quarta-feira, 7 de julho de 2010

Acção e Representação das Mulheres nos media - Seminário de New Bedford

PROJECTO DE CONCLUSÕES
(referentes à sessão de 24 de Junho)

1 - Foi feita uma referência breve à história do "jornalismo de intervenção" na luta pela igualdade entre mulheres e homens, a começar no período da 1ª República, quer em jornais de âmbito nacional, quer nos jornais próprios das associações feministas. É um exemplo a lembrar sempre, pela importância que teve na formação de um nova imagem da mulher, das suas capacidades e direitos enquanto cidadã.

2 - Traçou-se o percurso das acções destinadas a incentivar a participação das mulheres migrantes nos "media", desde o "1º Encontro das Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo", em 1985 - uma iniciativa do Governo português, através da Secretaria de Estado da Emigração, para cumprimento de uma recomendação do CCP - que veio a ser prosseguida por ONG's, sobretudo pela Associação Mulher Migrante, que em 1995 organizou um Congresso Mundial de mulheres emigrantes, (o maior de sempre neste domínio, envolvendo cerca de 400 participantes dos cinco continentes) em colaboração com o Governo, sendo a Secretaria de Estado da Comunicação Social e a Secretaria de Estado da Juventude os principais patrocinadores, a indiciar o acento posto na questão geracional, e também na importância dos media para a consciencialização e mobilização de mulheres e de jovens de ambos os sexos para o envolvimento nas comunidades.
Jornalistas da Diáspora e de Portugal tiveram sempre um papel importante nos projectos levados a cabo por esta Associação, ao longo de mais de 15 anos, e, em particular, nos "Encontros para a Cidadania" (2005-2009), uma "joint-venture" da SECP com a "Mulher Migrante" e outras ONG's, mas só em 2009 se desencadeiam, no mesmo esquema de parceria, os seminários sobre "Acção e Representação das Mulheres nos Media e nos Multimedia": os primeiros especificamente dedicados a esta temática.

3 - Considera-se que a estreita colaboração entre o governo e organizações cívicas existentes na sociedade, nomeadamente nas comunidades, tem revelado as suas virtualidades na compreensão da realidade e no objectivo de a aperfeiçoar, e deu origem a um paradigma que vale a pena continuar.
A Associação "Mulher Migrante" tem ajudado, de facto, a construir esse paradigma como um parceiro de vários departamentos do Governo - da Comissão para a Igualdade, Secretaria de Estado do Conselho de Ministros, com a finalidade de colocar o acento nas questões específicas da emigração, e, mais recentemente, com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, visando pôr o acento nas questões de género.
A partir de 2005 esta componente de género assumiu nas políticas de emigração uma relevância inédita, sendo os "Encontros para a cidadania - igualdade entre mulheres e homens" realizados em quatro continentes do mundo, com o apoio das Embaixadas e Consulados de Portugal, a presença de membros do governo, e a adesão de colectividades locais, com o objectivo de reconhecer os contributos das mulheres nas suas comunidades e de lhes abrir novas oportunidades.
É um movimento em que não deve haver hiatos nem retrocessos e que se continua verdadeiramente em seminários como este, de Newark. Ao levantamento global da situação das mulheres da diáspora, prosseguido nos Encontros para a Cidadania, segue-se, agora, o enfoque em áreas específicas, de uma importância fundamental, como é a dos ”media” - não só enquanto difusor de progressos já conseguidos e nem sempre constatados, como de alavanca de mais progressos a alcançar.

4 - A qualidade do jornalismo que se conhece na nossa diáspora não é uniforme: há que se limita a reproduzir notícias de agências ou a cobrir festas da comunidade e o que, no outro extremo, faz boas análises e comentários inteligentes, que enobrecem a língua portuguesa e ajudam a sua preservação e divulgação.
Onde falta a qualidade torna-se urgente a reestruturação, através de acções de formação que deviam ser fortemente apoiadas pelo governo português - formação que deve estender-se aos aspectos de gestão.
A vertente da vivência da cidadania, da questão de género, assim como do bom manejo do idioma e da informação sobre o presente e sobre a história do País e da comunidade devia, ser aspectos a integrar nesse projecto de mudança.

5 - Em muitos dos jornais das comunidades há secções ou páginas femininas, que, regra geral, se limitam a reforçar a imagem tradicional da mulher voltada para as tarefas domésticas, como dona de casa, sem grandes interesses, para além da culinária, da moda, das crónicas mundanas e histórias "cor-de-rosa".
Este estereotipo é redutor e não traduz a verdade da vida das mulheres de hoje, significando, pelo contrário um acantonamento das emigrantes, praticamente ausentes nas demais páginas do jornal, das secções mais prestigiadas da cultura, da política, do desporto.
A renovação deste "mini-jornal “dentro do jornal, onde permaneça, como é legítima opção de qualquer periódico, deveria passar pela introdução de outras temáticas - o que as próprias leitoras deveriam exigir e exigirão, se ganharem uma nova consciência do que está em causa. Por exemplo, incluindo histórias de vida de mulheres de grande coragem, de grande rasgo, de sucesso nos mais variados domínios da ciência, às artes, à política, ao desporto. E, evidentemente, também, a história da sua participação na vida comunitária.

