quinta-feira, 19 de julho de 2012

The Sky is the Limit


RESUMO DA CONFERÊNCIA
“The Sky is the Limit” 2012
Local: Europe House (representação da Comissão Europeia no Reino
Unido), Londres
Data: 21 de Junho de 2012
No passado dia 21 de Junho teve lugar na Europe House, representação da
Comissão Europeia no Reino Unido (Smith Square), a sexta edição da Conferência
“The Sky is Limit” (2012), organizada pela Luisa Ribeiro Consultancy, em conjunto
com a Europe House e a Lambeth Children and  Young Pupil’s Service (CYPS).
Estiveram presentes mais de 100 participantes, que ouviram vários oradores
internacionais oriundos de países lusófonos,  como Portugal, Angola e Brasil, bem
como do Reino Unido. Os oradores foram: Sua Excelência, o Senhor Embaixador da
República de Angola no Reino Unido, Dr. Miguel Neto, que falou sobre a situação
actual de Angola e sobre a comunidade angolana no Reino Unido; o representante
do Lambeth CYPS, o Dr. Richard Blackmore, que falou sobre os resultados escolares
dos alunos lusófonos na zona de Lambeth; o professor e investigador da
Universidade Nova de Lisboa, o Prof. Doutor Rogério Miguel Puga, que apresentou
uma palestra sobre o episódio dos Doze de Inglaterra e outras temáticas de cariz
anglo-português; o jornalista da RTP e romancista best-seller em Portugal, Doutor
José Rodrigues dos Santos, que apresentou o seu testemunho pessoal aos cerca de Office :  Vauxhall Primary School    Vauxhall Street, London     SE11 5LG
20 jovens estudantes da escola Secundária de Lilian Baylis e Lam20 jovens estudantes da escola Secundária de Lilian Baylis e Lambeth Academy que 
participaram no evento e avaliaram o mesmo, dando  sugestões para a próxima
conferência.
O Dr. José Luís Mendonça, jornalista e romancista angolano, falou sobre um projecto
de literacia e leitura em Angola, bem como sobre a sua experiência pessoal como
escritor e director de um jornal cultural. O Prof. Doutor Ronaldo Mota, investigador
brasileiro do Instituto de Educação da Universidade de Londres, falou sobre a
revolução tecnológica e sobre o  seu impacto na investigação científica actual,
enquanto a Dra. Maria Manuela Aguiar, ex-secretária de Estado para a Emigração,
apresentou algumas conclusões do seu estudo sobre a emigração feminina
portuguesa e o papel da mulher nesse fenómeno social.
A Doutora Angeliki Petrits, representante da Comissão Europeia, apresentou os
serviços de tradução da Comissão Europeia e falou  sobre a nova  política europeia
sobre línguas.
Os presentes puderam participar em  rondavels e discutir de forma activa várias
questões relacionadas com a educação e a aprendizagem de línguas estrangeiras.
Os alunos das Escolas Primárias de Wyvil Primary e Vauxhall Primary organizaram e
apresentaram dois momentos musicais portugueses, fruto do seu envolvimento no
projecto musical para crianças e educadores “Sing Portuguese”.
O resultado foi positivo e permitiu a troca de saberes e de experiências.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dona Benvinda Maria -a força que movia a diáspora


