quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

À MEMÓRIA DE CARLOS CORREIA

Victor GIL
O seu desaparecimento há alguns meses do nosso convívio não fez desaparecer, nem sequer ateneou, com a sua sua inesperada morte, os profundos laços de amizade que para sempre nos passaram a unir, nem a saudade que a todos nos deixou, todos nós que o conhecíamos neste meio da emigração e das comunidades portuguesas.
O meu conhecimento do Carlos data de 23 de janeiro de 1973, dia em que, pelo meio da tarde, na mesma cerimónia pública, os dois tomámos posse como técnicos de 2.ª classe, no então Secretariado Nacional da Emigração. A partir de então, os nossos caminhos entrelaçaram-se como os ramos de uma planta cuidadosamente mantida pela seiva que brotava do ambiente de amizade, entreajuda, respeito e estima que sempre encontrámos nas nossas famílias e nos nossos colegas de trabalho. Quanto gostaria de aqui recordar, porque sei que esse seria também o gosto do Carlos, a amizade, a colaboração e o apoio que todos deles recebemos e que tanto nos ajudou na nossa espinhosa missão de servir as comunidades portuguesas ao longo de perto de quarenta e dois anos!
Como nos ensina Alberoni, um sociólogo italiano, a amizade é uma filigrana de encontros e cada encontro é uma prova, sujeita a riscos e mesmo a crises. Se assim é, Voltaire sublinha todavia que “A amizade é um encontro tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Digo “sensíveis” porque um monge, um solitário, pode ser uma pessoa de bem e viver sem conhecer a amizade. Digo “virtuosas” porque os maus têm apenas cúmplices, os divertidos companheiros de paródias, os cúpidos sócios, os políticos juntam em seu redor os partidários, os que se metem na vida dos outros têm relações, os príncipes cortesãos; mas apenas os homens virtuosos têm amigos”.
A filigrana tecida pelos nossos encontros ficou incompleta mas, apesar de inacabada, continua como as capelas imperfeitas, nem por isso menos admiradas, a ser o testemunho do nosso trabalho e do empenho de toda uma geração em servir a emigração e as comunidades portuguesas. A amizade, essa depende de continuarmos a sermos sensíveis e virtuosos. A exemplo do Carlos Correia.
Com um abraço amigo,
Victor Gil

Bento COELHO

Conhecemo-nos há mais de 40 anos. Vivia-se uma época de grande  euforia, provocada pela libertação do país das amarras que nos  tolhiam o movimento e o pensamento desde a nossa infância. Eram  tempos com liberdade, democracia, igualdade, fraternidade,  solidariedade, amor, amizade. Esta reganhava  uma nova dimensão.
Era preciso saber construí-la e preservá-la.Calcorreámos, desde então, os caminhos da vida com enorme
frenesim, rapidez, confiança, mais libertos, mas também mais responsáveis.
Fomos cúmplices em múltiplas situações, cimentámos a nossa amizade, no emprego, no quotidiano, aprofundámos o conhecimento mútuo, no  mesmo prédio, fomos vizinhos/amigos, colegas de profissão e
defensores dos mesmos interesses e direitos humanos. Tivemos uma  paixão comum, que iria traçar o rumo das nossas vidas e, em  determinadas ocasiões, afastar-nos geograficamente. As migrações também serviram de pretexto para aprofundar todos aqueles valores  sublinhados e enfatizados. Dedicámos quase toda a nossa vida profissional, o nosso saber, os conhecimentos, o esforço, a dedicação, à defesa das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo fora.
Em boa verdade, fomos frequentemente Embaixadores de Portugal junto dos portugueses que no estrangeiro precisavam de estímulos, de apoio,de esclarecimentos de alguém que vinha do seu país.
Participámos em muitas acções, trabalhos, diligências - às vezes mal compreendidos pelos interlocutores - em benefício dos interesses e direitos dos nossos compatriotas. No final, concluíamos sempre que tinha valido a pena a nossa labuta, o nosso crer, a nossa dedicação.
E é por recordar tudo isto que penso que aquilo  que conseguimos alcançar, despretensiosamente na vida, não constituiu um mero acaso, ou favorecimento. No que a ti diz respeito, posso garantir-te, fez-se justiça.
Claro, amigo, tivemos que lidar com pequenas divergências, defendemos, por vezes, pontos de vista diferentes, mas quando nos encontrávamos cá ou em qualquer parte do mundo, tínhamos a certeza que a nossa amizade perdurava e saía sempre mais fortalecida.
E é por tudo isto que, bem compreendes, me seja muito difícil redigir, tal como amigos comuns me pediram, um texto de homenagem a ti.
Sempre conseguimos transmitir um ao outro  tudo o que era oportuno e julgo que tal continuará a acontecer.
Pela minha parte só te posso prometer que tentarei, do lado de cá, prosseguir o rumo que traçámos, defender tudo aquilo em que acreditávamos, fazer florescer as sementes que lançaste à terra. Estou certo que farás o mesmo, do lado de lá, no local que encontraste para descansar de todas as amarguras, esforços, trabalhos, dedicação, amor ao próximo, que sempre alimentaste. Estou também convicto que desejarás que continuemos a falar de ti e contigo como sempre o fizemos, sem alterar o tom de voz, que continuemos a rir das situações mais divertidas que vivemos (e se aconteceram...).
Afinal, a vida tem que continuar. Aquilo que nos unia mantém-se. Nós não estamos longe. Estamos perto no pensamento, embora, por enquanto, de lados diferentes da vida.
Por isso, não te quero  incomodar mais com palavreado inútil, porque nunca conseguiria transmitir tudo aquilo que tu bem merecias, amigo.
Carlos,descansa em paz e até já!..

