quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Maria Violante em Fátima

Introdução

Em primeiro lugar, quero agradecer à Secretaria de Estado, Obra
Católica Portuguesa das Migrações e Caritas Portuguesa pelo convite
para participar neste evento que tem um significado muito importante
para todos os que aqui estamos, já que nele poderemos partilhar
experiências e conhecer realidades e problemáticas dos nossos
respectivos países, e as formas de participação a nível de cada uma
das comunidades, com o objectivo comum de difundir a nossa língua e
cultura.

Língua
Para dar início ao tema que me cabe apresentar neste painel, queria
referir-me, primeiramente, à minha história pessoal, já que foi uma
realidade que me marcou.
Cheguei à Argentina com a 4ª classe de Portugal, mas, por falta de
meios, não pude ir a exame, e fui forçada a recomeçar o estudo desde a
2ª classe. Esse foi o primeiro problema que tive de afrontar.
Frequentei uma escola pública, onde, por acaso, me trataram muito bem.
Porém, desde esse momento, começaram a chamar-me "Mendes, a
Portuguesa". Terminei a escola primária e surgiu, então, outro
problema: para poder continuar na escola tinha de aprender castelhano
sem erros e sem incorporar palavras portuguesas. Graças ao convívio
com os meus companheiros, consegui superar as dificuldades e aprender
a ler e escrever correctamente na nova língua.
O meu idioma português passou a segundo plano, não por minha vontade,
mas porque não me permitiam fala-lo. Os meus Pais apenas sabiam ler e
escrever numa mistura de Portunhol, pelo que se recomendava aos pais
que não falassem português com os filhos, porque se o fizessem eles
seriam prejudicados no aproveitamento escolar, com más classificações.
Esta foi uma história de infância comum a muitos de nós, filhos de
portugueses emigrantes, arrancados à sua terra para buscarem uma nova
vida, com mais possibilidades de progresso.

Minhas Senhoras e meus Senhores:

No que respeita ao nosso lugar em escolas e institutos também foram
muitos os obstáculos e as questões a resolver - os primeiros
professores que ensinaram Português na comunidade eram emigrantes que
por terem estudos mais avançados, adquiridos em Portugal, acediam ao
ensino nas instituições próprias das nossas comunidades, mas, com o
passar do tempo, foram abandonando esse trabalho, por problemas
familiares, doença, morte, etc. Estamos, pois, ainda hoje,
confrontados com esta realidade de carência de docentes na Argentina.
Nos anos 80, devido à criação do Mercosul começa a difundir-se o
Português, como língua curricular, para além do inglês e francês.
Todavia, como Portugueses e Luso-descendentes, continuamos a não
dispor de professores para aprendizagem da língua tal como é falada no
nosso País.

Alteração do nosso Idioma
O Brasil tem, naturalmente, uma grande influência, porque possui
inúmeras empresas na Argentina, o que motiva uma grande procura de
profissionais fluentes em Português.
Nós contamos, na Argentina, com o Instituto Camões, para assegurar a
concessão de títulos nacionais e para traduções, mas dispondo apenas
de um Professor (Leitor) oriundo de Portugal. Os demais são, regra
geral, do Brasil.
Há muitos outros institutos de Português no País, mas sempre com
professores que se exprimem com sotaque brasileiro. Não se ensina o
Português original e, entre os luso-descendentes, existe uma
necessidade, um grande interesse em aprender à nossa maneira, o que só
será possível com professores formados em Portugal - e, como disse,
não os há. É uma privação muito sentida e creio que a Secretaria de
Estado deveria ter em conta a possibilidade de satisfazer os anseios
de tantos compatriotas.

Cultura
A nível cultural, a nossa comunidade está bem presente na Argentina,
tanto no que respeita ao plano associativo, como no domínio
empresarial
A comunidade portuguesa conta com muitas instituições, espalhadas por
diferentes pontos do País, e maioritariamente, em Buenos Aires.
Estas associações encarregam-se de difundir a cultura portuguesa no
seu âmbito, um pouco por todo o lado, através uma forte participação
em eventos organizados pelas diferentes comunidades de imigrantes
radicados na Argentina, assim como nas nossas festividades nacionais,
que são sempre uma oportunidade para dar a conhecer as comidas
típicas, o artesanato, o folclore, os costumes originários do País.
Um acontecimento muito importante é o "Buenos Aires celebra Portugal",
que se realiza nesta cidade. O governo local cede-nos espaço condigno
na Avenida de Mayo
Ao longo do dia, as pessoas degustam pratos característicos da nossa
rica culinária, ao mesmo tempo que ouvem o tradicional "Fado". Ao cair
da tarde desfilam os ranchos folclóricos com as suas variadas danças.
Outro evento que tem grande repercussão na nossa comunidade é a festa
de Nossa Senhora de Fátima, na localidade de Pilar, província de
Buenos Aires.
Para além do aspecto religioso, que é o determinante, esta é mais uma
ocasião de mostrar a singularidade do artesanato, da música, da
gastronomia. O público comparece e desfruta do espectáculo dos Ranchos
folclóricos, das danças e trajes típicos de diferentes regiões de
Portugal. A concluir, realiza-se a procissão e o dia de festa encerra
com uma Missa, em honra da Virgem de Fátima
Todas estas organizações são desenvolvidas com a colaboração activa e
empenhada dos nossos jovens, que tomam a cargo a sua difusão em
programas de rádio, na imprensa diária, na internet.
Apesar do sucesso de todas estas actividades, há que apontar a falta
do apoio de profissionais e formadores em dança, que leva os grupos
folclóricos a recorrem à internet, estudando os videos de que aí
dispõem e procurando imitar os melhores executantes.
Seria, sem dúvida, importante investir na formação de ensaiadores e
professores de dança, para que estes Ranchos, que estão em crescimento
e pretendem divulgar a cultura portuguesa a nível da Argentina, possam
ser ainda melhores e representar, na perfeição, Portugal nos muitos
programas para os quais são convidados pelas mais altas autoridades do
País.

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