NA NOSSA MEMÓRIA MANUELA DA LUZ
CHAPLIN
- MARIA
JOÃO ÁVILA
Conheci a nossa Manuela
durante mais de 30 anos!
Eu
ainda muito nova e ela já com a sabedoria que a vida nos ensina, foi para mim
como para muitas outras mulheres portuguesas residentes nos Estados
Unidos, grande motivo de inspiração.
Sempre
disponível para ajudar, muito aberta ao diálogo e partilha de ideias, com ela
nasceu a Mulher Migrante na América, a Associação Real de New Jersey e
Pennsylvania e foi durante muitos anos a face visível da liderança do
Partido Social-democrata – USA (PSD/USA).
Com
uma garra invejável à causa pública, recordo com saudade a sua enorme generosidade para
com quem mais necessitava. Os mais vulneráveis das nossas comunidades sempre
puderam contar com o seu empenho por encontrar soluções para suavizar a
vida destes nossos compatriotas.
Foi
uma guerreira até ao fim pela justiça, pela igualdade entre iguais e conseguiu
graças à sua liderança ímpar, reunir em
torno dos mesmos objetivos milhares de portuguesas e portugueses.
Quero
com saudade lembrar o muito que ela nos deu sem pedir nada em troca, a
sua inteligente forma de estar na vida, foi um dos seus maiores bens que
deixou na vida terrena.
Das
artes e cultura, à solidariedade, passando pela política, a Manuela
sempre exigiu mais de si mesma do que as grandes causas lhe pediam.
Mas
por trás desta grande Mulher sempre esteve um grande Homem, não posso
esquecer-me de Charles Chaplin, o marido amigo, companheiro inseparável, que em
todos os momentos da vida sempre esteve disponível e contribuiu para a
grandeza de Manuela da Luz Chaplin.
Homenageando
esta grande portuguesa, gostava de partilhar a alegria com que ficou quando fui
eleita em 2011 deputada na Assembleia da República, a primeira mulher emigrante
a ocupar um lugar eleito pelo círculo da Emigração fora da Europa.
Bem
haja querida Manuela, ficará para sempre nas minhas memorias, uma mulher
com força divina vinda do céu.
Maria
João de Ávila
Deputada
PSD-Fora da Europa
- GLÓRIA DE MELO
Querida Manuela
Chaplin:
A última vez que
falámos foi uma semana antes da Manuela partir para outra dimensão, a propósito
da morte de sua irmã Amália Costa.
Nesse dia a
Manuela, com a energia e determinação que a caracterizavam, enviou a notícia
para os órgãos de comunicação social, e para os amigos mais próximos. Perguntei-lhe
como é que estava, e disse-me que estava óptima, à excepção de artrite nas
pernas. «Mas de resto estou óptima Glorinha !». E passado uma semana
prega-nos esta partida!
Partiu, mas ficou
aqui, e no coração de muitos de nós!
Quando cheguei
aos EUA, vinda do Canadá, foi a Manuela Chaplin que me familiarizou com a
maior parte das Associações Portuguesas de New Jersey. Nessa altura a Manuela
estava à frente da Portuguese Heritage Foundation, do Heritage Ball, e fazia
frequentes colóquios e tertúlias para divulgar a Língua Portuguesa. Mais tarde
dedicou-se especialmente a duas organizações, que dirigiu brilhantemente aqui
nos USA: « A Associação Real de New Jersey » e a «Associação das
Mulheres Migrantes USA ».
Havia contactos
frequentes com SAR Dom Duarte, mas o objectivo principal da Associação Real de
N.J. era , e é o de divulgar a História e Cultura de Portugal nestas paragens,
bem como a arte de « Ser Português». E ensinar o que é ser patriota , e o que é
a Pátria.
Mensalmente
tínhamos uma reunião na Associação Cultural de Kearny, N.J., onde planeávamos
concursos literários, eventos culturais e a Gala Anual. A Manuela era uma
força da Natureza, forte, dinâmica, determinada, e irreverente, mas com um
sentido de humor extraordinário e uma inteligência fora do comum.
Esteve também à
frente do PSD. Mas eu não fiz parte desse núcleo.
