quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Maria Victória Pereira comunicação


 

 

 

 

CAMINHOS para a PAZ


O Conto, o Dialogo e … que mais?

 
 

      Maria Victoria Fonseca Cardoso Lopes Pereira

 
              

              EMIGRANTE PORTUGUÊS  - Ao meu filho Mário Manuel

 

 

Chocados e magoados

Os "colonialistas"

Abandonavam a terra que

lhes dera o ser

 

Outros,

de direitos mais direitos

lha reclamavam

e negavam direitos

da sua cultura enaltecer

 

Espezinhados,  despresados,

Surpreendidos …

Sua rejeição e emoção

Se misturavam com tremidas

Tentativas

De quebrar a noite

Da sua ignorante confusão…

 

Os inadequados, ou temerosos

Partidos, sofridos, axincalhados,

Qual novos judeus

De trouxas às costas

E filhos às pernas colados,

Se atiravam aos mares e ares

Cruzando fronteiras

Em busca da "Pátria Nova"

 

Uns partindo para a bela terra "irmã"

Que lhes fazia fronteira

Encontravam sucesso … uns…

Outros so desilusão…

 

E famílias assim eram destroçadas

Por ideias cruzadas, conflituosas,

Cardosas

 

Novas vagas gigantescas se ergueram

Como as que outrora seus antepassados

Enfrentavam quando o Cabo das Tormentas

Ousados  cruzavam

 

E como eles, orgulhosos e briosos

Contra essas ondas tremendas

Seus peitos possantes e generosos

oferecendo

Onde sempre lhes bate

Honrado e forte

O coração!

                         

 

 

                                                                         @ Maria Victoria Pereira

 

 

Como talvez se recordem, no séc. XVII, o rei D João IV  ofereceu a coroa real à Virgem Maria, Padroeira de Portugal – nenhum rei  Português usou a coroa depois disso.

   Na minha família em Portugal, há uma imagem da Virgem que faz parte da sua história, sou neta de  Fonseca Cardoso, o iniciador da estudo da Antropologia Colonial Portuguesa. Essa imagem  é guardada com muito respeito, e isso porque, diz que,  quando foi do terramoto em Lisboa, em 1775, a família de então, aterrorizada com os rugidos e tremores da Mãe Terra, se juntou  à roda dessa imagem da Mãe do Mundo, rezando o rosário, e que tudo desmoronou à volta deles, só ficando intacto o sítio onde estavam. 

   Sou de Moçambique e em criança não era muito devota da Virgem, tinha tendência para protestante. No entanto, houve coincidências que me fizeram dar-lhe mais atenção,  refiro-me a isso na minha novela ‘Under a Swirling Sun (1) (‘Sob um Sol em Rodopio’).

   Vivo na África do Sul desde 1976. Trabalhando e com filhos, estudei à noite pela UNISA e cheguei a leccionar numa Universidade de Durban. O tema da minha pesquisa foi culpa do meu supervisor! Sim, pois com surpresa minha, aconselhou-me a estudar o culto da Virgem Maria entre os Portugueses na África do Sul, e o elo entre a Religião e as Portuguesas em Durban. Mas ainda bem, pois deu-me uma nova perspectiva sobre essa Mulher bíblica, a Mãe de Cristo e lançou-me numa aventura de criação e compartilhaçao que me trouxe agora aqui, sentindo eu assim fechar-se, um círculo iniciado há 50 anos com uma estranha coincidência.

 

Como se sabe, as Portuguesas da África do Sul, vieram sobretudo da Madeira (cerca de 80%) e de Portugal, e mais tarde de Angola e Moçambique, estas empurradas pelas guerras de libertação das ‘Provincias Ultramarinas’. A maioria nem falava Inglês.  Cheias de fé e coragem, adaptaram-se, trabalhando àrduamente e com pouco reconhecimento,  e às vezes até sofrendo ver o esposo assassinado, na onda de crime que invadiu o pais, e que está a causar uma nova migração. As que se juntaram a Igrejas Protestantes, cedo fizeram amigos Sul-Africanos, mas as que continuaram em igrejas Católicas Portuguesas, mantiveram mais a sua cultura. A religião pode ser um elo de integração ou um factor de desintegração. A família é o  grande apoio destas mulheres, mas infelizmente, os descendentes às vezes já nem falam Português, e elas, envelhecem, isoladas.     

   Os jovens, são hoje, certamente mais conhecedores, mas a experiência também é conhecimento.  São por isso importantes os lares, os clubes, as actividades como o teatro e a pintura, e  projectos que visem a atrair Jovens e a contribuir para uma melhor coesão social. Foi essa a finalidade do livro ‘Caminhos do Sentir’ (2) - publicado pela Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, em Português, e em Inglês, com o titulo  Pathways of Feeling’ - uma ‘Colecção de Estórias Contadas por Portuguesas em África, escritas por elas próprias ‘, fruto de reuniões de escrita criativa no Cabo, Pretoria, Joanesburgo e Durban, talvez a primeira colecçao no género, na África do Sul. Essa obra foi oferecida a um Lar em Joanesburgo para usufruto do produto das vendas.

