quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

À MEMÓRIA DE CARLOS CORREIA

Victor GIL
O seu desaparecimento há alguns meses do nosso convívio não fez desaparecer, nem sequer ateneou, com a sua sua inesperada morte, os profundos laços de amizade que para sempre nos passaram a unir, nem a saudade que a todos nos deixou, todos nós que o conhecíamos neste meio da emigração e das comunidades portuguesas.
O meu conhecimento do Carlos data de 23 de janeiro de 1973, dia em que, pelo meio da tarde, na mesma cerimónia pública, os dois tomámos posse como técnicos de 2.ª classe, no então Secretariado Nacional da Emigração. A partir de então, os nossos caminhos entrelaçaram-se como os ramos de uma planta cuidadosamente mantida pela seiva que brotava do ambiente de amizade, entreajuda, respeito e estima que sempre encontrámos nas nossas famílias e nos nossos colegas de trabalho. Quanto gostaria de aqui recordar, porque sei que esse seria também o gosto do Carlos, a amizade, a colaboração e o apoio que todos deles recebemos e que tanto nos ajudou na nossa espinhosa missão de servir as comunidades portuguesas ao longo de perto de quarenta e dois anos!
Como nos ensina Alberoni, um sociólogo italiano, a amizade é uma filigrana de encontros e cada encontro é uma prova, sujeita a riscos e mesmo a crises. Se assim é, Voltaire sublinha todavia que “A amizade é um encontro tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Digo “sensíveis” porque um monge, um solitário, pode ser uma pessoa de bem e viver sem conhecer a amizade. Digo “virtuosas” porque os maus têm apenas cúmplices, os divertidos companheiros de paródias, os cúpidos sócios, os políticos juntam em seu redor os partidários, os que se metem na vida dos outros têm relações, os príncipes cortesãos; mas apenas os homens virtuosos têm amigos”.
A filigrana tecida pelos nossos encontros ficou incompleta mas, apesar de inacabada, continua como as capelas imperfeitas, nem por isso menos admiradas, a ser o testemunho do nosso trabalho e do empenho de toda uma geração em servir a emigração e as comunidades portuguesas. A amizade, essa depende de continuarmos a sermos sensíveis e virtuosos. A exemplo do Carlos Correia.
Com um abraço amigo,
Victor Gil

Bento COELHO

Conhecemo-nos há mais de 40 anos. Vivia-se uma época de grande  euforia, provocada pela libertação do país das amarras que nos  tolhiam o movimento e o pensamento desde a nossa infância. Eram  tempos com liberdade, democracia, igualdade, fraternidade,  solidariedade, amor, amizade. Esta reganhava  uma nova dimensão.
Era preciso saber construí-la e preservá-la.Calcorreámos, desde então, os caminhos da vida com enorme
frenesim, rapidez, confiança, mais libertos, mas também mais responsáveis.
Fomos cúmplices em múltiplas situações, cimentámos a nossa amizade, no emprego, no quotidiano, aprofundámos o conhecimento mútuo, no  mesmo prédio, fomos vizinhos/amigos, colegas de profissão e
defensores dos mesmos interesses e direitos humanos. Tivemos uma  paixão comum, que iria traçar o rumo das nossas vidas e, em  determinadas ocasiões, afastar-nos geograficamente. As migrações também serviram de pretexto para aprofundar todos aqueles valores  sublinhados e enfatizados. Dedicámos quase toda a nossa vida profissional, o nosso saber, os conhecimentos, o esforço, a dedicação, à defesa das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo fora.
Em boa verdade, fomos frequentemente Embaixadores de Portugal junto dos portugueses que no estrangeiro precisavam de estímulos, de apoio,de esclarecimentos de alguém que vinha do seu país.
Participámos em muitas acções, trabalhos, diligências - às vezes mal compreendidos pelos interlocutores - em benefício dos interesses e direitos dos nossos compatriotas. No final, concluíamos sempre que tinha valido a pena a nossa labuta, o nosso crer, a nossa dedicação.
E é por recordar tudo isto que penso que aquilo  que conseguimos alcançar, despretensiosamente na vida, não constituiu um mero acaso, ou favorecimento. No que a ti diz respeito, posso garantir-te, fez-se justiça.
Claro, amigo, tivemos que lidar com pequenas divergências, defendemos, por vezes, pontos de vista diferentes, mas quando nos encontrávamos cá ou em qualquer parte do mundo, tínhamos a certeza que a nossa amizade perdurava e saía sempre mais fortalecida.
E é por tudo isto que, bem compreendes, me seja muito difícil redigir, tal como amigos comuns me pediram, um texto de homenagem a ti.
Sempre conseguimos transmitir um ao outro  tudo o que era oportuno e julgo que tal continuará a acontecer.
Pela minha parte só te posso prometer que tentarei, do lado de cá, prosseguir o rumo que traçámos, defender tudo aquilo em que acreditávamos, fazer florescer as sementes que lançaste à terra. Estou certo que farás o mesmo, do lado de lá, no local que encontraste para descansar de todas as amarguras, esforços, trabalhos, dedicação, amor ao próximo, que sempre alimentaste. Estou também convicto que desejarás que continuemos a falar de ti e contigo como sempre o fizemos, sem alterar o tom de voz, que continuemos a rir das situações mais divertidas que vivemos (e se aconteceram...).
Afinal, a vida tem que continuar. Aquilo que nos unia mantém-se. Nós não estamos longe. Estamos perto no pensamento, embora, por enquanto, de lados diferentes da vida.
Por isso, não te quero  incomodar mais com palavreado inútil, porque nunca conseguiria transmitir tudo aquilo que tu bem merecias, amigo.
Carlos,descansa em paz e até já!..

MARIA DO CÉU CUNHA REGO
Recordar o Carlos Correia, colega e amigo da juventude e da idade madura, é lembrar um homem sério, bom, sensível, conciliador e generoso, que profissionalmente, como economista e dirigente da Administração Pública, viveu ao serviço dos assuntos da emigração e das comunidades portuguesas. Mas é também recordar o jovem pai atento, o marido e o filho sempre comoventemente preocupado com a família e os equilíbrios entre o tempo que considerava dever-lhe e o que circunstâncias diversas da carreira cada vez mais lhe exigiam...
Dessa geração de gente entusiasta que, com o seu trabalho, acreditava poder ajudar a manter ou reforçar laços entre portugueses e compensar a dupla exclusão de quem saiu do País onde nasceu e ainda não "pertencia" a qualquer outro, foi ele o primeiro a partir. Nenhum, nenhuma de nós queria acreditar. E entre o muito que ficamos a dever ao Carlos - em conhecimento, em disponibilidade, em gentileza - o seu legado é também o da nossa finitude.
Maria do Céu Cunha Rego

Rita GOMES

Recordar o colega e grande Amigo Carlos Correia, enaltecer as suas excecionais qualidades como homem, sereno e sempre diligente, procurando corresponder com amizade e compreensão às solicitações que lhe eram apresentadas, independente de credos e de ideologias, mereceria uma mais profunda apreciação da sua personalidade, mas neste momento referirei apenas algumas questões relativas à excelente convivência que tivemos durante largos anos.
Um dia da minha vida, após uns anos de trabalho para as migrações e depois na área económica, decidi regressar à Emigração, concretamente ao Secretariado Nacional da Emigração, criado em 1970 e reestruturado em Janeiro de 1972. Passou, então a existir entre vários Serviços, o Gabinete de Estudos e Relações Públicas.
Fui, então, admitida como técnica para esse Gabinete e comigo alguns Jovens licenciados, em direito, economia e sociologia, entre eles nessa primeira fase, o Carlos Correia, o Bento Coelho, o Victor Gil, o Vasco Rodrigues da Silva e o Henrique Pietra Torres, tinham então 20 e poucos anos. Foi assim que conheci o Carlos Correia.
Mais tarde com uma nova reestruturação dos Serviços, fomos inseridos na Direção de Serviços de: Informação Especializada e Acordos de Emigração, nesta fase já com a Maria do Céu Cunha Rêgo, a Margarida Marques, o José Guerreiro e o Jorge Gouveia Homem
A nossa atividade, além de intensa era também muito diversificada, tanto no que respeitava a trabalho em Portugal, como no Estrangeiro, no campo dos Acordos e das Convenções bilaterais e multilaterais sobre Migrações e Segurança Social.
E foi com este grupo de “Jovens especialistas” nestas matérias, que com sentido de alta responsabilidade, proporcionaram o seu melhor contributo em favor dos portugueses emigrados e de suas Famílias. Assim se foi desenvolvendo o trabalho com resultados positivos, que ficou a dever-se ao seu empenhamento e consciência de bem - fazer pela “causa” que a todos nos unia: as Comunidades Portuguesas.
Vivíamos com espírito de missão e de amizade, em que se incluía também o pessoal do apoio administrativo.
De entre todos, hoje, por tristes razões do destino, vou recordar, como disse, o meu colega e grande Amigo Carlos Correia.
Acompanhei o Carlos Correia em várias fases da sua vida e muito especialmente aquando do casamento, do nascimento da filha Inês e mais tarde aquando da doença do pai – fase muito difícil – pois, sempre que podia desabafava um pouco. Ultimamente a sua alegria eram os netos- uma preocupação de avô, com o seu espírito de responsabilidade e de procurar o melhor para eles. Falávamos como Amigos, que sempre fomos.
Ainda recordo o batizado da Inês e a enorme satisfação do Carlos Correia, durante a Festa com os seus Amigos, nos quais se incluía também o meu marido, que tinha por ele uma especial simpatia. Que saudade!
Houve a fase da ausência de Portugal, como Conselheiro Social em Paris e depois no Luxemburgo. Mesmo nessa fase sempre correspondeu às solicitações dos Amigos e até de mim, já depois de reformada , mas ligada às Migrações, através da Associação Mulher Migrante. E de tal modo a sua e nossa amizade e colaboração entre os colegas se manteve, que ainda hoje persiste.
Mais recentemente, por feliz coincidência, voltei a manter com o Carlos Correia, então como Chefe do Gabinete do SECP, mais uma vez uma estreita colaboração, a propósito da organização no MNE – Largo do Rilvas – de uma atividade da AEMM – Mesa Redonda – “ 4 décadas de migrações em Liberdade”,realizada, em Lisboa, no dia 26 de Março de 2014.
E esse trabalho urgente e diário, permitiu-nos, a mim e ao Carlos Correia, relembrar tempos passados, de estreita e fantástica colaboração, sem a qual não teria sido possível concretizar o evento, dentro do prazo e nas excelentes condições conseguidas. As fotos da iniciativa são o melhor testemunho do trabalho realizado, nas quais com a sua natural simplicidade, o Carlos Correia aparece com o seu sentir de responsabilidade para com a organização e também no que respeitava à forma como estavam a decorrer os trabalhos.
Após a referida Mesa Redonda, no dia seguinte, 27/3/2014, telefonei ao Carlos Correia, para lhe agradecer toda a colaboração e apoio à Iniciativa, estávamos muito satisfeitos com o trabalho realizado. Despedimo-nos, depois de rirmos com as várias peripécias que sempre sucedem nestas ocasiões.
No dia 28/3/2014, recebi a triste e inesperada notícia…. Foi o primeiro de nós a partir, apesar de eu ser a mais velha, nem queríamos acreditar…
Deixou uma amizade que ficará para sempre, entre todas e todos nós, que com o Carlos Correia trabalhámos e convivemos….
Rita Gomes
Lisboa, 28 de Dezembro de 2014