Quando a Manuela
decidiu ir viver para o sul de New Jersey e sobretudo depois da morte do
marido, o saudoso Charles Chaplin, a Manuela pediu-me que ficasse à frente dos
destinos dessas duas organizações . Eu que já estava super ocupada
com outros voluntariados ainda tentei dizer que não podia. Mas
graças à sua argumentação, não consegui dizer que não.
Mas continuou a
ser a minha mentora, e não raramente a consultava, a pedir--lhe conselhos, e
orientação. Agora, na sua ausência, para tomar algumas decisões
nesta área, penso sempre ...«Como é que a Manuela Chaplin decidiria?». E
resulta!
Nesta época de
Natal a Manuela organizava sempre um almoço especial na Associação de Kearny, e
levava um presente para cada um de nós, e faziamos um tertúlia poética, que
acabava sempre com o nosso grupo a entoar canções de Natal, e leitura de poemas
que tivéssemos levado.
Além do livro que
a Manuela Chaplin escreveu acerca das «Mulheres Migrantes» e que guardo
na estante junto aos meus autores favoritos, todas as noites rezo pela Manuela
e peço-lhe me inspire e me dê a força a determinação e a
valentia que a caracterizavam.
Creio que pessoas
como a Manuela Chaplin estão em vias de extinção, neste mundo de comprometidos.
I
will always Love you Manuela Chaplin!
Sincerely Yours, beijos
mil
Gloria Melo
- NELSON VIRIATO BARRETO
-MANUEL VIEGAS (MANNY)
- NELSON VIRIATO BARRETO
Em 1981 conheci o casal Chaplin.. e em 1983 fomos escolhidos para estar no primeiro congresso das comunidades portuguesas..realizado no hotel Penta na cidade de Lisboa... a nossa amizade fortificou-se. Depois ambos trabalhámos juntos na Royal Association e no PSD USA..
Durante todos estes anos sempre nela vi uma mulher guerreira... uma boa conselheira.. e de amizade sincera... quem como eu com ela conviveu, sabe que nela tínhamos amiga que se entregava de alma e coração as causas pelas quais acreditava. e a Portugal.. { é a portuguesa aqui nos Estados Unidos, que mais admirei]
Paz a sua alma..
-MANUEL VIEGAS (MANNY)
A Manuela foi uma das pessoas mais ilustre neste estado de new jersey .Foi uma lutadora para a comunidade portuguesa e não só era respeitada na sociedade americana. Fui companheiro de luta desta senhora juntamente com o marido o Charles conduzia todas as semanas para diferentes meetings aonde eu sempre presente. Heritage fondation uma organizacao de 148 nacionalidades aonde ela me lançou e eu cheguei a ser vice presidente depois presidente e fui também o primeiro português a ser o homem do ano fundei o PSD-USA depois mais tarde a Manuela veio. Depois outros presidentes acabaram com o PSD e ela e eu reavivamos o partido, aonde ela ficou na
na assembleia geral e eu presidente da direcção. Fundámos a Real Associacao de New Jersey, o Portuguese American Congress.
Esta Senhora ajudou centenas de pessoas era advogada sempre com uma dinâmica de bem fazer ela foi mentora de muita gente hoje em boas posições.
Já depois dos 80 anos com o seu marido que já não podia conduzir, ela pedia me para eu ir busca -la a casa, pois ela tinha gosto de as coisas não morressem e eu la ia busca -la a casa, ida e volta eu conduzia 325 quilometros. Ela queria pagar pela gasolina, mas nunca aceitei, pelo sacrifício que esta grande mulher fez para manter esta comunidade viva. Cada reunião era um convívio, todas as festas natalícias sempre carregada de presentes para os amigos.
Quando eu lhe disse que me ia reformar e viver na Florida ela disse-me que perdeu um filho que nunca teve, mas sempre contatei com ela, todas as semanas trocávamos ideias. Fui a única pessoa que tive coragem de juntar um grupo de pessoas que ela ajudou e conviveu a fazer-lhe um jantar de homenagem, que ficou gravado no meu coração, ver esta senhora feliz por todo o seu esforço pela comunidade. Paz à sua alma.