   Mas infelizmente em todas as sociedades há sentimentos negativos, e uma inclinação para o silencio atrofiante, como no caso desse livro. O Projecto fora subsidiado generosamente por um Banco Português em Joanesburgo, que no fim quis que os direitos ao livro (copyrights) fossem também oferecidos a esse Lar. A coordenadora, autoras e a publicadora, a Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, primeiro discordaram, mas acabaram por aceitar, as autoras requerendo então que pelo menos mantivessem os direitos às suas próprias estórias, o que foi aceite.

   E assim, o projecto viu a luz do dia! E depois?

   Em Durban venderam-se imediatamente bastantes livros.

   E depois?

   - ‘Não tinham que dar satisfações’, foi a resposta de Joanesburgo.

A coordenadora, desapontada e cansada, eventualmente desistiu. Desligou-se também da Liga da Mulher pois não sentiu o apoio que, na sua opinião, o caso merecia.

   Qual a razão do aparente fracasso desse Projecto?   Não sei!

 

 Mas, felizmente, nos jornais Sul-Africanos apareceram artigos laudatórios:           

      Vocês vão rir, chorar, e pensar duma maneira diferente sobre os imigrantes depois de   

      lerem estas deliciosa compilação de estórias…’  Ingrid Khumalo, Natal Mercury, 2009-04-02  

 

 

 

Os contos dessas Portuguesas contribuiram para uma nova visão do Português geralmente visto só como o estrangeiro, o dono do ‘tea room’, o católico que quase não falava o Inglês, e ainda pior, que era competição, pois era um bom operário e especializado.

   O conto, como a pintura, abre canais de comunicação, com o público, entre o público, também com nós próprios.

    O Livro afinal, não foi um fracasso!

 

A estória para crianças, ‘A Borboleta do Arco-Iris’(3) (The Rainbow Butterfly), em Inglês, Português, e também em Zulu, foi escrita para compartilhar uma experiencia espiritual quando da trágica morte dum filho e para ajudar um netinho de 5 anos preocupado com a morte. O efeito que teve nele e depois nas crianças dum orfanato, foi surpreendente! Essas crianças, que nunca sorriam e nem uma linha traçavam, começaram a desenhar borboletas e arco-íris e a colorir os seus desenhos, e contentes, a querer contar a estória às outras crianças, o que levou as professoras a aconselhar o pedido dum subsidio ao Departamento de Educação e Cultura na África do Sul para sua publicação, o que foi concedido!  

   O compartilhar tem o poder de inspirar e até de curar!

 

Sobre a novela ‘Under a Swirling Sun’, escreveu o Sunday Tribune:

uma narrativa comovente  ... corajosa e que nos inspira. …uma reflexão pungente sobre o passar duma era e a reemergência duma nova ordem … que ressoará no intimo de muita gente                            Vivian Attwood, 2013-04-21    

 

O livro ‘Igreja de S José – Greyville, Durban 1980-2010 – 30 anos de Serviço à comunidade Portuguesa’ (4), em Inglês e Português (bilingue) com fotografias coloridas, é um relato histórico desta interessante Igreja em Greyville, Durban - que foi oferecida aos Portugueses para veneração pelo falecido e muito conhecido Arcebispo Rev. Dennis E. Hurley – com fotografias dos Portugueses que generosamente participaram na sua restauração e manutençao.

 

Whispers in the Wind’(5), é  uma colecção de poemas, publicada por instigação dum Professor Sul-Africano, que, impressionado com o poema ‘Emigrante Português’ e outros, aconselhou que fossem ‘compartilhados’, isto em 1993.

   No Curriculum Escolar para as Escolas na Africa do Sul, de 2011-2013, estão dois poemas da mesma poeta Portuguesa Sul-Africana, ‘A Walk through the Woods’, e ‘T.V. and the Rest’, sobre a liberdade de escolha e o efeito controverso da tecnologia. Não é mais uma contribuição para uma percepção positiva do que somos nós, os Portugueses?

   Diz que ‘Os políticos fazem as guerras, mas os escritores ‘mudam o mundo’…  

 

Nesta era de ideias conflituosas, o diálogo é mais pertinente do que nunca. A Televisao é um meio poderoso de espalhar os ‘virus da mente’(6) que se infiltram no sub-consciente sem sequer darmos por isso – como teorias  ‘baseadas em factos’ mas que analisadas são superficiais ou incorrectas. Recentemente alguém dizia que o materialismo cientifico é que salvará a humanidade, proclamando que o mundo está muito melhor, já nem existe a escravatura, nem tantas guerras!

   Fiquei pasmada! O mundo está melhor? Quantas guerras já tivemos em tempos recentes? E que diremos do diabólico tráfego de crianças para prostituição agora, no nosso tempo?