VASCO RODRIGUES

Conheci o Carlos Correia em Outubro de 1972. Eu tinha iniciado funções no Gabinete de Estudos e Relações Públicas do então Secretariado Nacional da Emigração há pouco mais de seis meses.
O Carlos, juntamente comigo, foi um dos primeiros técnicos daquele Gabinete, e desde logo se estabeleceu entre nós uma sólida amizade, fortalecida ao longo dos anos, para além da entreajuda funcional possível entre dois técnicos com formação académica distinta.
Posteriormente, e com as alterações estruturais, entretanto, operadas nos serviços de emigração seguimos carreiras profissionais diferentes mas permaneceu sempre entre nós uma sã amizade não obstante os períodos de ausência que, por vezes, se verificaram.
Foi, assim, com um misto de incredulidade, perda, uma grande mágoa e uma imensa tristeza que tive conhecimento do seu inesperado falecimento.
Tinha estado recentemente com ele, e outros colegas e amigos dos tempos da emigração numa reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo que a notícia da sua repentina morte me chocou profundamente.
O Ministério perdeu um excelente funcionário e eu perdi um amigo.
Até sempre Carlos

O amigo Vasco

Lisboa, 29 de Dezembro de 2014


HENRIQUE PIETRA TORRES

 Conheci o Carlos Correia em 1973 quando fui admitido como técnico  no Secretariado Nacional da Emigração.
 Sei que o seu vasto e muito rico percurso profissional, até que morreu  em 2014, sempre no ativo, vai ser abordado nos vários outros textos que estão a ser redigidos. 
Conheço este seu percurso também muito bem porque trabalhamos juntos, em Portugal e em missões ao estrangeiro, e coincidimos nos  mesmos Serviços ou em funções próximas ao longo de boa parte destes anos.  
Mas prefiro então centrar-me naquilo que para mim sempre foi mais  marcante no Carlos Correia: a sua qualidade humana que, ao longo da vida, muito raramente vi igualada.
De facto o Carlos Correia era alguém de uma extrema preocupação com os outros procurando sempre, por vezes com os maiores “equilibrismos”, evitar que a sensibilidade de alguém á sua volta fosse sequer beliscada.
Em todos os cargos que exerceu esta postura era algo que unanimemente era assinalado por quem com ele se cruzasse.
E assim nunca, mas nunca, ouvi dele uma referência que não fosse elogiosa e reconhecida.       

                                                                                      Henrique Pietra Torres 


    Lisboa, 2 de Janeiro de 2014


José GUERREIRO

CARLOS PEREIRA CORREIA
     Quando em 1976, depois de ter exercido funções técnicas, desde 1970, no Fundo de
Desenvolvimento da Mão - de - Obra, ingressei  na Secretaria de Estado da Emigração, foi fácil
a minha integração nessa nova estrutura, onde tive uma boa recepção pela generalidade dos
vários Técnicos da Direcção de Serviços de Informação Especializada e Acordos de Emigração.
  E, de entre eles, bem cedo se destacou a simpatia e a camaradagem do Carlos Correia, cuja
seriedade, rapidez e competência no desempenho de suas funções tive a oportunidade de ir
observando e de tantas vezes tomar como excelente exemplo de trabalho.
  Um pouco mais novo de que eu, era contudo de fácil e franco contacto, tendo - se
rapidamente começado a desenvolver um elo de inegável amizade entre nós, com respeito
mútuo das convicções políticas de cada um, que em nada puderam ir influenciando as boas
relações de trabalho.
   Por isso, durante as Reuniões Mundiais do Conselho das Comunidades Portuguesas, que
anualmente foram realizadas, quando eu tive a oportunidade de exercer as funções de
Secretário do dito Conselho, foi sempre pronta, objectiva e motivada a colaboração que pude
receber do Carlos Correia, um dos muitos Quadros Directivos e Técnicos que tive a
oportunidade de comigo colaborarem.
  Entretanto, nomeado para a Embaixada em Paris, como Conselheiro Social, os contactos que
o Carlos Correia foi tendo connosco foram menos habituais, sem que disso resultasse menor
respeito, consideração e amizade que por ele tínhamos, sobretudo eu mesmo, que muito
tenho a agradecer a sua sempre disponível colaboração, o apoio e o aconselhamento que me
podia proporcionar sobre o Conselho da Comunidade da França, sem dúvida a comunidade
portuguesa de mais difícil entendimento, na altura.
  Algum tempo depois, deixou o Carlos Correia o posto na Embaixada em Paris, para onde eu
fui nomeado, tendo tido a possibilidade de ir observando, compreendendo e avaliando o bom
trabalho que ele soubera desenvolver, por todo o território francês, muito me auxiliando na
difícil tarefa que tantas vezes tive de enfrentar.
  Depois, com a sua nomeação para a Embaixada em Luanda, bem como a posterior nomeação
para a Embaixada no Luxemburgo e o seu regresso ao MNE, como Chefe de Gabinete do
Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, espaçaram ainda mais os nossos
contactos, só recuperado o bom contacto pessoal, que tão agradável se tornara, com o meu
regresso ao MNE.
  Entretanto, com a minha passagem à situação de reforma, continuei a ter agradáveis
contactos co o Carlos Correia, tendo inclusive almoçado com ele no passado mês de Fevereiro,
partilhando da excelente disposição, real alegria e amizade que demonstrava.
 Por isso, foi extremamente surpreendente a notícia que recebi, pouco tempo depois desse
último almoço na zona do MNE – o Carlos Correia tivera um colapso cardíaco e acabara por
falecer, tendo sido com forte comoção, mal contida dor e muita saudade que, estou certo,
todos os colegas e amigos acompanharam o seu enterro.
  Mas a sua amizade, a sua simpatia e a sua camaradagem irão manter - se sempre em nossas
mentes. Até um dia, meu Caro Carlos.
                                                                      José Guerreiro



Maria Manuela AGUIAR
A memória é um mundo em que nos fazem companhia os que já não estão entre nós… Ninguém o disse melhor do que Pascoais “Viver não é existir, é ser lembrado”.
Lembro uma última e muito longa conversa que tive com o Dr Carlos Correia, sobre o pai, que tinha falecido pouco antes. Falámos, quase exclusivamente sobre os nossos pais, o que significavam para nós. Sobre a forma de superar a sua perda, de os trazer connosco na caminhada pela vida fora, tentando adivinhar o conselho que nos dariam em situações novas, sentindo a sua presença nos momentos de festa e de alegria.
Vi-o, logo depois, a 26 de Março, nos salões do protocolo do Palácio das Necessidades, durante o colóquio com que a AEMM abria as suas comemorações da Revolução de Abril no domínio das migrações. Como muitas vezes acontece nestes encontros, saudamo-nos cordialmente, sem tempo para mais nada. Coincidimos em fotos de grupo, que seriam as suas últimas fotografias. .Estou a vê-lo, na primeira fila, na cadeira mais distante, de onde, discretamente, se levantou duas ou três vezes, com toda a certeza para atender a questões de serviço. Era o chefe de gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, e assumia essas funções, como as outras que desempenhou, nesta área das migraçõe (Vice presidente do Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas, Conselheiro Social na Embaixada de França, na Embaixada do Luxemburgo), com uma dedicação total, com muita inteligência com um conhecimento completo dos “dossiers”. Mas sempre, também, com um grande sentido das responsabilidades, com preocupação de ser.perfeito.E era! Eu sei, porque na meia década de oitenta, o Dr.Carlos Correia foi meu Chefe de Gabinete naquele mesmo pelouro. Trinta anos mais jovem, mas igual… Não falhou, nunca, no mais pequeno pormenor…
Tê-lo à frente de uma máquina complexa, de umaa torrente de papéis quotidiana, dando solução a tantos problemas, que, de outro modo, recairiam sobre mim, foi, sem dúvida, uma absoluta segurança, um sossego... Tinha, porém, a consciência de que me podia despreocupar, na exacta medida em que ele se preocupava. Até demais, na minha opinião! De todos os colaboradores próximos (e tantos foram!), o Dr. Carlos Correia foi o único de quem só discordei, por julgar que trabalhava em excesso e que se preocupava demasiado! “Despache alguns desses processos para os outros, por favor!” – dizia-lhe quase todos os dias, sem sucesso. Mas, em tudo o resto (e até naquela atitude também…) o considerava admirável. Era de uma gentileza e bondade infinitas…Impossível não gostar muito dele!
Mas, curiosamente, as minhas primeiras recordações do Dr Carlos Correio são de um colectivo em que o integrava, o grupo dos “jovens”do chamado “Centro de estudos” – oficialmente esse título não existia em nenhum organograma da Secretaria de Estado, mas correspondia ao que faziam – e bem! - sob a direcção da Rita Gomes. Eram jovens trintões, já com larga experiência e especialização na matéria – intelectualmente brilhantes, muito unidos, e muito simpáticos: Carlos Correia, Victor Gil, Bento Coelho e, entre homens, uma mulher invulgar, que tratavam como igual – a Maria do Céu Cunha Rego. Havia outros, mas estes foram sempre os que considerei mais próximos. O que não quer dizer que eles se apercebessem disso, isto é, que eu evidenciasse sentimentos de tanto apreço. As vezes, com a minha pressa e impaciência, bem pelo contrário… Algumas histórias que, muitos anos depois, me contaram, com imensa graça, sobre a nossaa colaboração laboral foram, para mim, surpreendentemente hilariantes.
Há muito que o Carlos, o Victor, o Bento e eu tínhamos combinado um jantar convívio para evocar esse tempo feliz. Acho que não devemos esperar mais, para o convocar, agora para falarmos, sobretudo, do nosso amigo Carlos Correia.