Manny Viegas
MENSAGENS da "Mulher Migrante" Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade
Cerimónia fúnebre em memória de Manuela Chaplin
EUA, 25 de Julho de 2014
Cerimónia fúnebre em memória de Manuela Chaplin
EUA, 25 de Julho de 2014
Manuela Chaplin continuará bem viva nas nossas recordações,
como uma Mulher excepcional, cuja
superior inteligência e infinita energia foram
sempre postas ao serviço dos outros, da comunidade, dos dois países a que pertencia pelo afecto,
Portugal e os EUA. Na verdade, ela faz parte da História da emigração
portuguesa e da imigração americana.
Da História com letra grande.
Na sua luta incessante pela justiça, pela igualdade, os migrantes,
as mulheres, os mais marginalizados da
sociedade, puderam sempre contar com
Ela!
Advogada, escritora, jornalista, militante de causas, política, pioneira no associativismo luso-americano,
sobressaindo. como líder, num mundo
quase exclusivamente masculino, encarnava a própria ideia de Mulher-Cidadã, tendo a seu lado o grande
aliado que foi, ao longo de tantos anos, o seu marido, Charles Chaplin.
Os dois unidos na vida e, agora, na nossa memória
Os dois unidos na vida e, agora, na nossa memória
MARIA MANUELA AGUIAR
Presidente da Assembleia Geral da " Mulher Migrante"
Presidente da Assembleia Geral da " Mulher Migrante"
Recordar a nossa muito querida Amiga e
Associada, Doutora Manuela Da Luz Chaplin, mereceria referências pormenorizadas,
onde coubessem na íntegra as suas excecionais qualidades humanas e
intelectuais, na dupla perspetiva de cidadã portuguesa e de cidadã residente
nos EUA, mas, não vou alongar-me.
Limitar-me-ei a referir alguns aspetos.
Saliento, por exemplo, o seu empenhamento
e dedicação pelas mais carecidas e pelos mais carecidos, em que se inclui,
desde já, o seu dinamismo e empenhamento pela “causa das Mulheres”, muito especialmente
no que respeita às “Mulheres Migrantes”, qualquer que fosse a sua origem.
Não podemos esquecer ainda, o tempo da sua vida dedicado à área da
“política” e o trabalho que desenvolveu, sempre com o objetivo de conseguir
mais e melhores condições para os seus concidadãos, em Portugal e no seu País
de adoção.
Criou, no nosso País e nos EUA um considerável Grupo de Amigas e
de Amigos, algumas delas e alguns deles destacadas figuras da política e também
intelectuais, bem como eminentes personalidades de outras áreas do saber, do
conhecimento em geral, da cultura e das artes.
Deixou gratas e inesquecíveis recordações e saudade, que será
eterna.
Manteve sempre com todas e com todos uma
ligação solidária, fraterna e
generosa, o que só uma Mulher inteligente
e culta sabe fazer...
Desde 8 de Outubro de 1993, data da
constituição da «Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade», recebemos da Dra Manuela Da Luz Chaplin contatos vários,
interessando-se sempre pelas nossas atividades e também pelo nosso envolvimento
nas diversas
Iniciativas que organizámos.
Vinha várias vezes a Portugal, acompanhada
pelo seu marido Sir. Charles Chaplin (um português do coração), como dizia a
Dra Manuela Aguiar.
Procurava- nos, então, na Secretaria de Estado da Emigração, hoje
das Comunidades Portuguesas, sobre trabalhos que pretendia concretizar em favor
da comunidade portuguesa nos EUA, entre outros.
Acompanhou-nos em Portugal, em alguns dos Encontros, organizados pela
Associação de Estudo Mulher Migrante, por exemplo:- em 1995 – 18 a 22 de Março
de - no «Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo»,
realizado em Espinho e no dia 22 em Lisboa, em que Manuela Chaplin teve larga
participação; - em 2004 – 26 a 27 de Novembro, em Lisboa «Encontro de Mulheres Migrantes
das diversas Gerações - Conhecer/Participar- nas Sociedades de Origem e de
Acolhimento». Neste Encontro participou também a filha e nossa Associada,
Doutora Annabella Costa Larsen, além de Glória de Melo. Mais tarde, em 2006 - 8
a 11 de Junho – Manuela Chaplin, organiza em Newark – EUA, o Seminário
«Presença da Mulher nas Comunidades Portuguesas da América do Norte». Da
organização fizeram parte diversas Entidades dos EUA e também de Portugal.,
como por exemplo: a Fundação Bernardino Coutinho, a Real Associação de New
Jersey o Comendador José João Morais, a Secretaria de Estado das Comunidades
Portuguesas, a FLAD, o Núcleo dos EUA, da Associação Mulher
Migrante...
