A sensação de ser Maria Archer
Desde que fui sua aluna no 2º
ciclo, a Professora Arcelina Santiago manteve comigo um contacto e amizade que são recíprocos, e desta amizade realço algo que temos em comum: a nossa paixão por
investigar algumas mulheres vanguardistas que, no tempo e na sociedade em que
viviam, fizeram a diferença.
Desde representações da primeira
mulher a votar na Europa, Carolina
Beatriz Ângelo, até à homenagem a Maria
ARCHER , todos estes trabalhos enriqueceram imenso a minha forma de pensar.
Este ano, foi a vez de Maria Archer. Quando a Professora Arcelina me desafiou para
representar esta personagem numa entrevista imaginária, aceitei com agrado a
oportunidade de conhecer melhor uma mulher que, após algumas leituras, se
tornou um grande ídolo e modelo para mim. Inicialmente, estava longe de
imaginar o quanto a iria apreciar, pois parecia apenas mais uma escritora (sem
desprimor para tão digna profissão, mas que não me parecia capaz de revelar
tanta coragem e ousadia).
Assim, com algumas homenagens
prestadas também por alunos da Escola Básica E Secundária Domingos Capela,
demos o nosso melhor para mostrar à nossa audiência o quão esta mulher foi
relevante para a sociedade e o quanto merece mais reconhecimento: numa época em
que Portugal se encontrava numa ditadura e onde as mulheres não tinham acesso à
cultura e à educação, Archer foi escritora, jornalista, cronista, romancista,
etc. Passou cerca de 14 anos da sua juventude entre o continente africano e
Portugal, tendo por isso uma relação intermitente com os seus 5 irmãos, que a
achavam a predilecta de sua mãe por ser a primogénita, etc. Mas o mais
importante nesta mulher, na minha opinião, é que apesar de ter visto algumas
obras que tanto carinho, esforço e dedicação lhe provocaram a serem
apreendidas, não se ter deixado abalar e ter continuado a escrever sem utilizar
um pseudónimo masculino que, assim, lhe poderia causar melhores críticas ao ser
pensado que as suas obras eram escritas por um homem.
A primeira representação da
Entrevista A Maria Archer realizou-se numa sexta-feira, dia 9 de março de 2012,
na Biblioteca Municipal de Espinho, e contou com a fantástica presença da sobrinha-neta da
mulher a quem o evento era dedicado : a Senhora Dona Olga Archer. Conhecer Olga
Archer foi uma experiência deveras
interessante , e poder ter um diálogo aberto com ela foi fabuloso. Houve
entre nós grande empatia.
Este Verão, a convite da
organização da Feira do Livro de Espinho, a Professora sugeriu-nos que
voltássemos a representar, e assim o fizemos, com o maior prazer. Como era
verão, além da entrevistadora e da entrevistada, estiveram dois colegas (um
deles já tinha apresentado excertos de M.A. em março, mas a outra colega, com
quem partilho o prazer de ler, nada sabia sobre ela: no fim, disse que passou
igualmente a adorá-la).
Pessoalmente, posso afirmar que
sou uma fã de investigar personagens feministas que mudaram a nossa sociedade,
e Maria Archer é um destes nomes que merece reconhecimento: com livros
apreendidos, como Ida E Volta Numa Caixa De Cigarros e Casa Sem Pão, ela continuou
a prosseguir na sua arte: a escrita. Ao interpretá-la, senti-me poderosa e
pensei várias vezes para mim mesma “ se alguma vez conseguir mudar algo e
defender os meus ideais como esta mulher e muitas outras, como Carolina Beatriz
Ângelo, poderei afirmar que tive uma vida bem vivida.”
Maria Archer apenas teve a
oportunidade de terminar a quarta classe aos 16 anos e deparou-se com isolamento e afastamento da família, exílio, etc. Os seus livros relatam principalmente
problemas de índole social da sua época, como o divórcio, a maternidade, a
falta de acesso à cultura, etc.
Uma personagem dos seus escritos
que me marcou foi a Adriana de “Casa Sem
Pão” que, para poder ler livros, tinha de se esconder. Este livro tece críticas
à sociedade em que vivia mas tem também a função estética, isto é, provoca
prazer ao leitor.
Para concluir o meu testemunho, sublinho
também que recomendo a leitura de obras desta escritora que me ensinou muito, principalmente a nunca
deixar a sociedade mudar a minha forma de pensar e a assim defender aquilo em
que acredito. Agradeço também à Professora Arcelina por esta oportunidade que
tanto me enriqueceu quer culturalmente quer como pessoa.
Maria Patela, aluna
da escola Básica e Secundária Domingos Capela – Silvalde - Espinho
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