O dia em que conheci Dona Benvinda não pode ser adiado. Eu bem quis, mas ela não deixou...
Era o verão de 1980 e o dia em que o rancho Folclórico Português do Rio de Janeiro estava de passagem por Lisboa, com almoço marcado num restaurante próximo do elevador que Eifel construiu para subir do Rossio ao Carmo. Era eu Secretária de Estado da Emigração, tinha aceite o convite para estar presente e foi em vão que tentei fazer-me substituir pelo Chefe de Gabinete, Luís Garcez Palha. Dona Benvinda deixou bem claro que não aceitava representações. Ou eu ou ninguém!
Estava ainda a meio caminho entre as capitais do norte e do país, atrasado pelo alongamento do programa da manhã. Percebi que o atraso era irrelevante, ao contrário da ausência, que não seria perdoada. O motorista voou, positivamente, pela estrada nacional nº1, ao volante do velho Citroen, para que eu chegasse antes do café.
Fui recebida em festa, com os meninos a cantar e a bater palmas (ai de mim, se quisesse passar despercebida...). Dona Benvinda sorria, ao lado do marido, o Comendador Marques Mendes, e da grande actriz brasileira Neuza Amaral, que, na altura, era a figura principal da telenovela da Globo, que todo o Portugal via ao serão.
Foi um encontro feliz, de começo de amizade, que não teria fim.
Gostei logo na primeira impressão de Dona Benvinda - ali estava uma líder nata, em pleno exercício da liderança no feminino. Coisa ainda pouco comum hoje, mas raríssima então.
Tinha ideias e sabia executa-las perfeitamente, como se via no p exemplo de trazer a Portugal um grupo de danças composto por jovens escolhidos nos ranchos folclóricos das muitas "casas regionais" do Rio. Cada par com o seu traje e a sua bandeira. Bailando folclore português na 1ª parte dos espectáculos e samba, com cor e fantasia tropicais, depois do intervalo. Um achado! Ano após ano, esta iniciativa trouxe a Portugal cerca de um milhar de jovens.
E foi uma entre tantas, promovidas a partir da plataforma que era o seu jornal - o Mundo Português, mais tarde, o "Portugal em Foco". O jornal tinha a sua marca inconfundível, procurava, como ela própria, a proximidade e interacção com o associativismo, com a comunidade, retratando-a, dinamizando-a, na sua relação com Portugal e Brasil.
Era, por isso, mais do que uma directora de jornal, ou uma jornalista talentosa. Era uma protagonista de 1º plano nos destinos da sua comunidade. Tinha voz, tinha influência, e uma formidável capacidade de mobilizar colaborações, de fazer amigos e de realizar projectos. Uma energia inesgotável. Uma força imparável, uma inteligência pragmática, uma sabedoria conseguida na universidade da experiência da vida.
E muita espontaneidade, muito à vontade, com os ricos e poderosos e com o povo, povo, por igual. Lembro-me de ter participado, uma vez num programa de rádio, que manteve enquanto quis, com altas audiências. Um programa de porta aberta, em que entrava e saía gente, em rodopio, contando histórias, dando recados, falando das coisas mais diversas, e mais divertidas, sem que o fio da meada escapasse da mão de Dona Benvinda. Ninguém mais conseguiria orquestrar assim a multidão das vozes que se cruzavam nas conversas. Nunca mais veria nada se semelhante em parte alguma do mundo. Era o mundo de Dona Benvinda, era Dona Benvinda fazendo o seu mundo – e o nosso



quinta-feira, 12 de julho de 2012

DONA BENVINDA MARIA . vamos lembra-la sempre


Para ADÉ

Fico-lhe muito grata por me prevenir.
A última vez que conversei com Dona Benvinda, pelo telefone, foi há
cerca de um mês - não podia imaginar que não mais lhe poderia falar.
 Sempre a admirei imenso! Conheci-a em 1980, quando trouxe a Lisboa, e
a muitas outras cidades, o Rancho Folclórico do Rio de Janeiro, que
era formado por jovens escolhidos nos vários grupos folclóricos da
comunidade luso-brasileira. O que fez  até ao século XXI... Só nessa
acção trouxe  ao nosso País perto de um milhar de jovens!  Sinto uma
tristeza enorme de a ver partir, com a sua energia e o seu constante
envolvimento na comunidade.
 Era uma grande e leal amiga - uma amizade que eu retribuia.
Grande abraço

Manuela

No dia 11 de Julho de 2012 05:41, Ade Caldeira - Radio Arcoense
<adecaldeira@radioarcoense.com.ve> escreveu:
nao sabia rita?
ninguem lhe disse?
ninguem a avisou a si somente? ou a manuela tambem?
adpe

BLANCHE DE BONNEVAL SOBRE MARIA ARCHER


DONA MARIA ARCHER

Fico muito comovida em falar em Dona Mariapois muito gostava da senhora e como já disse,
foi um grande privilégio conhecê-la. Conversei com minha irmã mais velha, Maria Jorge a
respeito,que me deu vários detalhes sobre ela e corrigiu também algumas memórias erradas
que tinha. Por exemplo, Dona Maria não veio morar conosco no final dos anos 50 como
pensava, mas no começo dos anos 60, quando eu tinha por volta de 13 anos (nasci em 1949). E
a família toda se apegou muito a ela.

