terça-feira, 13 de novembro de 2012

A sensação de ser Maria Archer


A sensação de ser Maria Archer

 

Desde que fui sua aluna no 2º ciclo, a Professora Arcelina Santiago manteve  comigo um contacto e amizade que são recíprocos,  e desta amizade realço  algo que temos em comum: a nossa paixão por investigar algumas mulheres vanguardistas que, no tempo e na sociedade em que viviam, fizeram a diferença.

 Desde representações da primeira mulher  a votar na Europa, Carolina Beatriz Ângelo,  até à homenagem a Maria ARCHER , todos estes trabalhos enriqueceram imenso a minha forma de pensar. Este ano, foi a vez de Maria Archer. Quando a Professora Arcelina me desafiou para representar esta personagem numa entrevista imaginária, aceitei com agrado a oportunidade de conhecer melhor uma mulher que, após algumas leituras, se tornou um grande ídolo e modelo para mim. Inicialmente, estava longe de imaginar o quanto a iria apreciar, pois parecia apenas mais uma escritora (sem desprimor para tão digna profissão, mas que não me parecia capaz de revelar tanta coragem e ousadia).

Assim, com algumas homenagens prestadas também por alunos da Escola Básica E Secundária Domingos Capela, demos o nosso melhor para mostrar à nossa audiência o quão esta mulher foi relevante para a sociedade e o quanto merece mais reconhecimento: numa época em que Portugal se encontrava numa ditadura e onde as mulheres não tinham acesso à cultura e à educação, Archer foi escritora, jornalista, cronista, romancista, etc. Passou cerca de 14 anos da sua juventude entre o continente africano e Portugal, tendo por isso uma relação intermitente com os seus 5 irmãos, que a achavam a predilecta de sua mãe por ser a primogénita, etc. Mas o mais importante nesta mulher, na minha opinião, é que apesar de ter visto algumas obras que tanto carinho, esforço e dedicação lhe provocaram a serem apreendidas, não se ter deixado abalar e ter continuado a escrever sem utilizar um pseudónimo masculino que, assim, lhe poderia causar melhores críticas ao ser pensado que as suas obras eram escritas por um homem.

A primeira representação da Entrevista A Maria Archer realizou-se numa sexta-feira, dia 9 de março de 2012, na Biblioteca Municipal de Espinho, e contou com  a fantástica presença da sobrinha-neta da mulher a quem o evento era dedicado : a Senhora Dona Olga Archer. Conhecer Olga Archer foi uma experiência deveras  interessante , e poder ter um diálogo aberto com ela foi fabuloso. Houve entre nós grande empatia.

Este Verão, a convite da organização da Feira do Livro de Espinho, a Professora sugeriu-nos que voltássemos a representar, e assim o fizemos, com o maior prazer. Como era verão, além da entrevistadora e da entrevistada, estiveram dois colegas (um deles já tinha apresentado excertos de M.A. em março, mas a outra colega, com quem partilho o prazer de ler, nada sabia sobre ela: no fim, disse que passou igualmente a adorá-la).

Pessoalmente, posso afirmar que sou uma fã de investigar personagens feministas que mudaram a nossa sociedade, e Maria Archer é um destes nomes que merece reconhecimento: com livros apreendidos, como Ida E Volta Numa Caixa De Cigarros e Casa Sem Pão, ela continuou a prosseguir na sua arte: a escrita. Ao interpretá-la, senti-me poderosa e pensei várias vezes para mim mesma “ se alguma vez conseguir mudar algo e defender os meus ideais como esta mulher e muitas outras, como Carolina Beatriz Ângelo, poderei afirmar que tive uma vida bem vivida.”

Maria Archer apenas teve a oportunidade de terminar a quarta classe aos 16 anos e deparou-se com  isolamento  e afastamento da família, exílio, etc.  Os seus livros relatam principalmente problemas de índole social da sua época, como o divórcio, a maternidade, a falta de acesso à cultura, etc.

Uma personagem dos seus escritos que me marcou foi  a Adriana de “Casa Sem Pão” que, para poder ler livros, tinha de se esconder. Este livro tece críticas à sociedade em que vivia mas tem também a função estética, isto é, provoca prazer ao leitor.

Para concluir o meu testemunho, sublinho também que recomendo a leitura de obras desta escritora  que me ensinou muito, principalmente a nunca deixar a sociedade mudar a minha forma de pensar e a assim defender aquilo em que acredito. Agradeço também à Professora Arcelina por esta oportunidade que tanto me enriqueceu quer culturalmente quer como pessoa.

 

 Maria Patela, aluna da escola Básica e Secundária Domingos Capela – Silvalde - Espinho

 

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