sábado, 12 de outubro de 2013

Maria do Céu Campos Comunicação

 
MARIA DO CÉU CAMPOS
Residente em Ravensburg (Alemanha) há 38 anos
Membro do Conselho Municipal para os Seniores da Câmara Municipal de Ravensburg
Membro do Conselho para questões de Integração da mesma Câmara
Membro co Conselho Pastoral da Missão católica Portuguesa de Ulm
Membro da Direcção do CDU(partido Cristão de Democrata Alemão)em Ravensburg
Membro do Conselho Consultivo do Consulado-Geral de Portugal em Estugarda
Presidente da Mesa de Assembleia-Geral do PSD-Alemanha
Membro do Grupo Oraganizador das Semanas dos Estrangeiros,em Ravensburg
 


A MULHER NA POLÍTICA


Ainda longe de ser o desejado - pois a Mulher continua a estar em minoria, no que se refere a lugares de destaque e de decisão na política e no mundo empresarial -, tem-se vindo a assistir a  uma melhoria no aumento de participação e eleição de Mulheres para diversos órgãos e funções de relevo.

Embora em Portugal, nas últimas eleições, se tenha assistido a uma diminuição do número de deputadas eleitas, não podemos perder a esperança que esse número aumente numa próxima oportunidade.
Contrariamente, no país onde resido - que é a Alemanha -, nas últimas eleições (realizadas em Setembro passado), foram eleitas 229 mulheres para 416 homens; nada demais mas, mesmo assim, registou-se um aumento de 3,5 por cento em relação às anteriores, realizadas em 2009.
Por mim, defendo que a política não deve ser só assunto de homens; aliás, a população é constituída por mais de 50 por cento do sexo feminino, nomeadamente na Alemanha. Não é por acaso que a União das Mulheres do CDU faz campanha, constantemente, para que as Mulheres
entrem na política. Na verdade, para se fazer parte da política não precisa de se ser uma grande entendida mas trazer, sobretudo, a sua experiência, a sua vivência e os seus conhecimentos. Tudo se aprende com o tempo e dedicação.
Sendo assim, vou começar a referenciar a minha experiência no mundo da política.
Mas, antes, quero afirmar aqui dois aspectos que tenho defendido e que continuarei a defender  sempre: em primeiro, para mim, a política é servir e não servir-se dela para proveito próprio; em segundo lugar, não concordo com quotas, nem coisa parecida. A Mulher tem que ter
pleno direito a lugares elegíveis e não para fazer número, colocada em posições onde, muitas vezes, dependendo da região em que se candidata, não tem qualquer hipótese de obter um mandato, nomeadamente nos parlamentos nacionais.
Iniciei então as minhas andanças políticas em Maio de 1974, pouco depois da Revolução do 25 de Abril. Aquilo que eu pensava ser a grande liberdade democrática - o pensar livremente e escolher a corrente política que mais me dissesse alguma coisa em relação aos meus princípios -, foi um autêntico pesadelo.
Desde logo, fui confrontada com atitudes e acções que me deixaram boquiaberta, ou melhor, fora de mim. Alguns partidos não eram conhecidos pelos seus nomes, mas pelos nomes de referência dos seus representantes mais conhecidos; e, quem não era por eles, era contra eles. Mas estas atitudes faziam-me lembrar o antigamente; já não havia a PIDE (polícia política do anterior regime), mas havia os “escutas” por detrás das paredes que iam contar tudo o que ouviam. Vi logo que não tinha futuro na minha terra, pois não me vergava aos poderes que se iam instalando.
Prossegui com a minha escolha, que ainda hoje é a mesma. Fiz campanha eleitoral e representei o partido da minha escolha na mesa de voto das primeiras eleições para a Assembleia Constituinte. Depois, deixei tudo e fui para a Alemanha. O meu marido não veio para Portugal, como até
chegámos a pensar, mas fui eu para terras germânicas. Descrever o que passei daria enredo para um romance, mas jurei, a mim mesma, que venceria.
Sem autorização de trabalho, tive que esperar por ela quatro anos. Fui, como muitos outros como eu, uma emigrante de “mala de cartão”, como hoje nos intitulam muitos media portugueses (embora a minha mala nem fosse de cartão). O certo é que, sem os emigrantes de “mala de
cartão”, não se abririam hoje, feliz ou infelizmente, tantas portas aos que são obrigados a emigrar com diplomas. Nós não tivemos diplomas universitários, porque não havia dinheiro para frequentar universidades - só a “universidade da vida”, como costumamos dizer - mas que nos ensinou muito, mesmo muito.
