no feminino e Exposições de Pintura e Escultura 

Monção,   5 de Setembro de 2015


        Algumas palavras de Saudação e de Agradecimento

       

         Estamos em Monção, famosa pela lendária história de uma heroína portuguesa de seu nome Deu – la – Deu Martins – que, como se sabe virou lenda de mulher corajosa.

      E sendo este evento também uma Iniciativa da Associação Mulher Migrante, foi uma excelente ideia terem-na realizado  neste belíssimo local.

      Desta histórica vila, temos excelentes recordações no que respeita a esta Associação e ao apoio a emigrantes.

      A propósito, permito-me relembrar com especial saudade que por duas vezes – Verão de 1998 e Verão de 1999, salvo êrro-  aqui estivemos em duas Grandes Festas do Emigrante, organizadas pela Câmara Municipal de Monção e  também pelo Jornal “ O Emigrante /Mundo Português”.

       Esta Associação foi então convidada para proporcionar apoio informativo e outro aos portugueses que ali se encontravam de Férias, trabalho esse que fizemos com o maior entusiasmo e que incluía, nomeadamente Entrevistas à comunicação social, sobre a nossa atividade em geral, bem como acerca da vantagem de nos disponibilizarmos para participar nessas Festas.

       Na altura estavam também presentes várias Entidades Públicas e Privadas, pertencentes a vários Ministérios e Secretarias de Estado  que então se ocupavam direta ou indiretamente das Migrações.

       Num desses Encontros, viemos em Parceria com o Instituto Português de Cardiologia Preventiva – criado pelo Prof. Doutor Fernando de Pádua - que com os seus técnicos qualificados proporcionou chec-ups a vários compatriotas, em regime de voluntariado….

      E, a terminar, recordo que numa dessas Fantásticas Festas Minhotas, entre as várias e os vários Portugueses emigrantes que nos procuraram, encontrei, entre outras/os, uma Jovem lusodescendente –  a  Profª Doutora Isabelle Oliveira, atual Vice-Reitora da Sorbonne Nouvelle, que após uma larga conversa sobre a Associação e acerca dos apoios que podíamos proporcionar – acabou por vir a ser, desde então nossa Associada.

      E esse foi, por exemplo, um começo de uma estreita colaboração que se tem intensificado, quer através da participação em Encontros por nós organizados, quer ainda  pela colaboração direta em eventos, nomeadamente como os que  se vão agora  realizar em Paris , no próximo dia 10 de Setembro, em que para além de um Colóquio na Sorbonne Nouvelle, haverá também um Concerto no Conservatório da Mairie de Puteaux,    de homenagem ao Maestro António Victorino de Almeida, pelos seus 75 anos. E outros exemplos se poderiam referir, mas estes foram mencionados  pela sua ligação a Monção e pela proximidade a que estamos da referidas Iniciativas em Paris.

      É com este trabalho conjunto,  em regime de voluntariado e recorrendo  às Parcerias e aos apoios financeiros conseguidos, que temos vindo a evoluir ao longo destes 22 Anos de existência.

      E, por último, na minha qualidade de Presidente da Direção da «Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade», apresentamos os nossos agradecimentos à Mesa que participou e dirigiu os trabalhos desta Sessão:

      Ao Professor Dr. Viriato Capela, digníssimo Diretor da Casa Museu de Monção da Universidade do Minho; à Drª Sandra, que também pertence à Universidade do Minho e que se ocupou dos aspetos logísticos; ao Vereador Dr. Paulo Esteves, que nos acompanhou, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Monção; à Profª Drª Luiza Malato, da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, à Drª Maria Manuela Aguiar – ex – Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas – e atual Presidente da Assembleia Geral da Associação Mulher Migrante e à Drª Nassalete Miranda, que moderou a Mesa e que é Diretora do Jornal “ As Artes entre as Letras” e à Mestre Arcelina Santiago, membro da Direção desta Associação.

       Dirijo ainda Saudações Cordiais a todas e a todos as/os participantes e a outras/os Intervenientes e em especial à excelente Organização, permitindo-me salientar o trabalho desenvolvido, designadamente pelas nossas Associadas Mestre Arcelina Santiago e também pela Digª Pintora Luísa Prior.

      Com a maior gratidão por nos ter sido facultada mais esta oportunidade, me despeço.

                                                          Rita  Andrade Gomes 

       Lisboa, 05 de Setembro de 2015


Testemunho de quem fotografou o evento em Monção 

“ D U P L O   O L H A R “


Fui professora, dedicada de corpo, alma e paixão às escolas por onde passei ao longo de quase quarenta anos de atividade profissional ligada às artes e aos muitos alunos com os quais partilhei muitos afetos e saberes.

Desde sempre me dediquei à fotografia, mas agora, a entrega é muito maior, preenchendo assim o vazio que ficou com a aposentação.

Fui convidada, pela minha amiga pintora Luísa Prior, para fazer a reportagem fotográfica de um evento muito importante para mim, devido à abordagem de temas que sempre me interessaram, e aceitei de imediato.

Agradeço muito a oportunidade que me foi dada. Fotografar e assistir a tudo o que se passou foi para mim um duplo estar. Os nossos sentidos gravam mas, com o tempo, vão esquecendo. Através da fotografia, os momentos ficam registados com mais pormenor e para sempre, podendo a qualquer momento ser revistos e lembrados.

À Luísa Prior, à curadora Dra Arcelina Santiago e à “Associação Mulher Migrante” muitos parabéns e desejos de muitos sucessos.

Aos responsáveis pela Casa Museu de Monção e demais entidades os meus agradecimentos.


Vila Nova de Gaia, 23 de outubro de 2015

Isilda Patrocínio



Testemunhos das artistas

Luísa Prior

 “EXPRESSOES DE CIDADANIA NO FEMININO”

Este projeto para a qual fui convidada pela Dra Arcelina Santiago, sua mentora e curadora foi mais oportunidade de dar a conhecer a minha obra, divulgando-a e levando-a para terras de interior, como mais-valia, integrada na temática do feminino, que faz do meu dia-a-dia, uma  das minhas causas de intervenção Artística.

         A abordagem deste tema que desde sempre foi para mim muito importante e pertinente, assim como a conjugação do colóquio/debate foi muito relevante ao aliar a Palavra às Artes nas suas múltiplas expressões, patentes na exposição/mostra.

         Monção, terra escolhida, e patente na sua Casa Museu, além de ser uma forma de levar ao Portugal profundo, um tema sempre atual e defendido deste tempos imemoriais, e com historias de mulheres lutadoras que se perdem na memória, Deu-La-Deu, no Minho e Monção foi uma mulher de causas, lutadora interventiva e defensora no seu meio e na sua época.

          Esta participação ficará registada para mim como sendo iniciar/continuado de um ciclo de compromissos que, segundo o Sr. Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Monção, irá seguir viagem para que possamos levar estes temas a outros cantos, a outras gentes, no feminino e na igualdade do género, possibilitando a troca saberes de conhecimentos, e porque não, também de afetos.

          A exposição que acompanhou o evento correspondeu ás minhas expectativas, tanto na organização, na montagem, como à sua divulgação, deixo aqui os meus agradecimentos às Artistas que me acompanharam  , e a todos os que neste projeto participaram, para que este se tornasse numa realidade.

         Também ao Ricardo Campos um muito obrigada pelo enriquecimento que deu às expressões de Arte e Cidadania, com a  participação da sua obra.

Um agradecimento muito especial à minha querida Amiga Arcelina Santiago. À casa Museu de Monção um bem-haja pela forma carinhosa, espontânea e aberta com que nos receberam a nós, e a nossa arte.

 Vila Nova de Gaia, 23 de Outubro de 2015

Luísa Prior


Exposição de Pintura na Casa Museu de Monção

 “Expressões de Cidadania no Feminino”

Fui convidada a participar nesta exposição, por Luisa Prior. Foi um tempo muito lindo, muito agradável, e a inauguração correu muito bem.

Participaram na exposição, cinco Pintoras da região do porto, e um Pintor natural de Monção, de seu nome Ricardo de Campos, cuja participação enriqueceu muito esta exposição.

Ricardo Campos, cuja quantidade e qualidade das suas Obras, nomeadamente os seus “Cristos” e outras obras maravilhosas, tive a oportunidade de conhecer no seu atelier, é reconhecidamente um grande artista.

O espaço ocupado pelos artistas, é muito agradável e muito bonito, como podemos constatar após o encerramento da exposição. As salas ocupadas pela exposição são muito boas e com muita luz. Destaco duas portas centrais, uma em cada sala, que dão diretamente para a rua, onde na parede cental exterior, havia sido colocada uma lona com o anúncio da exposição.

Tudo foi feito com grande rigor, dedicação e empenho, personalizado na pessoa da Sra Dra Arcelina Santiago, comissária do evento, no qual, e em tudo que fez colocou desinteressadamente toda a sua sabedoria.

O museu e os jardins que o envolvem são muito lindos.

Um muito obrigado Sra Dra Arcelina Santiago, pela hospitalidade e pelo carinho que me dedicou, sempre com um soriso lindo e acolhedor. Como gostei de a conhecer.

Para sempre grata pela atenção que me dispensou.

Maria André


No seguimento do seu pedido sou-lhe a dizer o seguinte:   Gostei muito da organização do evento que superaram todas as minhas expectativas.  Fiquei ainda muito satisfeita com o espaço e afluência à exposição.

Obrigada, 

Teresa heitor


Fazer texto introdutório

 Questionário aos artistas 

1. Voltando a velha questão que se coloca em vários domínios artísticos, na escrita,na pintura e escultura : considera que há  uma forma artística marcada pelo género! 

2. Até que ponto sente que a sua manifestação artística tem contribuído para a defesa dos direitos humanos, em especial dos direitos das mulheres,  pela defesa da igualdade de género?

Respostas 

1 - Na minha opinião a manifestação artística não é marcada pelo género, muito pelo contrário, é talvez pioneira na igualdade de género e respeito pela diferença. Ao longo dos tempos as diferentes manifestações,  nos diferentes domínios artísticos, afirmam-se pelo seu cariz transdisciplinar, inovador e humanista.

2 - Sem querer chamar a mim ou ao meu trabalho qualquer tipo de protagonismo que possamos ainda não ter nessa area, acredito que, ao longo dos tempos, pelo menos, trabalhei no sentido de refletir sobre as injustiças que assolam a humanidade de uma maneira geral. Neste sentido, uso o sem sentido e o absurdo do sofrimento e da dor, como mote para grande parte da minha produção. São homens fustigados e reprimidos pelos duros e tortuosos caninhos, são mulheres que trabalham o campo, que carregam os filhos e que se deitam num deleite de obrigações e silêncios. 

Ricardo Campos  


1. As manifestações artísticas  acontecem espontaneamente independentemente do gênero, espaço, tempo e das relações interpessoais.

2. O meu percurso e a  expressão artística,  pautam-se pela participação e intervenção em  diversificadas atividades culturais,  pelas causas e defesa dos direitos de gênero, principalmente  no feminino. 

Luisa prior


1.          No âmbito artístico, o género insere-se no processo de questionamento da grande presença de nomes masculinos na História da Arte e disciplinas afins. Um mundo onde só os homens eram chamados a exercer profissões ligadas aos vários tipos de arte, enquanto a ocupação doméstica era tipicamente destinada à condição da mulher.

          Tal como no mundo do trabalho em geral, o preconceito latente, da mulher não ser vista como ser pensante, era o grande impedimento para a sua inserção no mundo das artes.

          À medida que foram criadas pontes de diálogo com o universo feminino dentro do universo artístico, as mulheres deixaram de ser simples musas e passaram a ser também artistas criadoras. Mas poucas mulheres lograram atingir algum reconhecimento artístico, num mundo totalmente pensado e dirigido por homens.

          O movimento feminista e a criação de um programa académico de arte feminista na América, fez desenvolver o pensamento e a produção artística. A luta feminina pela sua imposição nas artes, foi contribuindo para a conquista de uma paridade para com os artistas masculinos, apesar das dúvidas que sempre suscitavam. Um caminho árduo e difícil que se foi abrindo.

          Através do movimento das mulheres, surgiram novas perspectivas, questionando a subjetividade de ambos os sexos e outras inquietações evidenciadas na diversidade de linguagens, presentes na arte contemporânea, não importando qual o sexo que a possa executar.

          Podemos então afirmar que agora estamos mais em pé de igualdade com os homens artistas, havendo até uma grande proximidade de ideais comuns. A arte obedece às mesmas leis que qualquer outra atividade livre do espírito, desafio em que muitas vezes as mulheres superam os homens, provando, assim, suas capacidades outrora tão escondidas ou mesmo desvalorizadas. Hoje a mulher tem o privilégio de tudo poder questionar e explicitar qualquer tipo de sentimento sobre as coisas e as suas expectativas. Uma abertura total na relação da sua arte com o mundo que a rodeia. 


2.          Desde a infância, me apercebi das dificuldades de muitas mulheres em conseguir autorização dos pais ou maridos para estudar, trabalhar em algumas profissões ou seguir as carreiras que tanto ambicionavam.

          Também eu, que já sentia inclinação para a área artística, fui desviada no tempo, para um curso ligado à área dos serviços. Só mais tarde, depois de atingir a maioridade e de me autonomizar, fui capaz de enveredar pelo caminho das artes, satisfazendo assim a minha própria vontade. Uma forma de liberdade a que tinha direito e assim dei início à minha dedicação artística. Primeiro em part-time na área da pintura, depois a tempo inteiro, a que juntei também o gosto pela escrita.


          Através da expressão plástica, vou libertando tensões e sigo as diretrizes dos meus próprios pensamentos. Extravaso ideias, comunico intimidades. Incluindo na maior parte dos meus trabalhos a figura da mulher, de modo mais ou menos explícito, tento exaltá-la através das formas, das cores ou de expressões sensíveis ou dramáticas que denunciam alguma dor ou sofrimento. Algo por vezes ligado a certos tipos de violência contra as mulheres e onde, penso, haver ainda muito por fazer.

          Também na escrita, em especial através da poesia, tento desmistificar o valor e a transcendência da mulher na sociedade e a sua luta pela defesa da igualdade de género.

Se a arte tem o dever de denunciar os valores e problemas sociais do seu tempo, estas serão as minhas formas de contribuir para a defesa dos direitos e reais interesses das mulheres.

Nota: Junto abaixo um poema e duas imagens de pinturas sobre a mulher, os quais, se assim o entenderem, poderão ser acrescentados às minhas respostas ao questionário.

         

Desvalorização

Nas aldeias

às vezes sem dormir

as mulheres esfregam o soalho

limpam a casa

pensam o gado

lavam os filhos

e cozinham exaustas

às vezes

os homens

esquecem-se delas

outras vezes

vingam-se nelas


(in: “Os Degraus da Casa”)


FILOMENA FONSECA











“Drama “- Pastel s/ cartão-100x70cm






“Porquê eu?”- Pastel s/ cartão-100x70cm


Foto de alguns quadros expostos na capela e na adega

Da velha à nova adega - janela aberta para a arte ( foto da garrafa na janela)

 "Do alto da casa senhorial deslumbra-se toda a paisagem em seu redor: o espigueiro, a emblemática capela de S.João Batista e, mais adiante, o caminho das gloriosas que nos conduz a uma grande poça onde repousam nenúfares embalados pelo som melancólico da água da nascente que serve de regadio ao extenso vinhedo da famosa casta branca - o Alvarinho."

 É assim que começa a poética apresentação  desta  quinta centenária, com 9 hectares, situada no Minho, mais precisamente na sub-região de Monção e Melgaço, onde se produzem os melhores Alvarinhos do mundo.

  Joana Santiago, advogada, é a jovem empresária que lidera com seu pai, este novo projeto de família.  Fazem parte da família vinhateira "Santiago" que produz os vinhos Quinta de Santiago DOC.  Um projeto familiar, que as 3 gerações da família Santiago, abraçaram, associando a tradição e conhecimentos da geração mais antiga à modernidade e entusiasmo da geração mais jovem na criação de vinhos "Premium" que expressam as caraterísticas do terroir e, ao mesmo tempo, refletem a personalidade desta casta autóctone portuguesa fantástica que é o Alvarinho. Joana Santiago confessa: "Integrar este Projeto - Quinta de Santiago tem sido  um desafio apaixonante, mas difícil. Não é fácil o mundo dos vinhos.  O legado deixado por uma geração de viticultores é uma responsabilidade imensa, mas acreditamos que temos uma equipa com os olhos postos no futuro. Fazemos as coisas com paixão e com emoção, queremos preservar as memórias, mas temos presente que a inovação é vital. 

 Assim, a  quinta que vê nascer e crescer o " Quinta de Santiago - Alvarinho", clássico e reserva faz parte da história da família e há nela  um imaginário fértil e poético. Contam-se histórias secretas de carvalhos com tesouros escondidos, nascentes visitadas por sereias encantadas, tudo supervisionado pela bela capela,   aberta para as festividades da família, aí foi baptizada,  tal como o seu irmão, mas neste momento,  as suas paredes antigas e com histórias fantásticas acolhem uma  exposição moderna de arte sacra,  múltiplas figuras de Cristo e da Pieta, autoria de Ricardo de Campos, jovem artista monçanense com uma obra muito criativa e já com reconhecimento nacional e até internacional. 

 Contrastando com a velha adega, a casa tradicional e os muros antigos, irrrompe pelo vinhedo uma construção de linhas modernas, mas com toques de ligação com o passado - a nova adega, acabada de construir no ano passado.

 Joana esclarece:  Investimos numa adega nova, dotada de toda a tecnologia de ponta. Na verdade, os tempos mudaram e da velha adega tradicional e cheia de segredos sábios, legado da avó Mariazinha, mulher minhota de garra, já não era suficiente. Havia que aliar o conhecimento empírico  ao  conhecimento científico. Aliás, ​a primeira fase do projeto ​​ em 201​2​, o lançamento do  primeiro vinho, apenas para promoção da marca, foi  uma homenagem à matriarca,  a avó Mariazinha -  daí ter o nome de ​ Quinta de Santiago  "Segredo d' avó ".  Outra forma de a homenagear foi a escolha do rótulo, colocado numa garrafa de formas femininas, bem diferente da comum nos vinhos verdes. O rótulo contemporâneo guarda em si uma simbologia muito própria e tradicional - o bordado do coração minhoto em homenagem à avó - uma excelente bordadeira e minhota de gema. Significa também os afetos da família e a paixão  desta família na produção dos vinhos.

  Mas a nova adega é também uma janela aberta para outras dimensões que apreciamos e que queremos levar em frente. A ligação com a arte através de exposições temporárias de pintura e escultura. Assim, as paredes da ampla adega estão abertas para a arte. Muitos estrangeiros que nos visitam ficam encantados com os nossos artistas. É este um contributo à divulgação das obras de arte.

