sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

20 - Comunicação de CRISTINA RODRIGUES

Sou a Cristina Rodrigues, tenho 44 anos, e antes de mais gostava de agradecer o convite que me foi endereçado e é uma honra poder estar hoje com todos os presentes, e poder partilhar algumas facetas da minha vida.
Era ainda uma jovem de 20 anos, quando decidi ir viver para a Suíça. Logo muito cedo, a vontade de fazer algo diferente foi crescendo. Após um despedimento abusivo, decidi aderir a uma das maiores unidades sindicais da Suíça, e rapidamente integrei o comité do maior sindicato de hotelaria, na altura, Union Helvetia, em Genebra. Tenho muito orgulho em dizer que foi precisamente nessas datas, que foram modificadas e alteradas muitas leis para a emigração, mais concretamente, a legalização do agregado familiar através do “permis” (autorização de trabalho) do chefe de família, e a possibilidade de integrar o tribunal de trabalho como juiz de paz.
Após ter decidido abrir negócio por conta própria, outra variante surgiu,
pela qual me apaixonei, a rádio! A comunicação social, falar na nossa língua, na nossa cultura, manter viva a chama lusitana… Uma grande aventura, de grande responsabilidade começava. Fiz parte da direcção da rádio Arremesso em Genebra, mas como único elemento feminino na direcção, muitos conflitos foram surgindo, uma vez que o nosso homem português, embora mais evoluído, continua a ser machista e sexista, sendo muitas vezes difícil seguir directivas de uma mulher! Como os restantes membros de direcção da associação rádio Arremesso, não viam com bons olhos as minhas iniciativas, claro, decidi partir, e atrás de mim outros elementos se seguiram. Mas não podia parar, e quase de imediato, criamos outra rádio, a “Alma Lusa”. A rádio Alma Lusa, é uma rádio que emite via internet para todo mundo, tendo uma grelha de programas em directo, diariamente. Desde debates políticos ao tradicional discos pedidos, é neste momento uma estação que chega a ter um intercambio com 150 ouvintes por programa, o que é fantástico. No ranking de rádios na internet esta classificada em 3 lugar. A rádio Alma Lusa, funciona, sobrevive do voluntariado dos locutores, e algumas festas anuais, das quais a eleição da Mini Miss Rádio Alma Lusa, sendo este uma exclusiva criação pessoal, levando as meninas dos 4 aos 10 anos de idade ao rubro.
O que mais me seduz em fazer rádio na Suíça, sem duvida alguma, é o facto de poder divulgar a nossa língua, a nossa cultura, as nossas tradições, e o intercambio com os ouvintes. Mais que tudo, o poder informar o auditório, que por vezes parece adormecido, mas que aos poucos vai-se interessando, e tem aderido. O mais aliciante, é saber que o auditório esta espalhado por todo o mundo, chegando a trocar impressões com residentes no Brasil, Canada, África do Sul e ate Austrália, durante o mesmo
programa, o mais engraçado, é ver que todos se parecem, e diz todos: que bom ouvir falar em português, do nosso país e das nossas comunidades! Uma das maiores dificuldades com que me deparei, foi estimular os ouvintes a ouvir debates informativos, políticos e a participarem nos mesmos!
Infelizmente cada vez há menos pessoas, que se interessam pela vida social, politica, dai a problemática em fazer programas deste tipo. Foi precisamente num destes debates que eu organizava, na altura das eleições para as presidenciais, que conheci a Dra. Vanda Santos, funcionaria da ONU e membro do MEP, o Dr Miguel Limpo, então presidente do partido Os Verdes de Genebra, que se falou na criação de um novo projecto, uma associação de carácter politico, social e cultural. Alguns meses mais tarde nasce a então a associação Agora Portugal! É um projecto aliciante e arrojado, uma vez que sobretudo, na área da politica, é muito difícil mobilizar as pessoas, os jovens a serem mais activos. Acreditamos na nova vaga de emigração, na segunda e terceira
geração, para um futuro mais positivo, para que tenhamos uma qualidade de vida superior à de há 20 anos, como emigrantes. A nossa força esta na nossa língua, o português, na nossa cultura, para que não sejam esquecidos pelos nossos filhos, e que tenha a mesma importância ou mais para eles como tem para nós.
Neste momento, Portugal, é a maior comunidade estrangeira residente em Genebra, o que significa uma media de 70.000 inscritos no consulado, e dizer que somos a única, das mais antigas, que não tem assento no conselho genebrino, o equivalente à assembleia da Republica; este é um dos factos que Agora Portugal luta por uma mudança!