Maria Manuela Aguiar
27 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Figueira da Foz Homenagem a MADALENA IGLÉSIAS

"Madalena Iglésias é um nome eterno da música portuguesa, onde tem um lugar muito especial. Pelo seu talento artístico, pela sua voz incomparável, pela sua beleza, a jovem Madalena Iglésias era um ícone e era também um exemplo - e, com isto, quero referir-me não só à sua maneira e estar no palco, como à sua maneira de estar na vida
A admiração que sempre tive por Ela, como figura píblica, aumentou ainda quando a conheci pessoalmente na Venezuela - afastada dos palcos, com o seu prestígio intacto, com a serenidade, distinção e generosidade que a caraterizam.  Mãe de família, ativa cidadã, envolvida na comunidade , em defesa da língua e da cultura, para os seu filhos e todos os Portugueses .Mantinha a sua beleza de rosto e de espírito, a sua simpatia. Para mim, desde então é uma Amiga.
Associo-me, pois, a esta bela e merecida homenagem com o meu abraço de amiga e admiradora


Maria Manuela Aguiar

EDMUNDO MACEDO O nosso Beethoven


O NOSSO BEETHOVEN FOI À SUÉCIA DAR RECITAL DE PIANO


Às tantas foi como se no centro do estádio houvesse um piano e Beethoven tocasse um excerto sublime.

Às tantas foi como se pelo estádio sibilasse súbita ventania, tempestade de granizo, trovoada carregada de mil raios e coriscos, um pandemónio.

Às tantas foi que por um estádio da Europa setentrional passara um artista impar, que inapelavelmente deixou em cada sueco um sueco maravilhado perante absoluta elegância futebolistica, perante insuperável destreza.

Às tantas foi que Cristiano Ronaldo montara inesquecível clínica de futebol, em 19 de Novembro de 2013, na Friends Arena em Solna.

E no fim -- as contas feitas, caso arrumado, estádio a esvaziar, frio de iceberg, silêncio de túmulo, almas torturadas -- a indelével imagem de Cristiano Ronaldo de braço dado com cada sueco, acompanhando-os

calorosamente às suas casas, suando neles a lembrança indesejável do desaire mas repondo neles a recordação de uma peça desportiva de grande espectáculo -- verdadeiramente uma peça difícil de tragar para suecos e afinal, bem vistas as coisas, exibição preciosa, gratíssima até, pois nem sempre aparece por ali um Cristiano Ronaldo todo inclinado a oferecer o seu 'produto-para-sonhar', todo propenso a dar show!

O nosso Beethoven acabara de tocar sonatas magistrais na Suécia e o eco da rara proeza tão cedo não deixará de repercutir vivamente por aquela parte oriental da península escandinava, suas cidades e vilas, suas colinas e vales.

Sonatas que o mundo inteiro escutou deliciado!

Não houve equívoco quando trouxeram ao mundo Cristiano Ronaldo-para-o-futebol! Do mesmo modo, ninguém se equivocou quando, por exemplo, trouxeram ao mundo Muhammad Ali-para-o-box, Michael Jordan-para-o-basquetebol, Rosa Mota-para-coleccionar-maratonas.



Quatro predestinados desafiando os rigores da perfeição!


Cristiano Ronaldo marcou três golos contra a Suécia que teriam merecido pinceladas de Vincent Van Gogh e na origem desse monumental hat-trick estiveram João Moutinho e Hugo Almeida -- que souberam entregar aos pés mágicos e à velocidade supersónica de Ronaldo três passes medidos a quilómetros de distância, embora de precisão milimétrica e de qualidade invulgar.

Foi tão reconfortante o sucesso alcançado na Suécia na complicada eliminatória para o Brasil que se poupam críticas à seleção das cinco quinas quanto àquela barreira do arco-da-velha -- esburacada, aflitivamente descuidada, que Ibrahimovic aproveitou chamando-lhe um figo e "fuzilando" Rui Patrício sem piedade, sem venda branca nem estaca!

Foi tão convincente a vitória portuguesa arrancada em Solna que se perdoa à defesa portuguesa o desnorte e o seu andar-à-deriva em frente á baliza nacional, à procura de posição e de resposta à marcação de um canto -- que o nosso velho conhecido Ibrahimovic converteu "à José Águas" com primoroso toque de cabeça.

Até ao Brasil e, depois, no Brasil, Paulo Bento irá trabalhar intensamente e incessantemente com os categorizados componentes da seleção nacional. Irá ocupar-se, particularmente, de tudo, sem omitir nada.

Até ao Brasil e depois no Brasil irá recordando os nossos futebolistas -- sorriso franco, nada de dramas, coração nas mãos, pão pão, queijo queijo -- que no Brasil, qualquer que seja o nosso grupo, quaisquer que sejam os nossos compromissos, Portugal pode ganhar o campeonato do mundo.
Irá recordando os futebolistas portugueses de que lhes será legítimo alimentar todas as esperanças desde que nunca desprezem todas as realidades.