 De salientar o contraste entre a representação das mulheres na dimensão sagrada versus profana, presente na criação de Ricardo de Campos. Da capela como já referimos antes passámos para  as telas da adega, representando a sensualidade de  mulheres, despidas de preconceitos, aliadas à paisagem bucólica do vinhedo que emerge da amplas janelas…  Neste momento, temos algumas das obras expostas na Exposição que decorreu em Monção, com o tema "Expressões de Cidadania no Feminino", caso das criação encantadora da pintora Luísa Prior.

 A Quinta de Santiago foi parceira nesta iniciativa em Monção, servindo um Alvarinho de honra nos Jardins da Casa Museu depois do colóquio e da inauguração da exposição precisamente porque a dimensão da arte e particularmente da arte no  feminino é uma causa que defende.

Pensamos que poderemos continuar a manter este   espaço  para iniciativas diversas que promovam a cultura e a cidadania.







Em  Paris ....




Na Venezuela




Notícias de lançamentos de livros de autores da diáspora  


Ester de Lemos  MEMÓRIAS DE UMA VIAGEM AOS AÇORES

Escrito por, Ester de Sousa e Sá

O arquipélago dos Açores; ilhas negras de montes e montanhas escarpadas, cuspidas para a superfície do atlântico pelos choques térmicos de vulcões inflamados que há milhares de anos, na sua raiva solta, vomitaram a lava escaldante que está na sua origem.

Ilhas de bruma e maresia, ilhas de mistério, deitadas preguiçosamente no oceano, numa ilusória mansidão, cobertas por mantos de retalhos nos variadíssimos tons de azul e da cor verde da esperança. Paisagens de sonho, que prendem o olhar e saciam a alma, embalando-a no murmurar duma canção açoriana nostálgica e cadente.

E que dizer do seu povo? Depois desta viagem fazendo o circuito dos Açores pelas principais ilhas; São Miguel, Terceira, Faial e Pico, penso nas dificuldades dantescas enfrentadas por este povo vindo do continente que após os descobrimentos vieram mar fora e nas ilhas arribaram, e aí se estabeleceram. Povo corajoso, povo de rija tempera, que não desiste facilmente. Povo manso calejado pelas dificuldades, e crente, duma fé inabalável que perante os mistérios da vida, se refugiam no Deus Supremo, no Espírito Santo. Os açorianos, eu vim a descobrir, são também um povo muito orgulhoso e patriótico, assim já reza a nossa história.

Fez-me bem visitar estes mosaicos basálticos espalhados no atlântico que também são Portugal, e em tempos idos foram os mais portugueses de todos. Bem-haja aos Açores e suas gentes, que fez despertar em mim o sentimento da nacionalidade que as minhas muitas vivências entre outras pátrias como imigrante, fez adormecer. Hoje, considero-me uma cidadã do mundo, mas acima de tudo sou Portuguesa.

Desde que regressei à mãe pátria, volvidos tantos anos desde que, saí de Portugal ainda pequenina, sempre ouvi falar nos Açores e de como eram lindos. Amante da natureza que pretensiosamente teimo passar para as telas alvas, e digo pretensiosamente porque a natureza é demasiadamente bela e perfeita para ser copiada por um simples mortal como eu com as minhas limitações, fui sonhando de um dia poder visitar as Ilhas Açorianas. Como sonhar é viver e, quem espera sempre alcança, finalmente esse dia chegou.                                                 

Numa manhã enublada e cinzenta partimos do aeroporto Sá Carneiro, Porto, no avião da companhia aérea açoriana Sata, com destino a Ponta Delgada, capital da Ilha São Miguel. Chegados nós a São Miguel, um grupo de dezasseis pessoas vindo do Norte do Continente, esperava-nos um guia turístico profissional, segundo rezava o crachá na lapela do casaco, desse senhor. Figura de aspecto excêntrico; alto, magro, cabelos compridos grisalhos, emolduravam-lhe a face barbada e afagavam-lhe o colarinho da camisa e do casaco. Um inseparável chapelinho de aba curta cobria-lhe a cabeça. Porte altivo, vaidoso, de face sulcada pelas intempéries da vida e, olhos perscrutadores semicerrados e evasivos que despertava em nós uma curiosidade de querer saber mais sobre tão misterioso personagem. Este ilhéu, veio a verificar-se no decorrer da excursão, como sendo um homem amante da ilha do Pico seu berço mas, vincado às restantes ilhas do arquipélago por sentimentos profundos e laços de unidade fraternal. Homem intelectual e dotado de grande sensibilidade, frequentemente enquanto seguíamos no autocarro a caminho da próxima visita, nos embalava citando a poesia de grandes nomes das ilhas, e até desconfio, alguma de sua própria autoria.

Partimos do aeroporto de autocarro com destino a Ponta Delgada e fomos largados no centro da cidade junto à marginal, onde cada um teve tempo livre para almoçar onde lhe apeteceu. Depois, a hora e local combinado, tornamos a juntar-nos e de novo, de autocarro regressamos ao aeroporto para esperarmos o grupo do sul do continente, vindos do aeroporto de Lisboa. Éramos ao todo trinta e nove personagens, cada qual com a sua individualidade e maneira de ser que durante oito dias, com as ilhas como palco, conviveram de perto uns com os outros, em relativa harmonia e franca camaradagem. Sempre ouvi dizer, que as pessoas fazem a diferença, e mais uma vez se provou ser verdade. Entre nós viajava também um certo cavalheiro e sua esposa, por sinal um casal muito simpático, vindos do Norte, mais propriamente de Matosinhos. Foi graças a este personagem, possuidor dum talento muito especial para contar anedotas que parecia ter sempre uma, duas, três ou mais para cada ocasião que punha toda a gente às gargalhadas que, reinou entre nós a constante boa disposição. O homem, foi impagável e, além do belo passeio às ilhas, graças a ele, a semana revelou-se também excelente na terapia do riso. Por fim, até o nosso guia quebrou a sua austeridade e já se ria com vontade. Nunca durante umas férias me ri tanto! Bem-haja meu amigo! Que Deus lhe dê muita saúde, porque pessoas como você fazem muita falta neste mundo sisudo e cheio de tanta maldade e desaforo.

À tarde, directos do aeroporto, já com o grupo completo, seguimos com destino para oeste da ilha, para o maciço montanhoso das Sete cidades. O autocarro subia a estrada, serpenteando por entre os verdes dos arbustos e árvores endémicas e, as hortenses que principiavam a floração, davam-nos as boas vindas. Por entre brumas do alto do miradouro “Vista do Rei”, vislumbramos parcialmente uma cratera escancarada, escarpada e, no fundo a magnifica Lagoa Verde e Azul que as algas invasoras roubaram as cores da sua designação de outros tempos. Sempre acompanhados de matizes verdes, descemos a montanha até à base da cratera para apreciarmos a dita Lagoa mais de perto e a freguesia das Sete Cidades, plantada aos pés da mesma. Igreja caiada de branco, de torre alta revestida a cantaria de pedra negra de basalto, lugar de culto dedicada a São Nicolau, a atracção mais proeminente do lugar. Como o nevoeiro continuava a formar uma cortina sobre as terras mais altas, impossibilitando-nos as vistas de outros miradouros agendados, continuamos o nosso passeio de autocarro pela estrada de baixo, directos a Fajã de Baixo para observarmos de perto uma plantação de ananases em estufa, e provar licores do mesmo. Daí partimos com rumo ao aeroporto e embarcamos para Angra do Heroísmo, capital da Ilha Terceira.    

Pernoitamos a primeira noite no Terceira Mar Hotel, lugar de repouso, idilicamente plantado na orla costeira. Em frente, como gargantilha de invulgar beleza, uma enseada rendilhada de rocha basáltica, o atlântico banhando-lhe os pés, abrigada pelo Monte Brasil que se apresenta do lado esquerdo como sentinela altaneira.

Antecipando-nos à bruma quase sempre presente nestas Ilhas, após o pequeno-almoço, deslocamo-nos de autocarro e visitamos o referido Monte Brasil que nessa manhã, visto do hotel se nos apresentava desanuviado, recortado contra o azul celeste límpido do céu.                                                                                                                                                    Do topo do Monte Brazil, com Angra de Heroísmo, a capital, deitada aos seus pés, vislumbram-se quinhentos anos de história na sua arquitectura, destacando-se torres altas de igrejas cinzeladas por entre o casario. Monte Brazil, cercado por quatro quilómetros de muralhas, o forte São João Baptista, a maior fortaleza do Atlântico, com 400 peças de artilharia que noutros tempos defendiam dos piratas dos mares, os tesouros que pertenciam ao que foi um dia um vasto império. Angra era o porto universal a que todos amaravam no mar do oeste, onde o novo mundo se cruzava com o velho. Era o lugar de negócios mais importante na Idade Moderna.                                 A visita à Igreja e ao convento de São Gonçalo, maior conjunto conventual da Ilha, revelou-se bastante interessante, pelas obras valiosíssimas ali expostas. Os tectos, obra de verdadeiros artistas, trabalhados com madeiras de árvores endémicas, têm muitos cortes e entalhes a formar espinha, devido ao pequeno porte dessas mesmas árvores utilizadas. Foi interessante ver no Convento a minúscula divisão duplamente gradeada, o palratório, assim se chamava, onde as freiras falavam com as suas visitas, não lhes sendo permitido qualquer contacto. Porém, o que mais me impressionou foi ver na arcada principal do convento, a roda onde vinham depositar as criancinhas indesejadas para as freiras criarem.                                                                                                                                  Gostei da visita à Câmara Municipal de Angra e, particularmente de ver os três lindos vitrais ao subir as escadas para o salão nobre.

Saindo da cidade sem perder de vista o mar à nossa direita, passamos pela localidade de Serretinha, zona de pequenos vinhedos. A caminho de Porto Judeu, um dos presumíveis locais de desembarque dos primeiros povos que habitaram a ilha Terceira, brotam do oceano, duas pequenas formações solitárias de rocha vulcânica, designadas pelos Ilhéus das Cabras. Mais adiante a Baía da Salga na freguesia de S. Sebastião, palco da célebre batalha entre portugueses e espanhóis, quando da crise de sucessão em que Portugal foi governada pelos Filipes de Castela. A Batalha da Salga entre forças militares Castelhanas desembarcadas e tropas que em nome de D. António I de Portugal, pretendente ao trono de Portugal, que defendiam a ilha Terceira em oposição a Castela. Depois dessa famosa batalha, as nossas tropas conseguiram resistir aos invasores durante mais dois anos, período em que ilha Terceira foi o único território português independente.                                                                                                                                          Na vila de S. Sebastião, visitamos a Igreja e observamos o exterior do Império do Espírito Santo, pertença da irmandade do mesmo nome. A forma mais descritiva que me ocorre para explicar o que são Impérios é a seguinte: são pequenas casas de rés-do-chão e 1º andar pintadas garridamente de muitas cores, engalanadas com bandeirinhas multicores que flutuam ao vento, onde a irmandade se reúne. Soube pelos nativos que são pintadas assim garridamente porque, como antigamente os meios escasseavam usavam todos os restos de tintas que sobravam de pintar os barcos da pesca. O almoço foi num restaurante típico, no interior da ilha a caminho da Serra do Cume. Foi-nos servido a sopa de espírito santo seguida de alcatra com massa sovada, prato típico da ilha Terceira.

Enquanto subíamos a serra, espraiávamos a vista pela maior planície dos Açores, o Vale da Achada, dividida por muretes de pedra negra em parcelas, formando uma verdadeira gigantesca manta de retalhos, feita de todos os matizes de verde de invulgar beleza. Gado bovino, bem nutrido, tranquilamente pastoreava nesta paisagem de sonho recortada contra o azul do céu. Ladeavam a berma da estrada, as hortenses viçosas de hastes vigorosas que se preparavam para a floração. Algumas mais adiantadas no seu ciclo de floração, brindavam o viajante com as suas grandes flores brancas tingidas de manchas azul claro.

Visitamos o Algar do Carvão, localizado no interior da Caldeira Guilherme Moniz. Foi impressionante visitar o interior deste vulcão adormecido constituído por um cone vulcânico com cerca de 90 metros de altura, descendo cerca de 200 degraus. A curiosidade aliada à vontade de não deixar escapar este momento único de tal aventura, levou-me a descer, com um certo respeito e maravilhada como uma inexperiente criança, até ao âmago deste vulcão. Por entre cavernas de estalactites e formações calcárias, num ambiente de alto grau de humidade, descia cautelosamente com respeito e, o temor que tal aventura impunha. Ocasionalmente olhava para cima e, espreitava-me uma nesga do azul do céu para lá da abertura rodeada de vegetação que, me amainava o bater acelerado do coração. Descendo mesmo até ao fundo onde existe uma lagoa subterrânea de águas cristalinas e tranquilas, fui invadida por uma emoção forte que me fez reflectir e, senti-me humilde, subjugada pela força e encanto da natureza.

À noite fomos jantar a um restaurante típico, no centro da cidade e durante a sobremesa seguiu-se animação cultural por um grupo local; grupo folclórico, “Os Bravos”. Lindas vozes que nos alegraram com seus cantares;

Olhos pretos são brilhantes/Semelhantes/Aos luzeiros que o céu tem

Uns olhos pretos eu preferi/E nunca vi/De cor mais linda em ninguém

Os teus olhos de chorar/Fizeram covas no chão/Ai os meus choram pelos teus/Os teus por quem chorarão

No dia seguinte com tempo livre até á hora do almoço, fiz um passeio e divaguei pelos jardins do hotel virados para o atlântico, cimentados sobre uma cascata de lava negra que entrava pelo oceano dentro.                                                                                                        Lugar encantador, idílico para descanso, um pedaço de paraíso na terra. Gostava tanto de lá voltar um dia!



Elizabeth  Batista  colocar aqui ou noutro sÍio???Talvez nas iniciativas em Lisboa

NAS TRILHAS DA “FILOSOFIA DE UMA MULHER MODERNA”: CONFIGURAÇÕES DA VIDA SOCIAL E AS CRÔNICAS DE MARIA ARCHER.

Elisabeth Battista

Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT/Brasil. Diretora da Faculdade de Educação e Linguagem – FACEL. Docente no Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – PPGEL, da Pós-doutora pela Universidade de Lisboa – UL.


Esta leitura articula-se em torno da instigante produção criativa e intensa atividade intelectual de Maria Archer para os meios de imprensa, em meados do século XX, em Portugal, porque nos estudos que estamos realizando sobre a participação de escritoras na imprensa e a circulação literária entre os países que têm o português como língua de comunicação, temos colhido gestos e presenciado a intensa movimentação com vistas à ampliação das relações de trocas e possibilidades de abertura e aproximação cultural nas relações literárias e culturais ibero-afro-americanas.

A coletânea Filosofia duma mulher moderna, de autoria de Maria Archer foi publicada em Lisboa em 1950, pela editora Porto e compõe-se de 27 narrativas. As crônicas literárias, em sua maioria voltam-se para o tema da condição da mulher na sociedade portuguesa, fatos vivenciados por Maria Archer, com base na observação da vida social, na qual faz um engajamento literário nas suas obras. A articulação de elementos da vida social se torna um dos muitos que interferem na economia do livro, ao lado dos psicológicos, religiosos, linguísticos e outros.

É relevante afirmar que a produção e o lançamento de Filosofia de uma mulher moderna (1950) é contemporânea ao lançamento da obra O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, publicada originalmente em 1949. A referida obra francesa, amplamente difundida, é construída em uma perspectiva fenomenológica existencial de gênero, a autora volta-se para o estudo da dinâmica das ações femininas e focaliza o conceito de “experiência vivida”, que contribui para compreensão e o “desalinhamento” da perspectiva do status quo.  Em sua abordagem, Beauvoir será crítica dos parâmetros discursivos da tradição, que se consagram em princípios lógicos e ontológicos, Beauvoir propõe novas formas de abordagem sobre a condição da mulher. Desta forma, na condição de autora, ao lançar um novo olhar sobre a condição feminina, propiciou a reflexão e o surgimento de uma nova visão acerca do perfil feminino.

Beauvoir recusava também enclausurar-se como pensadora e como mulher na esquadria de um sistema de pensamento e, pois, de comportamento já determinado pela história. A condição feminina deveria, então, se voltar para novas vias de ação, de argumentação e de reflexão que não as mesmas trabalhadas pelos homens na história da cultura. (SANTOS, 2012, p.928).


Vale lembrar que as lutas de caráter mais radical pelas igualdades e a construção de uma identidade feminina, bem como o surgimento do atuante movimento feminista, naquela altura, estavam apenas no início. Isto porque os ensaios de Beauvoir em O Segundo Sexo produziram sobre o público leitor um efeito prático, modificando a sua conduta, sua visão de mundo e, sobretudo reforçando o sentimento do valor social da mulher. Para a lusitana Maria Archer, contudo, em Filosofia de uma mulher moderna (1950), a vida social e a condição feminina serão o “fermento orgânico“ de que resultarão em fértil produção criativa e a expressão literária de uma diversidade coesa.

Isto porque, em suas páginas, a autora leva em conta o elemento social como referência em suas crônicas produzidas para os jornais em Lisboa e, posteriormente reunidas na referida coletânea. Neste sentido, a captação do olhar fixado no território da escrita para os jornais serão a expressão de uma certa época e de uma sociedade determinada, que permite situá-la, não somente em seus aspectos sócio-histórico-culturais, mas como fator preponderante na sua elaboração artística, ou seja, sua coletânea deriva no registro literário que sinaliza a interpretação estética da vida social.


O ESBOÇO E O SURGIMENTO DE UMA NOVA MULHER


Nas narrativas para os jornais, a autora coloca em cena a mulher na condição de dona de casa, trabalhadora do lar, viúva, separada, e todos os seus atributos humanos como a ambição, a inveja, egoísmo, maledicência, a mulher estigmatizada que se torna “mal vista” perante a preconceituosa sociedade da época. Seus temas derivam para aquilo que afirma Alfredo Bosi (1996, p. 11),  

É nesse sentido que se pode dizer que a narrativa descobre a vida verdadeira, e que esta abraça e transcende a vida real. A literatura, com ser ficção, resiste à mentira. É nesse horizonte que o espaço da literatura, considerado em geral como o lugar da fantasia, pode ser o lugar da verdade mais exigente.


Um olhar ainda que superficial pela coletânea de narrativas percebe-se um elemento curiosos e unificador: o absoluto predomínio de personagens femininas na condição de protagonistas. Os homens assumirão papéis secundários, enquanto a autora descreve a personagem feminina em dois ou mais parágrafos, especificando as qualidades da mulher da época, ela descreverá o homem em pouco mais de um período.

