domingo, 21 de dezembro de 2014

PORTUGUESE YOUTH CONFERENCE Maria Manuela Aguiar


Caras Amigas, Caros Amigos


Uma saudação muito calorosa para todos os que participam nesta conferência, para os dirigentes do Board of Education de New Jersey, que a convocaram e organizaram, bem como para tantos jovens lusófonos, que acorreram à chamada e trazem a este belo auditório escolar a força do seu entusiasmo e do desejo de saber mais sobre as realidade e as propostas que aqui são hoje apresentadas.
Queria sublinhar, muito em especial, o facto de terem acrescentado ao título da conferência, no programa definitivo a menção de:“1ª” Conferência. É a primeira! Não é um “happening”, singular, é o começo de um plural: de conferências a realizar, ano após ano. Um acontecimento isolado já seria importante, entrando nos anais da diáspora portuguesa pelo seu ineditismo. Mas, a intenção de lhe dar continuidade é significativa de querer ir além da vontade de "estar na história", com uma estratégia de”fazer história”, com quem mais a pode protagonizar. Já Agostinho da Silva, que gosto muito de citar, dizia, com a sua inteligência profética, que a história que interessa é a do futuro. O futuro da língua portuguesa no continente americano, e da presença lusófona depende muito de vós, os estudantes dos liceus deste Estado, no vosso trajecto de vida, até ao fim deste século, e depois, se souberdes transmitir o portuguesismo a novas gerações.