Logo no início da minha instalação na Alemanha, comecei por ajudar o nosso missionário a animar as nossas missas, a dar catequese às nossas crianças, a dar aulas de português na associação. Na Missão Católica - onde ainda estou hoje -, sou membro do Conselho Pastoral, desde 2000; fui representante do mesmo, durante dois mandatos, no Conselho do
Decanato Ulm/Ehingen, e candidata ao Conselho Diocesano. Em 1985, entrei na Direcção do Centro Português da cidade onde resido, onde fui dirigente durante 20 anos; levei muita “canelada”, “troféus” com que são presenteados muitos de nós, que somos teimosos e não desistimos.
Em 1989, entrei para o Conselho de Estrangeiros, hoje Conselho para Questões de Integração, do qual ainda faço parte. Integro ainda, há 28 anos, o grupo organizador das semanas dos emigrantes em Ravensburg; este ano comemorámos os 30 anos, com a presença dum deputado português, Dr. Carlos Gonçalves, eleito pelo círculo da Europa, pelo PSD.
Faço parte, outra vez, do Conselho Municipal para a Terceira Idade, pois já tinha cumprido, anteriormente, três mandatos.
 Em 2009, fiz parte da lista de candidatos do PSD, nas eleições legislativas, pelo Círculo da Europa. Curioso como a Imprensa da minha cidade se interessou pelo caso, com entrevistas e reportagens…
Estou a cumprir, actualmente, o segundo mandato no Conselho Consultivo do Consulado-Geral de Portugal em Estugarda.
Mas outro aspecto que acho relevante é o facto de não me ter limitado, ao longo dos anos, a participar apenas nas iniciativas relacionadas, directamente, com o meu país de nascimento ou com os emigrantes. Tenho participado também nas iniciativas do meu país de acolhimento, que
considero essenciais para usufruir da minha vivência na Alemanha e uma integração plena, participando no dia-a-dia da sociedade germânica.
Assim, em 1999, quando foi possível votar, e ser eleita, nas eleições autárquicas como cidadã europeia de pleno direito, fui candidata pelo CDU, da chanceler Angela Merkel, candidatura que repeti em 2004 e 2009. Não fui eleita mas, acreditem, aprendi muito. Aliás, faço parte da Direcção do CDU local, já há 13 anos, e estarei nesta função enquanto entender que estou a dar o meu contributo à construção de algo válido, pois participar é ajudar a decidir.
Sou dos que pensam que a política tem de começar nas bases, onde está a origem de tudo. Só com a aprendizagem, em bases bem sólidas, se poderá ser bom político, pois passou-se por tudo, na justa medida e nos tempos certos, sem oportunismos de ocasião. Os alicerces são a base sólida de tudo na vida. “Castelos de cartas ou de areia” não levam a lado nenhum; saber subir, devagar, sem nariz empinado, com humildade, é a atitude que se mais admira em todo o ser humano. E, num político, mais do que tudo.
Para se entrar na política na Alemanha tem de se ter um currículo, trazer obras e trabalho do voluntariado, mostrar-se que se é capaz de fazer alguma coisa. 85 por cento das mulheres que exercem cargos na política municipal desempenharam - ou continuam a desempenhar - trabalho de voluntariado. Só assim se obtém uma real oportunidade para conseguir ser notada, eleita ou "sobreviver" nas andanças da política.
Caso contrário, é como as luzes da ribalta: depressa se apagam para quem não trabalhar duramente. De momento, está em curso uma campanha para que mais mulheres se candidatem nas listas (exemplo do CDU), para as próximas eleições autárquicas, em 2014.
Move-me o lema “Quem faz o que pode, faz o que deve”, como disse e escreveu Miguel Torga. Se me perguntarem se valeu a pena, direi que sim. Conheci e conheço pessoas fantásticas; fui entrevistada, algumas vezes, pela Imprensa e rádio locais; fui agraciada com a Medalha da
Diocese de Rotemburgo-Estugarda e convidada pela Chanceler Angela Merkel para uma recepção, em 2008, em Berlim. Recorde-se que, nessa cerimónia, a Alemanha disse “DANKE!” (Obrigado!) a cerca de 200 representantes dos emigrantes, de muitas nacionalidades, que vivem e trabalham na Alemanha.

Como disse atrás, política é servir e não servir-se dela para proveito próprio. Este é outro dos meus princípios, ao lado deste seguinte e que me acompanhará sempre, até que, um dia, feche os olhos: nunca me vergarão! Posso quebrar, mas vergar... NUNCA!

Tenho dito.

Obrigado pela atenção!

Maria do Céu Campos

Ravensburg / Alemanha

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