quarta-feira, 11 de março de 2009

Mensagem do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas

Comemoração do Dia Internacional da Mulher, dedicada às Cidadãs da Diáspora

Exmo. Sr. Presidente da Câmara de Espinho,
Exma. Sra. Presidente da Associação Mulher Migrante,
Exma. Sra. Presidente da Fundação Pro Dignitate,
Exmas. Autoridades presentes, Senhoras e senhores,

Na impossibilidade de estar presente nesta iniciativa a propósito da passagem de mais um dia internacional da mulher, é com grande prazer que me associo a esta celebração voltada às “Cidadãs da Diáspora”, homenagem que hoje constitui também o encerramento de um conjunto de Encontros dedicados à mulher portuguesa migrante que se vem realizando desde o ano de 2005.
Em primeiro lugar, quero cumprimentar as organizadoras dos vários “Encontros para a Cidadania – Igualdade entre Homens e Mulheres nas Comunidades”, ciclo de debate e de reflexão que vê hoje no Encontro de Espinho o seu fim, para de seguida tecer alguns comentários sobre o que foi a grande mudança na sociedade portuguesa nos últimos 50 anos do século XX em claro beneficio da justiça e dos direitos da condição social da mulher portuguesa.
Se é verdade que se verificaram grandes transformações sociais nas últimas décadas no sentido do esbatimento das clivagens entre o Norte e o Sul, o urbano e o rural, também é verdade que estes dualismos espaciais tendem a dar lugar aos dualismos socio-económicos ou a fenómenos de uniformização.
Veja-se, em primeiro lugar, o que aconteceu à população portuguesa. No continente, em 1960, a população era de 8,9 milhões, 8,7 milhões em 1970, 9,8 milhões em 1981, 9,9 milhões de habitantes em 1991 e de 10,3 milhões em 2001. Destes 10,3 milhões de habitantes em 2001, 5 milhões são homens e 5,3 milhões são mulheres.
A taxa de crescimento anual médio passou do valor negativo de -0,33% na década de 60, para 1,35% positivos na década de 70, descendo para 0,03% na década de 80. Repare-se que este crescimento negativo da população, na década de 60, deve-se em grande medida a um período de intenso fluxo emigratório dos portugueses para a Europa, principalmente para a França, fenómeno esse que viria a sofrer um travão na década seguinte onde se assiste pela primeira vez ao fenómeno inverso: entraram em Portugal mais de meio milhão de pessoas provenientes das ex-colónias, as quais foi necessário integrar social e profissionalmente.
Na década de oitenta, o crescimento populacional estagna em consequência do recomeço moderado da emigração - compensada pelo fluxo imigratório - e da acentuação do declínio da natalidade. As mulheres passam a controlar cada vez mais eficazmente a natalidade e fazem-no de uma forma bastante homogénea no espaço continental.
A generalização da vacinação das crianças e a cada vez melhor e maior cobertura sanitária e educativa do país, a melhoria da alimentação e dos cuidados de higiene explicam o que veio a ser a diminuição drástica da taxa de mortalidade infantil, factor que vem compensar em parte os efeitos da saída de portugueses devido à emigração.
É, assim, num curto espaço de tempo que a esperança de vida à nascença aumentou para as mulheres (mais 11,1 anos) e para os homens (mais 9,6 anos), bem como a esperança de vida aos 65 anos (mais 3,3 anos para as mulheres e 1,4 para os homens). Em consequência, a população portuguesa sofreu um envelhecimento nas últimas décadas.
Novas formas de relacionamento entre os sexos surgiram bem como a generalização da entrada das mulheres no mercado de trabalho. O aumento dos níveis de escolarização e a laicização da sociedade são aspectos que podem também justificar a generalização do casamento não católico, o aumento dos divórcios e dos filhos tidos fora do casamento.
No campo do trabalho também se dão grandes evoluções e a distribuição da população activa por sectores de actividade económica altera-se profundamente.
Dos quase 44% de activos existentes no sector primário, em 1960, já só se encontram 12% em 1992. Este decréscimo ocorre com o simultâneo aumento do sector terciário que passa de 28% para 55%, nos mesmos anos. A fuga do sector primário é empreendida principalmente pelos homens mais jovens, facto que explica, por um lado, a feminização do sector. No sector secundário, a percentagem de activos vai aumentando até aos 39% de 1981, mas a tendência inverte-se, a partir daí. Em consonância com a terciarização da economia, dá-se a feminização do sector terciário que absorve os crescentes contingentes de mão-de-obra feminina chegados ao mercado de trabalho.
O número de mulheres com actividade profissional remunerada mais do que duplicou nos últimos trinta anos, de tal modo que Portugal passou a ser um dos países do mundo onde a percentagem de mulheres trabalhadoras é maior, chegando mesmo a estar em maioria em alguns grupos de profissões, como é o caso das profissões mais intelectuais e científicas e de empregadas administrativas, do comércio e dos serviços pessoais. Em contraponto isso ainda não acontece noutras profissões, nomeadamente em cargos de direcção e chefia.
A feminização da população estudantil das universidades (em 1992, as mulheres representavam já 60% dos universitários, enquanto em 1960 não ultrapassavam os 29,5%) e a mais elevada taxa de sucesso das estudantes do sexo feminino apontam para a acentuação do predomínio feminino em profissões exigindo níveis de escolaridade elevados.
O princípio da igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios consagrado na Constituição de 1976, veio posteriormente a ser aplicado na legislação específica sobre o matrimónio, o trabalho e a regulação do poder paternal .
No entanto, sabe-se que as práticas sociais podem antecipar-se às normas jurídicas, segui-las ou adaptar-se-lhes segundo estratégias diversificadas. E, também neste caso, ainda se está longe da uniformização das atitudes, dos comportamentos e dos valores. Mas é um facto que as relações e as representações de género mudaram e estão a mudar na sociedade portuguesa.
Celebrar este dia é pois também a oportunidade para trazer à memória um trajecto intenso de riscos e assinaláveis desigualdades que hoje a Diáspora portuguesa viveu tão ou mais fortemente que o seu próprio país de origem.
É também em prol de um futuro mais solidário entre mulheres e homens, irmanados na mesma causa da dignidade humana que a celebração nos faz caminhar lado a lado.

Espinho 8 de Março de 2009
António Braga
Secretário de Estado das Comunidades



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