21 de Novembro de 2013

Edmundo Macedo

NA NOSSA MEMÓRIA CARLOS CORREIA

VICTOR GIL
O seu desaparecimento há alguns meses do nosso convívio não fez desaparecer, nem sequer ateneou, com a sua sua inesperada morte, os profundos laços de amizade que para sempre nos passaram a unir, nem a saudade que a todos nos deixou, todos nós que o conhecíamos neste meio da emigração e das comunidades portuguesas.
O meu conhecimento do Carlos data de 23 de janeiro de 1973, dia em que, pelo meio da tarde, na mesma cerimónia pública, os dois tomámos posse como técnicos de 2.ª classe, no então Secretariado Nacional da Emigração. A partir de então, os nossos caminhos entrelaçaram-se como os ramos de uma planta cuidadosamente mantida pela seiva que brotava do ambiente de amizade, entreajuda, respeito e estima que sempre encontrámos nas nossas famílias e nos nossos colegas de trabalho. Quanto gostaria de aqui recordar, porque sei que esse seria também o gosto do Carlos, a amizade, a colaboração e o apoio que todos deles recebemos e que tanto nos ajudou na nossa espinhosa missão de servir as comunidades portuguesas ao longo de perto de quarenta e dois anos!
Como nos ensina Alberoni, um sociólogo italiano, a amizade é uma filigrana de encontros e cada encontro é uma prova, sujeita a riscos e mesmo a crises. Se assim é, Voltaire sublinha todavia que “A amizade é um encontro tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Digo “sensíveis” porque um monge, um solitário, pode ser uma pessoa de bem e viver sem conhecer a amizade. Digo “virtuosas” porque os maus têm apenas cúmplices, os divertidos companheiros de paródias, os cúpidos sócios, os políticos juntam em seu redor os partidários, os que se metem na vida dos outros têm relações, os príncipes cortesãos; mas apenas os homens virtuosos têm amigos”.
A filigrana tecida pelos nossos encontros ficou incompleta mas, apesar de inacabada, continua como as capelas imperfeitas, nem por isso menos admiradas, a ser o testemunho do nosso trabalho e do empenho de toda uma geração em servir a emigração e as comunidades portuguesas. A amizade, essa depende de continuarmos a sermos sensíveis e virtuosos. A exemplo do Carlos Correia.
Com um abraço amigo,
Victor Gil
MARIA DO CÉU CUNHA REGO
Recordar o Carlos Correia, colega e amigo da juventude e da idade madura, é lembrar um homem sério, bom, sensível, conciliador e generoso, que profissionalmente, como economista e dirigente da Administração Pública, viveu ao serviço dos assuntos da emigração e das comunidades portuguesas. Mas é também recordar o jovem pai atento, o marido e o filho sempre comoventemente preocupado com a família e os equilíbrios entre o tempo que considerava dever-lhe e o que circunstâncias diversas da carreira cada vez mais lhe exigiam...
Dessa geração de gente entusiasta que, com o seu trabalho, acreditava poder ajudar a manter ou reforçar laços entre portugueses e compensar a dupla exclusão de quem saiu do País onde nasceu e ainda não "pertencia" a qualquer outro, foi ele o primeiro a partir. Nenhum, nenhuma de nós queria acreditar. E entre o muito que ficamos a dever ao Carlos - em conhecimento, em disponibilidade, em gentileza - o seu legado é também o da nossa finitude.
VASCO RODRIGUES
Conheci o Carlos Correia em Outubro de 1972. Eu tinha iniciado funções no Gabinete de Estudos e Relações Públicas do então Secretariado Nacional da Emigração há pouco mais de seis meses.
O Carlos, juntamente comigo, foi um dos primeiros técnicos daquele Gabinete, e desde logo se estabeleceu entre nós uma sólida amizade, fortalecida ao longo dos anos, para além da entreajuda funcional possível entre dois técnicos com formação académica distinta.
Posteriormente, e com as alterações estruturais, entretanto, operadas nos serviços de emigração seguimos carreiras profissionais diferentes mas permaneceu sempre entre nós uma sã amizade não obstante os períodos de ausência que, por vezes, se verificaram.
Foi, assim, com um misto de incredulidade, perda, uma grande mágoa e uma imensa tristeza que tive conhecimento do seu inesperado falecimento.
Tinha estado recentemente com ele, e outros colegas e amigos dos tempos da emigração numa reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo que a notícia da sua repentina morte me chocou profundamente.
O Ministério perdeu um excelente funcionário e eu perdi um amigo.
Até sempre Carlos
O amigo Vasco
RITA GOMES
Recordar o colega e grande Amigo Carlos Correia, enaltecer as suas excecionais qualidades como homem, sereno e sempre diligente, procurando corresponder com amizade e compreensão às solicitações que lhe eram apresentadas, independente de credos e de ideologias, mereceria uma mais profunda apreciação da sua personalidade, mas neste momento referirei apenas algumas questões relativas à excelente convivência que tivemos durante largos anos.
Um dia da minha vida, após uns anos de trabalho para as migrações e depois na área económica, decidi regressar à Emigração, concretamente ao Secretariado Nacional da Emigração, criado em 1970 e reestruturado em Janeiro de 1972. Passou, então a existir entre vários Serviços, o Gabinete de Estudos e Relações Públicas.
Fui, então, admitida como técnica para esse Gabinete e comigo alguns Jovens licenciados, em direito, economia e sociologia, entre eles nessa primeira fase, o Carlos Correia, o Bento Coelho, o Victor Gil, o Vasco Rodrigues da Silva e o Henrique Pietra Torres, tinham então 20 e poucos anos. Foi assim que conheci o Carlos Correia.
Mais tarde com uma nova reestruturação dos Serviços, fomos inseridos na Direção de Serviços de: Informação Especializada e Acordos de Emigração, nesta fase já com a Maria do Céu Cunha Rêgo, a Margarida Marques, o José Guerreiro e o Jorge Gouveia Homem
A nossa atividade, além de intensa era também muito diversificada, tanto no que respeitava a trabalho em Portugal, como no Estrangeiro, no campo dos Acordos e das Convenções bilaterais e multilaterais sobre Migrações e Segurança Social.
E foi com este grupo de “Jovens especialistas” nestas matérias, que com sentido de alta responsabilidade, proporcionaram o seu melhor contributo em favor dos portugueses emigrados e de suas Famílias. Assim se foi desenvolvendo o trabalho com resultados positivos, que ficou a dever-se ao seu empenhamento e consciência de bem - fazer pela “causa” que a todos nos unia: as Comunidades Portuguesas.
Vivíamos com espírito de missão e de amizade, em que se incluía também o pessoal do apoio administrativo.
De entre todos, hoje, por tristes razões do destino, vou recordar, como disse, o meu colega e grande Amigo Carlos Correia.
Acompanhei o Carlos Correia em várias fases da sua vida e muito especialmente aquando do casamento, do nascimento da filha Inês e mais tarde aquando da doença do pai – fase muito difícil – pois, sempre que podia desabafava um pouco. Ultimamente a sua alegria eram os netos- uma preocupação de avô, com o seu espírito de responsabilidade e de procurar o melhor para eles. Falávamos como Amigos, que sempre fomos.
Ainda recordo o batizado da Inês e a enorme satisfação do Carlos Correia, durante a Festa com os seus Amigos, nos quais se incluía também o meu marido, que tinha por ele uma especial simpatia. Que saudade!
Houve a fase da ausência de Portugal, como Conselheiro Social em Paris e depois no Luxemburgo. Mesmo nessa fase sempre correspondeu às solicitações dos Amigos e até de mim, já depois de reformada , mas ligada às Migrações, através da Associação Mulher Migrante. E de tal modo a sua e nossa amizade e colaboração entre os colegas se manteve, que ainda hoje persiste.
Mais recentemente, por feliz coincidência, voltei a manter com o Carlos Correia, então como Chefe do Gabinete do SECP, mais uma vez uma estreita colaboração, a propósito da organização no MNE – Largo do Rilvas – de uma atividade da AEMM – Mesa Redonda – “ 4 décadas de migrações em Liberdade”,realizada, em Lisboa, no dia 26 de Março de 2014.
E esse trabalho urgente e diário, permitiu-nos, a mim e ao Carlos Correia, relembrar tempos passados, de estreita e fantástica colaboração, sem a qual não teria sido possível concretizar o evento, dentro do prazo e nas excelentes condições conseguidas. As fotos da iniciativa são o melhor testemunho do trabalho realizado, nas quais com a sua natural simplicidade, o Carlos Correia aparece com o seu sentir de responsabilidade para com a organização e também no que respeitava à forma como estavam a decorrer os trabalhos.
Após a referida Mesa Redonda, no dia seguinte, 27/3/2014, telefonei ao Carlos Correia, para lhe agradecer toda a colaboração e apoio à Iniciativa, estávamos muito satisfeitos com o trabalho realizado. Despedimo-nos, depois de rirmos com as várias peripécias que sempre sucedem nestas ocasiões.
No dia 28/3/2014, recebi a triste e inesperada notícia…. Foi o primeiro de nós a partir, apesar de eu ser a mais velha, nem queríamos acreditar…
Deixou uma amizade que ficará para sempre, entre todas e todos nós, que com o Carlos Correia trabalhámos e convivemos….
Rita Gomes
Lisboa, 28 de Dezembro de 2014
MARIA MANUELA AGUIAR
A memória é um mundo em que nos fazem companhia os que já não estão entre nós… Ninguém o disse melhor do que Pascoais “Viver não é existir, é ser lembrado”.
Lembro uma última e muito longa conversa que tive com o Dr Carlos Correia, sobre o pai, que tinha falecido pouco antes. Falámos, quase exclusivamente sobre os nossos pais, o que significavam para nós. Sobre a forma de superar a sua perda, de os trazer connosco na caminhada pela vida fora, tentando adivinhar o conselho que nos dariam em situações novas, sentindo a sua presença nos momentos de festa e de alegria.
Vi-o, logo depois, a 26 de Março, nos salões do protocolo do Palácio das Necessidades, durante o colóquio com que a AEMM abria as suas comemorações da Revolução de Abril no domínio das migrações. Como muitas vezes acontece nestes encontros, saudamo-nos cordialmente, sem
tempo para mais nada. Coincidimos em fotos de grupo, que seriam as suas últimas fotografias. .Estou a vê-lo, na primeira fila, na cadeira mais distante, de onde, discretamente, se levantou duas ou três vezes, com toda a certeza para atender a questões de serviço. Era o chefe de gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, e assumia essas funções, como as outras que desempenhou, nesta área das migraçõe (Vice presidente do Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas, Conselheiro Social na Embaixada de França, na Embaixada do Luxemburgo), com uma dedicação total, com muita inteligência com um conhecimento completo dos “dossiers”. Mas sempre,
também, com um grande sentido das responsabilidades, com preocupação de ser.perfeito.E era! Eu sei, porque na meia década de oitenta, o Dr.Carlos Correia foi meu Chefe de Gabinete no mesmo pelouro. Trinta anos mais jovem, mas igual… Não falhou, nunca, no mais pequeno pormenor…
Tê-lo à frente daquela máquina complexa, daquela torrente de papéis quotidiana, dando solução a tantos problemas, que, de outro modo, recairiam sobre mim, foi, sem dúvida, uma absoluta segurança, um sossego. Tinha, porém, a consciência de que me podia despreocupar, na exacta medida em que ele se preocupava. Até demais, na minha opinião!
De todos os colaboradores próximos (e tantos foram!), o Dr. Carlos Correia foi o único de quem só discordei, por julgar que trabalhava em excesso e que se preocupava demasiado! “Despache alguns desses processos para os outros, por favor!” – dizia-lhe quase todos os dias, sem sucesso. Mas, em tudo o resto (e até naquela atitude também…) o considerava admirável. Era de uma gentileza e bondade infinitas…Impossível não gostar muito dele!
Mas, curiosamente, as minhas primeiras recordações do Dr Carlos Correio são de um colectivo em que o integrava, o grupo dos “jovens”do chamado “Centro de estudos” – oficialmente esse título não existia em nenhum organograma da Secretaria de Estado, mas correspondia ao que faziam – e bem! - sob a direcção da Rita Gomes. Eram jovens trintões, já com larga experiência e especialização na matéria – intelectualmente brilhantes, muito unidos, e muito simpáticos: Carlos Correia, Victor Gil, Bento Coelho e, entre homens, uma mulher invulgar, que tratavam como igual – a Maria do Céu Cunha Rego. Havia outros, mas estes foram sempre os que considerei mais próximos. O que não quer dizer que eles se apercebessem disso, isto é, que eu evidenciasse sentimentos de tanto apreço. As vezes, com a minha pressa e impaciência, bem pelo contrário… Algumas histórias que, muitos anos depois, me contaram, com imensa graça, sobre o nosso relacionamento laboral foram, para mim, surpreendentemente hilariantes.
Há muito que o Carlos, o Victor, o Bento e eu tínhamos combinado um jantar convívio para evocar esse tempo feliz. Acho que não devemos esperar mais, para o convocar, agora para falarmos, sobretudo, do nosso amigo Carlos Correia.
Maria Manuela Aguiar
27 de Dezembro de 2014




DA ARGENTINA histórias de vida

INTRODUÇÃO
 




Histórias de Vida foi o primeiro Projeto da Associação Mulher Migrante em terras da Venezuela. Com ele pretendia-se homenagear as mulheres da diáspora nos novos mundos que desbravaram de forma tão corajosa. São um testemunho precioso para a compreensão do fenómeno migratório no feminino, naquilo que ele tem de mais profundo e intimista. Através destes relatos, simples, genuínos, obtivemos a grande dimensão desta longa, contínua e imensa caminhada por novos mundos.
Cada historia de vida é, por si só, intensa na carga emocional que dela emana. Nelas estão presentes momentos especiais, os mais emocionantes, os mais marcantes, da vida de cada viajante.