Outro aspecto que marca a coletânea composta de 27 narrativas é o registro de que o tratamento que será dispensado à mulher está diretamente ligado ao seu estado Civil. Neste sentido, as mulheres casadas obterão reconhecimento social, enquanto as desquitadas e divorciadas não encontravam acolhida no seio social, ficando fadadas ao isolamento e impedidas de contraírem uma segunda união conjugal, fora do plano da clandestinidade. Um exemplo emana da regra explícita de que os funcionários públicos, sobretudo os de cargo elevado, não poderiam contrair matrimônio com mulheres desquitadas ou divorciadas.

A crônica Filosofia duma mulher moderna, atendendo ao meio em que fora originalmente publicada, estrutura-se no âmbito de uma linguagem coloquial, de fácil entendimento, a personagem feminina age com a razão e não a emoção, fato que, no plano da narração, é justificado por preferir perder o pretendente a marido, que fora promovido e terá que ser transferido para fora do país, do que arriscar perder o domínio de um vantajoso contrato de locação. Constitui-se uma crônica jornalística, pois ali o que temos são quadros representativos da vida social contemporânea portuguesa.

Narrada a partir de uma visão por trás, narrador onisciente intruso, portanto, é contada em 3º pessoa, conforme os estudos de Gancho (2003), “um narrador que fala com o leitor e julga a conduta da personagem, que fica bem explícito no trecho a seguir, [...] Uma maravilha”! Julgo que ela preferia um ataque de bexigas negras, a queda do cabelo, mesmo o reumatismo, a que lhe tirassem a casa [...] (ARCHER, 1950, p. 10). Ao mesmo tempo em que o narrador avalia os desejos da protagonista Teresa, ele coloca a importância que, mesmo alugada, a casa situada sítio nobre, representa para o conforto da personagem e seu único filho e, portanto, abriria de mão de qualquer coisa, entretanto, abrir mão de um antigo contrato que fixava o valor da renda muito abaixo do valor que a casa representa, estaria fora de questão.

A personagem, aqui representante de uma classe, deriva para aquilo que Abdala (2004, p. 40) define como: “O conceito de pessoa refere-se ao indivíduo pertencente ao espaço humano, enquanto personagem refere-se à persona (máscara) da narrativa. A personagem é um ser fictício, que se refere a uma pessoa”. O ser da ficção, que é representado por uma pessoa, no caso aqui, a Teresa, que tem seu valor para a economia da obra.

As personagens que compõem a narrativa são Teresa, sr. Seabra, o filho deles, Eduardo, a mãe de Teresa e suas amigas. No entanto o Sr. Seabra, as últimas personagens, e o filho de Teresa, são vistos neste espaço como personagens secundárias, atuam na trama, porém, suas intervenções não alteram significativamente seu sentido, diferentemente das personagens centrais, que é o caso de Teresa e Eduardo. A Teresa por sua vez podemos considerá-la ainda, como uma personagem plana, devido as características em que ela se encaixa. Gancho (2003, p. 16) afirma que [...] personagens planos, são caracterizados com um número pequeno de atributos [...] e que pode ser reconhecido por característica típicas, invariáveis, quer sejam elas morais, sociais, econômicas ou de qualquer outra ordem[...], reconhecemos essas características quando a escritora nos descreve Teresa:


Como ia passar dois anos no estrangeiro mostrava-se imensamente «snob» e impertinente. Exibia-se e luzia-se nos conhecimentos da vida dos povos que habitam para lá do nosso modesto horizonte. Não se calcula como nos irritava! E eram as minucias... Não se ia e vinha, como os caixeiros viajantes... Demorava-se... Viveria num hotel de luxo... Compraria peles preciosas...  Vestidos... Perfumes... Voltaria com as malas cheias... Daria passeios lindíssimos... Exercitar-se-ia a falar... Oh! O sotaque, numa língua, dá o tom... (ARCHER, 1950, p. 9).


Dentre os elementos que estruturam a narração identificamos, no tocante ao tempo, que a autora narra a sua contemporaneidade e esta se dá em meados do século XX, momento em que Portugal vivia o regime austero da ditadura Salazarista. Enquanto elemento estruturante, de acordo com Nunes (2002, p. 20), ocorre um tempo cronológico, as cenas vão ocorrendo em uma ordem natural, do início para o fim, “[...] Baseado em movimentos naturais recorrentes, como os cronométricos a que já nos referimos, o tempo cronológico, por esse aspecto ligado ao físico, firma o sistema de calendário [...]” (idem), pois, essa cronometria é que coloca a ordem dos acontecimentos e os qualificas.

O espaço socialmente verificável em que a trama ocorre é na cidade de Lisboa “[...] A mãe de Teresa deixara o sossego da sua casa da província para viver em Lisboa esses dois anos, de guarda a casa da filha [...]” (ARCHER, 1950, p.13). Abdala (2004, p. 48) diz que o espaço se articula com as demais categorias da narrativa ao nível da história, e podem aparecer ligadas a um lugar físico, onde circulam as personagens e se desenvolve a ação.

O ambiente do enredo é mostrado a partir do termino do divórcio de Teresa com o senhor Seabra, já havia nascido um filho, com isso após o desenlace ele deixara a Teresa na confortável casa alugada por uma renda muito accessível. O narrador fornece detalhes do espaço situando-nos acerca do nível de conforto do ambiente.” Imagine-se uma moradia com quintal, e jardim, e um vestíbulo com ferros forjados, e aquecimento central, e três casas de banho, e salas ligadas por arcadas-com o senhorio a morar no primeiro andar e a Teresa no rés-do-chão.”  (ARCHER, 1950, p.10).

Os elementos do espaço serão, para a economia da narrativa, decisivos para a solução estética, como veremos adiante. Percebemos, pela minuciosa descrição do espaço em que se desenrola o enredo da narrativa que trata-se de uma casa ampla e, em muito bom estado de conservação onde Teresa habita com o seu filho menor. Vale registrar que o ambiente eventualmente está presente através de certas indicações que o artista faz, como descrições, atitudes conscientes das personagens, regular disposição de acontecimentos, inversão de fatos, descrição de lugares, resultado inesperado de certas cenas, etc.

Este diz respeito aos aspectos sócio econômicos, ou seja, a situação-ambiente constitui-se, muitas vezes um detalhe não atingível, inapreensível objetivamente na obra, e resulta de uma observação do leitor em torno dos elementos apresentados ou sugeridos pelo artista na combinação das atitudes das personagens e na ação.  Entretanto o ambiente faz referência à vida da personagem. Essa descrição também pode considerar como situação-ambiente conforme define Ataíde (1941): A situação ambiente é como um pano de fundo que serve para o desenrolar da ação e a vivência das criaturas ficcionais. É um resultado da experiência sobre o tempo e espaço. (p. 51).


Consideramos neste contexto a situação-ambiente, pois, é a partir da fruição desta que veremos o desenrolar da exegese ficcional, além de despertar o interesse pela leitura, aproximando a personagem da representação literária da vida social. De certo modo é neste ambiente que ocorrerá o conflito do enredo, criando o ponto culminante da a história, que podemos chamar de clímax, ou seja, o momento em que a narrativa atinge seu maior ponto de tensão, em seguida, temos o desfecho, a solução estética, o qual o autor nos surpreenderá com um final feliz ou não. Solução esta que segundo Gancho (2003, p. 11) “o desfecho é a solução dos conflitos, boa ou má, vale dizer configurando-se num final feliz ou não. Há muitos tipos de desfechos: surpreendente, feliz, trágico, cômico, etc”. O desfecho da narrativa, é surpreendente, pois, Teresa  tinha consciência que o Eduardo estava com ela por causa do filho desta, (no seu primeiro casamento) o Quim, todavia, ela não cogitou em levar o menino consigo.


Toda gente, nas relações do casal, compreendia o assunto e o discutia. Mas toda a gente supunha, eu incluída, que a Teresa gostava do Eduardo. Por isso estranhei a resposta dela, há dias, quando lhe perguntei se levava consigo o filho: - Fica com minha mãe... O advogado insiste em que o deixe ficar... Calei-me – mas os meus olhos devem ter sido eloquentes porque a Teresa, logo em seguida, diz-me, como quem se justifica: - Olha, menina... Um outro marido como o Eduardo arranjo eu... Uma casa como esta é que não... (ARCHER, 1950, p.16).


O final, imprevisto para os padrões romanescos, sinaliza para o valor que materialismo e a razão assumem em detrimento da vivência do romance a sensibilidade, na vida da protagonista.  No trecho acima, percebemos que a casa era mais importante para Teresa do que seu companheiro, no recorte selecionado, a importância dos bens materiais prevalecerá para a personagem.

AS TRILHAS E A CONDIÇÃO FEMININA

A crônica é emblemática e sinaliza para o registro literário do nascimento de um novo perfil de mulher, agora mais consciente e menos dependentes dos ditames sociais e de um status quo.  A crônica selecionada por exemplo, permite-nos observar as relevantes mudanças no comportamento da mulher portuguesa que vive no meio urbano, em contato permanente e crescente com a instauração gradativa da modernidade, principalmente no que tange ao processo de formação da sociedade capitalista.

A narrativa intitulada “Faça mal quem o fizer quem o paga é a mulher”, à partida já se nota o um trocadilho, a apropriação da linguagem coloquial, que sua estrutura pode ser separada em versos de forma que temos “Faça o mal quem o fizer/ Quem o paga é a mulher”, este é formado de redondilha maior, com rima rica, e de fácil memorização.

O conflito gira em torno da personagem Anica, que por ter decidido deixar o marido opressor e acompanhar o amante, torna-se mal vista aos olhos da sociedade. A  personagem lança-se ao impulso de suas escolhas emocionais. Anica – um nome próprio no grau diminutivo já é sintomático – será guiada pelo sentimento da paixão, ao invés da razão, não se importando com o futuro. A representação da personagem foi contemplada na ficção de Maria Archer e deriva para aquilo que Anatol Rosenfeld (2011) afirma:

A ficção é um lugar ontológico privilegiado: lugar em que o homem pode viver e contemplar, através de personagens variadas, a plenitude da sua condição, e em que se torna transparente a si mesmo: lugar em que, transformando-se imaginariamente no outro, vivendo outros papéis e destacando-se de si mesmo, verifica, realiza e vive sua condição fundamental de ser autoconsciente e livre, capaz de desdobrar-se, distanciar-se de si mesmo e de objetivar a sua própria situação.


É neste sentido, pois que, em seu percurso, ao longo da breve narrativa, Anica enquanto protagonista, será construída como personagem esférica. As “personagens esféricas” não são claramente definidas por Forster, mas concluímos que as suas características se reduzem essencialmente ao fato de terem três, e não duas dimensões; serão, portanto, organizadas com maior complexidade e, em consequência, capazes de nos surpreender, pois, conforme diz Candido (2000, p.63):

A prova de uma personagem esférica é a sua capacidade de nos surpreender de maneira convincente. Se nunca surpreende, é plana. Se não convence, é plana com pretensão a esférica. Ela traz em si a imprevisibilidade da vida, — traz a vida dentro das páginas de um livro” (Ob. Cit., p.75). Decorre que “as personagens planas não constituem, em si, realizações tão altas quanto as esféricas, e que rendem mais quando cômicas. Uma personagem plana séria ou trágica arrisca tornar-se aborrecida” (Ob. cit., p. 70).

A narrativa breve indica sumariamente que Anica, embora dispusesse de uma condição financeira estável, andava muito insatisfeita com a vida que levava e, na ânsia de dar um novo rumo à sua existência, ao lado de um novo companheiro, lança-se à nova experiência conjugal, sem, entretanto, assegurar-se, muito menos estudar melhor o caráter do novo pretendente.  Desta maneira Anica, como veremos no trecho abaixo, a protagonista inconscientemente assume os riscos, na medida em que não se importou se um dia Ramiro a deixasse e ela viesse a perder tudo, se arrisca para viver uma paixão:


A Anica, desvairada de amor, fruia com intensidade o momento presente e não pensava nas consequências temerosas dos seus passos de mulher banida da vida das famílias nem no que poderia ser o seu futuro, um dia, se o Ramiro a amasse menos, a amasse pouco, ou a abandonasse. (ARCHER, 1950, p. 193).


A narração é feita por um narrador testemunha, aquele que participou e vivenciou os fatos do enredo, que pode ser justificado com a fala dele, [...] Lembro-me bem daquele dia, há anos, em que o escândalo da sua fuga com o Ramiro ribombou por Lisboa e deixou a sociedade – este meio de gente rica e janota e preconceituosa que a si mesmo se classifica de sociedade – deixou-a espantada e atordoada [...]( Idem, p. 191).


Ele narra em 1ª pessoa, mas é um “eu” já interno à narrativa, que vive os acontecimentos aí descritos como personagem secundaria que pode observar, desde dentro, os acontecimentos, e, portanto, dá-los ao leitor de modo mais direto, mais verossímil. Testemunha, não é à toa esse nome: apela-se para o testemunho de alguém, quando se está em busca da verdade ou querendo fazer algo parecer como tal. (LEITE, 2002, p. 37).


Conforme adianta o narrador testemunha, a qual faz o uso do verbo lembrar, no pretérito, dá a perceber que o narrador conhecia Anica, e vivenciou o fato ocorrido. Segundo Ataíde (1941, p.55) o ponto de vista da trama é visto de modo externo, ou seja, está sendo apresentado por alguém que sabe dos acontecimentos, mas não os vivenciou. Ao olhar para a construção da obra, e para a sua ordem temporal veremos que esta obedece ao tempo cronológico, ou seja, o enredo corre de maneira sucessiva, desde que Anica saiu de casa, passou a viver com Ramiro, mudaram de cidade, e ao fim acaba sendo gradativamente abandonada pelo parceiro e ficando sozinha, isto pode ser percebido nos recortes: (ARCHER, 1950, p. 196) “[...] a Anica via-o partir dia após dia, noite após noite [...] Meses consecutivos, com muitos dias e muitas noites em cada mês[...], para Ataíde:


O tempo cronológico é aquele que se mede pelo relógio, pela sucessividade dos dias e das noites, pelo movimento da terra e da lua, pela alternância das estações. O tempo cronológico consiste num esforço do homem para opor uma barreira ao tumulto subjetivo, às presentificações da memória à duração interior que é imprevisível e incontrolável. (ATAIDE, 1941, p. 47).


A personagem experimenta dupla condenação: o isolamento social por parte dos seus familiares e o afetivo, na medida em que vivenciará o gradativo abandono por parte do amado. Tal constatação deriva do que pode ser percebido na construção narrativa e nos dá a impressão de que os espaços utilizados articulam-se com as demais categorias da narrativa ao nível da história. Na obra são divididos em três sequências, no dizer de Abdala: “Num sentido mais abstrato, é importante que seja considerado o espaço social, a ambiência social pela qual circulam as personagens, e o espaço psicológico, as suas atmosferas interiores”. (ABDALA, 2004, p.48).

Desta forma relacionamos os acontecimentos que ocorrera com Anica, através destes espaços, ao qual, no início, ela circulava tacitamente pelas ruas de Lisboa e fazia parte da alta sociedade, podendo relacionar este como espaço social, em seguida ao fugir com Ramiro, se vê obrigada a passar por sua irmã, e aos poucos acaba ficando isolada em casa, num país estrangeiro, não tendo a liberdade de circular pelas ruas, ou seja, este se torna um espaço físico restritivo, sua vida se restringirá aos limites da sua modesta morada. A partir de então, dará vazão à dimensão do espaço psicológico, pois, a restrição dos deslocamentos funcionará como elemento propulsor para Anica na tomada de consciência do espaço que oprime e como estes podem se tornar espaços de fuga.

Assim, ao impacto das suas constatações, o desfecho da trama se dá quando Anica deixa Ramiro, e volta para Lisboa sem o parceiro e despojada dos seus bens materiais. Notamos a distinção existente entre os homens da trama, enquanto o primeiro faz questão de dizer que é casado com Teresa, Ramiro omite, ou seja, esconde o relacionamento com Anica, sob o pretexto de não perder o emprego, pois o que predomina para ele é posição social, por não aceitarem homens casados com mulheres que fossem divorciadas.

A Anica, nesses anos de peregrinação pelo estrangeiro, desfalcara grandemente os seus haveres. Ao separar-se do Ramiro não dispunha de meios que lhe permitissem fixar residência em Paris. Foi-lhe forçoso regressar a Lisboa, limitar as despesas e viver de pouco. (ARCHER, 1950, p. 199).

As crônicas selecionadas são representativas de distintos perfis femininos. A primeiro trata-se de uma mulher ambiciosa e racional que se arrisca a perder o pretendente a marido, a perder a confortável casa onde vive, e na segunda narrativa, temos a representação da mulher que, ao impulso de viver a segunda experiência conjugal, não se importa com os bens materiais, foi capaz de largar tudo para viver um amor.


TRILHAS QUE SE ABREM...


A coletânea Filosofia de uma mulher moderna, em seu conjunto abordam temas como os vistos acima, exibindo o desafio vivenciado pelas mulheres na luta pela libertação de sua condição de subalternidade, entre outros.  As mulheres dos meados do século XX, época da ditadura salazarista, estavam sujeitas a uma hegemonia masculina, contentando-se apenas com os serviços domésticos e a educação dos filhos. A mulher encontrava-se sob um intenso domínio familiar, antes do casamento submissa ao pai e, após o casamento, ao marido.


Historicamente, a mulher foi sempre mantida como uma figura emudecida e marginalizada em diversos aspectos. O fato de ter sido tomada por sua suposta fragilidade e incapacidade de viver fora do domínio patriarcal implicou, não raro, o sacrifício de sua própria identidade. A tradição sócio histórica relegou à mulher um papel secundário na sociedade. Na esfera doméstica restavam-lhe as atividades de administração dos afazeres do lar e de educação dos filhos de forma que reproduzissem e perpetuassem os papeis sociais preestabelecidos. (ARAUJO, 2012, p. 14).


Da mesma forma, o registro literário na coletânea revela que a condição e o papel reservado para a mulher na vida social daquele momento, onde o lugar privilegiado era destinado aos homens e as personagens femininas, dispunham de espaço restritivo e, não raro, para viver eram submetidas ao regime no qual, sendo vistas como frágeis e incapazes, seu destino seria o casamento. Dessa forma, a literatura de Maria Archer desprende-se do usual, instaura um estilo próprio com seu distinto jeito de escrever, fará aquilo que defende Teixeira: “buscando, por meio de seus personagens, estabelecerem representações que questionam e contestam as posições ocupadas por homens e mulheres na sociedade” (TEIXEIRA, 2008, p. 33 apud MOURA, 2012, p.3).

A representação literária de Archer recria o mundo a partir da sua ótica e fala a por aqueles que não tem voz própria. Como se sabe, eram poucas as mulheres que assumiam a profissão de escritoras naquela altura.  O papel da escrita literária de várias autoras feminina, vista deste modo, era expor o comportamento dos perfis femininos, ligados ao período em que viviam, desta maneira, em suas publicações a representação literária e o engajamento era constante.


