quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

MARIA ODETE DE MELO Toronto

DEPOIMENTO

Vivi intensamente, tal como a maioria dos portugueses, o dia 25 de abril  e o  primeiro “Primeiro de maio” de 1974.
Imagens que nunca mais se dissiparam da minha memória e que relatam tão bem o quanto era desejada essa mudança.
No dia 1 de maio de 1974 o povo saiu à rua, feliz  e verdadeiro na sua  participação, em LIBERDADE, sem partidos, sem sindicatos, ele mesmo, sem orquestrações políticas.
Seguiram-se dias, meses  e anos muito confusos. Nessa altura trabalhava numa  companhia que era sem dúvida o “vulcão”de todo o processo político. Era secretária de administração “lacaia do capital” como
eram rotulados, na altura,  os profissionais que trabalhavam diretamente com administradores e gestores, por essa razão estive  sequestrada,quase fui saneada, assim como tantos colegas.
 Passei por tudo isto: greves gerais, greves de zelo, greves de  solidariedade, comícios,etc.  Fiz parte de várias comissões de trabalhadores. Graças a todos estes “ingredientes”, cresci e evolui politicamente  -  sobretudo aprendi a respeitar e a saber o que é e  o que custa  a  LIBERDADE tornando-me uma cidadã mais consciente.
Depois  de toda esta “formação”,  em 1981 vim para o Canadá  onde vivo na  cidade de Toronto..No início, passei pelas dificuldades de quem chega a um país estranho.  Comecei a dar aulas na Escola do First Portuguese a escola  mais antiga na América do Norte (50 anos de atividade) e a ter muito contacto com a comunidade portuguesa.  Foi um grande choque - depois de ter vivido um  processo democrático, num país cheio de atividade política vim encontrar um país calmo e pouco virado a manifestações politicas de
qualquer género.
A comunidade portuguesa parecia feliz com o 25 de abril mas poucos sabiam exatamente o que se estava a passar em Portugal.
Na altura, os orgãos de comunicação social  pouco ou nada falavam sobre o assunto (recorde-se que estamos nos anos 80) e as rádios locais em língua portuguesa limitavam-se a passar um pouco de música, publicidade e algumas notícias - o que era otimo para a época, e em especial para os que iam chegando.
Na escola, eu falava muito sobre as causas e consequências da “revolução dos cravos”, como era mais conhecida, e tornava esse assunto parte do programa do ensino do português no estrangeiro.
Os alunos iam ouvindo, alguns comentavam o que tinham ouvido dos pais ou dos avós, mas sempre com um entusiasmo que me surpreendeu.
Mas os tempos iam passando e as coisas iam mudando. Em 1986, mulheres portuguesas que falavam pouco inglês, estiveram envolvidas em greves contra empresas de limpeza. Sairam do trabalho para protestar contra medidas injustas. A partir daqui começou a ser visível uma participação  maior não só a nível da comunidade como até a nível do país, Canadá.
Este depoimento é  de uma mulher trabalhadora, esposa e mãe que viveu uma transformação política em Portugal, que vive no Canadá mas que continua a lutar por uma sociedade mais justa eequilibrada. Existe ainda um longo caminho a percorrer, mas

DESISTIR NUNCA!

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