quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Olga Archer sobre Maria Archer

Os Caminhos até Maria Archer
Estávamos em 1899. Princípios de Janeiro. Já Inverno. Nascia, em Lisboa, a mais velha de uma prole
de seis – Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira.
Maria Archer foi escritora, jornalista, conferencista, tradutora. Cedo, muito cedo, começou a
escrever. E cedo, muito cedo, tiveram início as suas idas e voltas até ao continente africano.
O seu primeiro artigo foi publicado no jornal “O Ocidental” em Moçambique, em 1913.
Em 1917, na Guiné, deu voz e alma à tertúlia Lides Literárias. Em 1918 publicou, ainda na Guiné, o
seu poema Desejo Mórbido e é reconhecida, ainda hoje, como a “poeta do exotismo”.
Estreou-se nas letras pátrias nos semanários “O Algarvio” e o “Correio do Sul”, ambos de Faro.
Maria Archer era admirada como a mulher mais bonita e, pelo menos, a mais cosmopolita de Faro.
O seu primeiro livro foi publicado em Angola, em 1935. Um livro de novelas e de contos intitulado,
Três Mulheres, em parceria com Pinto Quartim.
Escreveu sobre os seus ideais, sobre África, sobre a luta pela dignificação da mulher.
Reconhecida pelos críticos literários da época como “a revelação da literatura portuguesa de 1935,
com uma obra de linguagem rica, de uma perfeita plasticidade e de um colorido brilhante como só
grandes escritores sabem utilizar”, “Prosadora vigorosa, as suas histórias moldadas à maneira de
Maupassant, num estilo mais másculo que feminino abordam problemas ousados nas relações da
mulher com o homem e nas da situação daquela numa sociedade pouco afeita ainda a reconhecer
direitos iguais aos dois sexos.”.
Como recompensa, sofreu o isolamento e a discriminação da sociedade da época.
Viveu a revolta de ver alguns dos seus livros apreendidos. E, inconformada e perseguida, ruma até
ao Brasil em 1955. Regressa em 1979 a Portugal.
Mulher de horizontes, viajada e ousada, admirada por muitos e silenciada por alguns deixa-nos em
No crepúsculo da sua vida pairou o silêncio de um país e de uma sociedade.
Passados trinta anos após a sua morte vogam vestígios desta Mulher de inegável valor em alguns
municípios de Portugal apesar do esquecimento a que foi votada.
Almada, Almodôvar, onde em 1921 foi celebrado o seu casamento religioso, Amadora, Cascais,
Faro, onde viveu com seus pais, casou civilmente e mais tarde viveu com o seu afilhado e com o seu
marido, Alberto Teixeira Passos, Ferreira do Alentejo, Oeiras e Seixal, homenagearam-na,
discretamente, num quase anonimato, entre 1975 e 2010, marcando, de forma perene, as ruas dos
A mulher que não se escondeu atrás de pseudónimos permanece viva na memória destas
Agora, que escrevo sobre o passado e o reinvento pela palavra, não esqueço esse momento de
revelação destes lugares mágicos, descobertos, no encantamento de um entardecer.
Nada será mais autêntico do que, reencontrarmo-nos com Maria Archer, através das suas próprias
palavras “Confio na justiça do Tempo.”
Queluz, 20 de Novembro de 2012

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