Ao recriar na literatura os diferentes grupos sociais é importante um posicionamento condizente com as vivências de tais indivíduos. Compreender o meio social a partir de um único viés não torna possível representar de modo eficaz os grupos que o compõem, já que, mesmo mostrando-se sensíveis e solidários a seus problemas, ainda assim estes não terão as mesmas experiências de vida. (ARAUJO, 2012, p. 34).


A literatura pode ser considerada como uma instituição social, que utiliza como expressão a linguagem, ela pode representar a vida, esta é uma realidade social. O artista se apropria da literatura para através dela fazer uma utilidade social, ou seja, apoia-se em suas vivências para se dirigir ao público. Conforme exprimem  Wellek & Warren, (1955),  ao discutirem a relação entre literatura e a sociedade, é costume começar-se pela frase – derivada de De Bonald - que afirma que “a literatura é uma expressão da sociedade”.


[...] Afirmar que a literatura é o espelho ou a expressão da vida será ainda mais ambíguo. Um escritor não pode deixar de exprimir a sua experiência e a sua concepção total da vida; mas seria manifestamente falso dizer que ele exprime a vida total – ou até mesmo a vida total de uma certa época -  por forma completa e exaustiva. [...] (WELLEK & WARREN, 1955, p. 114).


Desta forma, o artista não é obrigado a escrever sobre aspectos que ocorreram em toda a sua vida, mas sim de determinada época, descrevendo as implicações e relações sociais deste período. Dizer que a literatura exprime a sociedade constitui hoje verdadeiro truísmo; no dizer de Antonio Candido, mas houve tempo em que “foi novidade e representou algo historicamente considerável”.  Na atualidade não é necessário enunciar que a literatura representa a sociedade, conforme defende Candido:

No que toca mais particularmente à literatura, isto se esboçou no século XVIII, quando filósofos como Vico sentiram a sua correlação com as civilizações, Voltaire, com as instituições, Herder, com os povos. Talvez tenha sido Madame de Staél, na França, quem primeiro formulou e esboçou sistematicamente a verdade que a literatura é também um produto social, exprimindo condições de cada civilização em que ocorre. (CANDIDO, 2006, p. 29).


Assim, com base na sua produção e seu legado literário será possível afirmar que Maria Archer recusava enclausurar-se como intelectual e como mulher nos modelos impostos pelos ditames sociais. Essa atitude pode ser colhida nas suas produções criativas, uma vez que a autora alinha-se a um sistema de pensamento e de comportamento não previsto para a condição feminina determinado pela história.  Muito pelo contrário, sua atuação revela que a condição feminina deveria se voltar para novas vias de ação, de argumentação e de reflexão que não as mesmas trabalhadas pelos homens na história da cultura do seu tempo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Foi possível entrever, por meio da representação literária, na qual incumbe-se de exprimir “A filosofia de uma mulher moderna”, como as mulheres, naquela altura, comportam-se perante seus dilemas e suas angústias existenciais. Desde a escolha entre a razão e a emoção, diante do desafio de se entregar a um novo amor, em que a personagem da primeira narrativa, ao mesmo tempo em que ela decide recomeçar sua vida amorosa, ela teme em perder a casa, agindo com a razão, ela decide deixar o filho, assim, estaria segura a sua moradia com o aluguel muito abaixo do valor de mercado.

Paradoxalmente, a protagonista da segunda narrativa selecionada, como amostra para a identificação do delineamento dos perfis femininos, sob a ótica de Maria Archer, vimos que a personagem não imaginou que seu romance poderia não vicejar, como seria evidentemente desejável para a protagonista, desconsiderou a possibilidade de vir a perder o conforto em que vivia. Ou seja, a protagonista peca por ceder ao primeiro impulso e ao excesso de sensibilidade.

A contribuição literária de autoria de Maria Archer vem sendo gradativamente estudada no âmbito de relação literária e cultural ibero/afro/americana, vimos que autora muito tem contribuído para o avanço da literatura nos países de Língua Portuguesa e pela representação feminina neste contexto literário, uma vez que pela sua visão crítica, produz narrativas que estão muito além da literatura considerada apenas como de “sensibilidade contemplativa” e “linguagem imaginativa”. Suas narrativas são inquietantes porque identificam a opressão, evocam a vida, buscam a emancipação da mulher e, talvez por isso seu nome tenha sido gradativamente apagado e, até certo ponto eclipsado na história da literatura portuguesa.

A representação literária na obra de Archer pode ser considerada um genuíno produto de vida social, pois, através de sua criação é possível entrever questões relacionadas a fatos históricos, sociais e culturais, e que ao mesmo tempo pode ser vista ainda, como um modo de comunicação e expressão do seu olhar sobre a sociedade, a qual, por meio do seu gesto de interpretação estética, o conteúdo da mensagem pode alimentar um desejo de mudança no meio social.


REFERÊNCIAS

ABDALA, Benjamim Abdala Junior. Introdução à análise narrativa. Coleção Margens do texto. São Paulo: Scipione, 1995.

ARCHER, Maria. Filosofia duma mulher moderna. Porto. Editora Simões, 1950.

ARAUJO, Adriana L. de,A representação da mulher no romance contemporâneo de autoria feminina paranaense. Dissertação de mestrado em Estudos Literários, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2012.

ATAÍDE, Vicente de Paula. A Narrativa de ficção. 2. Ed. São Paulo: McGraw-hill do Brasil, 1941.

BATTISTA, Elisabeth. Maria Archer – o legado de uma escritora viajante. Lisboa: Edições Colibri. 2015. 380 p.

BATTISTA, Elisabeth. Entre a Literatura e a Imprensa: Percursos de Maria Archer no Brasil. Tese de doutorado em Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

__________________., Literatura, imprensa e resistência em idioma fraterno: percurso de uma escritora viajante. Revista da Anpoll, 2008.

__________________. Organização do acervo literário de Maria Archer: Literatura e vida social nos países de Língua Portuguesa, 288f. Versão resumida. Tese (Pós-Doutorado em Estudos Literários). Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2012.

BOSI, Alfredo. “Narrativa e Resistência”. Revista Itinerários, n° 10.  Araraquara, 1996, p. 11-27.

BRAIT, Beth. A Personagem. 2.ed., São Paulo, Ática, 2004.

CANDIDO, Antonio et al. “A vida ao rés-do-chão”. In: A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas/ Rio de Janeiro: Editora da UNICAMP/ Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.

________________. “O Direito à literatura”. In: Vários Escritos. São Paulo: Duas, 1995.

________________. Literatura e Sociedade. 9. Ed., Rio de Janeiro. Ouro sobre Azul, 2006.

________________.  A personagem de ficção. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.

DIMAS, Antonio. Espaço e Romance. São Paulo: Ática, 1994. (Série Princípios).

GANCHO, Cândida. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática. (Col. Princípios), 2003.

LEITE, Lígia Chiappini Moraes. O Foco Narrativo. São Paulo: Ática, 1985.

MOTTA, Alda Brito. ; SARDENBERG, Cecilia. ; GOMES, Marcia. Um diálogo com Simone de Beauvoir e outras falas. Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a mulher. FFCH/UFBA, 2000.

MOURA, Andiara M. A representação de personagens femininas em contos de Luci Collin. II Colóquio da Pós-Graduação em Letras, UNESP - Campus de Assis, 2012. Disponível em http://www.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/ColoquioLetras/andiaramaximiano.pdf. Acesso em 25 de junho de 2015.

NUNES, Benedito. O Tempo na Narrativa. São Paulo: Ática, 2002. (Série Fundamentos, 31).

SANT’ANNA, Mônica. A censura à escrita feminina em Portugal, à maneira de ilustração: Judith Teixeira, Natália Correia e Maria Teresa Horta. Revista Labirintos, UEFS, v. 6, jul – dez. 2009. Disponível em http://www.uefs.br/nep/labirintos/edicoes/02_2009/07_artigo_monica_santaanna.pdf, Acesso em 10 de janeiro de 2015.

SANTOS, Magda G. Memória e feminino em Simone de Beauvoir: o problema da recepção. Revista Estudos Feministas – PUC – MG. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2012000300018. Acesso 20 de junho de 2015.

WELLEK, René. & WARREN, Austin. Teoria da Literatura. 5ª ed. Publicações Europa-América, 1955.

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Pedro Rui Costa  falta

 Mari ant jardim 

  Luisa da Alemanha 

 Leonor Xavier falta 


'OUTRos acontecimentos relevantes da diaspora

Direção nacional da “Mulher Migrante” Luso-Venezuelana juramentou a comissão regional em Caracas


Na passada segunda-feira 19 de outubro, cerca de 50 mulheres portuguesas e luso-venezuelanas em Caracas assistiram à 1ª tertúlia das “Companheira de Chá & Café” em ocasião do dia mundial para a prevenção do cancro da mama, data internacional instituída pelas Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).


O momento foi propicio para que meio centenar de mulheres debatessem sobre a importância “deste mal” que as afeta diretamente mas também de falar abertamente sobre como ser mulher, mãe e esposa e viver atualmente na capital da Venezuela.


A comissão regional em Caracas da “Mulher Migrante” Luso-Venezuelana tomou posse publicamente entre as presentes e foi juramentada nas suas funções associativas em prol da defesa da mulher portuguesa na Venezuela pela Direção nacional.


A recente delegada principal da comissão regional em Caracas, Mimí Coelho, constituiu a sua equipa e em coletivo aceitaram o desafio proposto pela Presidente nacional e Conselheira das Comunidades Portuguesas, Milú de Almeida.


A rede “Mulher Migrante” encontra-se presente em 13 países no mundo. A associação luso-venezuelana foi criada em 2012 após o 1º congresso nacional da mulher portuguesa na Venezuela e contou com a presença de Rita Gomes (Presidente da “Mulher Migrante” em Portugal) e de Manuela Aguiar (fundadora da “Mulher Migrante” Internacional e ex-secretária de Estado às comunidades portuguesas).


As comissões regionais da “Mulher Migrante” Luso-Venezuelana em todo o território nacional foram muito solicitadas pelas quase 150 congressistas presentes no 2º congresso nacional da mulher portuguesa na Venezuela em 9 de novembro de 2015 e aprovadas à unanimidade nas recomendações e conclusões finais do evento, propostas à votação geral pelos comissários Vanda Pontes e Felipe Gouveia.





La comisión regional “Caracas/Miranda” de la asociación nacional “Mujer Migrante” LusoVenezolana te invita a la 2ª tertulia luso-femenina de las Compañeras de “Chá & Café” el jueves 19 de noviembre a las 02:30 pm


“La vida nacional gira en torno de una taza” (Ernesto Belo Redondo, periodista portugués)


Día Mundial de la Filosofía

Conversatorio sobre la osteoporosis de los huesos con médicos especialistas

Debate: Tema libre entre compañeras


SE RESERVA EL DERECHO DE ADMISIÓN | Pide tu entrada para asistir al evento: 0412-3760424, 0414-2306458, 0414-1600001, contacto@mulhermigrante.org.ve


Contacto prensa: Mimí Coelho (delegada regional principal), 0414-2159097, contacto@mulhermigrante.org.ve




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Querida Amiga, aqui vão as fotos do Guarany e os Flyers ad exposição de O Ovo do Sagrado feminino, que inaugura a 10 de Dezembro no Palacete Viscondes Balsermão, com a presença do Sr. Vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto.

Beijinhos e até para a semana, depois telefono!


Maria Antónia


“Somos Portugalidade”





“Milú” de Almeida encabeza la tercera opción por el circuito electoral de Caracas-Oriente


Experiencia y juventud. Esta es la premisa de la actual conselheira María de Lourdes Almeida, conocida en nuestra comunidad como “Milú”, para encabezar la Plancha C en las elecciones del Consejo de las Comunidades Portuguesas el próximo 6 de septiembre.


La presidenta nacional de la Asociación Mulher Migrante de Venezuela, nacida el 18 de abril de 1953 en Pardilhó, Estarreja, Distrito de Aveiro, estará acompañada por los candidatos principales Manuel Ramos, ex presidente de la Filial 43 del FC Porto; Ana María Teixeira, vice presidenta del Comité de Damas de la Asociación de Luso Descendientes de Venezuela; y Simão da Rocha, relacionista público de la Associação Civil Amigos de Terras de Santa Maria da Feria.


Los suplentes por esta plancha serán Ernesto Da Silva Cardoso, tesorero de la Associação Civil Amigos de Terras de Santa Maria da Feria; Monica Da Silva, directora del Grupo Folklórico de Danzas Internacionales Dos Patrias; Felipe Gouveia, corresponsal de la Agencia Lusa en venezuela; y Maria Assunçao Rodrigues, tesorera de la Asociación Mulher Migrante de Venezuela.


Los integrantes de esta propuesta, llevan como bandera la vocación de servicio. “Quien está en estas labores, sea quien sea, lleva en la sangre la vocación de lucha por lo que considera que es necesario para su comunidad” asegura la Licenciada en Idiomas Modernos por la Universidad Metropolitana.



Interacción con los portugueses y apoyo a la juventud


La primera línea de acción de la plancha C es promover la interacción entre los miembros de la comunidad luso venezolana. “Creemos que es necesaria una mayor interacción con la comunidad e incrementar el acercamiento con los jóvenes. Esta interacción es extensiva a las redes asociativas de nuestro círculo electoral” asevera la ex primera dama del Centro Marítimo de Venezuela, agregando que aunque los clubes e instituciones son autónomos en sus decisiones, es necesario el trabajo en conjunto para que no se pierda la identidad portuguesa.


“Es importante aclarar que los portugueses en Venezuela no son sólo los que están en los clubes: la mayor parte de nuestra colonia está regada por todo el país y atraviesa grandes dificultades. Hay muchas iniciativas que llevan a cabo grandes esfuerzos y pasan bajo la mesa; otras veces, los jóvenes no muestran interés debido a la falta de incentivos. A nuestra comunidad hay que entenderla y apoyarla, dándole a los jóvenes las herramientas para sentirse incluidos” asegura.


Idioma, valores y tradiciones

La cultura e identidad lusitana tienen un puesto de honor en las líneas de acción de la Plancha C. “Proponemos seguir en la defensa de la enseñanza de la lengua portuguesa y de la portugalidad, continuando la difusión de los valores culturales y tradiciones de nuestros antepasados. Aquí nuevamente los jóvenes tienen un papel fundamental, ya que creemos necesaria la promoción de intercambios culturales” indica la también fadista y ex directora del Grupo Folklórico Internacional Luso de la extinta Asociación Deportiva Luso Venezolana.


En los últimos siete años, Milú se orientó a la parte educativa en el Consejo de las Comunidades Portuguesas, motivo por el cual da tanto peso a la Enseñanza del Idioma. “He trabajado en la defensa de la enseñanza del idioma. Se logró un convenio con la Colegial Bolivariana para la producción y distribución de textos, además del nombramiento de un coordinador para la enseñanza. Sin embargo, continúa siendo un problema la enseñanza del portugués: seguimos sufriendo la falta de profesores preparados, ya que contrario a lo que muchos piensan, no es lo mismo hablar un idioma que impartirlo” argumenta De Almeida.



Apoyo a la comunidad y trabajo con las autoridades


Seguir vigilante con la parte socioeconómica de nuestra comunidad, defendiendo a quienes necesitan ayudas socio económicas, es otra de las líneas de acción de la Plancha C. “Para esto es necesario continuar el trabajo conjunto con nuestras autoridades diplomáticas y consulares. Hay muchas familias de escasos recursos de nuestra comunidad, lo que requiere que se haga un trabajo exhaustivo, ya que para nuestro gobierno es difícil llegar a estos casos” indica Milú.


“Hemos logrado mucho en el tema consular, gracias a la coordinación entre los funcionarios y los consejeros. Ya no hay largas filas de usuarios y los funcionarios disfrutan de mejorías. Las permanencias consulares han beneficiado a las personas que están más lejos de los consulados, al igual que la apertura de consulados honorarios. Siempre hay problemas que resolver y debemos pensar en nuevas acciones que beneficien a nuestra comunidad” aseguró.


La consejera también considera importante la situación de los pasajes. “Hemos trabajado en estos años, pero no es algo que esté en nuestras manos. Yo soy realista en lo que digo y no puedo prometer cosas que no puedo hacer. Los consejeros hemos informado a Portugal la situación preocupante de los pasajes, sin embargo las compañías aéreas actúan bajo determinadas políticas de la empresa. Nuestro deber es seguir alertando sobre cómo esto nos afecta” explica María de Lourdes.


“La diferencia de la Milu del año 2008 y la de ahora, es que hoy tiene la experiencia que antes adolecía y esto es algo muy importante para estar aquí. Mi mensaje es que siempre sigan con la esperanza y la fe de que vamos por buen camino. Es importante votar si queremos contar con Portugal. Acá tienen una plancha que está dispuesta a alzar la voz ante las necesidades. Queremos seguir trabajando, en conjunto con el circuito de Valencia, bajo una misma ideología y en una misma dirección”.




Redes sociales: @PortugalidadCCP

HT oficial: #CCP2015





Antiga secretária de Estado das Comunidades

               “Governo tem de reconstituir uma máquina de apoio aos portugueses no estrangeiro”

Manuela Aguiar
Foto: Alain Piron

Publicado Quarta-feira, 10 Junho 2015 às 14:27

“O Governo português deve reconstituir a Secretaria de Estado da Emigração” para dar resposta aos problemas dos emigrantes, como os novos casos de exploração de portugueses na construção. A antiga secretária de Estado da Emigração e das Comunidades, Manuela Aguiar, esteve no Luxemburgo e defende que o Governo deve ter uma política virada para os portugueses que emigram, mas também para os que regressam.

Maria Manuela Aguiar esteve quinta-feira em Esch-sur-Alzette, enquanto presidente da Assembleia da Associação Mulher Migrante para acompanhar e coordenar a conferência-debate do maestro António Victorino d’Almeida sobre a “Portugalidade” (ver pág. 20).

À margem da conferência, o CONTACTO confrontou a antiga secretária de Estado da Emigração e das Comunidades (1980-1987) com os novos casos de exploração de portugueses a trabalhar na construção. Um dos últimos casos dá conta de subempreiteiros portugueses que exploram imigrantes portugueses numa obra pública num estaleiro dos Caminhos de Ferro Luxemburgueses, na cidade do Luxemburgo (ver pág. 5).

“É uma história clássica de portugueses explorados pelos próprios portugueses. Nos séculos XIX e XX encontramos muitos casos desses e julgamos que não se repetem, mas quando olhamos para estas situações terríveis são muito iguais às do passado e acontecem em países onde menos se espera, como o Luxemburgo, Noruega, Inglaterra ou Holanda. Este é um dos aspectos para o qual sempre chamei à atenção quando estava no Governo”, recorda Manuela Aguiar, que foi convidada em 1980 pelo primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro a integrar o seu executivo.

