DISCURSO DE ABERTURA
MIGRAÇÕES, QUE PERSPECTIVAS?
24 de Junho de 2014
Universidade da Sorbonne – Salle Bourjac
------------------------------------------------------
Na minha
qualidade de Directora, é com muita honra e um imenso prazer que recebo todos
os presentes e, também gostaria de vos dar as mais calorosas boas-vindas, neste
espaço da Sorbonne – símbolo magistral da mobilidade e da confrontação das
ideias, do diálogo espontâneo entre pensadores oriundos dos horizontes mais
longínquos e alicerçado numa prática da diplomacia do saber que, para nós, se
traduz na nossa capacidade e na nossa aspiração de trabalhar em conjunto e de
partilhar o saber que cumulamos e aprimoramos além-fronteiras, com o objectivo
comum de melhorar a condição humana.
Para entrar no
cerne da temática que nos reúne hoje, começaria este meu intrometimento com o
seguinte: “Se nos preocupamos realmente com o futuro da diáspora portuguesa,
não repitamos os erros do passado”.
Lembro que,
em todas as análises sobre os tempos que correm duas palavras são constantes:
mudança e crise no seu sentido lato. Na realidade, uma e outra fazem parte da
nossa própria evolução. A primeira inspirou um dos mais belos sonetos de
Camões, o poeta que identificamos com o País, em que observa que "o mundo
é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades". Só que agora os
tempos se aceleraram e as mudanças, por vezes demasiado rápidas e bruscas,
deixam-nos como que desamparados e muitas vezes sem horizonte.
Julgo, por isso, que devemos lançar um novo olhar sobre
a nossa diáspora muito mais exigente, e acreditar no seu futuro potencial que
passa também pelo olhar que temos de nós próprios. E esse tem de ser um olhar
auto-confiante.
Respeitados pelo seu trabalho, pela sua dinâmica, e
pela integração exemplar nos tecidos sociais locais, os nossos compatriotas são
hoje a imagem de um Portugal bem longe dos clichés do passado. Sucesso e
ambição de uma boa parte nos diferentes sectores de actividade, sobretudo das
novas gerações, não resultaram no afastamento em relação ao país de origem,
mesmo quando a ideia do regresso se perdeu num passado longínquo por se
sentirem simplesmente rejeitados e relegados para um segundo plano. Pelo
contrário, a grande maioria mantém vivo o orgulho nas suas raízes lusitanas e
uma relação de afectividade profunda com Portugal. Devemos por isso olhar a
diáspora portuguesa sem paternalismos caducos e avaliá-la por aquilo que na
realidade representa no mundo. Se “onde há portugueses, há Portugal”, é nosso
dever ir além de actos esporádicos de suposto apoio, como que num afago de
grande sentimentalismo da nossa portugalidade, trabalhando em conjunto com eles
para pôr em relevo e capitalizar o progressos e destaque que têm logrado no estrangeiro
e de que Portugal pode e deve beneficiar ao longo dos tempos e sobretudo se
orgulhar!
Gostaria aqui de lhes prestar um tributo: eles
representam, em geral, enfrentando o risco e assumindo a ambição, o Portugal
que quer seguir em frente; e isso contrasta com o “Portugal do medo mergulhado
em saudosismos” que, dentro das suas fronteiras, tantas vezes alimenta
pessimismo e inacção.
Para concluir,
tal como afirmou Jean-Jacques Rousseau: «Sem vontade, não há acção verdadeira».
É neste espírito de empenho contínuo, e com uma vontade renovada de enfrentar
os desafios, que vos convido a empreender o debate e a chegar a conclusões
valiosas e instrutivas para a vossa acção futura. Gostaria de congratular a
Associação Mulher Migrante, em particular a Drª Manuel Aguiar e a Drª Rita
Gomes, por todo o trabalho que já empreenderam e que ainda têm pela frente dentro
desta nova realidade das migrações, e termino esta minha alocução desejando-vos
um excelente dia de partilha e de trabalhos frutíferos!
http://visao.sapo.pt/toda-a-historia-da-reitora-do-faz-de-conta=f814578
ResponderEliminar