quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

SORBONNE Abertura do Colóquio pela Porfª Isabelle Oliveira


DISCURSO DE ABERTURA

MIGRAÇÕES, QUE PERSPECTIVAS?

24 de Junho de 2014

Universidade da Sorbonne – Salle Bourjac

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Na minha qualidade de Directora, é com muita honra e um imenso prazer que recebo todos os presentes e, também gostaria de vos dar as mais calorosas boas-vindas, neste espaço da Sorbonne – símbolo magistral da mobilidade e da confrontação das ideias, do diálogo espontâneo entre pensadores oriundos dos horizontes mais longínquos e alicerçado numa prática da diplomacia do saber que, para nós, se traduz na nossa capacidade e na nossa aspiração de trabalhar em conjunto e de partilhar o saber que cumulamos e aprimoramos além-fronteiras, com o objectivo comum de melhorar a condição humana.

Para entrar no cerne da temática que nos reúne hoje, começaria este meu intrometimento com o seguinte: “Se nos preocupamos realmente com o futuro da diáspora portuguesa, não repitamos os erros do passado”.

 Lembro que, em todas as análises sobre os tempos que correm duas palavras são constantes: mudança e crise no seu sentido lato. Na realidade, uma e outra fazem parte da nossa própria evolução. A primeira inspirou um dos mais belos sonetos de Camões, o poeta que identificamos com o País, em que observa que "o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades". Só que agora os tempos se aceleraram e as mudanças, por vezes demasiado rápidas e bruscas, deixam-nos como que desamparados e muitas vezes sem horizonte.

Julgo, por isso, que devemos lançar um novo olhar sobre a nossa diáspora muito mais exigente, e acreditar no seu futuro potencial que passa também pelo olhar que temos de nós próprios. E esse tem de ser um olhar auto-confiante.

Respeitados pelo seu trabalho, pela sua dinâmica, e pela integração exemplar nos tecidos sociais locais, os nossos compatriotas são hoje a imagem de um Portugal bem longe dos clichés do passado. Sucesso e ambição de uma boa parte nos diferentes sectores de actividade, sobretudo das novas gerações, não resultaram no afastamento em relação ao país de origem, mesmo quando a ideia do regresso se perdeu num passado longínquo por se sentirem simplesmente rejeitados e relegados para um segundo plano. Pelo contrário, a grande maioria mantém vivo o orgulho nas suas raízes lusitanas e uma relação de afectividade profunda com Portugal. Devemos por isso olhar a diáspora portuguesa sem paternalismos caducos e avaliá-la por aquilo que na realidade representa no mundo. Se “onde há portugueses, há Portugal”, é nosso dever ir além de actos esporádicos de suposto apoio, como que num afago de grande sentimentalismo da nossa portugalidade, trabalhando em conjunto com eles para pôr em relevo e capitalizar o progressos e destaque que têm logrado no estrangeiro e de que Portugal pode e deve beneficiar ao longo dos tempos e sobretudo se orgulhar!

Gostaria aqui de lhes prestar um tributo: eles representam, em geral, enfrentando o risco e assumindo a ambição, o Portugal que quer seguir em frente; e isso contrasta com o “Portugal do medo mergulhado em saudosismos” que, dentro das suas fronteiras, tantas vezes alimenta pessimismo e inacção.

Para concluir, tal como afirmou Jean-Jacques Rousseau: «Sem vontade, não há acção verdadeira». É neste espírito de empenho contínuo, e com uma vontade renovada de enfrentar os desafios, que vos convido a empreender o debate e a chegar a conclusões valiosas e instrutivas para a vossa acção futura. Gostaria de congratular a Associação Mulher Migrante, em particular a Drª Manuel Aguiar e a Drª Rita Gomes, por todo o trabalho que já empreenderam e que ainda têm pela frente dentro desta nova realidade das migrações, e termino esta minha alocução desejando-vos um excelente dia de partilha e de trabalhos frutíferos!


1 comentário:

  1. http://visao.sapo.pt/toda-a-historia-da-reitora-do-faz-de-conta=f814578

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