A anfitriã, deste Seminário foi a nossa
Associada Maria Coutinho.
E, com esta Iniciativa participámos pela
1a vez nas “Famosas Festas”, em Newark, do “Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas”
Foi-nos então, proporcionado um Carro Alegórico à Associação, o
que permitiu integrarmo-nos, com esse carro, na Grande Parada.
Sobre esta Iniciativa existe uma Publicação da Associação,
coordenada pela Dra Manuela Aguiar, com o aludido carro, na capa, com fotos de participantes,
onde, entre outras, temos a foto de Manuela Chaplin -recordação excelente!
Foi Associada Fundadora, Efetiva e Honorária, da AEMM. Criou o
“Núcleo da Associação Mulher Migrante” nos EUA, por ela presidido durante largos
anos, até que, por sua decisão, deixou o cargo. Foi também Vice- Presidente da
Associação, integrada nos Órgãos Sociais, em Portugal, em representação dos
EUA.
Grande Senhora, que será sempre considerada entre as Mulheres Portuguesas
e as de outras origens, bem como pela «Mulher Migrante– Associação de Estudo,
Cooperação e Solidariedade», um símbolo de generosidade , coragem e virtude
pelas Iniciativas em que se envolveu e pelo apoio proporcionado.
Com grande mágoa, amizade e muita saudade, aqui deixo estas
simples linhas....
RITA GOMES
Presidente da Direcção da" Mulher Migrante""
VASCO CALLISTO
VASCO CALLISTO
Dois breves encontros com a Drª.Manuela da Luz Chaplin –
Que extraordinário portuguesismo encontrei na Drª.Manuela da Luz Chaplin, em Newark, em 1993! Uma senhora que transbordava simpatia, uma simpatia luso-americana deveras cativante, logo à primeira impressão. Lamento, sinceramente, a sua partida. Como lamento que o meu contacto com tão destacado elemento da Comunidade Portuguesa nos Estados Unidos não tenha ido além de dois breves encontros
Quando da preparação da minha terceira viagem à América, no Verão de 1993, a Drª.Manuela da Luz Chaplin, por intermédio de um amigo comum, Vasco Marques, do Banco Português do Atlântico, manifestara o desejo de se encontrar comigo. Porquê? Porque, semanas antes, publicara no "Correio da Manhã" um artigo sob o título "Mulheres Portuguesas na América", baseado num livro de sua autoria. Durante um jantar festivo, logo após o desembarque, minha mulher e eu, envolvidos numa grande festa portuguesa, convivemos fraternalmente com a Drª.Manuela da Luz Chaplin e com seu marido Charles. Sobre este encontro, incluí um breve apontamento no meu livro "Portugal na Costa Leste dos Estados Unidos". E mais tarde, durante uma vinda da Drª.Manuela da Luz Chaplin a Lisboa, verificou-se um novo e agradável contacto, numa pastelaria da Baixa.
Desapareceu agora, sem dúvida, uma mulher portuguesa, de Lisboa, que serviu Portugal na América
Vasco Callixto
MARIA MANUELA AGUIAR
Conheci Manuela da Luz
Chaplin em 1980, na minha primeira visita oficial às comunidades portuguesas da América
do Norte. Com o seu cabelo
revolto, os olhos muito azuis, uma bela voz forte, que se fazia ouvir em discurso assertivo,
reivindicativo, ousado... Recordo-a claramente, a única voz feminina entre as dos
homens, que eram, então, o
rosto invariável de dirigismo associativo... Uma mulher para se impor, nessa época, em
comunidades da emigração conservadoras e fechadas, precisava de ter qualidades
excepcionais, antes de mais, tinha
de ter coragem e tinha de ter razão - a primeira, era a condição
prévia para tomar a palavra,
a segunda
imprescindível para ser ouvida e respeitada.