Juntando as várias estórias, poderemos obter uma narrativa global, preenchida por sentimentos e vivências que identificam a trajetória de vida das mulheres da diáspora. Elas foram e são as verdadeiras heroínas desta narrativa da emigração.

Em todas as histórias podemos deparar com os mais variados sentimentos: expectativa, esperança, medo, angústia, mas é comum nelas o desejo de proporcionar harmonia familiar e uma vontade imensa de vencer e ser feliz. Como muitas referem, enfrentar as adversidades por mais duras que fossem, permitiu-lhe saborear as vitórias com outro sabor. A valorização do colectivo, expresso nas associações que ajudaram a erguer e a vingar, permitiu-lhes amenizar o desafio que é viver num país estranho. Mas em todas está subjacente o sentimento - peculiar do povo português, povo de partida que sonha com a chegada - a saudade pela família, pelos amigos, pelo país que deixaram e que permanece sempre no seu imaginário. Ele continua sempre presente e a forma de o manter vivo foram e são as iniciativas que as mulheres organizaram e ainda organizam para perpetuar a sua língua, os costumes, e as tradições portuguesas. Graças a elas, a identidade do país que nunca esquecem, permanece e perpetua-se nas gerações seguintes44

Arcelina Santiago



 SABORES E OLORES QUE PERDURAN NA MEMORIA


 
 Lentamente abri el “papel de manteca” con el que un mes antes había envuelto al “bolo de mel” recién horneado.
 La Natividad había llegado y estaba listo para llevarlo ala mesa y compartirlo com mi família.
Eso color oscuro que le daba la miel de caña y el aroma de las especias, que al abrir el papel podá oler y percibir, hicieron que mis recuerdos me llevaran a mi infancia.
 Habiamos llegado de Portual, más precisamente de Madeira, dejando todo o  casi todo, nuestros abuelos, tíos, primos, nuestros vecinos, la casa, la “ribeira”, las montañas, el mar, que desde esta orilla parecia que nos separaba aún más.
Muchas veces había oído decir a mamá – si no fuera por el mar volvería caminhando.
 Tal vez para mitigar tanta “saudade” mamá sempre hablaba de Madeira y papá contaba historias a veces fantásticas que nosotros los chicos escuchábamos com tanto interés como el mejor cuento de la literatura.
 Pero lo más cercano, lo “palpable” de los recuerdos, era la cocina.
Hoy fue fácil para mi conseguir la miel de la caña para el “bolo de mel”; pero  recuerdo a mamá caminhando y perguntando por todos los negócios posibles en su “portuñol”: “Tiene miel de cana?”
Y su cara de desencanto cuando le respondían – No, no hay. Será difícil conseguir por aqui.
Hasta que un día alguien le dijo – En la feria de Liniers, ( hoy desaparecida) casi seguro podrá conseguirla.
Desde esse día no falto el “ Bolo de mel” en nuestra mesa de “Natal”.
Lo compartíamos com nuestra família y nuestros compatriotas que venían a saludarnos y como alguien dijo alguna vez “ por una escassez de família éramos todos primos”.
Junto com el Bolo (que como en un ritual se cortaba com la mano) se servia – a falta de vino Madeira – una copita de vino dulce y se brindaba por la salud de todos los presentes y de los que quedaron allá del outro lado del Atlántico y por el deseo íntimo de volver algún día.
 También cocinaba “as broas”, unas masitas de miel com las que esperaba a los amigos portugueses y parientes que por no saber ler ni escribir, le único contacto com sus seres queridos era a través de las cartas que mamá escribía respondendo a las que le traían para que les leyera.
 Cuantas lágrimas he visto derramar sobre la mesa del comedor de mi casa!Algunas veces de alegría, mirando alguna fotografia que acababan de recibir, de un bebé recién nacido o el casamento de la nena que habían dejado años atrás jugando com muñecas y hoy convertida en mujer- Otras veces de tristeza por quien partió y ya no volverán a ver, quebrando para sempre la ilusión.
 Muchas veces, como un acto de respeto, tan común en el Pueblo português, le entregaban a mamã sus próprias cartas sin abrirlas, depositando en ella toda su confianza. Y yo veo a mamá com su tijerita de recortar los bordados abriendo esas cartas y la mirada ansiosa de su portador.
Hoy pienso en esa solidaridar de mamá y cobra la dimensión real de esse valor. No había outra alternativa de comunicación, de manterner los lazos y las raíces vivas de quienes partieron y quienes quedaron a la espera de noticias y ciento un gran orgullo por ello.
 Siempre fue la comida la que tenía el poder de transportarnos, la de hacernos sentir que Madeira no estaba tan lejos. El “bacalao” y el “grão de bico” que ponía a remojar la noche anterior para la Semana Santa. La “caldeirada” para quitarnos el frío en las noches de invierno. El Cocido a portuguesa que llevaba casi una semana prepararlo porque mamá dejaba en sal las carnes de cerdo, que le daba un sabor increíble. Hoy siento que era un sabor increíble… porque cuando era niña quería comerlo.
Cuánto daría por tener a mi mamá cocinando para mi esse “cocido a portuguesa”, el bolo o el bacalao de Natal!...
Y el vino!... Lo veo a papá llegando a casa com un cajón de uvas y, nosotros prévio lavado de pies, pisando uvas en un intento de hacer vino, tal como lo hacían en Madeira, despúes de la vendimia. Para  ello, se reunían en casa de compadre, del cuñado e en la própria, convertido en un día de fiesta y solidaridad para hacer el vino. Que luego guardaban como el más preciado de los tesoros en sus bodegas.
 La cocina fue y es aqui en Portugal para nosotros portugueses, tal  vez, la excusa más importante para reunirnos.
 En Portugal “as desfolhadas” cuantos parientes , vecinos y amigos se reunían a deshojar las parras para que las uvas maduren más rápido, “a morte do porco” (la matanza del cerdo) que habían engordado y le darían la carne y susu derivados para todo el año. La cosecha de la uva, la elaboración del vino.
Si me remonto más atrás aún, la molienda del trigo en el molino de mi abuelo…
 Aquí en Argentina, en nuestras instituciones nos reunimos y revitalizamos no solo nuestra cultura culinária, sinto también nuestro idioma, nuestra idiosincria, mantenernos vivas nuestras tradiciones y la gran excusa es la COMIDA! Es un bagaje de Saudade que transportamos en nuestra memoria  y contcta con nuestras raíces, se expande y envuelve com sus aromas y sabores, no solo a portuguesa, sino como era un acto de agradecimento por la hospitalidade y generosidade  de esta tierra a nuestros hermanos argentinos, haciéndolos partícipes de esos sabores y olores que invades nuestro corazón y nos llena de dulce nostalgia.
 - Abuela, cuándo vas a traer el bolo?
La vocecita de mi nieto me trajo outra vez de vuelta a mi presente. Lo miré sonriendo y penseé… La vida continúa como continúa nuestras tradiciones y costumbres apuntalándonos con lazos indestructibles.
 Katryna



LA LUSITANA

 
Uno de los días mas tristes de nuestras vidas sin duda alguna, hasta ese momento , fue el 9 de octubre de 1949 ( sin tener que ver nada la Argentina), sino la família de mi mamá que nos engano, menos mi tío Ricardo que nos mando decir no venga toda la família, le mando una carta de llamada para que venga Manuel solo (y la mando) y decía: “llega acá, si le gusta, llama a la família y si no le gusta vuelve, y es más fácil volver uno y no todos, acuérdese de que el nombre de Argentina há enganado a mucha gente, no sean Uds unos más”.
Mis otros tíos nos trajeron para hacernos trabajar en la tierra, cuando nos vieron arriba del barco se dijeron entre ellos “ no es gente para trabajar en la tierra”, así le dijeron a mis padres otros portugueses que estaban ahí. Eso significó que ellos no le creyeron a mi mamá cuando les decía cual era nuestra vida en Portugal; mi hermana vino com 2 año de Comercio aprobado, yo vine com el ingresso a la secundaria aprobado; mi hermano, que volvió a Portugal, había terminado la primaria y no quería seguir estudiando porque quería ser mecânico y así fue, el más chico vino com 7 años a la edad que se comenzaba la primaria; mi papá era panadero y mi mamá atendía la casa y nada más.
Mi papá fue el único que trabajó en la tierra por un tiempo, luego volvió a su oficio de panadero en la panedería “La Lusitania” , mi mamá cosió y bordó para la casa Beige en La Plata, aparte también particular, se recebió de Corte y Confección “Sistema Teniente”. Yo seguí estudiando, me recibí de Arte Decorativo y de Dactilógrafa, en 1996 me naoté en el Bachiller de Adultos y en 1999 lo termine.
El más chico hizo toda la primaria acá, no suguió estudiando y hoy se dedica al comercio.
Pero esto trajo las primeras desavenencias en la família, pues hicimos todo lo que no estaba en los planos de ellos al llamarnos.
Hasta que se enfermo mi mamá, nuestra idea era volvernos a Portugal, pero al saber que ella se quedaba acá, todos dijimos “se queda a maizinha nos quedamos todos”.
Pero es muy difícil la vida del emigrante, todo es distinto empezando por el idioma y miles de cosas más, tenemos que acistumbrarnos a oír cosas que nos hieren, por ejemplo: muertos de hambre, gringos. “ y si estábamos tan biene n nuestra tierra a que vinimos”, esto me lo dijo la única prima argentina que tenemos y que ella por nada del mundo dejaría su país. Hace cerca de 40 años que está en Canadá, se hizo ciudadana canadiense, lo mismo que las hijas y que no le vayan a hablar algo en contra de Canadá, no le digan que la carne argentina es mejor que la canadiense y muchas otras cosas. Nosotros va hacer 58 años que estamos aqui y no hemos renunciado a nuestra pátria.
Hoy 27/04/ 2007 tengo una nagustia y unas ganas tremendas de estar en mi querido Loulé pensando en la fiesta de nustra Sra de la Piedad; tengo en mis ojos las almendras en flor, el andar de la Virgen subiendo o bajando de la montaña, es algo que no tiene o yo no tengo palabras para explicar lo que es esa fiesta. Hoy tengo mi mente puesta en eso, outro día en outro hermoso recuerdo y así va passando la vida,adaptándonos a la Argentina y a convivir com la nostalgia de nuestro querido Portugal.
Dicen que el tiempo se encarga de darnos la resiganción, en mi caso me há costado mucho y eso que gracias a Dios tengo una família hermosa, un hijo que es un amor, la nuera también es divina y mi marido un pedazo de pan com todo el dulce de leche encima; eso hace más llevadera la nostalgia de Portugal.
Hoy cuando escucho los familiares de los argentinos que han emigrado, de que están muy bien pero viven com el recuerdo de su tierra, yo les digo y cien años viven lejos jamás van a olvidar, porque eso es lo que me passa a mi a pesar de los 58 años que va hace que estoy aqui.