MARIA DO CÉU CUNHA REGO
Recordar o Carlos Correia, colega e amigo da juventude e da idade madura, é lembrar um homem sério, bom, sensível, conciliador e generoso, que profissionalmente, como economista e dirigente da Administração Pública, viveu ao serviço dos assuntos da emigração e das comunidades portuguesas. Mas é também recordar o jovem pai atento, o marido e o filho sempre comoventemente preocupado com a família e os equilíbrios entre o tempo que considerava dever-lhe e o que circunstâncias diversas da carreira cada vez mais lhe exigiam...
Dessa geração de gente entusiasta que, com o seu trabalho, acreditava poder ajudar a manter ou reforçar laços entre portugueses e compensar a dupla exclusão de quem saiu do País onde nasceu e ainda não "pertencia" a qualquer outro, foi ele o primeiro a partir. Nenhum, nenhuma de nós queria acreditar. E entre o muito que ficamos a dever ao Carlos - em conhecimento, em disponibilidade, em gentileza - o seu legado é também o da nossa finitude.
Maria do Céu Cunha Rego

Rita GOMES

Recordar o colega e grande Amigo Carlos Correia, enaltecer as suas excecionais qualidades como homem, sereno e sempre diligente, procurando corresponder com amizade e compreensão às solicitações que lhe eram apresentadas, independente de credos e de ideologias, mereceria uma mais profunda apreciação da sua personalidade, mas neste momento referirei apenas algumas questões relativas à excelente convivência que tivemos durante largos anos.
Um dia da minha vida, após uns anos de trabalho para as migrações e depois na área económica, decidi regressar à Emigração, concretamente ao Secretariado Nacional da Emigração, criado em 1970 e reestruturado em Janeiro de 1972. Passou, então a existir entre vários Serviços, o Gabinete de Estudos e Relações Públicas.
Fui, então, admitida como técnica para esse Gabinete e comigo alguns Jovens licenciados, em direito, economia e sociologia, entre eles nessa primeira fase, o Carlos Correia, o Bento Coelho, o Victor Gil, o Vasco Rodrigues da Silva e o Henrique Pietra Torres, tinham então 20 e poucos anos. Foi assim que conheci o Carlos Correia.
Mais tarde com uma nova reestruturação dos Serviços, fomos inseridos na Direção de Serviços de: Informação Especializada e Acordos de Emigração, nesta fase já com a Maria do Céu Cunha Rêgo, a Margarida Marques, o José Guerreiro e o Jorge Gouveia Homem
A nossa atividade, além de intensa era também muito diversificada, tanto no que respeitava a trabalho em Portugal, como no Estrangeiro, no campo dos Acordos e das Convenções bilaterais e multilaterais sobre Migrações e Segurança Social.
E foi com este grupo de “Jovens especialistas” nestas matérias, que com sentido de alta responsabilidade, proporcionaram o seu melhor contributo em favor dos portugueses emigrados e de suas Famílias. Assim se foi desenvolvendo o trabalho com resultados positivos, que ficou a dever-se ao seu empenhamento e consciência de bem - fazer pela “causa” que a todos nos unia: as Comunidades Portuguesas.
Vivíamos com espírito de missão e de amizade, em que se incluía também o pessoal do apoio administrativo.
De entre todos, hoje, por tristes razões do destino, vou recordar, como disse, o meu colega e grande Amigo Carlos Correia.
