quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Manuela Aguiar sobre Mulheres no Associativismo, na década de 80

No início de 1980, Sá Carneiro escolheu-me para Secretária de Estado da Emigração do seu Executivo e, por dever de ofício, parti então, para as primeiras de muitas visitas a comunidades do estrangeiro. Deparei com um mundo de homens - homens que me recebiam surpreendentemente bem, atendendo ao facto incontroverso de eu ser a primeira mulher que um Governo da Pátria mandava ao seu encontro, desde o remoto começo das migrações portuguesas…
Havia, é certo, algumas raras mulheres que com eles ombreavam, mas constituíam a excepção à regra e eram, naturalmente, excepcionais, a todos os títulos...
Malice Ribeiro em Toronto, Manuela Chaplin em Newark, Mary Giglitto em San Diego,  Benvinda Maria no Rio de Janeiro, Manuela da Rosa em Pretória… (cito pela ordem cronológica determinada pelo roteiro dessas “viagens de descoberta” das pessoas e das comunidades).
Digamos que elas partilhavam, formal ou informalmente, o “poder” nessas pequenas" repúblicas de homens" - e tinham bastante poder, tomavam decisões, ou influenciavam acontecimentos de uma forma pública e não só nos bastidores... Eram reconhecidas admiradas e algumas, para além disso, a meu ver, temidas também - visivelmente, no caso das formidáveis jornalistas, Malice Ribeiro e a Dona Benvinda Maria e da cronista Manuela Chaplin... Mas as outras impunham respeito do mesmo grau e natureza : quem ousaria atravessar-se no caminho da Mary, “alma mater” do grandioso Festival Cabrilho ou pôr em questão o movimento feminino de Manuela da Rosa, fundadora da “Liga da Mulher Portuguesa da África do Sul?
Destas cinco "grandes" da Diáspora, três foram pioneiras da presença feminina no Conselho das Comunidade Portuguesas - ao tempo oriundo do associativismo e espelhando o perfil masculino do dirigismo das suas organizações. Eleitas e reeleitas “conselheiras” quando e como desejaram (Malice, Chaplin e Manuela Da Rosa, pertenceriam ao CCP na sua segunda vida, a partir de 1997, num modelo de eleição por sufrágio universal). E Mary e Benvinda Maria só não foram por que não quiseram - uma assembleia de pendor "político" não era o palco preferido de uma e de outra.

O Encontro Mundial de 1985 foi para mim a revelação de outras mulheres extraordinárias  e deu-me a certeza de que há muitas mais, num injusto esquecimento ou anonimato. Encontrá-las e dar-lhes visibilidade é, certamente, um dos objectivos principais da AEMM.

Maria Manuela Aguiar



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