Depois de ter deixado a Secretaria de Estado da Emigração e das Comunidades, Manuela Aguiar continua a trabalhar com as comunidades portuguesas no estrangeiro. Na Associação Mulher Migrante coordena vários estudos sobre os emigrantes portugueses. Considerada uma das maiores especialistas portuguesas da emigração, critica qualquer governo, mesmo do seu PSD.

“O Governo tem a obrigação constitucional de reorganizar os serviços de emigração, o Governo tem de reconstituir uma máquina de apoio aos portugueses nos países onde estão, para combater estes fenómenos de exploração”, defende Manuela Aguiar.

“Logo a partir de 74, a primeira coisa que os governos provisórios fizeram foi criar uma Secretaria de Estado da Emigração e reorganizar os serviços para servir os portugueses. Mas quando Portugal aderiu à CEE [Comunidade Económica Europeia], achou que a emigração tinha acabado e desmantelou os serviços de emigração. Neste momento, em que temos uma emigração como nos anos 60, temos a obrigação de voltar a ter adidos sociais, que há pouco tempo acabaram, ter pessoas que possam fazer relatórios ao Governo, que possam seguir a situação dessas pessoas exploradas e indicar soluções também para outros casos. Precisamos de novos serviços, à semelhança dos que tivemos, adaptados aos tempos modernos”, propõe Manuela Aguiar.

Para a também antiga deputada eleita pelo círculo da Europa, o Governo português deve também ter uma política virada para os que querem regressar.

“O Governo tem de apoiar os que querem sair, mas também apoiar de todas as formas possíveis os portugueses que querem regressar. Tem de haver uma política de regresso, ainda que não seja um regresso imediato, e chamar as pessoas à medida que for possível. É certo que neste momento são muito mais os que querem sair do que os que querem regressar, mas os governantes têm de adequar os instrumentos, os serviços e os meios institucionais às realidades”, defende Manuela Aguiar, lembrando o “sinal positivo” dado por Pedro Lomba, secretário de Estado do ministro-adjunto, Miguel Poiares Maduro. “Ele apelou ao regresso dos portugueses e é bom que o Governo não tenha apenas o discurso do ’vão embora’”.

Foto: Anouk Antony

                   MEIO MILHÃO DE PORTUGUESES SAÍRAM NO MANDATO DESTE GOVERNO

Para a dirigente da Associação Mulher Migrante, Portugal está a viver actualmente uma “situação demográfica dramática” e só durante o mandato deste Governo cerca de meio milhão de pessoas já deixaram Portugal. “Há uma emigração como nos anos 60, ainda que mais qualificada e mais dispersa. Estão a sair entre 120 mil a 130 mil pessoas por ano, segundo os números do actual secretário de Estado das Comunidades, José Cesário. Em média dá meio milhão de portugueses durante o mandato deste Governo”, conclui Manuela Aguiar.

Se a política de regresso dos portugueses não for suficiente para “refazer o tecido demográfico de Portugal”, a antiga governante defende a imigração lusófona.

“Os imigrantes podem ser de todos os países de gente de boa vontade, mas acho que seria fantástico que se fizesse dentro do mundo lusófono. Já temos brasileiros cabo-verdianos, angolanos, etc., mas deveríamos reforçar os laços da lusofonia através de imigrações em massa, de preferência imigração altamente qualificada porque estamos a perder jovens altamente qualificados. É um sonho que tenho, mas na prática só podemos fazer isso com o desenvolvimento económico”, sublinha Manuela Aguiar, para quem Portugal é um “país exemplar na política de imigração”.

“Só temos é de saber ensinar os imigrantes a gostar de Portugal. Isso faz-se dando-lhes condições de vida, fazendo-os felizes, iguais, porque um imigrante que se sente bem tratado, bem integrado, com boas condições de trabalho e de convívio é um imigrante que adora o seu país de origem e que adora o seu país de destino”, conclui.

                   SOUBE 30 ANOS DEPOIS QUE JUNCKER NÃO ERA CONTRA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA

Manuela Aguiar foi quem negociou com Jean-Claude Juncker “a cláusula de salvaguarda que o Luxemburgo queria impor à imigração portuguesa” no início da década de 80. Diz que só passados 30 anos é que descobriu que Juncker não era contra essa imposição.

“Foram as primeiras grandes negociações que tive com o Luxemburgo e não foram fáceis. Houve uma imposição do Luxemburgo e da União Europeia e Portugal não pôde fazer nada. Na altura, eu não sabia, mas o Juncker contou depois numa entrevista na Gulbenkian, quase 30 anos depois, que ele era dos que não queriam a cláusula de salvaguarda. Ele queria dar de imediato todos os direitos aos portugueses. Três anos depois ele era primeiro-ministro e acabou com a cláusula de salvaguarda”, conta Manuela Aguiar.

A responsável relembra também o problema do ensino. “A dificuldade do ensino dos filhos dos portugueses em três línguas foi sempre o grande problema que apresentei às autoridades luxemburguesas. A resposta que me davam na altura é a mesma que dão hoje. Continuamos a ter crianças prejudicadas no seu percurso académico por causa disso. O problema não está resolvido”, conclui a antiga secretária de Estado das Comunidades.

Henrique de Burgo







Associação Mulher Migrante realizou primeira tertúlia


A associação procurou realçar a importância da mulher na sociedade


Correio de Venezuela - oct 30, 2015 - Ommyra Moreno



A Associação Nacional Mulher Migrante Luso-venezuelana realizou a sua primeira tertúlia, denominada “Chá y Café”, numa convocatória que congregou companheiras de diferentes estados no Salón Pinto’s, no sector La Florida, em Caracas.


A tertúlia começou com umas palavras de boas-vindas, proferidas pela presidenta da direção, Milú de Almeida, que depois empossou a delegação regional de Caracas e Miranda, encabeçada por Mimí Coelho.


A iniciativa foi levada a cabo no quadro do Dia Internacional da luta contra o Cancro da Mama e contou com um debate sobre prevenção, que esteve a cargo da Dra. Zoraida Méndez, a quem as participantes colocaram dúvidas e pediram esclarecimentos sobre mitos relacionados com esta doença.


Milú de Almeida aproveitou a oportunidade para anunciar as próximas atividades que serão promovidas pelas delegações da associação a nível nacional, assim como o Encontro Regional das Mulheres Portuguesas no Estado de Mérida, em parceria com o Consulado de Portugal em Mérida, a 31 de Outubro. No Estado de Miranda está agendado um outro encontro para 14 de Novembro, desta vez com a colaboração do Consulado de Portugal em Los Teques.


As companheiras, como são conhecidas na associação, compartiram uma agradável merenda durante o evento, que foi concluído com a entrega de certificados às participantes e apresentação das conclusões do debate, as quais salientaram a prevenção oportuna do cancro da mama.


A Associação “Mulher Migrante” foi oficializada em Fevereiro de 2014, com o fim de promover, aprofundar e dinamizar o intercâmbio entre mulheres da comunidade luso-venezuelana e pessoas interessadas nos aspetos históricos, sociais, culturais e jurídicos das migrações.


EM AGENDA

A Associação Mulher Migrante, o Consulado de Portugal em Mérida, a Casa Portuguesa e a Fundação Luso-venezuelana “Casa Madeira” levarão a cabo o 1º Encontro Regional da Comunidade Portuguesa no Estado de Mérida e a tomada de posse da 1ª Comissão Regional em Mérida, no sábado, 31 de Outubro, pelas 03:30 pm. O ato terá lugar no Salão “Tibisay” do Hotel “La Pedregosa”, situado no final da avenida Los Próceres, zona industrial. Os interessados em participar deverão contactar os organizadores pelos telefones (0412)329785, (0414)7448746 e (0414)7172180, ou escrever para o endereço de correio eletrónico: contacto@mulhermigrante.org.ve






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Área de anexos








Junto enviamos trabalho de Manuela Rosa - Pretoria, Africa do Sul
Com os melhores cumprimentos,

Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul

Curriculum vitae resumido

    Manuela Baptista Rosa nasceu a 3 de Janeiro de 1942, na Madeira onde estudou até concluir o Magistério Primário e onde leccionou no Ensino Básico até 1972. Emigrou então para a África do Sul e, desde 1973 até 1997, foi professora e directora pedagógica da escola portuguesa da Associação da Comunidade Portuguesa de Pretória. Volta à Madeira onde exerce no 1o ciclo do Ensino Básico até 1999. Regressa à África do Sul leccionando, então, português como língua estrangeira, nas escolas locais até 2006. Entretanto, termina em 2004 a licenciatura em Formação Científica e Pedagógica pela Universidade Aberta.

    Na África do Sul, participou de várias formas no trabalho com a comunidade e no movimento associativo. Foi directora cultural, fundadora do Rancho Folclórico e presidente da Casa Social da Madeira; membro fundador e vice-presidente da secção feminina da Sociedade de Beneficiência "Os Lusíadas"; membro fundador, honorário e presidente executivo nacional da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul; membro desde a fundação da Mulher Migrante. Foi Conselheira das Comunidades Portuguesas e é Conselheira das Comunidades Madeirenses. Desde 1980, foi membro da Sub-Comissão organizadora das Comemorações do Dia de Portugal em Pretória, sendo desde 1996 membro da Comissão de Honra. Recebeu a Medalha de Mérito da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e o Grau de Comenda da Ordem de Instrução Pública.

Intervencao no congresso de Espinho:

A INTEGRACÃO DA MULHER PORTUGUESA NA ÁFRICA DO SUL

    Através dos contactos que tenho tido com a comunidade em geral, e com a feminina, mais em particular, e com todo o Associativismo na África do Sul, aprendi a viver a sentir muitos dos seus problemas.

A Mulher, parte do agregado familiar, ao sair de Portugal, por circunstâncias várias, trouxe consigo dois grandes anseios:

    1o. Ajudar a família a vencer na vida.

    2o. Poder um dia voltar às suas origens, à sua aldeia, aos seus familiares.

    Com estes anseios acompanhou o marido e enfrentaram juntos grandes dificuldades, desde as económicas, linguísticas, aos diferentes costumes e tradições as condições de trabalho e as práticas religiosas e até mesmo as condições climáticas.

    O emigrante ao chegar aos países de acolhimento tentou minimizar o seu isolamento agrupando-se para fundar associações relacionadas com a sua identificação de origem e clubista para assim falar na sua própria língua, das memórias e da saudade de tudo o que ficara para trás - a paisagem, os seus familiares, o seu clube preferido, as festas, as romarias, etc.

    O casal chegou na flor da idade com uma esperança dominante de realizar rapidamente os seus sonhos, mas que, de uma maneira geral, nem sempre conseguiu tão facilmente.

    Sabemos que as memórias do passado colectivo, garantem a continuidade de um ser, mas na situação do emigrante, estas memórias são muito mais acutilantes.

    O emigrante criou verdadeiros monumentos - padrões de portugalidade neste país - criou escolas, ranchos folclóricos, organizações de solariedade social, encontros gastronómicos e culturais para assim se identificar. Hoje muitas destas associações estão a sofrer por falta de assiduidade relacionada com os movimentos migratórios da comunidade e por vezes por falta de interesse da juventude e problemas de gestão.

    E agora pergunto eu: Qual é o papel da mulher em todo este percurso?

    A mulher, a esposa, a mãe, a dona de casa, a operária, a empregada que ao lado do marido trabalha e trabalhou no comércio e nas fazendas,e que lado a lado lutou para que a associação por ela criada, pudesse crescer e desenvolver, estava votada ao esquecimento, tinha um papel secundário nesse sector, com as tarefas mais duras e desgastantes nas cozinhas, nas limpezas, sem nada reclamar e sem nunca ser incluída nos corpos directivos das mesmas organizações.

    O emigrante português trouxe consigo a sua identificação e pertença, mas o modelo patriarcal como fora criado, estava bem arreigado no seu ser - até mesmo hoje nos seus descendentes. Dificilmente aceitou uma mulher como presidente da associação a que pertence.

    No entanto estas ideias tem-se atenuado um pouco ao longo dos tempos. Em algumas instâncias, infelizmente muito poucas, a mulher portuguesa de hoje já não é só reconhecida pelo seu impecável papel de mãe e de dona de casa, é um elemento integrado na vida social, económica, política (neste sentido ainda tem muito para lutar), desportiva e cultural na África do Sul, (principalmente as camadas mais jovens), mas com uma sensibilidade superior que a distingue do homem!

    Como dirigente tem dado provas de grande responsabilidade e competência, muito em especial na integração da juventude nas associações, com actividades que atraem jovens de ambos os sexos.

O NASCIMENTO DA LIGA
    Um grupo de mulheres portuguesas sensível ao isolamento de muitas das nossas conterraneas ( temos que recordar aqui que não havia na altura qualquer acesso televisivo em lingua portuguesa), formou-se 1988 a Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, com o lema "Contribuindo para um mundo melhor". É uma organização com múltiplos objectivos entre eles promover a coesão das mulheres portuguesas, promover, desenvolver e preservar a cultura e tradições portuguesas através da divulgação e discussão dos mais variados tópicos assim como a mulher no seu desenvolvimento individual, defender os seus direitos e sempre que necessário, actuar em sua defesa, dos seus filhos e de toda a sua família. Nesse ano criaram-se os Estatutos. A 20 de Maio de 1989 realiza-se a 1a. reunião pública à qual aderem cerca de 230 mulheres portuguesas, no Hotel Boulevard da mesma cidade. Dois anos mais tarde formam-se as filiais de Durban, Cidade do Cabo e Rustenberg.

    Através da Liga, fomentou-se ainda a integração da mulher com outras comunidades tornando-se mais sensível e conhecedora dos problemas que a rodeiam, e mais consciente do seu papel neste país visto enfrentar problemas comuns. Estes convívios são um manancial de enriquecimento cultural e colaboração, outro dos objectivos da Liga da Mulher.

    A identidade de um povo está ligada à sua lingua e cultura e nesse sentido, a Liga luta pela defesa continua desses ideais. Como mãe e educadora, a mulher é a pessoa certa para transmitir esses nobres valores a toda a familia. Acreditamos que educar uma mulher é educar uma sociedade.

    Enquanto que a sociedade portuguesa em Portugal, e a nível Europeu, evoluiu em termos do papel e importância da mulher nas várias facetas da sociedade (o que aliás é a situação que actualmente vivemos também na sociedade sul africana- na nova e democrática África do Sul) este não é o caso propriamente dito na sociedade emigrante portuguesa neste país.

    Nota-se a existência de uma separação entre as 1as. e 2as. gerações a que me referi no início desta apresentação e as chamadas 3as. e 4as. gerações ou seja - jovens mulheres já nascidas neste país e que vivem portanto num mundo de dualidade - um existir patriarcal arreigado no seio familiar - de pais e avós - e uma maior abertura na sociedade em geral em que estão inseridas, que é a sociedade que profissionalmente lhe vai assegurar o futuro - seu e da sua família. O que acontece é que estas jovens acabam por não se identificarem com estes valores ultrapassados da sociedade portuguesa neste país e estão a perder o contacto com a língua portuguesa.

    A Liga continua na sua luta pela valorização da comunidade. Procuramos soluções para as gerações mais jovens, e acreditamos que este congresso poderá ser um manacial de ideias e experiências noutros países da diáspora.

    Foi o último Encontro para a Cidadania- Congresso da Mulher Migrante na África do Sul, que incentivou um sonho antigo que tenta dar resposta à situação em que se encontram as primeiras gerações.

    Assim, ao comemorar os seus 20 anos de existência na África do Sul (a 7 de Dezembro de 2008) e atenta ao facto de que o grupo das 1as gerações está numa nova etapa da sua vida, a Liga está a desenvolver um projecto de criação de uma universidade sénior que se chama Boa Esperança por acreditarmos que trará mais confiança e ânimo aos seus alunos como o dobrar do Cabo trouxe aos marinheiros portugueses em 1488. A universidade sénior portuguesa está a suscitar grande entusiasmo na África do Sul e confiamos que dará boas oportunidades a todos, principalmnete aqueles que pela sua condição de vida têm mais tempo disponível para dar e receber novos connhecimentos. Força porque ainda somos úteis! A universidade é um espaço privilegiado para cada qual poder partilhar a sua experiência os seus conhecimentos e talentos.

    Apesar de já existirem universidades séniores na África do Sul justifica-se esta em português pois a comunidade lusófona da classe etária para a qual a universidades séniores se dirige isolou-se ao nível da lingua e do convívio porque as prioridades inicialmente eram outras.

    A propósito da universidade senior, mencionei o último Congresso da Mulher Migrante realizado na África do Sul e trago-vos, em nome da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, algumas impressões sobre este evento.

ENCONTROS PARA A CIDADANIA - ÁFRICA DO SUL

    Honrou-nos com a sua presença um grupo de ilustres visitantes, nomeadamente a Sra. Dra Maria Barroso, a Sra. Dra Manuela Aguiar, a Sra Dra Rita Gomes, a Sra. Dra. Beatriz Rocha Trindade, a Sra. D. Carol Marques, a Sra. Dra.Vera Moreno e a Sra. Dra. Graça Guedes, todas pertencentes a Associação Mulher Migrante.

    Estes membros da Associação Mulher Migrante apresentaram os diversos temas e foram moderadoras das intervenções a nível local.

    Além do sacrifício de uma viagem de tantas horas de avião, estas “Mulheres Extraordinárias” trouxeram consigo, ensinamentos profundos, baseados na sua vasta experiência de trabalho com a Mulher Migrante no Mundo.

    Trouxeram também consigo, calor humano, amizade, simpatia e interesse pela causa da Mulher particularmente da Mulher Migrante. Trouxeram também algo de maravilhoso que foi a nossa Lingua. Foi tão bom ouvir falar bom Português! Adoramos estar convosco.

    Nas várias sessões de trabalho foram partilhadas vivências e situações de outras Comunidades Migrantes Portuguesas e não só, que nos mostraram que muitos dos problemas e desafios que enfrentamos não são únicos a nossa Comunidade, mas verificam-se quase a nível geral de Migração.

    Reiteraram os problemas que as mulheres ainda encontram no mundo actual devido à desigualdade de género e crenças e práticas culturais de discriminação. Foram discutidos aspectos de identificação e de pertença como factores importantes na dinâmica integracional da mulher migrante nas comunidades de acolhimento.

    Foram também focados o papel da mulher no trabalho e no associativismo e a sua contribuição não só para a sua comunidade mas também para o enriquecimento da comunidade de acolhimento. Falou-se ainda do percurso da mulher no ensino escolar e universitário que tem vindo a melhorar com as novas gerações e verificou-se também que a participação da mulher no desporto é uma realidade cada vez maior e que a mulher é capaz de grandes conquistas nesta área .

    Por outro lado, os Encontros, facultaram a um grupo de mulheres na Africa do Sul a oportunidade de dialogarem umas com as outras e partilharem assuntos de interesse comum ficando também mais esclarecidas sobre vários aspectos relacionados com a sua condição de Mulher Migrante.

