quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Homenagem a Málice Ribeiro, em Toronto, sua cidade eleita para viver e morrer

Uma síntese das palavras ditas na homenagem a Málice, na Casa do Alentejo, a 25 de Outubro de 2010:

Há 30 anos raras eram as portuguesas emigradas que tinham voz na sua comunidade. Maria Alice foi para mim, desde o dia em que a conheci, uma revelação do que pode ser a liderança no feminino - e no seu melhor!
Na verdade, muitos anos de convívio confirmaram o que antevi desde esse encontro inicial, na primeira "missão de serviço" que me levou à América do Norte: ali estava alguém que tinha infindas reservas de energia, de coragem, de dedicação à "res publica" e que delas fazia uso, apaixonadamente, intensamente, no quotidiano de uma das maiores e mais dinâmicas comunidades lusas à face da terra (como, com ela e com outros dos seus dirigentes, aprendi que é a de Toronto).
O que a movia? Julgo que era, claramente, o portuguesismo, o sentimento patriótico, sempre mais desperto no estrangeiro - na aventura da emigração - a par do inconformismo com as regras, as práticas e as tradições que desvalorizam o género feminino e lhe reservam um papel secundário. E, também, as causas que abraçava, com entusiasmo, tais como: a defesa dos direitos dos imigrantes, e das mulheres; a defesa da cultura portuguesa na imensa panóplia de culturas conviventes no Canadá; propósito de informar, com rigor, com verdade, sobre o passado e a actualidade de uma Pátria, distante mas presente; a vontade de dar corpo e alma a uma comunidade, que para sempre lhe deve parte da dimensão que alcançou - e que não para de crescer.
Málice, como os amigos lhe chamavam - e por isso a chamo eu assim - foi um pioneira da emigração portuguesa em Toronto. Fundou, com o marido, António Ribeiro, o primeiro jornal de Toronto, escrito - e muito bem! - na nossa língua. Tornou-o um semanário "de referência" no mundo português de além fronteiras, e um espaço de vivência de idéias e de grandes causas. Envolveu-se em inúmeras realizações importantes e campanhas de mobilização comunitária, porque vivia para a sua própria família, como para a família mais extensa, a do associativismo, o núcleo agregador dos emigrantes, que constroi verdadeiras comunidades. Foi Conselheira eleita do CCP, desde os anos 80 (quando o "Conselho" era, quase em exclusivo, masculino) e para o CCP trabalhou, eficiente e incansavelmente, até ao fim dos seus dias, vencendo a doença enquanto lhe foi possível. Um grande exemplo para os jovens, para as gerações que farão o futuro!

Maria Alice Ribeiro tem, para sempre, o seu lugar na história do jornalismo da diáspora, na história das comunidades portuguesas do nosso tempo.
E, connosco, os que tivemos o privilégio de ser seus amigos e admiradores, permanece viva na memória e na saudade.

Maria Manuela Aguiar