quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

COMUNICAÇÃO DE ANA MARIA PINTORA

o meu corpo é a minha pintura – ana maria

Vivemos num tempo, aparentemente, em que tudo foi dito nas artes e em quase todos os domínios. Nunca sabemos se desocultamos algo de novo ou não. Ainda assim, arrisco pensar que o tempo do discurso da autonomia feminina foi sendo substituído por uma desregulação da feminilidade, transformando a imagem/corpo da mulher numa espécie de negócio milionário que tudo vende. Sem conteúdo, usam-nos “ bonequinhas”, quase sempre seminuas. Se noutros tempos a nossa identidade estava consignada ao “consentimento” masculino, agora, esta obsessão pelo corpo é aquilo que nos assegura o estatuto social sobre o outro, sem o complexo do género, novidade do século XXI A diáspora continua, noutras viagens, por outros fins.
Foi neste contexto e refletindo esta confusão permanente entre ser/pessoa e ser
corpo/imagem que tentei salvar o corpo/imagem da artista criadora. A reflexão resultou de uma residência artística que fazia percorrer pelos lugares da cidade de Lagos, duas mulheres de férias ”Ó k`artistas de Férias no Algarve”( andrea inocêncio e ana maria). Apresentaram-se como não imagem, porque não correspondiam aos estereótipos da moda. Como anti consumo, recuperaram do baú as roupas guardadas, cheias de encanto. Construíram o figurino negando as convenções de beleza. A loucura das senhoras é inofensiva, está nas sugestões que oferecem, recriam imagens e rituais. Integram-se pela diferença, pelo excesso e originalidade. Os espectadores ficam com elas. Nesta Performance a comunicação desenvolveu-se não a partir de uma linguagem comum, vulgar (emissor - recetor), mas a partir de expressões simbólicas que estão no imaginário dos transeuntes. O acesso às figuras é simples, é quase um encontro de memórias. Primeiro são os olhos e a seguir o sorriso dos lábios. Gera-se um jogo encantatório. Quem gosta de quem. Será este o momento da evidência artística?
.“Percebo comportamentos imersos no mesmo mundo que eu habito, porque o mundo
que percebo arrasta ainda consigo a minha corporeidade, porque a minha perceção
influência os meus gestos sobre ele….”
Merleau-Ponty

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