Vale bem a pena este projecto que aqui nos reúne: a consolidação de uma grande Diáspora e de uma língua antiga que, neste 2014, celebra 800 anos de existência e mais de 240 milhões de falantes, que lhe dão vida no mundo inteiro, no chamado velho continente onde nasceu, com Portugal, na América, onde mais avulta e cresce, com o Brasil, na África, em cinco Estados, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, no Oriente, num dos mais jovens Estados da nossa época, Timor – todos unidos na CPLP. E ainda em Macau (até 2049, oficialmente, pois assim o estabelece o acordado entre a China e Portugal). A estes Países e a Macau se juntam as comunidades da Diáspora, nos quatro cantos da Terra, e se pode somar a sobrevivência do Português, como componente em vários dialectos ou crioulos - alguns dos quais tão próximos que os entendemos perfeitamente, como o “Kristang” de Malaca, que na sua elegância e beleza seiscentistas, conserva muito das expressões, que, por todo o lado, fora dessa comunidade cristã, foram desaparecendo… ..
A Profª Deolinda Adão, numa lição magistral, levou-nos consigo ao longo de séculos de uma história esplendorosa. Vou apenas secunda-la, dizendo que é a saga de um pequeno país que “fez a diferença” na história da Humanidade, na era dos Descobrimentos -com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, a descoberta mútua de povos que se desconheciam, a primeira viagem de circum-navegação da terra… O mundo moderno é fruto dessa aventura portuguesa de navegação e comércio, dos avanços científicos e tecnológicos da sua Escola de navegação, da perícia e coragem dos marinheiros. Foi neste entre cruzamento dos Saberes de uns com o empreendimento de outros – qualidades que muitos acumulavam… - e na execução de um plano estratégico da Coroa, dos Monarcas, que se alicerçou o êxito da Expansão portuguesa - assim chamamos a este longo período, que se inicia no século XV, com a conquista de Ceuta, em 1415, prossegue com o reconhecimento da costa africana e os intercâmbios com as suas gentes, e se prolonga pelo século seguinte para Oriente, onde atinge o seu apogeu, voltando-se, a partir do século XVII para o Ocidente, sobretudo, para a formação e delimitação territorial do Brasil.
A Expansão, como fenómeno multifacetado abrange comércio, proselitismo religioso, colonização de vastas possessões (o Brasil as colónias de África) e, desde muito cedo, neste processo multissecular, também o desenvolvimento de uma tradição migratória individual. Qualquer destas facetas é, de um ou outro modo, responsável pela grande viagem da língua, pela sua difusão universal, pela sua força como veículo de comunicação entre povos, pela sua apropriação pragmática e (ou) afectiva por muitos deles.
É, essencialmente, à colonização e, cada vez mais, a partir de setecentos, à emigração espontânea que se deve a constante disseminação da língua e das culturas que nela se enraízam. Mas já antes, desde 1500, cerca de um terço da população partia para terras longínquas - no século XVI, mais de 350.000 num total de apenas um milhão de pessoas (na sua maioria homens, pois às mulheres era, em regra, vedado acompanha-los…) Uma percentagem que se manteve constante até nossos dias (com uma proporção crescente da emigração feminina, que, agora, é de quase 50%). Hoje, há dez milhões de portugueses dentro de fronteiras e cinco milhões fora.
Mas a dimensão da Diáspora é muito superior, incontável… E a expatriação continua, e atinge níveis jamais vistos.
Sem este permanente vaivém de gente, sem este fantástico movimento de
alguns milhões e o seu impacte em dezenas e dezenas de milhões de
homens e mulheres nos quatro cantos da terra, o que seria o português?
Apenas o idioma de um pequeno país do sudoeste da Europa, com 10
milhões de habitantes e sem um Camões para compor “Os Lusíadas”, sem um
Pessoa para escrever a Mensagem, sem uma Sophia de Mello Breyner para
cantar uma manhã de Abril…
O idioma português não se impôs por decreto, mas pela vivência das pessoas.
Foi a linguagem que o povo emigrado levou pelo mundo, partilhou com
outros povos. – e, por isso, agora, ela pertence a todos. Não é uma língua europeia, imperial, porque é também, genuinamente sul-americana, africana, asiática. É, neste sentido, policêntrica – ao contrário de outras, igualmente grandes.
A história da expansão da língua está assim intrinsecamente ligada à
imensa dispersão migratória da nossa gente, que ultrapassou, sempre, o
quadro da colonização planeada ou imposta pelo Estado. E, por isso, quando o
Brasil se tornou independente, o êxodo nacional para o seu território não foi interrompido, cresceu enormemente, mesmo contra leis e medidas de proibição. Numa época de grande imigração de muitas outras nações europeias, se os portugueses não tivessem sido. ali, o principal contingente, por vontade própria, ao longo de mais de um século, talvez a língua aí se tivesse perdido… Assim nada se perdeu, nem o idioma, nem a ligação afectiva, que resistiu à separação política do Brasil no século XIX, como haveria de resistir à descolonização das chamadas províncias ultramarinas, desencadeada pela revolução de 1974, apesar do movimento de retorno em massa nos anos seguintes. Basta dizer que Angola já é hoje o principal destino da emigração portuguesa. Portugal o maior destino da emigração brasileira, como é, há muito, da cabo-verdiana…Movimentos cruzados no espaço da lusofonia – e muito bem vindos, a meu ver!. Logo que Portugal reinicie um ciclo de crescimento económico vai precisar de muitos imigrantes, e eu espero que eles venham sobretudo da CPLP e que fiquem connosco, como tantos portugueses ficaram e ficarão nos países onde foram recebidos fraternalmente.
A este imenso mundo lusófono, a este êxodo sem fim pertencem, igualmente, as comunidades da Diáspora nos EUA e em tantos outros países, no planeta Terra - todos aqueles que guardam o sentimento de pertença, desde a infância, ou que, num dado momento, se interessam pelas suas origens e as recuperam. Uma nova forma de expansão…Como Jorge de Sena antevia num poema: “Solúvel e insolúvel este povo, na memória dos outros e na sua mesma”.
A fronteira da língua e do convívio no seu cerne foi sempre muito mais lata e muito mais resistente do que a fronteira de um Estado, de uma potência colonial. Foi e é muito mais do que uma realidade puramente linguística, porque incorpora memórias e afectos, relações entre pessoas, vivendo lado a lado -  sociedade civil, por oposição a Estado, relações de família e vizinhança, por contraste com relações de Poder.
Por isso, o império findou, em guerras, e a presença portuguesa no mundo permaneceu e progride, em paz.
Estamos aqui, de facto, para promover não só o ensino da língua, mas também a presença lusa na América, através de uma geração que desponta e vai viver tempos prodigiosos.
Foram inspiradores os exemplos de iniciativas, aqui referidos, para dar visibilidade às comunidades portuguesas de imigração, como as que se devem a Donald Coutinho, quando tinha apenas 12 anos, ou a Maria João Ávila, com poucos anos mais, ou, muito recentemente, as dos jovens oradores que formam estes painel.
Termino com sinceras felicitações ao Board of Education de New Jersey pela dinâmica desta Conferência, que vai prosseguir, certamente.
E com uma palavra para os alunos de portugês aqui presentes:
O futuro da língua e da presença portuguesa na América é convosco, é responsabilidade vossa, e eu acho que está muito bem entregue



Maria Manuela Aguiar

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