ENCONTROS PARA A CIDADANIA - CONCLUSÄO

    Os encontros para a cidadania que são encerrados neste Congresso, e que ao longo destes 4 anos se realizaram nos diferentes países da diáspora, com o maior sucesso, foram um alerta à Mulher Migrante da sua importância, do seu papel como cidadã portuguesa, como cidadã do mundo! Tornar a mulher mais consciente, mais conhecedora dos seus direitos e deveres, no mundo em que está integrada. A mulher não pode ficar alheia aos problemas sejam eles ligados à família, à economia ou à política! Tudo está interligado! A mulher portuguesa sempre foi conhecida por ser excelente mãe e esposa, exímia dona de casa, mas nunca se envolveu profundamente na política. Talvez ocupava simplesmente o lugar que lhe era indicado pelos maridos. Hoje, tudo se transformou e encontramos mulheres muito mais envolvidas nesses sectores e até com cargos de chefia, nos mais diversos postos de trabalho.

    Na África do Sul, nas novas gerações é isso que está a acontecer. No entanto foram muitos os anos de isolamento a que a mulher foi votada por esses países de emigração. A RTP Internacional veio dar um grande impulso, uma grande companhia a muitas mulheres que passavam os dias isoladas, enquanto os maridos saíam para os seus empregos. Ouvem falar a sua língua diariamente através da TV e ficam a par daquilo que se passa em Portugal. É um elo de ligação, é uma globalização que nos une aos nossos irmãos que ficaram na nossa terra natal! Ao mesmo tempo mostra o caminho a seguir em muitos sectores da vida do país- temos de nos integrar, temos de acordar e mostrar quão importante é ser Bom Cidadão! E dar a nossa opinião válida da qual podem depender muitas resoluções. Com a nossa colaboração directa tudo pode mudar - para melhor ou pior- conforme nos consciencializamos desse papel!




Conclusões do II Congresso Nacional da Mulher Portuguesa na Venezuela


1.            Considera-se que o associativismo feminino português nasceu da vocação de serviço de apoio à comunidade.


2.           Anotou-se uma grande restrição ao nosso gênero por parte do público masculino, convencido de que as mulheres seriam incapazes de assumir papéis importantes ou significativos na nossa sociedade.


3.           A mulher Lusa aprendeu a organizar-se, sem abandonar a sua responsabilidade e o seu rol familiar, a gerir o seu tempo para juntar-se ao associativismo, ao conseguir uma pequena independência e assim poder ajudar os mais necessitados.


4.           Identificou-se a perda da língua portuguesa nas novas gerações e da nossa Portugalidade devido a que os portugueses quando chegaram à Venezuela eram na sua maioria agricultores, construtores, e eram ridicularizados verbalmente obrigando-os a aprender a língua do país de acolhimento e assim evitar que o mesmo sucedesse aos seus filhos


5.           Apontou-se que o abandono do Governo Português durante muitos anos provocou que as famílias luso-venezuelanas se afastassem das suas tradições, perdendo assim parte da nossa idiossincrasia e por tanto a nossa Portugalidade.


6.           Defendeu-se a igualdade a todos os níveis da inclusão da mulher luso-venezuelana como impacto fundamental no associativismo, na rede empresarial, na cultura do lar e na profissionalização dentro das carreiras universitárias


7.           Apoiar as ações da Federação dos Centros Portugueses na Venezuela (Feceporven) como coordenador nacional da inclusão associativa, desportiva, cultural e artística.


8.           Citou-se J. Pereira (2012): “A portugalidade vive em cada canto do “mundo português”, em cada utilizador da língua de Camões e é extensível a qualquer individuo que, por diversos motivos, apoia-se nesse código de comunicação que arrastra seculos de memória e identidade”


9.           A saudade levou a mulher portuguesa na Venezuela a gerar sentimentos emocionais na procura da recreação de toda a bagagem cultural, social, religiosa que tivera que deixar atrás


10.       Enalteceu-se a obra sociocultural das diretivas femininas luso-venezuelanas como pilar fundamental na defesa da identidade e da portugalidade.


11.       Verificou-se que na Venezuela existe uma percentagem mínima de estruturas teatrais lusos-venezuelanas devido à falta de apoio e motivação dos diretivos das associações.


12.       Observou-se um crescimento de oportunidades para as novas gerações devido ao nível académico superior alcançado na atualidade.


13.       Tomou-se em consideração a crescente presença do movimento associativo e folclórico nas redes sociais permitindo uma maior interação da juventude luso-venezuelana e da aproximação da portugalidade.


14.       Lamentou-se a ausência da missão diplomática e postos consulares nas redes sociais, o que permitiria uma maior aproximação dos serviços públicos portugueses e dos cidadãos.


15.       Felicitou-se a comunidade portuguesa no seu geral como um coletivo de orgulho português.


16.       Reconheceu-se o excelente trabalho dos clubes e grupos folclóricos portugueses durante décadas em prol da portugalidade.


17.       Entristeceu a atual situação e a falta de orientação do atual CCP como único órgão eleito pela diáspora portuguesa no mundo.


18.       Reconheceu-se o trabalho dos conselheiros da Venezuela na promoção da iniciativa para a abertura dos Consulados Honorários em Ciudad Guayana, Los Teques e Mérida, e o agendamento de dezenas de jornadas consulares no país.


19.       Louvou-se o apoio da SECP/DGACCP, do Consulado Geral de Portugal em Caracas, das empresas portuguesas e da rede associativa que permitiu a realização com êxito do II Congresso Nacional da Mulher Portuguesa na Venezuela


20.       Agradeceu-se a disponibilidade e a participação ativa dos congressistas presentes.



Caracas (Venezuela), domingo 9 de novembro de 2014


 Presença das associadas da AEMM-Norte

. As tertúlias da cooperativa Nascente. 1 de Abril 

Portugal Cais do mundo? 1 de abril


Convidada Drª Maria Manuela Aguiar. Moderador; Mestre Teixeira Lopes

   .  III Bienal Internacional Mulheres d'Artes , 25 de abril FACE 16.00.


Participação de algumas das Artistas Plásticas que têm colaborado com a AEMM - e mulheres migrantes, como Ana del Rio e Ludmilla, Alvarenga Marques, Ana Maia, Ariadne Papucciu, Inês Abrantes, Ny Machado, Paula Robles, Setas Ferro,Yessica de Sousa

Exmº Senhor
Dr. José Arantes
Digº Diretor da RTP África

Com os nossos melhores cumprimentos, vimos solicitar a V. Exª o texto da Intervenção que teve a amabilidade de fazer no Colóquio " Diálogos sobre Cultura, Cidadania e Género, na Universidade da Sorbonne Nouvelle, no passado dia 10 de Setembro de 2015.
Pedimos desculpa, mas, como não temos conseguido contatar com a Profª Doutora Isabelle Oliveira e temos um curto espaço de tempo para completar a Publicação sobre as Atividades da Associação relativas a 2015, vimos solicitar a V. Exª o favor de nos enviar o seu valioso texto, a fim de o integrarmos nessa nossa Publicação.
Ficamos, desde já muito reconhecidas por mais esta atenção..
Com o nosso maior reconhecimento e sempre muito gratas/os
Pela Associação Mulher Migrante
Rita Gomes


 


6 - O CCP  (15 páginas)

texto de Vitor  Gil  


Memória do 1º CCP   Manuela  Aguiar

As Mulheres no CCP 

Eleições 2015 : Entrevistas as mulheres conselheiras

MULHERES MIGRANTES no Conselho das Comunidades Portuguesas

MARIA VIOLANTE MARTINS, presidente da Associação das Mulher Migrantes Portuguesas da Argentina, MILÚ DE ALMEIDA e FÁTIMA PONTES, Presidente e Vice-presidente da Associação da Mulher Migrante da Venezuela, concorreram às eleições para o CCP, neste mês de setembro de 2015, como cabeças de lista e venceram. Entraram no Conselho pelo voto das suas comunidades e entraram também na história desta instituição e na do movimento associativo, que lhe dá força identitária e personalidades com um saber de experiência feito em terra estrangeira..

Chegam as três de um associativismo feminino, que, pela primeira vez, na nossa Diáspora ultrapassa as fronteiras de uma região ou de um país, e inclui nos seus principais objetivos a igualdade de participação cívica e política das mulheres. Pela primeira vez, vimos as suas dirigentes a tomar a iniciativa de constituir listas para o CCP - listas abertas, paritárias - a fim de assumirem a defesa dos intereses das comunidades a que pertencem e dos seus compatriotas no interior do órgão que os representa face ao governo de Portugal.

O CCP foi inicialmente um universo de homens, que dominavam as intituições das comunidades - sua primordial base de recrutamento, nos termos da lei fundadora. Aliás, ainda hoje, num modelo de eleição por sufrágio universal, a maioria dos seus membros são homens, a que acresce uma minoria de mulheres, quase todas e todos provenientes do viveiro de lideranças e de notoriedade, que é o associativismo.

É certo que, desde o começo do século XX, coexistiam em algumas das então chamadas "colónias" da emigração portuguesa um amplo círculo das organizações masculinas e um pequeno círculo feminino, uma elite pioneira, que, em casos contados, deu vida a empreendimentos de ampla dimensão - por exemplo, as sociedades fraternais da Califórnia. Todavia, as mulheres dirigentes de ONG's, qualquer que fosse o seu poder de facto, nos anos 80, não se sentiram suficientemente motivadas para intervir numa instância consultiva, à qual o Governo reconhecia uma enorme importância, como plataforma para debate de questões prioritárias e definição das grandes linhas das políticas públicas neste setor. A que se deve o alheamento mais ou menos voluntário das mulheres? Não é fácil dar respostas a uma interrogação que, de início, não se colocou, talvez por se considerar - tal era a desproporção da sua presença no todo institucional - uma inevitabilidade. Talvez pelo facto de funcionarem em paralelo, à margem do associativismo-padrão, onde pontificava o outro sexo. Ou - é uma outra hipótese plausível - por terem o seu enfoque matricial em domínios que julgaram fora das prioridades do CPP - a entreajuda entre as próprias associadas, o voluntariado beneficente, o puro bem-fazer, em conformidade com a tradição.

Como sabemos, o movimento feminista de novecentos veio colocar a tónica na defesa dos direitos de cidadania e no acesso à educação e ao trabalho profissional ( sem abandonar a vocação beneficente e humanitário), mas não curou nunca, diretamente, da situação das mulheres migrantes. Estas foram, de facto, insolitamente esquecidas. Marginalização, na altura, tanto mais definitiva quanto nas Diásporas, não surgiu, de uma forma autónoma e espontânea, militância num ativismo norteado pela ideia da igualdade, no campo político e social. O obra visível das portuguesas expatriadas na esfera pública floresceu, como dissemos, sobretudo, em moldes menos reivindicativos, mais consonantes com uma configuração consevadora dos papéis de género.

As primeiras conselheiras do CCP ganharam o lugar nessa magna assembleia de líderes comunitários, não pela dinâmica coletiva (feminina), antes tão só pela vontade de intervenção cívica e pelo prestígio individualmente grangeado entre os seus pares. Não é surpreendente que tenham vindo sobretudo do jornalismo - caso de CUSTÓDIA DOMINGUES, de MARIA ALICE RIBEIRO, desde 1983 e , depois, de MANUELA DA LUZ CHAPLIN, advogada, que mantinha uma colaboração regular e importante na imprensa luso americana..

Creio que MANUELA DA ROSA, fundadora da Liga da Mulher Portuguesa da África do Sul, terá sido a primeira conselheira oriunda de uma estrutura feminina (aliás não "feminista", no sentido revolucionário ou, pelo menos, fortemente reivindicativo, da palavra). Não tendo tido, provavelmente em razão do sexo, acesso a cargos de relevo na hierarquia do Conselho, nem por isso deixou de ter sempre uma voz influente, tal como aquelas cujos nomes acima lembrámos.

A uma conselheira deve o CCP o ficar na história como o improvável, mas autêntico, impulsionador do embrião de políticas atentas às especificidades da situação das migrantes . Foi Maria Alice Ribeiro, quem propôs, em 1984, uma audição governamental de portuguesas da Diáspora, que a SECP levou a cabo logo em 1985. Foi um auspicioso primeiro passo, que se queria continuar, com a formação de uma organização internacional, no plano da sociedade civil, e, a nível das políticas governamentais, através de conferências periódicas na órbita do Conselho - uma forma hábil de inclusão das mulheres na vertente consultiva do Conselho.

A Associação "Mulher Migrante" foi criada, quase uma década depois, em 1993, para reavivar aquela valiosa herança, levando por diante o projeto de ampla cooperação transnacional para uma participação igualitária na vida das comunidades e do país.

O segundo CCP é posterior (1996) e não tem manifestado, até agora, particular propensão para agir no domínio da igualdade de género, apesar de em muitos outros campos ter sido um poderoso e insubstituível instrumento de co -participação nas políticas de emigração, de expansão da língua e da cultura portuguesas, de aprofundamento dos laços com o País de origem e de integração no país de residência.

É a hora de o CCP se preocupar mais com os fenómenos de exclusão não só da metade feminina, como também dos mais idosos e experientes, dos jovens, da nova emigração. Para isso, contamos com a intervenção das Mulheres Migrantes e com os aliados que, com toda a probabilidade, encontrarão no interiror do Conselho.

Apesar de a Associação Mulher Migrante - a que está sedeada em Lisboa, com ramificações pelo mundo - não ter tido qualquer interferência na apresentação das candidaturas ou nas campanhas vitoriosas das suas associadas da Argentina e da Venezuela, vè nelas a comprovação da eficácia de uma estratégia de envolvimento cívico das portuguesas do estrangeiro, desenvolvida, em colaboração com sucessivos governos, sobretudo a partir dos "Encontros para a Cidadania", nas Américas, África e Europa entre 2005 e 2009, continuados com os Encontros mundiais de 2011 e 2013 e outras ações integradas no que podemos chamar "congressismo". Daí que partilhemos o sabor e o significado destas vitórias, com um sentimento de esperança num CCP mais próximo da realidade das comunidades e mais eficaz, porque o equilíbrio de género é, obviamente, uma mais valia. da representação democrática



ENTREVISTA

Entrevista a José Cesario

Entrevista a José Luís cordeiro

Homenagem

Entrevista ao Maestro António Victorino d’ Almeida

(A propósito da Conferência/Concerto “A Portugalidade” integrada na Digressão Internacional Comemorativa dos 75 Anos do Compositor sob o Alto Patrocínio do Governo de Portugal – Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas)

Com Miguel Leite e Manuela Aguiar


ML – Maestro: Completou este ano 75 anos de idade – muito embora um pouco contrariado com o facto – mas a verdade é que a propósito deste aniversário realizou uma Digressão Internacional Comemorativa (a Esch-sur-Alzette no Luxemburgo e a Puteaux – Paris), tanto quanto sei num tipo de acção que até agora nunca tinha acontecido, uma acção de estado, de um governo, neste caso do Governo de Portugal…


AVA – Que eu me lembre, foi realmente a primeira vez…


ML – … que oficialmente, através da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas decidiu por um lado homenageá-lo a si como grande figura da Música em Portugal dos últimos 60 Anos e, por outro lado, - com uma ideia que todos nós consideramos interessantíssima – que essa homenagem fosse dupla no sentido em que pudessem ser também presenteadas as nossas Comunidades Portuguesas espalhadas por esse mundo fora, uma vez que esta Conferência/Concerto lhes é particularmente destinada…

                A Associação Mulher Migrante foi efectivamente a grande impulsionadora desta iniciativa junto deste parceiro institucional e motor da actividade que foi a SECP.

                Assim, e após esta primeira introdução explicativa que enquadra devidamente esta entrevista, pergunto como é que o Maestro se sentiu intimamente com este gesto, com esta acção, e como é que fruiu dela, uma vez que esta Conferência/Concerto já se realizou no Luxemburgo e em Paris?


AVA – Esse aspecto oficial devo dizer que me agradou e agrada-me sempre porque… - vamos lá a ver – eu até admito que no fundo eu seja anarquista… Mas não exerço… E como tal nós gostamos que o nosso País e aqueles que o representam nos tratem bem. É verdade! Portanto não nos é indiferente… E eu creio que é mentira quando alguém diz: Eu não quero homenagens!... Eu prescindo das homenagens!... Não, não… Nós ficamos muito chateados é por sermos maltratados ou ignorados, porque quando somos bem tratados temos razão para estar contentes em relação a esse reconhecimento… E eu tive ocasião de dizer ao Sr. Secretário de Estado (José Cesário) no almoço que tivemos em Paris que salvo um acontecimento recente em que tive a assistir a um concerto meu o Sr. Presidente da República Portuguesa (por razões institucionais dado tratar-se de um Concerto Comemorativo dos 40 Anos da Universidade do Minho), a verdade é que foi a primeira vez (que eu me lembre) em 60 Anos de Carreira Artística que eu tive um membro do governo a assistir oficialmente a um concerto meu…

                E cruzei-me imensas vezes com vários Ministros e Governantes dos mais diversos Partidos em hotéis… E sempre muito delicadamente chegou a resposta: - “Desculpe lá, tenho tanta pena de não poder ir assistir ao seu Concerto, mas tenho hoje um jantar a que não posso faltar de maneira nenhuma…” Ou seja: nunca sabem de nada… Nunca sabem de nada do que se vai passar… ou então têm sempre “uma pescada para descongelar”… (Alusão humorística a uma frase do seu último Filme – Longa Metragem – “O Tempo e as Bruxas” – Farsa Absurda).

                …E portanto é evidente que não fui nada indiferente, muito pelo contrário, a esse lado oficial de que esta homenagem se tem revestido.


ML – Muito bem. Mas quanto à reacção do Público ao Espectáculo propriamente dito…


AVA – Em ambos os casos a reacção foi muito boa. E devo dizer que tivemos o privilégio de ter algumas figuras muito especiais entre os espectadores dos Concertos… Desde logo, no Luxemburgo, com um público muito caloroso e entusiasta, constituído fundamentalmente por portugueses, de entre os quais destaco o Sr. Embaixador de Portugal no Luxemburgo – Dr. Carlos Pereira Marques, o Sr. Cônsul Geral de Portugal no Luxemburgo – Dr. Rui Monteiro e a filha mais nova do herói do 25 de Abril - Capitão Salgueiro Maia (1944-1992) – Catarina Salgueiro Maia – Emigrante Portuguesa no Luxemburgo, para além de outras destacadas figuras da vida portuguesa desse país… Em Paris, para além da já citada muito honrosa presença do Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas quero destacar também a presença da Sra. Profª. Doutora Isabelle Oliveira – Vice Reitora da Université de Paris3 – Sorbonne Nouvelle – associada e parceira local da Associação Mulher Migrante na realização desta iniciativa… E um facto que eu efectivamente assinalei é que ser Vice-Reitor da Sorbonne não é propriamente a mesma coisa do que dirigir a leitaria da esquina… E portanto termos uma portuguesa como Vice-Reitora da Sorbonne é para mim e para todos nós (acho eu) um grande motivo de orgulho!... Ainda por cima sendo uma Mulher… Nova… Muito nova mesmo… Mantendo todas as suas características portuguesas de uma Mulher do Minho… É claramente uma senhora de Barcelos e continua a sê-lo… E ter essa posição é algo que tem de ser salientado e que a mim me agradou muito verificar.


