quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

COMUNICAÇÃO DE ANTÓNIO REGEDOR

O tempo e os modos de viver a cidadania

Na actual ausência de valores éticos que todos sentimos no nosso quotidiano social, é inevitável recorrer às origem do conceito de cidadania, para nos situarmos, traçar azimute e apontar proa à grande questão contemporânea que é exactamente o modo de viver a cidadania.
A origem do modo de entender a cidadania está imbuído do conceito de “Excelência”, tal como se apresentava na Paideia Grega.
O acervo educacional da Grécia Clássica tem no termo “Areté” vários sentidos. De um deles, uma tradução possível é “excelência”. Este conceito representa o ponto máximo de aperfeiçoamento que um determinado ser pode alcançar.
Na educação da Grécia clássica, ter areté, é o objetivo do homem grego
Platão refere-se à areté no sentido moral no seu livro a República. E significando para este autor as nobres acções.
Platão faz coincidir o “Bem” e o “Belo” resolvendo no “Uno” a sua dualidade ontológica. A boa e bela acção é a que tem o sentido do interesse geral da cidade. O cidadão que participa do bem estar da cidade, é feliz quando a cidade é também feliz. Não se entende que um cidadão possa sentir-se bem num caos social. Aquilo que é bom para a cidade é bom para o cidadão.
O modo de viver a cidadania não é sustentável na perspectiva moderna egoísta, individualista, limitada ao interesse de grupo.
Será de retomar o conceito clássico que faz coincidir na prática cidadã os interesses da cidade com os do indivíduo. Será justo pretender modernamente a retoma do conceito de excelência na prática da cidadania moderna.
Na herança recebida do sec. xx, estão formas de organização que serviram mais ou menos eficazmente a luta pelos direitos políticos, económicos, sociais e os de terceira geração como sejam os da qualidade de vida.
Muitas dessas formas organizativas de participação na vida da cidade são obsoletas face às imensas potencialidade da sociedade tecnológica da informação e do conhecimento. Nomeadamente as redes sociais estão a revolucionar a forma de contacto, de produção, de transmissão e de mobilização para a cidadania.
Mas não passarão de formas diferentes e adaptadas ao desenvolvimento tecnológico social, que continua a colocar como essencial a questão de partida. O modo como se participa, e esse só poderá ser orientado no interesse do bem comum, se estiver imbuído da “areté”.
A segunda metade do séc XX proporcionou em tempo de paz e prosperidade enormes avanços civilizacionais. De entre os mais importantes está a aquisição pela mulher da identidade de cidadã. Desde logo a sua própria identidade. Depois a igualdade na escola, na profissão, em casa. Nos direitos políticos o de eleger e ser eleita, nos económicos o de gerir o seu património, a sua carreira profissional e até a sua opção de profissão e de vida (autorizações de casamento)
A situação da mulher em sentido lato tem melhorado, mas a cidade e o governo da cidade parece não ter acompanhado esse avanço civilizacional
A mulher migrante vive realidades multifacetadas e simultaneamente fragmentada e dividida. Dividida entre o lugar de origem e o de presença, entre a comunidade própria e a comunidade de inserção, entre os costumes de um lado e de outro, entre as divisões de masculino feminino. A superação de toda esta dualidade poderá ter solução na consciência do conceito de “areté”, de “excelência”. O bem estar das comunidades migrantes terá de ser sentido pelo todo social. A acção política no país de origem terá de ser “excelente” para que a coesão e a identidade cultural e nacional seja efectiva. Não nos podemos sentir bem se soubermos que nossos concidadãos não estão bem. A acção que desenvolvo só é “excelente “ se for pensada no interesse colectivo e não no de grupo ou individual. É a acção que tem de ser tomada no interesse do cidadão independentemente do local onde está emigrado, independentemente de ser homem ou mulher, independentemente da condição social, independentemente da geração de diáspora. É isto faz a acção bela e boa como a entendiam os clássicos, condição da felicidade. É esta a condição do modo de viver a cidadania.
António Regedor

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