As questões que colocava, com
sinceridade e veemência, pedindo respostas, eram as dos seus concidadãos, as das
mulheres, as dos mais marginalizados.
Não eram preocupações consigo, eram causas! Até no vestir, sempre à vontade, descontraída e
simples, se revelava como
alguém para quem o "social" queria dizer solidariedade e não convívio elitista.
Logo nesses momentos iniciais em que a escutei
as suas
críticas pertinentes às "políticas de indiferença" dos governos de Portugal para com os
emigrantes da América, incluía-a em uma de duas categorias de militantes que sempre me
foram particularmente simpáticos
-sindicalistas e missionários! Só depois vim a saber que, órfã de pai, desde os 3 meses
de idade, viveu os seus anos de infância em Moçambique, numa missão protestante, onde a
mãe era professora de português.
Manuela da Luz veio estudar
para Lisboa. Na Lisboa salazarista, revoltou-se contra a mesquinhes e a misoginia
da ditadura, a situação opressiva
de submissão da mulher. A palavra submissão feminina não existia no código de conduta
daquela jovem inteligente e radical. Foi a revolta que e levou para a América, em 1948.
Aí encontrou o que procurava:
liberdade! Liberdade de pensamento, liberdade de expressão, liberdade de lutar pelas sua
ideias, liberdade para “libertar”outras mulheres da passividade e da subjugação,
liberdade para fazer dos imigrantes
portugueses, mulheres e homens, cidadãos da América. Uma cruzada para o resto da sua
vida! Muitos
anos mais tarde, haveria de escolher para a capa do um livro
seu, sobre as portuguesas dos
EUA, a estátua feminina da Liberdade, de Ellis Island - porta de entrada no” novo
mundo” para tantos milhões de
mulheres e homens…
Manuela foi ela própria uma
emigrante/imigrante exemplar – porque nunca deixou de ser apaixonadamente portuguesa
e tornou-se não menos apaixonadamente
americana.
Soube integrar-se plenamente
na vida do novo país, na sua vida política, social e cultural e sempre quis
ajudar os outros portugueses a
alcançarem a mesma alegria e orgulho por serem luso-americanos. Foi precisamente nesse
segmento em expansão do “luso americanismo” que se centrou a sua acção, com especial enfoque
nas mulheres.
Manuela da Luz Chaplin foi,
como não podia deixar de ser, pela proeminência do seu curriculum comunitário, uma
das emigrantes convidadas,
em 1985, para o 1º Encontro das Mulheres Portuguesas no Associativismo e no
Jornalismo – onde entre tantas notáveis, se destacou, em múltiplas intervenções.
Citar algumas das suas
declarações, recolhidas nas actas do "Encontro" é uma forma de a ter, entre
nós, nestas jornadas de reflexão sobre o 25 de Abril, sobre a projecção qu a revolução
teve, concretamente, nos
EUA, nas nossas comunidades, na participação feminina. Embora não fale de si, adivinha-se o
entusiasmo com que acompanhou o renascimento da democracia em Portugal, assim como a sua
contribuição pessoal para repercutir
o eco da revolução de Abril entre os portugueses, do outro lado do Atlântico:
“Após o 25 de Abril, a mulher
portuguesa nos EUA demonstrou uma rápida transformação no conceito social e na
realização dos seus direitos humanos,
devido à influência de elementos femininos mais evoluídos”
Também sobre um dos temas que
a AEMM trouxe ao debate neste ano de 2014, as migrações de retorno de Angola e
Moçambique, se pronunciou.Vamos ouvi-la, à distância de quase 30 anos, elogiar
a nova vaga de emigração
dos anos 70, com uma componente de retornados de África, e, genericamente, mais urbana,
mais qualificada, integrando muitas mulheres “cuja bagagem intelectual e profissional
lhes proporcionou acesso
a campos de acção até aí raramente tocados por mulheres portuguesas emigradas nos
EUA. A este novo elemento juntam-se jovens de 1ª e 2ª geração, que no país acolhedor
obtiveram um nível de cultura
e de preparação que as eleva a
posições de destaque e influência…”
Mas logo acrescenta: “…o
homem português continua relutante a adaptar-se a esta evolução e ao reconhecimento
da igualdade da mulher”.
