domingo, 1 de março de 2009

MARIA TERESA AGUIAR Dinâmicas de Género e Geração -painel (síntese)

Neste painel, o tema mais presente no debate foi, porque a comunicação sobre "Tráfico de mulheres para fins de exploração sexual em Portugal".
O tema da exploração sexual de imigrantes na nossa sociedade já foi abordado em outros colóquios da Associação "Mulher Migrante", mas no "Encontro de Espinho", e neste painel, em particular ficou, talvez, um pouco deslocado. Não porque não seja muito importante e não porque a investigação e a apresentação de resultados não tenha sido de grande interesse -de facto, foi.
Mas por incidir sobre mulheres brasileiras, fundamentalmente, levantou algumas objecções por parte de participantes deste país, que se queixam de que há uma tendência para dar uma imagem menos boa da sua gente e da sua realidade social.
Ninguém contestou o trabalho em si. Acabou por ser um pretexto para discutir a forma de ver e retratar o "país irmão", porque também no Brasil há, segundo ali foi dito, nos "media" uma muito comum do que é português.
A autora, resumia, assim, previamente, a matéria a tratar:

"Serão discutidos e problematizados nesta comunicação os resultados de um estudo qualitativo exploratório realizado em Portugal com um grupo de mulheres vítimas de tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual. Na reflexão a efectuar serão sublinhadas as
dinâmicas de género envolvidas nas experiências de discriminação e de violência vividas por este grupo de mulheres."
Eis, em síntese, alguns momentos do debate , que começou por se centrar sobre as dinâmicas de género e de geração:

VIOLANTE MARTINS
Vive na Argentina desde os 11 anos, não é "doutora". Participa, desde há muito, na sassociações portuguesas
Destacou a nova dinâmica que as mulheres estão a dar ao movimento associativo na Argentina, nomeadamente através da organização a que preside - a "Mulher Migrante Portuguesa da Argentina".
Mas, o início como todos os inícios, não foi fácil. Referiu o estímulo que Manuela Aguiar ( "madrinha" da Associação) lhes deu, nessa fase, e o acompanhamento constante de Rita Gomes, com que podem sempre contar. E, ainda, a mostrar como o Estado tem um papel a desempenhar, o apoio que receberam do Secretário de Estado José Cesário e que veio a ser decisivo para a criação de condições para a prestação do apoio social e de expansão e consolidação da Associação nascente, com uma vocação essencialment humanitária.
Foi o primeiro subsídio que permitiu o trabalho no tereno, numa época tremenda de crise e de crescentes necessidades na Argentina, em 2001-2002.
O País, um país fantástico, mas com altos e baixos, parece caminhar para nova crise, mas, felizmente, o actual Secretário de Estado, Dr. António Braga, mantem o apoio para os portugueses carenciados, e Associação "Mulher Migrante" tem servido de elemento de ligação, no terreno. O último subsídio foi já gasto, e bem gasto, porque os velhos não têm tempo para esperar...
Com estas verbas do Governo, só podem auxiliar cidadãos de nacionalidade portuguesa, com exclusão dos luso-descendentes,mas, com os seus meios próprios, a "Associação" ajuda todos, incluindo argentinos.

MANUELA DA ROSA
Sublinhou a importância do papel dos jovens e a necessidade de lhes ser dado um espaço nas associações , para assegurar o seu futuro.
Mas não esqueceu os mais velhos e, em relação e estes, aos melhores meios de lhes ânimo e de os integrar no mundo associativo, agradeceu as propostas da Doutora Graça Guedes no sentido da criação, em Joanesburgo, de uma universidade sénior, à semelhança da que existe em Espinho - um proposta feita durante o "Encontro para a Cidadania", realizado naquela cidade.

GRAÇA GUEDES
Considera que a "Universidade Sénior de Espinho" merece ser a madrinha da instituição homóloga na África do Sul.
Manifesta o seu apreço pela luta das mulheres portuguesas da Argentina contra a pobreza, que testemunhou durante o "Encontro para a Cidadania" em Buenos Aires.
Lembra que participou no juri dos "Prémios Talento" que, em 2008, na categoria de Associativismo, escolheu 3 associações, como finalistas, por sinal, todas presididas por mulheres.
Duas da Argentina, uma delas a "Mulher Migrante Portuguesa".
Um belo exemplo, um rconhecimento de obra feita.