Acompanhei o Carlos Correia em várias fases da sua vida e muito especialmente aquando do casamento, do nascimento da filha Inês e mais tarde aquando da doença do pai – fase muito difícil – pois, sempre que podia desabafava um pouco. Ultimamente a sua alegria eram os netos- uma preocupação de avô, com o seu espírito de responsabilidade e de procurar o melhor para eles. Falávamos como Amigos, que sempre fomos.
Ainda recordo o batizado da Inês e a enorme satisfação do Carlos Correia, durante a Festa com os seus Amigos, nos quais se incluía também o meu marido, que tinha por ele uma especial simpatia. Que saudade!
Houve a fase da ausência de Portugal, como Conselheiro Social em Paris e depois no Luxemburgo. Mesmo nessa fase sempre correspondeu às solicitações dos Amigos e até de mim, já depois de reformada , mas ligada às Migrações, através da Associação Mulher Migrante. E de tal modo a sua e nossa amizade e colaboração entre os colegas se manteve, que ainda hoje persiste.
Mais recentemente, por feliz coincidência, voltei a manter com o Carlos Correia, então como Chefe do Gabinete do SECP, mais uma vez uma estreita colaboração, a propósito da organização no MNE – Largo do Rilvas – de uma atividade da AEMM – Mesa Redonda – “ 4 décadas de migrações em Liberdade”,realizada, em Lisboa, no dia 26 de Março de 2014.
E esse trabalho urgente e diário, permitiu-nos, a mim e ao Carlos Correia, relembrar tempos passados, de estreita e fantástica colaboração, sem a qual não teria sido possível concretizar o evento, dentro do prazo e nas excelentes condições conseguidas. As fotos da iniciativa são o melhor testemunho do trabalho realizado, nas quais com a sua natural simplicidade, o Carlos Correia aparece com o seu sentir de responsabilidade para com a organização e também no que respeitava à forma como estavam a decorrer os trabalhos.
Após a referida Mesa Redonda, no dia seguinte, 27/3/2014, telefonei ao Carlos Correia, para lhe agradecer toda a colaboração e apoio à Iniciativa, estávamos muito satisfeitos com o trabalho realizado. Despedimo-nos, depois de rirmos com as várias peripécias que sempre sucedem nestas ocasiões.
No dia 28/3/2014, recebi a triste e inesperada notícia…. Foi o primeiro de nós a partir, apesar de eu ser a mais velha, nem queríamos acreditar…
Deixou uma amizade que ficará para sempre, entre todas e todos nós, que com o Carlos Correia trabalhámos e convivemos….
Rita Gomes
Lisboa, 28 de Dezembro de 2014

VASCO RODRIGUES

Conheci o Carlos Correia em Outubro de 1972. Eu tinha iniciado funções no Gabinete de Estudos e Relações Públicas do então Secretariado Nacional da Emigração há pouco mais de seis meses.
O Carlos, juntamente comigo, foi um dos primeiros técnicos daquele Gabinete, e desde logo se estabeleceu entre nós uma sólida amizade, fortalecida ao longo dos anos, para além da entreajuda funcional possível entre dois técnicos com formação académica distinta.
Posteriormente, e com as alterações estruturais, entretanto, operadas nos serviços de emigração seguimos carreiras profissionais diferentes mas permaneceu sempre entre nós uma sã amizade não obstante os períodos de ausência que, por vezes, se verificaram.
Foi, assim, com um misto de incredulidade, perda, uma grande mágoa e uma imensa tristeza que tive conhecimento do seu inesperado falecimento.
Tinha estado recentemente com ele, e outros colegas e amigos dos tempos da emigração numa reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo que a notícia da sua repentina morte me chocou profundamente.
O Ministério perdeu um excelente funcionário e eu perdi um amigo.
Até sempre Carlos