“Raras vezes a mulher é convidada a participar na direcção e na administração das
associações. (…) Todavia, muitas organizações Luso americanas têm no seu elenco
directivo, presidentes e outros elementos directivos femininos. Nos últimos 10 anos,
várias associações não só são
dirigidas, como foram fundadas por elas.
Do curriculum abreviado de
Manuela Chaplin, inserido na publicação do Encontro Mundial de 1985 consta que é
licenciada em Direito e em Jornalismo
e membro das seguintes organizações:
- Fundadora e directora
executiva do Centro de Cultura Portuguesa de New Jersey
-Presidente e fundadora da
Associação Luso-Americana Republicana de New Jersey
-
Presidente da Federação das Associações Luso-Americanas Republicanas da Costa Leste
-Directora e fundadora da
Congresso Luso_Americano de New Jersey
-Secretária
Executiva dos Grupos Étnicos de New Jersey
-Presidente
da Área Regional da Costa Leste da Associação Nacional dos Grupos Étnicos Republicanos
dos EUA
É já um impressionante elenco
da sua multifacetada intervenção cívica, da sua liderança não só na comunidade
portuguesa, e nos outros grupos
étnicos que formam o imenso mosaico multicultural do país,
mas também na
política americana, como activa militante do Partido Republicano.
Esta intransigente opositora
da ditadura portuguesa era republicana e monárquica, tendo fundado e presidido, a partir
da década de 90, à Real
Associação de NJ. E a política portuguesa também a atraía - foi a primeira mulher presidente do
núcleo do PSD dos EUA.
Uma mulher, lutando pelos
direitos de cidadania, em associações mistas, em organizações políticas, sem nunca
esquecer as mulheres. (o papel
fundamental que, posteriormente, viria a ter na Associação Mulher Migrante é referido, detalhadamente, no
testemunho de Rita Gomes).
Às mulheres dedicou, em 1989,
um livro extraordinário em que retrata muitas emigrantes e no qual deixa, também, um
retrato de si própria, dos
seus valores e interesses humanistas, que gostaria de destacar neste breve depoimento O
título, na versão portuguesa, é “Retalhos de
Portugal dispersos pelos
Estados Unidos da América.
Mulheres Migrantes de Descendência Portuguesa. (Na versão inglesa, "Scattered fragments of Portugal in the United States of
America
- Women of Portuguese Descent).
São
30 narrativas de vida, escritas com brilho e com uma intenção clara de desvendar, a partir
de casos individuais, a história feminina da emigração portuguesa na América, em
diferentes épocas e contextos –
a parte mais desconhecida, mais subvalorizada da presença
portuguesa.
São relatos verdadeiros,
singulares, fascinantes… Para muitas portuguesas, a emigração foi uma oportunidade
de se transcenderem, de tomarem
em mãos o seu destino, para outras teve o sabor da adversidade…A sorte e o azar,
o mérito de saber lutar ou a falência de não poder resistir… A atracção do novo, a
americanização, ou a resistência
cultural e afectiva à perda da identidade. As segundas gerações, para as quais
Portugal é uma realidade remota - ou não...
É tudo real, mas lê-se como
um romance, feito de muitos capítulos. A visão da própria Manuela não pretende ser
necessariamente neutra. Os factos
estão lá, objectivos, precisos, mas sente-se, muitas vezes, a empatia e compreensão da
autora e pelas pessoas e pelas suas circunstâncias.…
Manuela Chaplin pertence,
igualmente, à história que começa nestes fragmentos de Portugal, nestas múltiplas
experiências de América – e a
sua própria trajectória bem merece ser escrita por alguém que
tenha oseu talento e intuição.
Na nota “Sobre a Autora”, que
prefacia o livro, Maria Fernanda Alves Morais diz-nos: “ao longo dos anos em que me
tem sido dado o privilégio
da sua amizade, encontrei sempre a sua casa acolhedoramente aberta a quantos, oriundos de
Portugal, procuram o seu auxílio ou o seu conselho. Dias úteis ou
feriados…pacientemente a sua hospitalidade e solicitude nunca falham. Daí a alcunha que
carinhosamente lhe deu seu
marido, Charles Chaplin, de “Nossa Senhora dos Portugueses”
Assim era a mais americana
das portuguesas, a mais portuguesa das americanas. Manuela Chaplin, Mulher de
Abril, antes e depois desse 25 Abril, que agora comemoramos, homenageando-a,
saudosamente...