Reseña de vida: Maria de Lourdes Vas de Geraldes

Estimados leitores: cuando lena estas líneas, podrán dimensionar lis sentimientos, la angustia y las necesidades que debe sufrir un ser humano que decide emigrar para un país desconocido.
Son pocos ( y no és mi caso) aquellos que transladaron sus vidas y la de sus seres queridos y en poco tiempo conseguiron mejorar su situación sócio-económica. Lá gran mayoría de los inmigrantes fueron recluidos pará-los peores lugares de trabajo, con indigna remuneración, pésima vivienda y ningún tipo de asistencia estatal.
Solo nuestros brazos consiguieron que la comunidad portuguesa, en cualquier lugar que habite de la Argentina, sea un ejemplo de laboriosidade y progreso.
Aquí voy a relatar mi história que parece un triste invento pero és realmente la história de mi vida en la Argentina.

Partimos de Portugal en el día 10 de diciembro de 1950 a bordo del vapor "Entre Ríos", mi padre Eduardo Vaz y mi madre , Gloria Geraldes, mi germano Manuel, de 11 años, y Maria Concepción de 6 años. El viaje fue normal, a pesar de la falta de costumbre.
La esperanza de un menor porvenir nisso empujó para estas tierras, donde llegamos el 25 de diciembre de 1950. Aquí nos esperaba un tío de mi madre que había insistido para que nosotros hiciéramo el viaje.
En pocos días, conocimos nuestra primeira gran tormenta en esto suelo encantado, nos trasladábamos en tren pará-la ciudad de Zárate y de allí durante una noche tormentosa y triste nos llevaron en lancha hasta , lo que más tarde supimos que eran , las "Islas del Paraná de las Palmas".
Todavia sin recuperarnos del interminable viaje por mar, estábamos submergidos en un río tenebroso, turbio y profundo. En una de las islas de eso río vivimos muchos años, los años más penosos de mi vida y de mi família. Al início fuimos recibidos con bastante amabilidad por la família de mi tío, dueño de aquella isla de cerca de 120 hectares, en la cual también habitaban en sítios mas distantes, sólo dos familiares mas.
Al día siguiente fuimos para una típica casita isleña , a cuarenta metros del río, edificada sobre estacas de madera de três metros de altura. Fue muy novedosa la casa, pero en el transcurso de los días descobrimos la razón de su altura: ese río , que parecía largo, a veces crecía y sus olas embravecidas llegaban hasta la entrada de nuestra casa, perdida en esse infinito líquido! Además de eso, cuando el río estaba bajo, nos rodeaba una frondosa selva, con cañaverales y matorrales que albergavam diversas espécies de animales , todos ellos selvajes y peligrosos, claro que más tarde lo comprobaríamos.
En nuestra llegada sólo faltaba conocieron cual seria nuestro trabajo y digo nuestro trabajo porque nadie de nuestra família quedo excluído: la actividad era la tala de árboles de la selva y el cavado de las zanjas ( espécie de arroyos) para que las canoas ingresen y recojan la madera obtenida en la tala.
Es preciso decir que nunca recibimos retribución alguna en forma de dinero, el cual no conocíamos, sólo aquellos alimentos básicos que nosotros no podíamos cultivar en la huerta ocasionalmente algunas alpargatas, que aprovechábamos hasta desharcerlas. Todo esto de anotado como deuda personal a favor del dueño de la isla.
En los três años que duró está pesadilla, no conocíamos ninguna escuela, ningún negocio, ni un hospital que pudiese satisfacer nuestras mínimas y básicas necesidades; al punto que mi hermana Maria tuvo un accidente , pues una astilla se incrustó en un ovo, y tuvo que ser atendida con miel casera, sin asistencia médica ni medicamentos, mediando la buena voluntad de Dios para sanar sin quedar sequelas graves en su vista.
Así vivimos, en virtual estado de esclavitud , rodeados de animales selvajes y de seres humanos indignos de ser llamados de esa forma, sin abandonar ni un solo día aquella casa y desconociendo la civilización.
En esa altura mi padre agotaba su paciência y sus esperanzas de mejorar nuestras vidas. Por lo tanto cierto día se contacto con un habitante de outra isla que pasaba en canoa por el río y que lo ofrecío llevarle de las islas para la cuidad de Zárate, donde un matrimônio intentaría contactar a mi padre con unos primos, provenientes de Aguas, su tierra natal y que vívian en la cuidad de Moreno (Província de BuenosAires)... Mi padres les contó el estado de nuestra família: no teníamos ropa, ni calzado, solo teníamos trapos que mal a mal nos cubrían el cuerpo. Con piedade de nuestra situación, esta buena gente nos dio zapatos y algunas prendas, que cuando mi padre regreso a la isla inmediatamente vestimos, repletos de alegría infantil por ese presente prodigioso.
Poco duró la alegría ... Cuando el sinistro personaje, dueño de la isla, descubrió nuestras vestimentas, castigó a mi padre corporalmente con un fuerte azote, por haber osado dejar la isla sin su consentimiento y por temor a que otras personas pudieran contorcer nuestra situación.
Como nosotros no teníamos ninguna embarcación, ni combustible, ni agua potable, solo usábamos el água del río, cargada de resaca de animales muertos y basura, el dueño de la isla quiso saber el origen de sus ropas y el calzado. Entonces para conseguir información el patrón dio alcohol a un vecino que embriagado contó todo. Desde ese momento nuestra situación emperó al punto de correr riesgo nuestras vidas y entonces mi padre decidió llamar un barco que transportaba arena y que piadosamente nos llevó a Paraná de las Palmas y de allí fuimos en tren hasta Zárate. En esa cuidad nos encontramos con la gente que nos había ayudado y percibí, con mis doce años, mi indigencia: descalza, con poca ropa, marginada de la civilización, llena de angustia y temendo outra vez por mí destino.
Mas tarde nos encontraríamos en la Delegación de la Policía de Zárate, denunciando los daños físicos recibimos por el brutal castigo que le dieron a mi padre. De allí, comenzamos a vivir nuevamente, está vez en Moreno, cuidad de la Província de Buenos Aires. Nos recogieron los primos de mi padre,que curaron nuestras heridas físicas y espirituales . Fuimos tratados con cariño, con respeto y lentamente establecímos nuestro contacto con la sociedad.
Al cabo de tres años con mucho esfuerzo y con el apoyo de esta família, conseguimos adquirir nuestra propria quinta de verduras, en Villa Santiago Luis, cuidad de Florencio Varela.
Allí, instalamos nuestro hogar y pasado un tiempo Manuel, Maria y yo , nós casamos y fuimos construyendo nuestros destinos. Por el año 1961, me case con Manuel Paulo y tuve dos hijos, Adrián y Miriam. Conseguí ordenar definitivamente mi vida, temer paz, casa propria, un negócio propero que permitió brindar a mis hijos y que yo no tuve: educación, confort y seguridad. Había sufrido por demás, pero mi buen temperamento y esa fortaleza que a veces no sabemos que tenemos, hicieron que recuperara mi alegría y que pudiera concretar mis anhelos y proyectos personales.
Pasaron los años, ya tenía mus hijos adolescentes,y nuevamente la vida me enfrentaríamos otra prueba dolorosa.
Era el año 1982 y mi hijo Adrían, se alistava para cumplir con el Servicio Militar, en la aeronáutica , con destino a Rió Gallegos, en el sur de la República Argentina. Nada hacia suponer que a princípios de abril de ese año, entraríamos en conflito bélico con Inglaterra, por las Islãs Malvinas. Por ende, eso fue lo que aconteció, la Junta Militar así decidió, y mi hijo reclutado en el Sur, desembarcó en Malvinas, el día 1 de mayo de 1982.
Al principio nos alentaba la ilusión de que las tropas inglesas no llegarían, por falta de interés inglês...pero la realidad fue otra, y a pesar de las mentiras oficiales, fuimos conscientizados de la gravedad de los actos: " los ingleses habían llegado y los enfrentamientos eran fuertes y sangrientos ". Mas tarde supe que mi hijo había entrado en combate. En uno de los bombardeos que sufrió su grupo, sobrevivieron pocos soldados y quiso Dios que él fuera uno de ellos. Dios también me ayudó a resistir mi agonía...no me consolaba la idea de "gloria final" que nos mentíamos, sólo sentía una desesperación sin límites... Adrián volvíamos a lá base militar de Río Gallegos el 20 de junio de 1982 y despúes supe que fue atendido por médicos ingleses y que alguien había imitado su voz para decirme que estaba bien, pero yo en essa altura ya lo hubiese percibido...
El 28 de julio de 1982, vivimos unos días inolvidables, mi hija Miriam hacia 15 años y Adrián regresaba a casa, por fin. És difícil describir el recibimiento de amigos, vecinos y hasta desconocidos que circulaban por la Avenida 12de Octubre (avenida importante de la cuidad de Quilmes), que adherían al regresso de estos soldados héroes de Malvinas. La baja definitiva de ese ejército fue en novembro de ese año, fecha que jamás olvidaré...
A pesar de todo, la vida también me dio alegrías. Miriam decidió participar en un concurso de la elección de la Reina de Casa de Portugal de Villa Elisa y resultó electa, para más tarde obtendo el Reinado de las Comunidades Portuguesas de Argentina. Así, acompañando a nuestra hija regressamos a nuestra tierra después de treinta y sete años de ausencia. Entre los recuperados de ese viaje recordamos especialmente la atención recebida or la Dra. Manuela Aguiar, representante de las Comunidades Portuguesas, por quien fuimos muy bien recebidos. Todavía conservamos con mucho cariño los livros que fueron ofrecidos a mi hija en esa ocasión.
Tuvimos la suerte de poder realizar otras dos viajes mas a nuestra pátria, volver a encontrarnos con familiares y amigos, y disfrutar de todas las cosas bonitas que nos ofrece Portugal. Tengo ganas de ir nuevamente y tengo la ilusión de que mis nietos conozcan mi patria. Hay ocho años que, mi marido y yo, hemos colaborado en la Comisión Directiva de Casa de Portugal de Villa Elisa, Institución que agrupa e identifica a la colectividad portuguesa de Argentina.
Finalmente puedo decir que hoy tengo una linda família: marido, dos hijos, yerno, nuera y cuatro nietos, hermanos, sobrinhos y todavía mi madre de ochenta y un años; tengo también, muchos amigos que con cariño y alegría me acompañan en este desafió permanente que és "vivir" .