CLAUDIA FERREIRA
Em relação a um dos problemas falados - a falta de professores de português - lembra que a carência pode ser resolvida com recurso a brasileiros, dentro do mesmo universo linguístico, e com vontade de emigrar.
Quanto ao trabalho sobre o tráfico de mulheres, tratando-se de brasileiras em Portugal, acha-o susceptível de piorar a imagem da emigração deste país. Uma imagem completamente desajustada por poder ser generalizado à imensa maioria de mulheres a exercerem profissões "respeitáveis" - secretárias, advogadas, empregadas de comércio...
Critica, aliás, a deturpação sistemática, nos noticiários da tv, tanto de Portugal como do brasil sobre o outro país. Só referem desgraças - violência, assaltos, pobreza...
Não contesta a validade da investigação sobre o "tráfico" mas gostaria que a pesquisa se orientasse para outras mulheres, que não as brasileiras, até porque as outras são a maioria.
Considera ser preciso dar às novas gerações uma imagem boa e justa do melhor destas sociedades, para que tenham orgulho na sua origem.
Sente-se portuguesa e brasileira. "Torce", igualmente, pelas duas pátrias. Está lá há 40 anos.

MARIA MANUELA AGUIAR
Compreende a preocupação de Cláudia quanto à imagem que os "media" de Portugal e Brasil dão do outro país, e a necessidade de defender a reputação da comunidade brasileira, que hoje é já a maior entre nós. Uma comunidade que nem se deveria considerar estrangeira e que está teoricamente protegida pelo Tratado de igualdade de direitos, pelo estatuto de cidadania plena que lhes é concedido pelas Constituições dos dois Estados, mas´de que, na prática, só podem beneficiar os que têm residência legal.

JOSÉ CESÁRIO
Elogia a forma como decorreu o debate e os ensinamentos que lhe deu.
Salienta a crescente participação das mulheres no CCP, e o papel muito activo, que aí vêm desempenhando.
Critica a televisão e o negativismo com que retrata os imigrantes brasileiros e lembra que, lá fora, também há portugueses com problemas - por exemplo, na Espanha.

SOFIA NEVES
Precisa que o seu trabalho não é sobre prostituição ou prostitutas, mas sobre vítimas do tráfico de seres humanos.
Em Portugal, não há estudos conclusivos sobre esta dimensão do problema, que não pode ignorar-se. Trata-se de mulheres que vieram iludidas à procura de um bom emprego, que nunca imaginaram ver-se forçadas à prostituição. A investigação serve para denunciar estas situações, não visa, de modo algum, estigmatizar as brasileiras, que não são cuçpadas de nada, mas, sim, vítimas.
É preciso reconhecer o problema e desenvolver estratégias para o combater.

RITA GOMES
Chama a atenção para o facto de as vítimas do tráfico, em Portugal, não serem só brasileiras.
Na Associação "Mulher Migrante" tem atendido e ajudado mulheres de outras nacionalidades, em condições semelhantes ás referidas. Por exemplo, uma russa para a qual foi possível encontrar um emprego, que lhe permitiu fugir à situação de exploração.
Agradece as palavras do deputado José Cesário, salientando, também, a qualidade e o entusiasmodos jovens técnicos que com ela trabalharam no MNE.
Frisa, igulmente, a importañcia da cooperaçãoentre governo e ONG's, que, muits vezes, só com essa ajuda podemavançar em projectos de grande valor para a sociedade.
Este "Encontro", por exemplo, só foi possível, com a dimensão que tem, pelo patrocínio da SECP e pelo empenhamento do Dr. António Braga.
No aspecto da colaboração da SECP e da "Mulher Migrante" o precursor foi o Dr. José Cesário, com o apoio que deu a iniciativas realizadas no Rio de Janeiro.

DIAS COSTA
Apresenta-se como um emigrante há 43 anos (tem 53 anos), primeiro na Alemanha, agora na Suiça.
Tem uma longa experiência "de terreno", em casos como os que vêm a ser tratados neste Encontro.
Sem querer dramatizar excessivamente, acha que deve trazer a debate o conhecimento que tem de muitos casos de violência e abuso e crianças, dentro da própria família. Meninas, sobretudo, que são abusadas por pais e irmãos, enquanto as mães, quantas vezes, os desculpabilizam, responsabilizando as vítimas. Há que denunciar estes escândalos.
Em menor grau e com menor significado , e, ao que julga, em diminuição, subsistem fenómenos de exploração do trabalho infantil. E há, nas comunidades, jovens em situações de risco.

AMÉLIA DE AZEVEDO
A moderadora, Drª Amélia de Azevedo, encerrou os trabalhos, dizendo que "é bom aprender em qualquer idade" e que o debate trouxe ao auditório muitos ensinamentos.
Para a antiga deputada da Assembleia Constituinte, foi um "regresso a estes temas", pois esteve presente no 1º Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas, há 25 anos, e, assim, pôde, de novo, "partilhar anseios e sonhos".

Sem comentários:

Enviar um comentário