À MEMÓRIA DO CARLOS
CORREIA
O seu desaparecimento
há alguns meses do nosso convívio não fez desaparecer, nem sequer ateneou, com
a sua sua inesperada morte, os profundos laços de amizade que para sempre nos
passaram a unir, nem a saudade que a todos nos deixou, todos nós que o
conhecíamos neste meio da emigração e das comunidades portuguesas.
O meu conhecimento do
Carlos data de 23 de janeiro de 1973, dia em que, pelo meio da tarde, na mesma
cerimónia pública, os dois tomámos posse como técnicos de 2.ª classe, no então
Secretariado Nacional da Emigração. A partir de então, os nossos caminhos
entrelaçaram-se como os ramos de uma planta cuidadosamente mantida pela seiva
que brotava do ambiente de amizade, entreajuda, respeito e estima que sempre
encontrámos nas nossas famílias e nos nossos colegas de trabalho. Quanto
gostaria de aqui recordar, porque sei que esse seria também o gosto do Carlos,
a amizade, a colaboração e o apoio que todos deles recebemos e que tanto nos
ajudou na nossa espinhosa missão de servir as comunidades portuguesas ao longo
de perto de quarenta e dois anos!
Como nos ensina
Alberoni, um sociólogo italiano, a amizade é uma filigrana de encontros e cada
encontro é uma prova, sujeita a riscos e mesmo a crises. Se assim é, Voltaire
sublinha todavia que “A amizade é um encontro tácito entre duas pessoas
sensíveis e virtuosas. Digo “sensíveis” porque um monge, um solitário, pode ser
uma pessoa de bem e viver sem conhecer a amizade. Digo “virtuosas” porque os
maus têm apenas cúmplices, os divertidos companheiros de paródias, os cúpidos
sócios, os políticos juntam em seu redor os partidários, os que se metem na
vida dos outros têm relações, os príncipes cortesãos; mas apenas os homens
virtuosos têm amigos”.
A filigrana tecida
pelos nossos encontros ficou incompleta mas, apesar de inacabada, continua como
as capelas imperfeitas, nem por isso menos admiradas, a ser o testemunho do
nosso trabalho e do empenho de toda uma geração em servir a emigração e as
comunidades portuguesas. A amizade, essa depende de continuarmos a sermos
sensíveis e virtuosos. A exemplo do Carlos Correia.
Com um abraço amigo,
Victor Gil
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