domingo, 8 de março de 2009

Drª MARIA ROSA SAMPAIO Em jeito de remate... por agora

O encontro "Cidadãs da Diáspora" excedeu claramente as minhas expectativas. Agradeço à organização, e em particular à dra. Manuela Aguiar, o privilégio que foi ter podido participar. Além da riqueza dos diferentes contributos, a minha "costela" de jornalista e de mulher muito pragmática deixa-me, porém, alguma angústia. Este sentimento relaciona-se com a pergunta que eu fiz no painel em que participei (mas à qual eu própria podia ter respondido). "Porque é que tantos organismos, tantos estudos, tanta informação útil, não são partilhados e são, pelo menos em grande parte, desperdiçados? São desperdiçados esforços, meios humanos e financeiros. Não me conformo.
Perdoem-me, aqui o desperdício não é sinónimo de inutilidade, longe disso, mas de um aproveitamento que fica muito aquém do que seria possível ou desejável. As migrações (com "e" e com "i") são fenómenos sociais incrivelmente actuais, afectam-nos, afectam a vida de todos. Continuará a ser assim.
Falar de emigrantes e de divisas, por si só, é minimalista. Falar de de imigrantes e de ameaça é desvirtuar perigosamente a realidade. São exemplos de pouca inteligência e de preconceito.
Também fiquei convencida de que são assuntos bem estudados e percebi que os resultados desses estudos permitiriam tomar decisões mas acertadas e formar melhores consciências.
A opinião pública está mal informada sobre estes assuntos. Culpa dos media? também, mas não só. Os media são apenas parte da nossa sociedade.
O desafio que deixo aos especialistas, a esta organização e aos participantes, é o de encontrar uma forma de pôr fim ao que parece ser uma inevitabilidade dos portugueses: trabalham cada um para seu lado, não partilham a informação com quem devem e da forma mais adequada, ficam-se pelas pequenas vitórias e pela auto-satisfação. Os políticos também não procurarão essa informação, não sentem necessidade dela para tomar decisões.
Parece-me tudo absurdo e de custos muito elevados.
Claro que, se a solução fosse fácil, já teria sido encontrada, nesta e noutras áreas. Acredito que sim. Mas não sei até quando poderemos continuar a viver desta maneira.
Não sabemos ou não queremos comunicar? Será que há vontade?
Fico também curiosa por conhecer as conclusões que o dr. Jorge Arroteia tão pacientemente teceu. Ele merece um louvor por estar ali, sem arredar pé, a fazer anotações atrás de anotações. Tenho a certeza de que não foi fácil.
Voltando ao encontro, como referi no início, surpreendeu-me pela positiva. Conheci pessoas muito interessantes e, tenho a certeza, algumas vão ficar comigo, quem sabe como amigas até, no futuro. Projectos em comum, troca de experiências e de contactos - com certeza. Só por isso já teria valido a pena ir a Espinho três dias seguidos e passar aí o fim-de-semana.
Também é sempre gratificante assistir ao saudável convívio democrático entre o PS e o PSD na Câmara de Espinho, que me parece franco e sério. Eu também considero que a política é muito mas não é tudo e quando comparada com outros valores é até muito pouco. Conheço muitos infelizes que ainda não perceberam esta evidência. Enfim, é só um desabafo.
Mas nas "Cidadãs da Diáspora" até descobri afinidades com pessoas que não conhecia, em sectores que nada têm a ver com a mulher e com as migrações. Refiro-me ao abraço, caloroso e espontâneo, que recebi da dra. Deolinda Adão, no almoço de hoje, quando mencionei uma associação a que também estou ligada, por paixão. Bem haja dra. - espero revê-la por cá no Verão, quando voltar com os alunos da sua Universidade. conte comigo para o que for necessário.
Foi muito bom ter estado convosco. Parabéns.
Obrigada
Maria Rosa Sampaio

4 comentários:

  1. Este é o primeiro dos comentários críticos (e não esqueçam os leitores que "críticos" não significa antagónicos, pois as críticas tanto podem ser favoráveis como desfavoráveis!) sobre o "Encontro", depois do seu encerramento.
    Muito embora tenha ainda dificuldade em fazer um balanço definitivo, devo dizer que concordo, fundamentalmente, com as opiniões expressas pela Doutora Rosa Sampaio. Também eu, ao longo de dois dias intensos, me deixei arrebatar por muitas comunicações de um enorme valor científico, que aí estiveram ao dispôr de quem quis receber e debater essa informação, ou por intervenções acutilantes e "reveladoras" de quem tem das realidades um "saber de experiência feito".
    E, como ela, e muitos dos participantes, lamento o alheamento do políticos, de decisores, de responsáveis dos "media" que - com algumas excepções, evidentemente, pois tivemos sempre uma participação em qualidade (e grande qualidade!) dessas categorias de cidadãos e, em determinadas fases do programa, até, igualmente, em quantidade (e grande quantidade, quando turmas de finalistas das Escolas Domingos Capela e Larangeira na tarde de 6ª feira acorreram, em peso, ao amfiteatro do Centro Multimeios) - não estiveram lá, porque não se apercebem da importãncia das migrações portuguesas de saída e retorno na nossa sociedade, ou pretendem deliberadamente desvaloriza-la.
    A certa altura, a Doutora Rosa Sampaio, referindo-se à não partilha ou ao desperdício de tanta informação relevante, diz:
    "Os políticos também não procuram essa informação, não sentem necessidade dela para tomar decisões".
    É realmente extraordinário que não sintam!
    Sem conhecer os factos e as situações concretas, é absolutamente impossível tomar decisões ajustadas aos problemas e aos legítimos interesses em presença...
    Fui, em tempos distantes, em quatro governos de curta duração, durante um pouco mais de seis anos, responsável pela área da emigração, no governo da República. E a verdade é que, nos anos 80 - mais exactamente, entre 1980 e 1987 - procurei socorrer-me de todos os estudos, que chegavam ao meu conhecimento, e que, à e época, eram relativamente poucos.
    A colaboração com universidades do país inteiro foi preocupação constante.
    A primeira Mulher a desempenhar um cargo equiparado a director - geral no MNE, que me orgulho de ter nomeado, foi uma "académica", com tese de doutoramento brilhantemente defendida da área da sociologia das migrações:
    a Prof. Doutora Maria Beatriz Rocha Trindade, Presidente do Instituto de Emigração, em 1980. E uma excepcional presidente!

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  2. Gralhas, de que peço desculpa: o anfiteatro com "M" ,por ex.
    E, pior ainda, o ter redigido um longo parágrafo de tal modo, que até parece que incluo os jovens das Escolas na categoria de políticos, decisores, etc. Alguns hão-de ser, mas ainda não são...

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  3. Já não sou política e não respondo pelos que são - muito menos pelos que, no meu próprio quadrante partidário, inverteram a marcha de quantos projectos tinha posto em curso e demoliram, meticulosamente, tudo o que estava construido, sem deixar pedra sobre pedra...
    Entre essas "pedras angulares" :
    o "Fundo Documental e Iconográfico das Comunidades Portuguesas, embrião de um futuro museu da emigração portuguesa;
    O Centro de Estudos, a funcionar no Porto, sob a direcção de um dos membros da "Comissão Científica" deste Encontro, a Prof. Doutora Graça Sousa Guedes - ao qual se ficaram a dever dezenas e dezenas de publicações, muitas delas teses de doutoramento, neste particular domínio...

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  4. De entre essas publicações, feitas entre 1985 e 1986, poderemos mencionar as seguintes:

    FÉLIZ NETO
    "A Migração Portuguesa, Vivida e Representada.
    Contribuição para o Estudo dos Projectos Migratórios"
    (dissertação de doutoramento)

    "Jovens Portugueses em França - Aspectos da sua Adaptação Psico-social"

    JORGE ARROTEIA
    "A Emigração Portuguesa no Grão- Ducado do Luxemburgo"

    "Ensaio Tipológico sobre os Movimentos Migratórios"

    MÁRIO PINTO SIMÕES
    "O Emigrante Português - Processo de Adaptação
    (o Exemplo da Suiça)
    (Tese de doutoramento em Medicina, na Universidade de Zurique)

    VICTOR PEREIRA DA ROSA
    SALVATO TRIGO
    "Portugueses e Moçambicanos no Apartheid"

    GRAÇA SOUSA GUEDES
    "Les Conduites d' Adaptation Motrice Chez les Enfants Scolarisés de Deux ou Trois ans (Enfants Portugais en France et Portugal)

    (Dissertação de doutoramento em Psicologia, na Sorbonne)

    FERNANDO CASTRO BRANDÃO (Diplomata, historiador)
    "Portugal e as Regências de Argel, Tunes e Tripoli"

    FERNANDO ASSUNÇÃO (Professor da Universidade de Montevideo, historiador)
    "Etopeya y Tragédia de Manuel Lobo"

    F G CASSOLA RIBEIRO (antigo Director Geral da Emigração)
    "Emigração Portuguesa - Regulamentação Emigratória: do Liberalismoao fim da segunda Guerra Mundial. Contribuição para o seu Estudo"

    (em outros volumes, são estudados os períodos seguintes).

    "Sinais Exteriores de Riqueza"
    (livro de "memórias" dos seus tempos de actividade como Inspector da Emigração, escrito num português digno de figurar em antologias - uma edição esgotada, a merecer reedição).

    MANUEL DIAS
    "Emigração Histórias para a História"

    PAULA MASCARUCCI
    "Monografia sobre el Periodico ECOS DE PORTUGAL

    TÂNIA PENIDO MONTEIRO
    "Portugueses na Bahia na Segunda Metade do Século XIX Emigração e Comércio"

    DONALD WARRIN
    EDUARDO MAYONNE DIAS
    "Cem Anos de Poesia Portuguesa na Califórnia"

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