   Peter Hitchens, o jornalista britanico, (7) que se converteu ao socialismo materialista e que esteve anos na Rússia e depois na Somália, ficou chocado com a degradação moral da população e do governo, nesses países. Quando voltou à Inglaterra ficou surpreendido com o declinio nos valores morais da juventude…   

   Em conclusão… o tal jornalista re-converteu-se! Voltou a ser cristão!

   Se tiramos Deus da equação, o código moral tem pés de barro e cedo se desmorona… Que aconteceu na Rússia? O povo ficou mais pobre e alcoólico do que antes. Quanta gente tem sido assassinada em nome do marxismo?

   E, não confundamos religião com o apropriamento da religião para fins políticos.  

   Depois da queda do apartheid na Africa do Sul, observou-se um desinteresse no ensino religioso, quando não foi eliminado. Agora também há professores que perguntam se não será essa a causa dum pernicioso enfraquecimento moral na juventude – até com casos de violações de mulheres estudantes nos centros de ensino.

   

O materialismo não pode provar a não-existencia de Deus e não podem também os cristãos provar a Sua existência.  Mas, e que pensar de fenómenos como em 1917, o Milagre do Sol em Fátima, cientificamente inexplicável’, que teve lugar no mesmo ano que o marxismo tomou posse da Russia? Visto por mais de 70.000 pessoas?! Note-se que o Sol dançou aproximando-se da Terra por mais de 10 minutos. O chão e as pessoas estavam encharcadas, pois chovera torrencialmente desde o dia anterior. Pois, quando tudo terminou, estavam todos e tudo, absolutamente seco! Dizem os cientistas que seria necessário para isso, um grau de calor que teria incinerado toda aquela gente!

   Segundo o historiador W.T.Walsh (8) temos de dar atenção ao pedido feito por aquela ‘Senhora com um Plano de Paz para o Mundo’,  a mensagem que inclui profecias de futuros desastres e guerras ‘se o povo se não arrepender e rezar’,  incluindo também um controverso pedido de ser feita uma consagração especial da Rússia.      

    O Circulo de Teólogas Africanas Conscientes (CCAWT) em 2005 lançou nos Camarões, o livro, “Tempo de Mudar, Tempo de Agir” (9), de que fui coordenadora. Esse livro, em Português, escrito por Mulheres de Moçambique e de Angola, é uma colecçao de reflexões sobre Deus e sobre a SIDA, no contexto das suas igrejas, famílias e comunidades,  e em que elas mostram a necessidade dum novo estudo ´mulherista’ da Biblia, em diálogo aberto com os textos,  e incluindo homens no diálogo - lembremo-nos que o patriarcalismo tem origens na religião.

   Somos Mulheres, somos Mães, temos poder! Usêmo-lo!

   Quase cem anos depois do facto, a ‘mensagem de Fátima’ também ainda está a causar vibrações e discussões. Houve em Setembro, uma Conferencia no Canadá, sobre esse tema,  com 28 oradores - alguns advogados e jornalistas, e alguns nem sequer Católicos.

   Quem nos garante que o nosso Futuro, dos nossos Filhos e Filhas, não depende da aceitação humilde - pelo menos por um número suficiente – desse outro ‘Caminho para a Paz’, dessa mensagem ‘extra-terrestre’ entregue a três crianças, por essa ‘Senhora feita de Luz’, pela‘Mãe do Mundo’? Uma honra para nós, Mulheres!

   Lembremo-nos que Cristo louvou o Pai por se revelar a crianças e não aos eruditos e aos prudentes.

   Obrigada.

    

                                            Durban, 2013-10-25            @  Maria Victoria Fonseca Cardoso Lopes Pereira

 

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Referencias:   

 

(1) -  Maria Victoria Pereira,Under a Swirling Sun’ (amazon.com e e.kindle).

(2) - ‘Caminhos do Sentir’ e ‘Pathways of Feeling’ coordenado por Maria Victoria Pereira,

           publicado pela Liga da Mulher Portuguesa na Africa do Sul, oferecido ao Lar Rainha 

          Santa Isabel em Joanesburgo.

(3) -  Maria Victoria Pereira, ‘A Borboleta do Arco-Iris’ / ‘The Rainbow Butterfly’

(4)-                                  Igreja de S Jose’

(5)-                                 ‘ Whispers in the Wind’

(6) -  Richard Brodie, ‘Virus of the mind’    

(7) -  Peter Hitchens ,  The Rage against God’- o livro que, juntamente com o do seu irmão    

  Christoper Hitchens, ‘Hitch 22-a memoir’, foi considerado, pelo Secretario de Educaçao     

  britanico, como um dos dois livros mais bem escritos de 2010.  Christopher no seu livro

  explica porque se tornou ateu e Peter, que também se tornara ateu e reira,   

        publicado pelo Circle of Concerned African Women Theologians (CCAWT)

depois voltou a cristão,

  escreveu o seu livro em resposta ao do seu irmão.

(8) - W.T Walsh, ‘A Peace Plan from Heaven’

(9) - ‘Tempo de Mudar, Tempo de Agir’- coordenado e editado por Maria Victor

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