1. O que impressionava era a sua cultura e vivência e quando ela não estava conosco dando-
nos educação, ela passava o dia conversando com o nosso velho tio Antonio de Almeida
Correa, que era um tio solteiro, intelectual, que falava 8 línguas, estudara sânscrito na
Sorbonne além de ter amealhado vários diplomas. O tio tinha uma cultura vastíssima e uma
biblioteca excepcional e os dois estavam sempre falando de literatura e comentavam, entre
outros, os livros dela. Ela até lhe deu de presente, a ele e aos meus pais, um conjunto dos seus
livros com dedicatória, que infelizmente não sei para onde foram parar depois de nos termos
mudado da Avenida Paulista 1804 para o Jardim América 31 em 1973.

2. Há também algumas lembranças pitorescas. Dona Maria tinha mãos de fada: colocava num
grande saco todas as peças de vestuário que as pessoas da casa não queriam mais, como
chapéus velhos da minha avó, roupas de minha mãe, bonés do meu tio, cortes ou pedaços
de fazenda etc. Depois, recortava, pintava e costurava criando apliques maravilhosos que
ela usava nas suas roupas. Lembro-me de apliques com rosas que ela costurou na minha
jaqueta que eram lindos de tão bem feitos. Também costurava os seus próprios vestidos
e estava sempre elegante. Aliás, não limitava esses dons apenas à suas roupas: também
pintava e modificava as suas bolsas e seus sapatos e dava uma importância particular à
suas sobrancelhas, que eram muito finas e que ela epilava e pintava com muito esmero.
Era portanto uma mulher industriosa, sempre ativa e faceira que passava o seu tempo livre
em conversas intelectuais, freqüentava muito encontros políticos e literários em São Paulo,
ocupava-se em escrever mas também fazer roupas e artefatos originais e muito bonitos para
ela própria.

Havia um outro fato que nos divertia muito: Dona Maria era alérgica a queijo e isso era o
motivo de grande divertimento para nós meninas, na hora das refeições. Invariavelmente
quando a comida era servida, ela olhava para o copeiro e lhe perguntava se tinha queijo. Era
claro que tanto eu quanto a minha irmã, morríamos de rir e era o olhar severo de nossa mãe
que nos fazia parar, não querendo de jeito nenhum que ela se ofendesse com nossas risadas.
Mas Dona Maria era a primeira a rir da sua eterna pergunta e das reações que causava.

Último detalhe pitoresco: ela sabia que tanto a minha irmã quanto eu detestávamos levantar
de manhã. Então todo dia, lá vinha Dona Maria às 8 horas em ponto no quarto escuro, abrir
as venezianas cantando modinhas portuguesas: “Abre a janela Maria que é dia” cantava ela,
enquanto nos duas escondíamos o rosto no travesseiro tentando dormir mais um pouco.

3. Se ela nos falava muito de sua vida em Angola e Moçambique, ela não mencionava nomes
de lugares, apenas fatos. E às vezes, falava-nos de sua família. Nunca esqueci aquela história
que nos contou a respeito de uma das suas irmãs, que ficara loucamente apaixonada e fugira

com um rapaz nadando para o mar aberto e desaparecendo da vista da família. Ficou-me o
nome de Isabel... não sei se estou a confundir com outra coisa. Sempre nos falava de paisagens
de praia e de cenas em Angola e Moçambique e dava para sentir o quanto sentia saudades
destes dois países mais particularmente. Mas ela vira que eu era particularmente interessada
no que ela falava a este respeito e então, não se privava de me falar sobre a Africa e as suas
maravilhas. Eu tentava imaginar o que ela contava e ficava cada vez com mais vontade de ir a
estes dois países, ver como eram, em Luanda por exemplo, a Ilha, o forte e a famosa ladeira
dos enforcados.... Ela também me dava para estudar alguns parágrafos dos seus livros e eu
ficava maravilhada com o que lia.