O amigo Vasco

Lisboa, 29 de Dezembro de 2014


HENRIQUE PIETRA TORRES

 Conheci o Carlos Correia em 1973 quando fui admitido como técnico  no Secretariado Nacional da Emigração.
 Sei que o seu vasto e muito rico percurso profissional, até que morreu  em 2014, sempre no ativo, vai ser abordado nos vários outros textos que estão a ser redigidos. 
Conheço este seu percurso também muito bem porque trabalhamos juntos, em Portugal e em missões ao estrangeiro, e coincidimos nos  mesmos Serviços ou em funções próximas ao longo de boa parte destes anos.  
Mas prefiro então centrar-me naquilo que para mim sempre foi mais  marcante no Carlos Correia: a sua qualidade humana que, ao longo da vida, muito raramente vi igualada.
De facto o Carlos Correia era alguém de uma extrema preocupação com os outros procurando sempre, por vezes com os maiores “equilibrismos”, evitar que a sensibilidade de alguém á sua volta fosse sequer beliscada.
Em todos os cargos que exerceu esta postura era algo que unanimemente era assinalado por quem com ele se cruzasse.
E assim nunca, mas nunca, ouvi dele uma referência que não fosse elogiosa e reconhecida.       

                                                                                      Henrique Pietra Torres 


    Lisboa, 2 de Janeiro de 2014


José GUERREIRO

CARLOS PEREIRA CORREIA
     Quando em 1976, depois de ter exercido funções técnicas, desde 1970, no Fundo de
Desenvolvimento da Mão - de - Obra, ingressei  na Secretaria de Estado da Emigração, foi fácil
a minha integração nessa nova estrutura, onde tive uma boa recepção pela generalidade dos
vários Técnicos da Direcção de Serviços de Informação Especializada e Acordos de Emigração.
  E, de entre eles, bem cedo se destacou a simpatia e a camaradagem do Carlos Correia, cuja
seriedade, rapidez e competência no desempenho de suas funções tive a oportunidade de ir
observando e de tantas vezes tomar como excelente exemplo de trabalho.
  Um pouco mais novo de que eu, era contudo de fácil e franco contacto, tendo - se
rapidamente começado a desenvolver um elo de inegável amizade entre nós, com respeito
mútuo das convicções políticas de cada um, que em nada puderam ir influenciando as boas
relações de trabalho.
   Por isso, durante as Reuniões Mundiais do Conselho das Comunidades Portuguesas, que
anualmente foram realizadas, quando eu tive a oportunidade de exercer as funções de
Secretário do dito Conselho, foi sempre pronta, objectiva e motivada a colaboração que pude
receber do Carlos Correia, um dos muitos Quadros Directivos e Técnicos que tive a
oportunidade de comigo colaborarem.
  Entretanto, nomeado para a Embaixada em Paris, como Conselheiro Social, os contactos que
o Carlos Correia foi tendo connosco foram menos habituais, sem que disso resultasse menor
respeito, consideração e amizade que por ele tínhamos, sobretudo eu mesmo, que muito
tenho a agradecer a sua sempre disponível colaboração, o apoio e o aconselhamento que me
podia proporcionar sobre o Conselho da Comunidade da França, sem dúvida a comunidade
portuguesa de mais difícil entendimento, na altura.
  Algum tempo depois, deixou o Carlos Correia o posto na Embaixada em Paris, para onde eu
fui nomeado, tendo tido a possibilidade de ir observando, compreendendo e avaliando o bom
trabalho que ele soubera desenvolver, por todo o território francês, muito me auxiliando na
difícil tarefa que tantas vezes tive de enfrentar.
  Depois, com a sua nomeação para a Embaixada em Luanda, bem como a posterior nomeação
para a Embaixada no Luxemburgo e o seu regresso ao MNE, como Chefe de Gabinete do
Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, espaçaram ainda mais os nossos
contactos, só recuperado o bom contacto pessoal, que tão agradável se tornara, com o meu
regresso ao MNE.
  Entretanto, com a minha passagem à situação de reforma, continuei a ter agradáveis
contactos co o Carlos Correia, tendo inclusive almoçado com ele no passado mês de Fevereiro,
partilhando da excelente disposição, real alegria e amizade que demonstrava.
 Por isso, foi extremamente surpreendente a notícia que recebi, pouco tempo depois desse
último almoço na zona do MNE – o Carlos Correia tivera um colapso cardíaco e acabara por
falecer, tendo sido com forte comoção, mal contida dor e muita saudade que, estou certo,
todos os colegas e amigos acompanharam o seu enterro.
  Mas a sua amizade, a sua simpatia e a sua camaradagem irão manter - se sempre em nossas
mentes. Até um dia, meu Caro Carlos.
                                                                      José Guerreiro