6 - A substância do papel da mulher no interior das instituições da sociedade de acolhimento e das comunidades portuguesas mudou muito, nos últimos tempos, e essa grande transformação mal se reflecte num significativo número de meios de comunicação das comunidades,
Entendemos que é essencial denunciar esse desfasamento - revelando experiências, factos, estatísticas, que constituem uma linguagem clara e argumentos concludentes.
Há, pois, que promover estudos sobre o desajustamento da notícia e da iconografia de jornais n0 que respeita à representação da mulher, e encorajar uma leitura dos textos e imagens atenta à discriminação de género.

7 -Considera-se essencial a sensibilização dos leitores dos vários tipos de "media" para as muitas formas de discriminação larvada, que são formas subtis de iludir a igualdade de tratamento de mulheres e homens nas páginas dos jornais, na rádio e na TV. Isto é, ensinar a ler os jornais, nesta perspectiva, com a ajuda de estudos e iniciativas como as que foram referidas no ponto anterior, seguidamente a serem divulgados e discutidos em colóquios ou seminários, como o actual.

8 - Aquém da "leitura" da imprensa escrita, e da informação difundida em outros “media”, importa atentar na sua "feitura", um campo que se fecha ou abre, em muitas variantes, à acção das mulheres, em regra, ainda menos presentes do que aos homens, nas direcções, nas redacções, nos níveis de tomada de decisão.
Esta situação pode explicar, em boa parte, as falhas apontadas ao conteúdo da informação no que respeita à subvalorização do género feminino.
Reconhece-se que há um número crescente de mulheres nos media, mas quase sempre afastadas das secções mais prestigiadas ou mais populares.
E que são ainda escassas as possibilidades de influenciar, realmente, a tomada de decisões, pelo que mesmo que estejam dentro do sistema, não estão em pé de igualdade, nem em posição de mudar o "estado de coisas", a sistemática desvalorização do que é feminino, na vivência das comunidades, ou do associativismo, nos novos papeis que aí a mulheres já estão desempenhando.
Análise crítica, estudos reveladores desta realidade de facto são também objecto de sugestão da nossa parte a centros de investigação, universidades, ONG's e ao Governo, através de apoios ou solicitações no âmbito de protocolos, como aquele em que se estabeleceu o Observatório da Emigração.

9 - Na nossa perspectiva, um jornalismo de qualidade não pode deixar de lado questões como estas, pois a preocupação com o rigor e a objectividade tem de estar sempre a norteá-lo, para "repor a verdade": para projectar uma imagem autêntica, justa e dinâmica da comunidade.
Há que distinguir a boa e a má imprensa e apostar decididamente na primeira, para as acções de sensibilização a empreender - por exemplo, chamando a colóquios e mesas redondas empresários, directores e chefes de redacção dos melhores "media" de língua portuguesa na Diáspora.

10 - Fazemos nossas as recomendações de seminários anteriores realizados sobre estas temáticas na Universidade de Dartmouth, em Massashussets, e em Montreal, sobre a recolhas e divulgação de histórias de vida de emigrantes portuguesas, em parceria com instituições académicas, e apelando a jovens que completam teses de mestrado ou doutoramento.

11 - Neste contexto, não pode esquecer-se o esforço de preservação da língua portuguesa através dos “media”, para o qual a maior participação feminina pode contribuir. As mulheres são muitas vezes atraídas ao centro da vida comunitária, com o intento de ajudar a preservação da língua e da identidade cultural.
Para que os media sirvam perfeitamente este objectivo há que proporcionar aos jovens jornalistas ou candidatos a jornalistas acções de formação, para que possam ajudar outros jovens a dominar melhor a nossa fala.

12- Os multimédia não podem ser esquecidos nesta campanha pela sensibilização para a igualdade: sites e blogues podem constituir os melhores aliados na caminhada para a mudança neste campo. Blogues como o "I Future", surgido em Toronto, e dedicado a jovens dos 8 aos 14 anos, são um exemplo do que se pode conseguir em relação a outros grupos etários ou à questão de género.
Nos multimédia, o acesso geral as possibilidades de comunicação, são muito maiores, para quem quer que seja, nomeadamente para as mulheres. Também a Associação Mulher Migrante fez, em 2008-2009 a preparação do Encontro "Cidadãs da Diáspora" (no qual se apresentaram as conclusões do "Encontros para a Cidadania"), em Espinho, em Março de 2009, com um congresso “on line” ( "Mulher Migrante em Congresso"), mantendo actualmente dois outros blogues: "Biblioteca Mulher Migrante" e "Tertúlia da Diáspora".

13 - Em suma, um duplo desafio se põe às mulheres das comunidades, na sua procura de igualdade de tratamento: como leitoras, que exigem ser retratadas com verdade e como autoras, com liberdade e poder para forçar mudanças.

14 - À SECP se dirige uma palavra de apreço pelas iniciativas pioneiras que foram os "Encontros para a Cidadania" e estes seminários sobre a mulher e a "media" e se recomenda a sua continuação, atendendo ao vasto conjunto de acções que estão implicadas no grande projecto de cidadania e igualdade que as anima, e à utilidade que deve ser atribuída a seminários como o presente, em que todos os participantes se esforçaram por dar uma cooperação empenhada e eficaz, na apreciação da situação actual e no traçar de estratégias para o futuro.
Maria Manuela Aguiar