quinta-feira, 29 de novembro de 2012

MARIA BEATRIZ ROCHA TRINDADE sobre MARIA DO CÉU CUNHA

Maria do Céu Mendes Cunha
Maria do Céu Cunha nasceu no Sabugal, na Beira Alta, em 1955. Ainda criança, viu partir o seu pai, rumo a França, à procura de uma vida melhor... Pouco a pouco “todos se vão” dessas aldeias raianas.
Das mulheres fortes da sua infância, a mãe e a avó, sós e autónomas por necessidade, viúvas de “maridos emigrados”, herdou o gosto pelo trabalho e o precoce entendimento que não há liberdade sem independência económica.
Estudou em Coimbra, onde aos 19 anos encontrou as“mulheres do Graal”: Celeste, Isabel, Manela, Teresinha, e mais tarde Luísa França. Abraçou o feminismo, a intervenção social, e entendeu a “pedagogia dos oprimidos”.
Das práticas de desenvolvimento comunitário apreendidas no limiar da vida adulta, ficaram-lhe as certezas de que “o mundo é composto de mudança” e que lutar vale a pena.
Em 1976, atravessa fronteiras, e inscreve os seus passos nos traços dos homens da família. Como eles instala-se no Val de Marne, onde em cada cidade soa, nos dias de mercado, a língua portuguesa.
Em Fontenay Sous Bois, no quadro dum projecto de animação cultural junto da comunidade portuguesa, lança, com um pequeno grupo, a associação de portugueses, ainda hoje viva e activa, graças à persistência e coragem dos dirigentes que sucessivamente por ali passaram. Recorda-se sobretudo da Graziela, que integrou desde o início o núcleo de direcção, mas que já regressou à sua terra de origem Pousos, perto de Leiria.
À margem da associação de Fontenay, mas sempre a ela ligada, envolve-se na criação de alguns grupos que marcaram nos anos 80 um “renouveau” no movimento associativo. Nasce o grupo de teatro que vai dar origem a “Cá e Lá”, assim como o projecto“Centopeia, Collectif de Femmes”, onde um punhado de jovens filhos e filhas de imigrantes portugueses querem interpelar a comunidade portuguesa através do seu movimento associativo e sair da “invisibilidade” que marca por essa altura a comunidade. Do colectivo sai o filme “Portugaises d’origine”.
Centopeiaé como uma pequena irmã do CEDEP, assim como Maria do Céu o é para com Manuel Dias, criador do CEDEP, em conjunto com um punhado de activistas que desde a primeira hora desejaria que nos anos de chegada da esquerda ao poder, houvesse lugar ao debate em torno da imigração portuguesa em França.
Artigos, debates, intervenções... Os anos 80 são anos “portugueses”, e Maria do Céu representa a “comunidade” perante instituições do governo francês como por exemplo no conselho de Administração do Fonds d’Action Sociale e no CNPI.
Em 1988, publica «Portugais de France, essais sur une dynamique de double appartenance»,trata-se do primeiro livro sobre a imigração portuguesa escrito a partir do“interior” dessa imigração.
Com a sua tese de doutoramento “Familles, associations, identités des portugais de France” fecha-se o ciclo do seu profundo envolvimento com a comunidade portuguesa.
A partir dos anos 90, a situação dos bairros desfavorecidos das grandes periferias (“les cités”), onde imigrantes árabes e africanos vivem situações de grande exclusão social e de relegação, passa a estar no centro da sua vida, quer profissional, quer intelectual. Participa na criação do observatório de políticas públicas “Banlieuscopie”, da revista“Impatientes démocratiques” e pertence ao conselho científico de “Migrants formation” e “Ville, école, intégration”. Durante os anos 90, publica em várias revistas francesas, um número importante de artigos sobre os jovens desses bairros populares.
Nos últimos anos procura investir na sua vida profissional (ingressando primeiro no Fasild, depois na ACSE, dois estabelecimentos públicos que financiam e animam a politica de imigração e a “politique de la ville”), através de projectos de prevenção e luta contra as discriminações.

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