Maria Manuela AGUIAR
A memória é um mundo em que nos fazem companhia os que já não estão entre nós… Ninguém o disse melhor do que Pascoais “Viver não é existir, é ser lembrado”.
Lembro uma última e muito longa conversa que tive com o Dr Carlos Correia, sobre o pai, que tinha falecido pouco antes. Falámos, quase exclusivamente sobre os nossos pais, o que significavam para nós. Sobre a forma de superar a sua perda, de os trazer connosco na caminhada pela vida fora, tentando adivinhar o conselho que nos dariam em situações novas, sentindo a sua presença nos momentos de festa e de alegria.
Vi-o, logo depois, a 26 de Março, nos salões do protocolo do Palácio das Necessidades, durante o colóquio com que a AEMM abria as suas comemorações da Revolução de Abril no domínio das migrações. Como muitas vezes acontece nestes encontros, saudamo-nos cordialmente, sem tempo para mais nada. Coincidimos em fotos de grupo, que seriam as suas últimas fotografias. .Estou a vê-lo, na primeira fila, na cadeira mais distante, de onde, discretamente, se levantou duas ou três vezes, com toda a certeza para atender a questões de serviço. Era o chefe de gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, e assumia essas funções, como as outras que desempenhou, nesta área das migraçõe (Vice presidente do Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas, Conselheiro Social na Embaixada de França, na Embaixada do Luxemburgo), com uma dedicação total, com muita inteligência com um conhecimento completo dos “dossiers”. Mas sempre, também, com um grande sentido das responsabilidades, com preocupação de ser.perfeito.E era! Eu sei, porque na meia década de oitenta, o Dr.Carlos Correia foi meu Chefe de Gabinete naquele mesmo pelouro. Trinta anos mais jovem, mas igual… Não falhou, nunca, no mais pequeno pormenor…
Tê-lo à frente de uma máquina complexa, de umaa torrente de papéis quotidiana, dando solução a tantos problemas, que, de outro modo, recairiam sobre mim, foi, sem dúvida, uma absoluta segurança, um sossego... Tinha, porém, a consciência de que me podia despreocupar, na exacta medida em que ele se preocupava. Até demais, na minha opinião! De todos os colaboradores próximos (e tantos foram!), o Dr. Carlos Correia foi o único de quem só discordei, por julgar que trabalhava em excesso e que se preocupava demasiado! “Despache alguns desses processos para os outros, por favor!” – dizia-lhe quase todos os dias, sem sucesso. Mas, em tudo o resto (e até naquela atitude também…) o considerava admirável. Era de uma gentileza e bondade infinitas…Impossível não gostar muito dele!
Mas, curiosamente, as minhas primeiras recordações do Dr Carlos Correio são de um colectivo em que o integrava, o grupo dos “jovens”do chamado “Centro de estudos” – oficialmente esse título não existia em nenhum organograma da Secretaria de Estado, mas correspondia ao que faziam – e bem! - sob a direcção da Rita Gomes. Eram jovens trintões, já com larga experiência e especialização na matéria – intelectualmente brilhantes, muito unidos, e muito simpáticos: Carlos Correia, Victor Gil, Bento Coelho e, entre homens, uma mulher invulgar, que tratavam como igual – a Maria do Céu Cunha Rego. Havia outros, mas estes foram sempre os que considerei mais próximos. O que não quer dizer que eles se apercebessem disso, isto é, que eu evidenciasse sentimentos de tanto apreço. As vezes, com a minha pressa e impaciência, bem pelo contrário… Algumas histórias que, muitos anos depois, me contaram, com imensa graça, sobre a nossaa colaboração laboral foram, para mim, surpreendentemente hilariantes.
Há muito que o Carlos, o Victor, o Bento e eu tínhamos combinado um jantar convívio para evocar esse tempo feliz. Acho que não devemos esperar mais, para o convocar, agora para falarmos, sobretudo, do nosso amigo Carlos Correia.

Maria Manuela Aguiar
27 de Dezembro de 2014

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