 


Historia de emigració: Maria Violante Mendes Martins
Mi llegada a la argentina no fue voluntária, sino que mi madre me trajo sendo una niña de tan solo 11 años. Atrás quedaron mi família, mis tíos, primosy amigos , mi escuela (que estava cursando lá 4 clase); todo aquello quedo atrás; mi cerro del Calderón en Algarve conocidas , todo aquello que yo quería quedó atrás esperando volver alguma vez a mi Valle da Rosa, un pueblo que yo quería tanto.
Aquel día un 4 Julio de 1963, comencé aescribir la história de un emigrante más, como tantos que ya habían venido años atrás,y és por eso que despúes de quedar solita con mí madre ya que no tenía hermanos y mí padre pidió que nosotras viajáramos junto con él a lá Argentina. Yo como toda niña de 11 años, no sabía lo que era eso de ir pará-la Argentina, haja veía que mis tías lloraban, mis primos también, aquello parecía que nos íbamos a morri, sin. volver más, todo era uy triste.
Cuando llegamos a Lisboa, estaba asombrada de ver tantos autos y casas, para mi era todo una emoción nueva porque nunca habían visto una cuidad. Aquel día embarcamos y solo se veía muchas personas llorando, con pañuelos en las manos, pêro yo no entendía nada, soltamente tenía la ilusión de ver a mi padre outra vez.
Los días passavam, el barco se encontrava en alta mar y las personas comenzaban a sentirse mal , mi madre se enfermó y tenía que llevarle la comida a la cama, para mi era un juego bajar e subir las escalenas, hasta que un día llegamos a Puerto Santo , en Brasil, desembarcamos todos y fuimos a comprar bananas, nunca me olvidé de aquellas bananas que me hicieron tan mal el olor, que estuve 10 años sin provar una banana.
Pues mi historia es como lá de muchões inmigrantes.Llegamos a Argentina el día 19 de Julio de 1963, mi papá nos estaba esperando,y nos trajo a vivir para una casita prestada en la zona de Bosques. Él viajaba para el trabajo a las quatro de la mañana y regresaba a la boche; mi madre nos quedábamos en casa porque no sabíamos hablar y no conocíamos a nadie. A los pocos días comencé lá escuela en Bosque y despúes fuimos a vivir a Villa Elisa, a pocos kilómetrosde allí, donde terminé la escuela.
Mi padre se dedicó, entonces a la floricultura, ya que en Portugal era albañil, pero aquello de las flores andana más o menos bien y yo los ayudava. En la escuela fue donde comenzó aquello de que yo era " la portuguesa", pero como era pequeña no pensaba de que fuera algo malo para mi, aunque todavía hoy para algunas personas somos " los portugueses".
Me casé muy joven, solamente tenia 16 años, pero he sido muy feliz con mi marido que también és português, tengo 3 hijos muy lindos que la vida me dio. Tengo una hija de 21 años y dos hijos de 28 y de 3 años. El más pequeño (el de 3 años), lo tuve a los 43 años, que fue un milagro de vida para mi y para mi família , que están muy contentos y felices; he trabajado mucho con mi marido y con el correr de los años hemos visto el fruto del sacrifício, el cual estamos disfrutando ahorra con las pequeñas cosas que tenemos.
Mi deseo era volver a Portugal, y ya esta cumplido, viaje en el años 1992 con mi marido y mi hija Marcela, me gustó mucho volver despúes de tantos años , y volver a ver a mis primas y tías, fue cumplir una eñoranza. Pero sólo hay una cosa que yo siendo portuguesa no compriendo: por qué en Portugal somos los argentinos? Eso fue lo que me dolió en mi corazón, ya que parece que nosotros, emigrantes, no tenemos una identidad, somos argentinos en Portugal y portugueses en Argentina.
Ahora les voy a contar mi participación en las Asociaciones Portuguesas en lá Argentina, pues aquí es mi colaboración con "Casa de Portugal de Villa Elisa".
Casa de Portuga, es una casa como su nombre lo doce, es una Casa Portuguesa, en ella conviven muchos portugueses que eran vecinos y amigos en Portugal y otros que no se conocían, se conocieron aquí y comparten la mesa,el trabajo, la alegria de las fiestas sriempre hechas con mucha emoción, mucho esfuerzo y amor por nuestras cosas y nuestras Portugal.
Casa de Portugal, tiene muchos años en La Plata,pero aquí en Villa Elisa solo tiene 17 años. Fue una inquietud de un grupo de amigos y vecinos portugueses que se juntaron para ver se havia algo aqui enVilla Elisa, ya que la Casa de Portugal de La Plata estaba povo concurrida, entonces se pensó en formar un Centro Recreativo, anexo de Casa de Portugal. Las obras secomenzarian comprando una casa con árboles y mucho terreno, para poder hacrer un buen emprendimiento, y lo que había que hacer era trabajar ; és así quecomenzamos todos en Casa de Portugal y desde el día 4 de marzo de 1980 que existe esta casa.
Comencé con mi marido y mis hijos, conjuntamente con tantos otros a trabajar para el engrandecimiento de esta casa y para llevar bien. alto el nombre de Portugal a todos lados que tuviéramos que ir con nuestros hijos, será Día de Portugal o sea la llegada de autoridades portuguesas a la Argentina; allí estávamos todos nosotros con nuestros trajes típicos , con los niños vestidos a lá usanza portuguesa, para recordarles que somos portugueses, que estamos por el mundo esparcidos, pero que llevaamos a Portugal muy alto en nuestro corazón.
En este momento hace 13 años que soy presidenta de la Comisión de Damas de Casa de Portugal, y juntamente con otras damas hemos tratado de ayudava y colaborar en todo a la Comisión Directiva, sea en fiestas populares y comidas típicas, desfiles de moda o sea de apoyo cultural; de todo hemos hechas para esta asociación portuguesa. Puerto que comentamos con una vidriera como salón de fiestas y hoy tenemos un Hermínio salón para 1.0000 personas sentadas a comer, no ha sido poco lo que se trata de hacer para que las tradiciones y la amistad del portugés, formando estos clubes que en este momento hay 10 Instituciones em Argentina, todas hechas con el mismo sacrificio y dedicación para nuestra pátria y no perder los lazos de nuestra tierra.
En está historia no puedo dejar de agradecer a nuestros presidentes de la Institución, que tuvieron en cuenta el papel de la mujer portuguesa en la comunidad, ellos son: Sr. Dinis veigas, Presidente durante 10 años , y el Sr Analido Mendes Amaro, Presidente en la actualidad de Casa de Portugal; ellos son personas que se han preocupado por hacer participar a las mujeres en las decisiones y en los logros de la Institución.
Solo me resta decir, que la Casa de Portugal és mi segunda casa, que en ella encontré amigas y amigos compatriotas, que somos una família muy grande, compartimos las cosas bienais, pero también las que no son, pero la honestidad del português, lá rectitud y el valor por la amistad están bien altos.
Casa de Porugal en una família bien grande , y cada vez será más aun, para nuestros hijos y nietos.
María Violante M. Martins

sábado, 27 de dezembro de 2014

NA NOSSA MEMÓRIA O Cônsul de Portugal EDMUNDO MACEDO

Edmundo Macedo foi, durante mais de quatro décadas o responsável pelo
Consulado de Los Angeles, em cuja área se englobava todo o sul do
Estado da Califórnia e serviu, de uma forma exemplar, Portugal e as
numerosas comunidades de Portugueses até à data do seu inesperado
falecimento a 4 de Maio de 2014.
A notícia chegou por email - pela mesma via em que nos últimos anos
comunicávamos com regularidade. Foi um choque, uma grande mágoa!