GRAÇA GUEDES
In memorium a MANUELA CHAPLIN
Também conheci a Dra. Manuela da Luz
Chaplin na década de oitenta do século passado e mais precisamente em 1985, no
célebre Encontro de Viana (1º Encontro de Portuguesas Migrantes no
Associativismo e no Jornalismo), considerado o marco histórico que fez desencadear
todo um caminho que a Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher
Migrante (AECSMM) tem sido percorrido até aos dias de hoje.
E, neste caminho, a Manuela Chaplin esteve sempre connosco e com
ela partilhei momentos inolvidáveis, muitos dos quais já assinalados pela Dra.
Manuela Aguiar e pela Dra. Rita Gomes, pelo que humildemente faço minhas as
suas palavras, associando-me assim a esta justa e sentida homenagem.
Recordo-me bem daquele momento em Viana, quando nos fala acerca da
mulher migrante portuguesa nos EUA, explicando a condição social, a integração
no meio de acolhimento e os fatores de influência, na sua adaptação e evolução
das mulheres portuguesas nos EUA, afirma a concluir: “Tendo assim em conta a
situação presente, a intensificação do papel da mulher portuguesa… será no
futuro um incentivo, um desafio e um poder extraordinário a exercer no progresso
e melhoramento das condições sociais da família, das comunidades portuguesas espalhadas
pelo mundo, de Portugal e de toda a Humanidade” (in Atas do 1º Encontro Portuguesas
Migrantes no Associativismo e no Jornalismo, Edição Centro de Estudos da Secretaria
de Estado das Comunidades Portuguesas, 1986).
E a Manuela Chaplin foi a prova real desta sua antevisão.
Nunca faltou aos Encontros Mundiais que
organizamos em Espinho (Gerações em Diálogo, 1995 e Cidadãs da Diáspora, 2009),
com intervenções brilhantes, tais como em 1995, desenvolvendo o tema A Mulher
como Influência Comunitária Aposta na Juventude, assim nos transmitiu: “ A
mulher portuguesa na América, há muito que assumiu o papel diretivo em várias
associações, algumas das quais como nas associações de beneficência da Califórnia,
constam de milhares de afiliados. É porém ainda como senhora auxiliar, que a
sua atividade se regista em grande parte do movimento associativo, mister que
em muitos casos aceita com dignidade e orgulho. A Mulher mais moderna, ou de
gerações mais jovens, exige uma participação mais igualitária, que vai a pouco
e pouco e subtilmente, conquistando”. E acrescenta, “Quem, como eu, tem
acompanhado e está totalmente familiarizada com as nossas comunidades radicadas
fora de Portugal, particularmente nos EUA, não pode deixar de admirar e prestar
homenagem às nossas gentes, que em terras ignotas tanto edificaram. Essa admiração,
porém, é maior ainda, quando constatamos o extraordinário trabalho da mulher luso-descendente,
que tanto tem edificado, contra tantos obstáculos e descriminação. Assim é a
massa portuguesa que emigra. Assim é a dedicação e coragem da mulher portuguesa
migrante” (In Atas Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em
Diálogo, Edição AECSMM, 1995).
Estive pela última vez com a Manuela Chaplin em 2006, no Seminário
que organizou em Newark, na qualidade de representante nos EUA da Associação
Mulher Migrante e intitulado Presença da Mulher nas Comunidades Portuguesas da
América do Norte , integrado nas comemorações do Dia de Portugal que anualmente
a Fundação Bernardino Coutinho organizam.
Despedimo-nos com um até sempre, depois de termos desfilado na
Grande Parada do Dia de Portugal ao longo das ruas de Newark no carro alegórico
da Mulher Migrante, no meio de uma multidão que sorridentemente nos aplaudia,
festejando Portugal e os portugueses.
Até sempre, Manuela Chaplin.
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