4. Dona Maria também tinha uma verdadeira paixão pela minha irmã mais nova, Claude, que
nasceu em 1962. Não sei o que despertara nela este sentimento tão forte que divertia a todos
na casa: ela passava parte do tempo livre dela passeando a minha irmã bêbê no carrinho pelo
jardim, falando com ela e esta correspondia com muitas risadas e gritinhos que a encantavam.
Quando ela estava com essa irmã, nada mais importava e a atenção dela ficava focada naquela
criança que ria para ela. .

5. Do ponto de vista educação, imagino agora o quanto deve ter sido desafiante para ela dar
educação a duas meninas em casa naquela época. Várias vezes, eu a ouvi discutindo com
minha mãe e dizendo-lhe que nada substituía a escola. Se não lembro bem do essencial dos
cursos particulares que recebíamos das 9h30 até as 12 horas e das 14h30 até as 16 horas
e 30, recordo-me perfeitamente que uma das tarefas finais era o relatório sobre plantas e
animais. Assim devíamos fazer pesquisa nos dicionários e outros livros que tínhamos em casa
e colocar sobre papel tudo o que conseguíamos descobrir sobre um animal ou uma planta. E
este relatório devia ser apresentado a ela. Era muito divertido e até hoje me lembro disso.

6. Quando nova, eu gostava muito de poesia e até escrevia poemas. Quando ela descobriu
isso, me deu o maior incentivo e graças aos contatos que tinha na mídia até conseguiu que
alguns dos poemas da minha autoria dos quais mais gostava, fossem publicados com uma
introdução dela muito bonita. Mas depois de sua partida, encantei-me com outras coisas
e não me dediquei mais à poesia. Gosto todavia até hoje de escrever e estou no momento
terminando as minhas memórias dos três postos que mais me ensinaram pela sua dificuldade
que são o Chade onde passei 5 anos da minha vida, o Tadjikistão onde servi 4 anos e a Rússia
onde servi 4 anos também.

7. Quando finalmente, por intervenção da minha avó paterna fomos autorizadas a ir para o
colégio, os nossos caminhos se separaram um pouco. Mas Dona Maria, continuava a ser parte
da família e vinha nos ver para almoçar em casa e conversar conosco. Lembro-me vagamente
mais tarde, dela ter ido morar em Poços de Caldas, no estado de Minas Gerais e de eu ir visitá-
la lá.

MARIA JORGE DE BONNEVAL sobre MARIA ARCHER

Eu sou Maria Jorge de Bonneval a outra das  "duas meninas" de Dona Maria Archer.

Não tenho muito a acrescentar ao depoimento de minha irmã Blanche pois juntamos nossas lembranças para ela poder elaborá-lo.

Mas não quero deixar de compartilhar do "ressurgimento" de D Maria como era chamada por todos nos.

Ela foi nossa preceptora e uma pessoa inesquecível até para meninas de 12 e 13 anos.

Me lembro dela alegre, divertida e amorosa. Muito faceira sempre arrumada e bem vestida.
Era muito hábil com suas mãos e transformava qualquer coisa em algo bonito e útil. Isto nos deixava maravilhadas!

Contava-nos histórias fascinantes da África e Portugal.
Falava-nos de um Portugal e de uma África mágicos que só existia ainda em suas lembranças e assim contagiava-nos com seu saudosismo
da "terrinha natal".
Tanto minha irmã quando esteve em África quanto eu em Portugal lembramos de D Maria e do que havia nos contado.

Lembro que tinha posições políticas muito firmes contra a ditadura e nos dizia que "comeria o coração de Salazar".
( Como assim??? as duas meninas imaginaram a cena ao pé da letra!!!)

Também de sua vida em África nos falava da importância da liberdade de pensamento,de ação e sexual para as mulheres.
A este respeito lembro de minha mãe (uma pessoa muito tradicional,pouco aberta a qualquer tipo de discussão) repreendendo-a.

Mas hoje, voltando a aquele tempo percebo que D Maria tinha razão.
Ela estava muito a frente do seu tempo e por isso perseguida e incompreendida.

Tanto minha irmã quanto eu, quando lembramos de Dona Maria sorrimos.