 Eu tinha por Edmundo Macedo muita admiração, mas não só admiração,
também uma grande estima, que eu sabia recíproca. Quantas vezes me
enviou palavras de estímulo, comentários simpáticos a uma ou outra
iniciativa que, de longe, acompanhava, e até felicitações pelas
vitórias do FCP (ele que gostava imenso de futebol, mas “torcia” pelo
SLB…)! Era sempre um prazer ler as suas missivas, tanto pelo conteúdo,
como pela forma, que me leva a considera-lo um criativo e talentoso
cultor da língua
portuguesa.
Gentileza, fair-play, talento, sensibilidade...A amizade cimenta-se
nestes pequenos gestos significativos, tão reveladores do carácter e
da ética pessoal
Mas a admiração precedera esta amizade antiga, pois tivera a ver com a
sua capacidade profissional, a eficiência e boa vontade com que
resolvia os problemas de tantos portugueses, o modo como se
relacionava com o mundo associativo da Diáspora, como respondia às
solicitações da Secretaria de Estado da Emigração. Impressionante! Já
em 1980 o colocava no topo da lista dos nossos melhores representantes
consulares e diplomáticos em todo o mundo. Era um modelo, uma
referência!
Antes de assumir o posto de Los Angeles já sabia tudo o que devia
saber, no que respeita a leis, regras processuais, burocracia,
protocolo. E desempenhava as funções de representação oficial do País,
com uma distinção inexcedível, com pleno reconhecimento da sociedade,
dos políticos e dos serviços da administração americanos.
Onde se esperaria uma estrutura de média dimensão, atendendo aos
números da comunidade, às questões a resolver, ás solicitações
sociais, não tinha colaboradores. - o Consulado era ele! Ele e a
Senhora Dona Maria do Carmo, que sempre o acompanhava, com a mesma
simpatia, a mesma elegância.
Para com ambos o País tem uma enorme dívida de gratidão, que não soube
satisfazer em vida do grande Português, do inesquecível Cônsul que foi
Edmundo Macedo

Maria Manuela Aguiar…


A AEMM agradece toda a colaboração que o Cônsul de Portugal Edmundo
Macedo amavelmente lhe prestou, e dá-lhe voz, nesta edição,
reproduzindo um dos textos com que enriqueceu as nossas publicações:

.A Rosinha da Foz Velha do Porto faz-me lembrar a "Babe" Didrikson
Zaharias, uma de sete filhos de imigrantes noruegueses que foram
fixar-se no Sudeste do Texas e se afirmou como uma mulher-gigante do
Século XX, juntando-se em toda a sua magnificência a Margaret Mead -
célebre autora e antropologista americana -, a Eleanor Roosevelt -
quiçá uma das mais admiradas Primeira Dama dos Estados Unidos e
decerto Primeira Dama do Universo, reconhecida internacionalmente pelo
seu trabalho e esforços humanitários e, finalmente, a Agnes Gonxha
Bojaxhiu - a santíssima Mother Teresa nascida em 1910 em Skopje, então
parte da Jugoslávia.
Quatro Mulheres-Gigantes do Século XX!
Há pontos de similaridade entre a nossa Rosa Maria ("Rosinha") Correia
dos Santos Mota e a Mildred Ella ("Babe") Didrikson Zaharias.
Entre elas - colossais atletas! - há sinais e marcas distintivas
comuns, que desde logo as colocam num horizonte, num trono e num “céu”
inacessíveis a menos do que gigantes!
De aí que as diga fenómenos raros e as admire incondicionalmente. De
aí que as considere eminentes pelo seu talento, valor e coragem. De aí
que lhes reconheça qualidades de paridade com o Homem.
Curiosamente, são ambas de Junho. A Babe - que viveu apenas até 1956 -
nasceu há 97 anos em Port Arthur no Texas e a Rosinha há 50 anos emFoz
Velha do Porto.
Zaharias distinguiu-se no princípio - em competições nos seus
primeiros anos de escola - como uma atleta tão dotada que excedia
todas as outras a correr, saltar, jogar e a pensar - parecendo que a
Natureza a produzira num rasgo de excepcional perfeição. Na
Universidade salientou-se nas equipas femininas de basquetebol e ténis
e durante os Jogos Olímpicos de 1932 em Los Angeles - o mesmo ano
emque Amelia Earhart se tornou na primeira mulher a voar solo sobre o
Atlântico! - Zaharias conquistou medalhas de ouro, com recordes
mundiais, no lançamento do dardo e nos 80 metros barreiras, enquanto
um pormenor técnico a privou de terceiro ouro no salto em altura.
A Babe excedeu no Desporto a Mulher! Não conseguiu exceder-se a si
própria porque foi inesgotável! O seu multifacetado e incomparável
legado que a qualificou como a melhor atleta - homem ou mulher – da
primeira metade do Século XX, nutre o aplauso público pela
suaexcelência em desportos tradicionalmente competitivos e absorve de
umtrago a plêiade que com ela e contra ela competiu.
Zaharias dominou em saltos aquáticos, softbol, golf, basquetebol e
atletismo. Zaharias desafiou noções consuetudinárias de feminidade com
as suas arrojadas piadas à imprensa. Zaharias dilatou os limites
aceitáveis do que uma atleta podia e devia ser. A biografia de Babe
Didrikson Zaharias obriga o fascínio, dá razão a trabalho longo e
torna delicioso escrever.
Como, porém, se torna igualmente delicioso escrever sobre uma
mulher-gigante da Nobre Cidade Invicta, vou deixar por agora a Babe e
falar da nossa Rosinha.
Irei falar da Rosa Maria como quem fala de uma das mais delicadas
rosinhas-de-Portugal - como as que salpicam com cor suave tufos
alindando o lindo da inigualável Sintra e despontam como a aurora
entre o verde-alourado do musgo, o fresco dos limoeiros e a giesta a
explodir uma sinfonia de amarelo.
Rosa Mota foi considerada como uma das melhores maratonistas do Século XX.
Rosa Mota corria como o vento.
Corria com a agilidade da gazela.
Com a intrepidez do menino Gavroche.
A Rosinha saltitava como a alvéloa.
Legou às estradas imagens de pura elegância.
Por pouco não transformou ligeireza em volátil.
Tratava o asfalto com reverente delicadeza.
Parecia não querer beliscar o betume negro e lustroso.
Corria como lume que ela ateava soprando.
Tinha no mínimo três pulmões, não apenas dois.
Corria-lhe nas veias sangue Lusitano.
A nossa Rosinha pediu asas emprestadas.
Tardou a devolvê-las e Portugal benfeitorizou.
Corria a Maratona como se fosse em passeio de Lordelo do Ouro a Cedofeita.
Nos recônditos do seu peito pulsou sempre um coração tão Nortenho quão
Português.

Quando corria, a Rosinha sentia a voz dos nossos egrégios avós que
haveriam de levá-la à vitória.
A Rosa Maria nunca esqueceu as nobres Comunidades  Emigrantes nos
fins-de-semana, cumulou-as, diligentemente, de esperança.
Robusteceu-as de orgulho. Fê-las acreditar. Fê-las sonhar. Levou-lhes,
volta e meia, alegrias indescritíveis, Incitou-as a trazer na lapela o
emblema da Ditosa Pátria. Com o verde e o encarnado, a esfera armilar
e as cinco quinas. O emblema mais bonito do mundo.
Em 1982, nos Campeonatos da Europa em Atenas, a Rosa Maria correu a
sua primeira Maratona. O ouro - dizia-se - pertencia à Ingrid Kristiansen.
Erro crasso pois a corredora portuguesa prevaleceria conquistando na
Grécia a sua primeira peça de sentido valiosíssimo e cara ourivesaria!
É assim em todos os desportos. Só ganha o ouro quem nasceu
predestinado! Na sua primeira Maratona Olímpica em 1984 em Los
Angeles, a Rosinha sofreu um percalço. Trouxe bronze em vez de ouro.
Um transtorno d ofício, remediável nas mãos dela. Quatro anos depois,
na Olimpíada de Seoul na Coreia do Sul, a Rosa Maria atacou a dois
quilómetros da meta conquistando o ouro e deixando a prata para a Lisa
Martin.
Ouro, ouro e ouro enriqueceram também o bolso da nossa Rosinha nos
Europeus de 1986 em Estugarda e de 1990 em Split e no Mundial de 1987
em Roma.
Só ganha o ouro quem nasceu predestinado!

 É assim em todos os desportos.
Em 1987, 1988 e 1990 a Rosa Maria triunfou na Maratona de Boston e em
1985 repetiu em Chicago o triunfo de 1984. Com a sua postura campeã
privilegiou Roterdão em 1983, Tóquio em 1986, Osaka em 1990 e Londres
em 1991, indo ali dizer que a Foz Velha do Porto e Portugal existiam e
conquistar, categoricamente, o primeiro lugar. Sempre o primeiro
lugar! Sempre o ouro!
É assim em todos os desportos.
Só ganha o ouro quem nasceu predestinado!
Como as essências coníferas que predominam nas florestas do norte do
hemisfério, entre 1982 e 1991 predominou no mundo a essência Rosa
Mota!
Predominou a sua qualidade de maratonista extraordinária! Predominou a
sua genética propensão para vencer! Para vencer sem se jactar! Na
excelência e humildade de Rosa Mota, Portugal resplandeceu!
A Rosinha da Foz Velha do Porto faz-me lembrar a "Babe" Didrikson Zaharias…

Ao escrever estas linhas tive sempre a Rosinha no pensamento.
E uma querida Amiga minha que de Espinho me pediu que as escrevesse.
E a infinita paciência da minha Mulher.
E a saudosa memória da minha Mãe.

Edmundo Macedo
 2009