ML – Relativamente ao aspecto do “Músico Emigrante”… O Maestro também foi de certo modo um emigrante… Ou por outra, eu não sei se o Maestro foi realmente um emigrante… Mas, a propósito disso, fale-nos por favor um pouco da sua experiência dos anos em que viveu fora de Portugal, mais concretamente em Viena de Áustria.


AVA – De facto eu não acho que essa expressão seja sempre utilizada de uma forma correcta… Há o emigrante personalizado pelo Charlot Emigrante que é o que vai no navio, não é? E que é despejado - digamos assim - numa terra estranha, sem quaisquer direitos, ou melhor, tendo que conquistar todo e qualquer direito, começando pelo direito de comer, dormir… Essa vida do emigrante é uma vida extremamente dura e então aí acresce obviamente a nostalgia de uma casa… Ainda que a casa que deixou fosse uma casa muito pobre numa aldeia, mas era a sua casa, a casa onde nasceu não é?... Agora não se vai pensar que uma pessoa que vai para uma terra estranha com uma Bolsa de Estudo, para uma cidade como Viena não é a mesma coisa que uma pessoa que atravessa a fronteira a salto… Ainda que a Bolsa de Estudo fosse muito fraquinha…


MA - Eventualmente inferior ao correspondente ao Salário Mínimo Nacional desses tempos…


ML – Mas a verdade é que inicialmente sentiu uma Viena inóspita…


AVA – Sim, está bem, mas fui para lá porque quis ir para lá! É uma enorme diferença! Uma coisa é a pessoa ser obrigada a emigrar… Outra coisa é a pessoa decidir ir viver para uma cidade para estudar lá…


MA – Mas também foi estudar para lá porque era melhor do que estudar cá, não é?


AVA – Sim. Isso também é verdade.


MA – É que eu estava agora a tentar fazer a comparação com a nova emigração… É que com esses critérios não é emigração…


AVA – Pois, pois… Efectivamente eu penso que neste momento há muita gente que está a ir embora e não tenho a certeza que isso seja voluntário… São pessoas que foram profundamente frustradas por aquilo que o 25 de Abril lhes prometeu e não deu! E quando pensaram que iam ter uma vida onde pudessem efectivamente aplicar tudo aquilo que aprenderam e que são capazes de fazer, são de facto obrigados a ir para fora. Quanto a esse caso de ir estudar para outro país também não é exactamente a mesma coisa… Quer dizer: Querem-se conhecer outros professores, outras escolas… Ao passo que estes novos emigrantes que vão – mesmo que sejam engenheiros e médicos – esses não vão para lá aprender nada… Vão para lá trabalhar.


MA – Na parte dos profissionais que vão para lá trabalhar porque ganham três ou quatro vezes mais mesmo quando têm emprego aqui ou então quando aqui não têm emprego de todo, é verdade! Mas também nós estamos a ter uma fuga de cérebros… Os nossos cientistas estão a ser atraídos pelo estrangeiro porque encontram lá condições de trabalho e de investigação muito melhores do que as que aqui existem. Se calhar também foi esse o caso do jovem Maestro António Victorino d’ Almeida porque realmente Viena é Viena, não é? Em termos de Música…


AVA – Praticamente todos os da minha geração experimentaram essa ideia de ir para o estrangeiro: a Maria João Pires (N. 1944) experimentou ir para Munique; a Olga Prats (N. 1938) foi para Colónia e para Friburgo, o Sequeira Costa (N. 1930) para Paris e depois para os Estados Unidos… Não fomos verdadeiramente emigrantes…


MA – Acha que não? Sabe porque é que eu digo isso: É porque eu tive uma Bolsa da Gulbenkian e estive dois anos em Paris… E adorei viver em Paris… Eu sou uma não-emigrante forçada! E como tenho um Curso que não serve para nada, ninguém me queria em França (sou formada em Direito), tive de voltar… Mas eu não queria voltar… Eu queria ficar em Paris! No meu caso era o contrário! Eu não queria era voltar para Portugal!


AVA – Mas eu também não queria voltar de Viena… Eu também vim forçado…


MA – Os emigrantes têm essa ideia. Para eles a emigração é um acto de dôr, de sacrifício, de separação… É sempre terrível… E eu olho sempre para eles e penso assim: Eles conseguiram na vida aquilo que eu gostava e não consegui…


AVA – É verdade, é verdade. Eu se pudesse vivia em Viena!


MA – Eu também! Eu também! Se pudesse vivia em Paris!


ML – O Maestro viveu lá durante 27 anos…


MA – Seu fosse médica, engenheira electrotécnica, física nuclear… eu estava lá, não é?


AVA – Não, sinceramente… Eu visito algumas cidades estrangeiras e acho que devo defender-me para não reagir como um cão!... Ou seja: babar-me de frente das possibilidades que aquilo oferece e que aqui não existem, não é?


ML – Maestro: Todos sabemos que foi Adido Cultural da Embaixada de Portugal na Áustria… Mas, o último lugar, o último trabalho estável, o último emprego – se quiser – que o Maestro teve em Viena antes de regressar definitivamente a Portugal foi…


AVA – Foi o lugar de Compositor Residente do Burgtheater de Viena – trabalhava regularmente (não era o único compositor-residente… havia mais dois ou três, não sei…), mas eu era um deles… Portanto corresponde ao nosso Teatro Nacional D. Maria II… O Achim Benning (N.1935) que era então o Director do Teatro e que também era Encenador tinha realmente um especial bom entendimento comigo e tenho uma carta dele que muito me honra em que ele me diz que a sua melhor decisão como Director do Burgtheater de Viena foi no dia em que me contratou… É bom!... Fiquei muito contente com isso.


ML – E como é que se comete a loucura de deixar Viena nessas circunstâncias decidindo vir para Portugal largando um lugar desses?


AVA – Isso não foi loucura… Foi uma questão emocional. Tinha que ser. Eu sou filho único. (E não me arrependo!... Quer dizer…Não me arrependo não é de ser filho único! Não me arrependo é do que fiz!). Realmente a minha mãe morreu e o meu pai ficou completamente sozinho. Ou seja: Tinha as três netas em Paris e o único filho em Viena… E eu acho que dei vinte anos de vida ao meu pai… E de vida boa!... E não me arrependo nada disso. Acho até que fiz a única coisa que devia fazer e continuo a dizer que não foi assim um sacrifício… E também não era um dever… Tinha que ser. Foi uma inevitabilidade. Quando aconteceu a minha mãe morrer eu senti e idealizei o que ia ser a vida do meu pai… Isolado na Parede (Cascais)… Longe de todos… Eu disse: Não! Isto não pode ser! Falei á minha mulher e ela concordou plenamente comigo e viemos para Lisboa… Sabendo todos os riscos que corríamos e todas as dificuldades que iríamos encontrar…


MA – Quer dizer: A emigração para Portugal foi muito pior do que a emigração para Viena…


AVA – Sim, sim! Eu emigrei para Portugal. Só que desta vez eu já não fui surpreendido… Porque… Houve duas vezes antes em que eu voltei para Portugal…


ML – Isso já foi depois do 25 de Abril de 1974, não é verdade?


AVA – Sim, claro. Muito depois do 25 de Abril. Houve uma vez, quando eu acabei o Curso de Composição em Viena e tive a melhor nota, as coisas estavam a correr bem e tudo, a minha primeira mulher e eu – lembro-me perfeitamente – andávamos a passear no Graben de Viena e pensamos: - Ouve uma coisa: E se fôssemos para Portugal? Tu com este canudo… Facilmente vais para Professor do Conservatório… Se calhar um dia até acabas em Director do Conservatório… E viemos para Portugal convencidos… Aí é que foi a minha surpresa total. É que eles marimbaram-se para o meu Curso em Viena por completo…


MA – Eles não tinham portanto não sabiam… O que tem valor é o que eles têm…


AVA - Eu falava-lhes de coisas que eles não entendiam e eles falavam-me de coisas que eu não entendia… A certa altura, em pleno desemprego, total desemprego, a minha sogra (na altura a Odete Saint-Maurice) foi meter uma cunha ao velho Balsemão (Tio do Dr. Francisco Pinto Balsemão) do Jornal “O Diário Popular” para me meter como crítico musical d’ “O Diário Popular”… E foi o primeiro emprego que eu tive… Porque de resto, nada! Não consegui absolutamente nada de nada!


MA – O que demonstra que muitas vezes Portugal também não consegue aproveitar a valorização que os portugueses têm no estrangeiro… E isso se nós pensarmos naquele hipotético regresso de todos os cérebros, de todos os génios e de todos os talentos que estão a sair de Portugal vemos que será muito problemático o seu regresso…


AVA – É problemático. Pode ser muito problemático.


MA – Torna-nos muito pessimistas em relação ao que estamos a perder e não vamos recuperar… Isto é uma sociedade pequena que quer ser pequena… Portanto não nos interessa muito progredir com aqueles que a podem fazer progredir… Não é assim?


AVA – O Aquilino Ribeiro (1885-1963) é que dizia que nós éramos tão amantes do pequenino, do diminuto que até a nossa mais bonita província se chamava Minho (dos inhos – diminutivos). E de facto eu tive realmente uma experiência extraordinária que foi esta: No dia em que eu fui fazer o meu primeiro trabalho como crítico musical… Era o meu primeiro emprego, não é? Nesse caso era mesmo o meu primeiro emprego… Em Portugal e na Áustria… Porque essa foi a primeira vez que eu regressei a Portugal… Onde passados alguns meses de desemprego lá a minha sogra me arranjou esse posto de crítico musical… Que não era uma coisa fixa… Era pago à peça… E eu pus a minha Casaca - porque o S. Carlos obrigava a que se usasse Casaca - e lá fui eu para o S. Carlos e tive uma sensação: Finalmente estou a trabalhar! Finalmente estou a fazer alguma coisa. Não era bem aquilo que eu queria… Mas pronto: estava a trabalhar. Sentei-me, e logo por azar a Ópera era o Cavaleiro da Rosa de Richard Strauss (1864-1949) que é Viena e Viena e Viena e Viena e eu…. Mal aquilo começou a tocar… Ouço uma voz em mim que diz: - Eu quero ir embora! Eu quero ir embora! Quando cheguei a casa e a minha mulher me perguntou: - Então, como é que correu? E eu respondi: - Não sei. Eu quero ir-me embora! E, a partir daí, esses 6 meses em diante, foram todos a lutar para voltar para Viena, não sem a perplexidade dos meus pais e até com uma certa tensão com eles… Porque eles também não percebiam lá muito bem porque é que eu queria voltar a Viena… Mas, está bem, ainda bem que voltei… Porque realmente foi aí que eu comecei efectivamente a fazer coisas… Porque se tivesse ficado aqui tinha ficado a fazer críticas no Diário Popular… E sinceramente não sei se teria avançado muito mais do que isso… Porque aquilo ainda dava trabalho… Fazer críticas no Diário Popular… Deitava-me às 6 da manhã porque tinha que escrever as críticas para saírem no dia seguinte… Depois às vezes havia concertos à tarde e concertos à noite… Enfim, era muito chato… Muito chato…


MA – Um penoso trabalho…


AVA – Sim, era um penoso trabalho…


ML – Portanto: a vida de crítico não é uma boa vida…


AVA – Não, não é uma boa vida. Eu por acaso até acho que escrevi críticas engraçadas… As pessoas parece que gostavam das críticas que eu fazia e se riam… Mas eu tenho absoluta consciência de que escrevi muita asneira… Musicalmente falando…


ML – Houve assim alguma que desse mais brado, de que se recorde?


AVA – Por exemplo com o Messiaen (Olivier Messiaen 1908-1992): Eu chamei-lhe santeiro e coisas parecidas… Um disparate!


ML - … Mas depois converteu-se!...


AVA – Claro!


ML – E houve também um espanhol… O Ramón Barce (1928-2008) …


AVA – Não, não foi com o Ramón Barce, foi com o Tomás Marco (N. 1942) … Isso aí eu fui verdadeiramente mau…


MA – Mas os críticos é suposto serem verdadeiramente maus…


AVA – Aí era um Festival de Música Contemporânea… E veio o Tomás Marco…Que é um Compositor Espanhol de Música Contemporânea… (Eu não gosto nada desse nome… Porque pergunto sempre: Contemporâneo de quem? Bem… Portanto normalmente já se é contemporâneo de uma pessoa que até já morreu há 50 anos, mas está bem… Continua a ser Música Contemporânea) … Mas eu fiz a crítica ao Concerto e disse: - Quanto à peça do Compositor Tomás Marco não me posso pronunciar pois já não me lembro… O que era verdade!...


MA – Mas isso é de uma crueldade terrível!


AVA – É. Mas era verdade! Mas é uma crueldade terrível… E aí eu vi realmente… Mais tarde… Meses depois, não é?… Aquele “espanholismo”, aquela nobreza que os espanhóis têm… Têm realmente alguma coisa… É que então aí sou eu que vou tocar a Espanha… E o Crítico era o Tomás Marco… E fez-me uma crítica óptima!... Deu-me uma grande lição!


ML – Mudando de assunto… Foi o período que esteve em Viena que determinou que um Sportinguista depois se tornasse num Benfiquista… Ou estou enganado?


AVA – Mas isso foi logo ao início… Eu era um jovem estudantezinho de 20 anos, vivia num bairro de Viena onde eu falava com as pessoas e ninguém sabia da existência de Portugal, deste país… Ninguém! Portugal, Portugal…. Ah! Espanha! Não, não – dizia eu: Portugal!... E eles: Yah! Espanha!... Não! Lissabone!.... Espanha! Bem: nada a fazer!...


MA – Estavam antes de 1640…


AVA – Eu bem sei que há toda uma literatura inglesa que vem da Idade Média… A tramar-nos… A contar as piores coisas e inclusivamente até coisas que eu acho que são profundamente exageradas… Mas, não interessa… A verdade é que ninguém nos conhecia… Ou conheciam-nos pelas piores razões… Pela Guerra Colonial… Bem, mas isso era uma classe elevada, uma elite… Porque o resto ninguém sabia. Ora eu tinha nascido no Campo Grande e portanto aos dez anos eu fui pela primeira vez sozinho ao Estádio José Alvalade… (Nessa altura as crianças podiam ir ao futebol sozinhas… Não havia nessa altura energúmenos que andavam por ali a praticar o vandalismo… Eram pessoas que iam ao futebol e estavam por ali a ver o jogo… Podia haver uma chapada ou outra, mas não havia claques!) Conheci toda aquela equipa fantástica do Sporting: Eram os 5 Violinos! Tinha simpatia pelo Sporting! … Chego a Viena e o Benfica ganha as 2 Taças de Campeão Europeu! Mas quando o Benfica ganha a Taça ao Real Madrid eu fui para o café ver o jogo… Foi realmente um jogo incrível! O Real Madrid meteu 2 golos. O Benfica meteu o 2-1 e o Real Madrid responde logo a acabar a 1ª Parte com o 3-1!... Era a acabar! (Qualquer um desmoralizava). E o Benfica a perder 3-1 vai para a 2ª Parte e faz 3-2, 3-3, 4-3, 5-3… Bem! …E a partir desse dia eu passei a ser conhecido no bairro como “der portugiesische“!... Eu adquiri a minha nacionalidade em Viena graças ao Benfica! Lamento muito! Nada tenho contra o Sporting, mas...


MA – O que é certo é que se estivesse em Portugal isso nunca teria acontecido!


AVA – Não. Nunca tinha acontecido.


MA – Essa, é uma reacção de emigrante!


AVA – Pois.


MA – O Benfica acabou por ser um factor identitário...


AVA – Pois claro... Depois o Benfica abandonou essas lides... E passou a ser o Porto.


MA – Mas nessa altura já não dava para mudar...


AVA – Não, não dava para mudar... No entanto, devo dizer que vibrei muito quando o F. C. do Porto ganhou e daí o dar-me tão bem com o Pinto da Costa porque eu fiz um Concerto no dia do jogo e pedi aos empregados de palco que me fossem dando notícias do jogo... Eu estava a tocar e eles faziam-me gestos para eu ir percebendo o resultado... E finalmente quando eles disseram 2-1... Eu... Animei-me totalmente... E não fui jantar com os meus colegas e fui directo para o aeroporto festejar com a equipa do F. C. do Porto, com o Artur Jorge (aí fiquei amigo dele) e também do Pinto da Costa porque realmente eu fui abraçá-los! Foi um grande jogo... O Madjer... O calcanhar do Madjer!


ML – Quanto á Música nos dias de hoje, no nosso país, a sua visão... A Europa... As correntes musicais... E também as Mulheres na Música que é um aspecto interessante aqui a realçar...Uma vez que há esta ligação à Associação Mulher Migrante... O que é que nos pode dizer...


AVA – Se há uma coisa que é um documento da segregação que foi feita secularmente às mulheres é na Música...


MA – A Música é pior ainda do que a Teologia! Os nomes das Mulheres... Há mais Mulheres Teólogas do que Músicas Famosas... Ou não?


AVA – Quer dizer... Sim, mas as Compositoras são muitas mais do que aquilo que se pensa!... Mesmo no passado!


MA – Mas são ainda mais segregadas do que as Teólogas... Eu acho que a Teologia já é o assim o cúmulo dos cúmulos da segregação... Do reduto masculino... Mas hoje há Teólogas importantes, não é? Mas Músicas e Músicas Compositoras...


AVA – A Clara Schumann (1819-1896) era uma grande compositora, a Fanny Mendelssohn (1805-1847) era uma grande compositora, a Cécile Chaminade (1857-1944) não era tão má compositora como se disse... Enfim... Naquele estilo um bocadinho delambido... (Não com a pincelada vigorosa...) Mas ainda assim escrevia muito bem, compunha muito bem... E havia também muitos homens a compôr daquela maneira, naquela época, não é? E muitas outras... Muitas outras que nós agora vamos começando a descobrir!


MA – Isso é um pouco a História da Mulher... A História Universal da Mulher é um pouco isso, não é? Estava lá, mas ocultada...


AVA – Vivia na sombra do marido...


MA – Mas na Música não é mais assim ainda do que na Literatura, por exemplo?


AVA – Bem: Quer dizer... As Mulheres na Música como intérpretes já antes brilhavam, não é?