Valorizar e promover a identidade da comunidade portuguesa na Suíça francófona;
Valorizar e dar a conhecer os empresários portugueses. Promover o dialogo entre o consulado português e o mundo associativo das comunidades na Suíça francófona. São estes os maiores objectivos da associação Agora Portugal.
Mas realmente, o que mais me enaltece a alma, um dos maiores projectos de vida que me podia ter acontecido, a nível associativo, foi sem duvidas, estar na fundação da associação “Escola Sofia Ilha de Bubaque”… após várias lutas burocráticas, hoje orgulho-me pelas 62 crianças que dependem do nosso projecto, das quais 42 são meninas! Sabendo que a Guiné Bissau, atravessou e atravessa uma grande instabilidade politica, com uma sociedade completamente corrupta; sabendo que na ilha de Bubaque, o nr de habitantes é de 15’000, dos quais em média 5’000 são emigrantes, que o salário mínimo são 120 euros aproximadamente, mas que ninguém os recebe, que a escolaridade de uma criança custa 12 euros/mês, a maioria não tem condições de ter mais que um filho na escola, pelo que privilegiam os elementos masculinos, sendo mesmo em algumas escolas proibido o ensino a meninas! Foi durante uma viajem de recreio à ilha, que uma amiga teve conhecimento do grau de analfabetismo, sobretudo no feminino! Após o seu regresso e face a este dilema, ela, eu e outra amiga, de imediato, resolvemos pôr em pratica um projecto que pudéssemos mudar a situação, ou pelo menos ajudar.
No inicio, começamos por enviar utensílios agrícolas, sementes, e ensinar as mulheres a fazerem o seu próprio cultivo, e a fazerem as suas próprias sementes de uns anos para os outros. Hoje 4 anos após, já não se envia quase nada neste domínio, uma vez que já são autónomas. Neste sentido, estamos no ponto de criar grupos de trabalho, com voluntários, que disponibilizam a sua sabedoria e põe em pratica alguns dias de aprendizagem, isso graças à boa vontade de alguns simpatizantes e membros da associação, que prescindem, de certa forma das suas férias, mas por uma causa muito nobre! Depois constatamos que na ilha de Bubaque, a maioria dos residentes, são
emigrantes vindos do Senegal. As crianças falam sobretudo em crioulo, e francês, e que 95% não frequenta a escola! Daí que tomamos a decisão de abrir uma escola com um professor bilingue, francês/português, para que pudesse preparar melhor as crianças e que estas tivessem mais possibilidades profissionais no futuro. Hoje a escola funciona com um activo de 62 alunos, com cursos diurnos para as crianças e nocturnos para as mulheres. Tudo gratuito. O fornecimento de todo o material escolar, fomos recolhendo em algumas escolas, algumas instituições e empresas locais em Genebra, e enviamos o 1 contentor em 2008, com carteiras novas, livros, quadros, computadores,
roupas e calçado. Enviamos também um gabinete dentário completo, o qual fizemos donativo ao hospital local, uma vez que na ilha, havendo só um enfermeiro que simplesmente “arrancava” dentes! Já podem imaginar o quanto foi útil este donativo!
Um segundo contentor está a ser preparado para ser enviado em Janeiro 2012.
Sabendo que o custo do envio ronda os 3’500 euros, preço especial, é através de feiras de antiguidades, e vendas de variados artigos usados, os quais nos são doados, que eu e outro elemento da associação, vamos ao longo do ano, quase todas as semanas angariando fundos para cobrir as despesas. Contamos também com vários donativos de empresas e particulares da região. Através igualmente do apadrinhamento das crianças, que custa a módica soma de 30 euros, o que cobre as despesas de um ano de escolaridade de uma criança, segundo o método que pusemos em pratica. Organizamos um jantar anual de solidariedade, onde por vezes fazemos uma lotaria, tudo com a ajuda de outros organismos locais, que nos disponibilizam as salas e nos ajudam na organização.
Muito já foi feito, mas muito mais resta a fazer, por vezes, perguntam-me: Porque andas tu metida nisto? Eu com sorriso respondo que a minha felicidade completa-se em fazer alguém feliz, sei que lá longe, há um grupo de crianças que depende exclusivamente do nosso projecto, e isso faz-me feliz! Queria aproveitar a presença de Sua Excelência Sr Secretario de Estado das Comunidades Portuguesas, que nós no estrangeiro, também somos portugueses!
Obrigada a todos.

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