MA – Mas eu digo como Compositoras, como criadoras de Música! (Embora como intérpretes também fossem criadoras porque o intérprete também é de certa forma um criador)...


AVA – Como Cantoras então... Essas desde sempre se destacaram até porque os homens para terem aquela voz tinham de prescindir de alguns atributos...


ML – Mas também os houve, não é? Os Castrati...


AVA – Sim, também os houve... Mas aquilo soava...


MA – Com um preço demasiado excessivo a pagar...


AVA – Excessivo e com um resultado mínimo... Porque aquilo é horroroso...


ML – E pior de tudo, irreversível...


AVA – Irreversível... Sim... Bem... Mas voltando agora à Música em Portugal...


MA – Compositoras em Portugal?


AVA – Há... Há... Vamos lá a ver... Não me interpretem mal... É que as Compositoras que há em Portugal sofrem exactamente das mesmas pressões que os compositores... Que os jovens compositores... Aparecem menos... Está bem... Mas a verdade é que hoje em dia existe ainda uma falta de liberdade na Música... É uma PIDE que existe... (Lá com os vanguardistas...) É uma PIDE! E as pessoas têm que fazer aquela Música que ninguém quer ouvir! E há 90 anos que as pessoas estão a dizer: - Não quero mais ouvir isso! Não quero! Estour farto! Não gosto! E eles: Sabe - Mas isto é muito interessante!  - Pos, está bem! Então fique lá com isso! Parabéns à tia! ...E portanto há também várias mulheres que estão metidas nessa história... A Clotilde Rosa (N. 1930) - por exemplo: Eu não tenho pachorra para ouvir a música dela... Mas, o Franco [Flautista Carlo Franco], o marido dela...


ML – Gosta...


AVA – O marido não sei se gosta... Bem... A Maria de Lourdes Martins (1926-2009)... Também foi, não é? Mas agora começam efectivamente a surgir compositoras.... E começam a reagir... Também juntamente com os homens... Sim, porque assim como o Nuno Côrte Real (N.1971) já começa a reagir também...


ML – Agora há uma Compositora interessante... Uma tal Anne Victorino d‘ Almeida (N. 1978)...


AVA – A Ana começa a reagir... Começa a reagir... Realmente nesse aspecto, essa Inquisição não é dirigida especialmente às Mulheres... É dirigida a todos!


MA – Mas secularmente, e até no nosso tempo, as mulheres compositoras não apareceram nunca! Portanto se produziram alguma coisa, foi queimado!


AVA – Por acaso, felizmente, isso não é tanto assim... Queimou-se menos do que se pensa. Porque estão constantemente a aparecer nomes e obras... Originais... Muitos originais do Século XIX...


MA – Ou seja: As famílias vão aos baús, estão a ir aos baús e a trazerem a público as obras dessas mulheres...


AVA – Sim, sim... Do Século XIX estão a surgir muitas... Aliás, na própria Idade Média houve uma tal Condessa de Dia que era uma excelente compositora...


MA – Condessa... Tinha de ser Condessa... Também se não fosse Condessa não sabia música... O que significa que olhando para as médias concerteza que devia ter havido muitas mais...


AVA – É evidente que sim! Mas não esqueçamos: O exemplo mais rebarbativo é que a Orquestra Filarmónica de Viena...


ML – Sim, isso ainda hoje!


AVA – Ainda hoje, não! Acabou, acabou! Mas... eu já estava em Viena e ainda havia proibição de mulheres a tocar na Orquestra Filarmónica de Viena!


ML – O que eu digo ainda hoje é que ainda hoje há muito poucas!


AVA – Não, hoje já não são assim tão poucas...


ML – Olhe que não Maestro. Olhe para lá, olhe para lá!


AVA – Sim, é possível...


ML – São totalmente minoritárias! Já tem mulheres, mas são totalmente minoritárias!


MA – Eu acho que a Música é o campo de discriminação por excelência das mulheres...


ML – Eu não sei... Isto agora em àparte... A Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (a antiga) não tinha uma única mulher que eu me recorde, ou tinha?


AVA – Tinha. Tinha.


ML – Quem é que tinha? A Harpista?


AVA – Tinha. Tinha a harpista, tinha algumas senhoras... Violinistas... Sim. Não eram muitas... Mas já havia. Era melhor, apesar de tudo, nesse aspecto, do que a Filarmónica de Viena...


MA – E mais pianistas, não? Porque o Piano era aquilo que as mulheres aprendiam mais... Como prendas... As meninas prendadas aprendiam piano e falavam francês, não é?


AVA – As mulheres sempre compuseram... Dizia-se que a Clara Schumann sempre tocou e defendeu a música do Robert Schumann (1810-1856) do seu marido, quando ela própria tem coisas perfeitamente autónomas e de uma enormíssima qualidade!


MA – Portanto há mulheres que penetraram naquele universo... Que era um universo mais ou menos dos homens...


AVA – O que é uma coisa espantosa!... Porque a Clara Schumann, com nove filhos (!), viúva, criou os seus nove filhos como pianista... Como pianista e compositora! Só que as suas composições, essas não iam para os programas...


MA – Sim. Ela tinha de tocar as músicas do marido...


AVA – Sim, do marido e não sei até que ponto tocaria as dela... Não há relatos, não é? Bem: neste momento, em Portugal as mulheres podem ser compositoras, podem ser maestrinas (a Joana Carneiro), quer dizer... Hoje em dia a castração é outra... A castração é de ordem estética e não de género.


MA – O género emerge lentamente na Música...


AVA – Agora é constante enormalíssimo ver mulheres nas orquestras... Mulheres a tocar Trompa, mulheres a tocar Fagote, mulheres a tocar Contrafagote, clarinete baixo, contrabaixo... Aliás há aquele caso da Percussionista Elisabeth Davies com aquela elegância extraordinária com que toca...


ML – Sim, a Elisabeth Davies é uma extraordinária percussionista e quase se pode dizer que é em simultãneo uma bailarina não porque ela dance, mas porque faz ao mesmo tempo uma espécie de coreografia que no seu modo natural de tocar que dá uma enorme elegância à forma como toca.


AVA – E há uma contrabaixista cujo nome eu nem sequer sei, mas que nem é uma mulher muito bonita, mas que é uma beleza aquela contrabaixista... O ar, o empenho, a alegria com que ela faz música...


MA – Transfigura-se no palco...


ML – Nesse caso, como diria o Poeta Fernando Pessoa (1888-1935), apaixonamo-nos pelo gesto...


AVA – Sim, e o gesto conta muito. É muito importante!


ML – E temos uma mulher extraordinária, aqui no Porto, que é a Violoncelista Madalena Sá e Costa, que dentro de dias completará 100 anos!


AVA – A Madalena Sá e Costa que eu ainda conheci como uma senhora muito bonita... É preciso ver que como eu tenho 60 anos de carreira... Há 60 anos atrás ainda era uma senhora muito, muito bonita! Era violoncelista da Orquestra do Porto, lembro-me perfeitamente... E também era muito bonita a tocar na Orquestra! Mas... Espera lá: Na Orquestra da Emissora Nacional tocava: A Violetista Anabela Chaves, a Violoncelista Maria José Falcão...


ML – A Anabela Chaves que é a primeira Viola da Orquestra de Paris!


AVA – Sim. E em Viena a crítica disse que ela era a maior viola de arco do mundo! A melhor violeta do mundo!


ML – E a Maria João Pires tem uma notoriedade internacional imensa...


AVA – Está bem, mas a tocar piano... Isso já há juito tempo que havia...


ML – Mas é uma extraordinária Embaixatriz de Portugal pelo Mundo!...


MA – Não era interessante fazer-se um programa sobre as músicas da lusofonia?


AVA – Era, era... E iríamos encontrar muito mais coisas... Nós mesmos, os autores...

Há dias ofereceram-me o Cd do Alfredo Keil (1850-1907) - pelo Pianista Japonês Tomohiro Hattta - e eu estive a ouvir... Não é brilhante!... Mas há dezenas, centenas de compositores franceses, ingleses, belgas e austríacos que também não são brilhantes! Mas é perfeitamente um compositor! Porque razão é que nunca se gravou antes esta música?


MA – Das Áfricas ao Oriente... Portugal, Brasil e os outros, não é?!...


AVA – É, exactamente... Os compositores da lusofonia... Incluindo Timor, não é? Por exemplo: O Simão Barreto...


MA – Macau, Macau... Também?


AVA – Não, Macau não... Os macaenses nunca foram portugueses... Os chineses nunca nos ligaram nada...


MA – Há um nucleozinho... Pode é não ser musical, não é?... E Goa também não?


AVA – Goa sim! Goa teve um dos maiores pianistas mundiais que foi o Noel Flores (1935-2012) que foi totalmente escorraçado de Portugal! Nunca ninguém lhe ligou nada... A Gulbenkian acabou-lhe com a bolsa e ele ficou com fome! Com fome! Com fome mesmo! Quando não há dinheiro há fome! O que é que a gente há-de fazer?


MA – E ele emigrou...


ML – Não. Ele estava em Viena.


AVA – Sim, estava em Viena... E foram os amigos... Fui eu, foi o John Neschling, foi o Hans Graf, que permitimos que ele fosse comendo... A mulher que é brasileira abdicou de uma carreira de pianista muito razoável... Para se empregar na Embaixada do Brasil... Ela abdicou de uma carreira... Ela não era tão boa pianista como ele... Mas era o suficiente para fazer concertos na Konzerthaus... Ouvi eu! A Regina... E abdicou completamente de uma carreira de pianista para sustentar a família!...


ML – E ele foi depois Professor do Conservatório de Viena...


AVA – Não! Ele foi Director da Academia de Música de Viena!


MA – Que bonito que era fazer-lhe também uma homenagem da lusofonia, não era?


AVA – Claro que era! Claro que era! E o Flores sempre pretendeu ter ligações a Portugal... Mas nunca lhe ligaram... Nunca lhe ligaram nada!


MA – Angola, Moçambique, Cabo Verde...


AVA – Um estudo sobre a lusofonia, um trabalho como esse é um trabalho em que nós entraríamos com a perfeita consciência de que ignoramos muito!... Ou melhor: Eu não digo que a mina esteja cheia... Mas a verdade é que nós nunca descemos à mina... E sabemos que há uma mina!... Mas não sabemos o que é que lá está...


MA – E depois a Música tem esse poder de ser uma linguagem universal... Universal e de criação... Há uma criação universal... E era muito interessante fazer esse diálogo de culturas musicais...


AVA – E mais ainda - isto é uma teoria minha... -  O Brasil, a Música Brasileira... (Enquanto o Jazz foram os negros americanos que fizeram... E depois alguns brancos conseguiram fazer também...) Pelo contrário, eu acho que a Música Brasileira tem muito mais que ver connosco... Com Portugal... Não tem nada que ver com índios nem com nada... Enfim... Há elementos... Mas... Eu ontem estive a ouvir uma gravação de um espectáculo que eu fiz com o Luiz Avellar – um grande pianista brasileiro – que fizemos no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, onde fizemos uma improvisação num só piano: em que ou toco eu ou toca ele mas nunca pára... E às vezes tocamos os dois... E às vezes eu levanto-me e começo a fazer umas notas aqui, depois ele levanta-se e faz ele, senta-se ele, sento-me eu... É uma improvisação que dura uma hora e quarenta!... Mas ali nota-se bem a simbiose... Quer dizer: a facilidade com que se passa de um samba para um fado!... Isto em relação à Música Brasileira... Não me venham dizer que aquilo é dos índios...


ML – Como é que o Maestro via uma possível continuação desta digressão em sua homenagem (uma vez que há este interregno por causa das eleições legislativas)... E portanto não sabemos se o projecto continuará ou não... Mas como é que via uma hipotética continuação com um espraiar da digressão aos Estados Unidos, ao Brasil, ao Canadá e não ficarmos só pelas comunidades portuguesas dos países europeus...


AVA – Tinha o máximo interesse nisso. Aliás eu sei que o SECP tem estado a ajudar grupos portugueses, um dos quais me está indirectamente ligado... A minha filha vai agora para a Namíbia com o grupo dela... (1)


MA – Aliás foi um sucesso, segundo me disse o próprio Secretário de Estado... No Brasil tiveram um sucesso enorme!


AVA – E aquele espectáculo é muito bonito. É muito bonito!


MA – Mas é que a Secretaria de Estado não pode esquecer a Música... A emigração é um mundo em que todas as valências devem estar presentes, não é?


ML – E em Paris acho que conseguimos fazer realmente uma coisa diferente, ainda mais especial porque conseguimos juntar várias artes: com a questão da Literatura e do Eça de Queiroz (1845-1900)... Com a questão da Pintura e do Mestre Adelino Ângelo (N. 1931) que também foi um momento muito bonito e de homenagem a um grande pintor português... Foi interessante no sentido em que sendo o Maestro Victorino d‘ Almeida o homenageado conseguimos também homenagear um conjunto de outras figuras da Cultura Portuguesa... E esse conjunto de figuras pode ser ainda mais alargado se fizermos a Conferência/Concerto em mais sítios...


AVA – Só aqui do Porto há um conjunto de nomes que as pessoas conhecem, mas de que só conhecem os nomes!... Não conhecem a música deles, desses compositores!


MA -  A questão de género na Música... Todos os espectáculos do Trindade foram magníficos, (2) mas eu lembro-me sempre (no dia em que foi Convidado o D. Manuel Clemente) daquela discussão que foi suscitada entre a Música Feminina e a Música Masculina... O Chopin, por exemplo: É Música Feminina...


AVA – O Chopin claro, é Música Feminina... É muito mais...


MA – A Mátria da Natália Correia (1923-1993)... Muito mais a Mátria do que a Pátria, não é?


ML – Acho que não se poderia dizer isso do Bártok... Não me parece nada feminino!


AVA – O Bártok é masculino, o Bach é masculino... A Música deles, não é? Mendelssohn...


ML – Há tempos vi uma coisa extraordinária num canal de televisão estrangeiro sobre o Bártok que não sei se o Maestro sabe... Nós ouvimos a Música do Bártok e imaginamos (pelo menos eu imaginava) uma pessoa irascível, colérica, um tipo muito vivo... E acho que era uma pessoa delicadíssima... Falava sempre muito baixinho... As pessoas, os alunos tinham até dificuldade em ouvi-lo... E a Música é tudo ao contrário daquilo!... Pelo menos esse foi o testemunho de um aluno dele que eu vi nesse documentário televisivo...


AVA – Sim. E também o Schostakovich... Era um homem muito pequenino... E quando se sentava parece que enrolava as pernas de uma forma que parecia uma rosca!... Enrolava-se todo assim, não é? Mas era um homem que sabia muito bem aquilo que queria... E há uma história muito engraçada com o Schostakovich... Quando um dos melhores quartetos de cordas do mundo – acho que foi o Quarteto Alban Berg porque foi o próprio Viola, o que me contou isso – quando foram tocar para o Schostakovich um dos seus quartetos de cordas (que são fantásticos) e ele lá se sentou numa cadeira com as pernas todas enroladas... E diz o Viola: - Ó Maestro, há só aqui uma coisa, o Maestro desculpe lá dizer-lhe... Vai-nos perdoar... Mas o Maestro pôs aqui a indicação con legno (tocar com o arco na madeira) e sinceramente nós achamos que esta passagem é tão importante que com um pizzicatto, um pizzicatto com unha (é também um efeito, uma forma especial de pizzicatto) isto resultaria muito melhor... E diz o Schostakovich: - Interessante, muito interessante essa ideia... Está a ver – diz o Viola – a melodia sobressai muito melhor com o pizziciatto do que com o con legno... Perde-se ali... – Tem toda a razão (diz o Schostakovich), toda a razão, toda a razão... Mas façam con legno!...


ML – Maestro: Há poucos meses, Portugal perdeu uma Grande Mulher, uma Grande Senhora... A Dra. Maria Barroso (1925-2015)... Tanto quanto sabemos o Maestro conheceu-a... E gostávamos que nos falásse um pouco disso uma vez que a Revista lhe vai também dedicar a sua atenção... E sabemos que a Dra. Manuela Aguiar a homenageou no Colóquio de Paris a que nós não pudemos assistir... Qual seria o seu depoimento sobre esta pequena Grande Mulher?


AVA – Efectivamente a Maria Barroso agigantáva-se... Porque a imagem da Maria Barroso nunca é a imagem de uma senhora muito pequenina (embora ela fosse de facto muito baixinha, muito pequenina)... É a imagem de uma Mulher agigantada! De uma lutadora! Foi uma lutadora incrível, indiscutível... Vencedora na Causa da Liberdade em Portugal! Ela venceu! Ela venceu! Não se discute! Eu acho que o 25 de Abril deu-nos liberdade... Nós mantemos exactamente a mesma liberdade que o 25 de Abril nos deu... Só que essa liberdade está doente... Está doente, pronto, mas continua a ser a mesma liberdade... Agora está com tosse, com coisas, com corrimentos, coisas assim.... Mas é a liberdade! Hiberna é um bocadinho, não é?...


MA – É que a Liberdade é uma coisa que também permite o mal... O mal e o bem... E nós estamos num período de crise e de mediocridade, não é?


AVA – É. É. E não há dúvida nenhuma que eu penso que pessoas como a Maria Barroso ou o Mário Soares, realmente... Independentemente das pessoas estarem de acordo ou em desacordo... Ou melhor: eles sempre defenderam o direito ao desacordo!


MA – Até entre si...


AVA – Sim. Sempre defenderam, não é? Agora: Ela é um símbolo! E penso que para a causa da liberdade das mulheres... da Mulher! Ela é um símbolo, é um símbolo! Acho que ninguém põe isso em causa!


Siglas e Abreviaturas:


AVA – António Victorino d’ Almeida

MA – Manuela Aguiar

ML – Miguel Leite

SECP – Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas


Fotografias:


Páginas 1 e 2 - Manuel Dias (Luxemburgo) www.ManuelDias.com

Páginas seguintes: Photomaton (Porto) www.photomaton.pt


Agradecimento:

Cardosas Bar - Hotel Intercontinental-Porto Palácio das Cardosas

Dra. Brenda Sá Ribeiro

(1) - Rumos Ensemble: “Tocando Portugal” – Recital quase um Doc: Anne Victorino d’ Almeida (Violino); Luís Gomes (Clarinete e Clarinete Baixo) e João Vasco (Piano).

(2)“Ouvir & Falar” – Ciclo de Conversas com Música * Miguel Leite; António Victorino d’ Almeida; Luiz Avellar (Piano); D. Manuel Clemente (Cardeal Patriarca de Lisboa) e Nicolau Breyner (Actor/Autor/Realizador) + Nádia Sousa (Voz); João Lima (Piano); Carlos Lacerda (Poeta/Declamador) e Erika Pluhar (Convidada Especial) – Ciclo de Espectáculos da Fundação INATEL/Teatro da Trindade – Lisboa