sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Graça Guedes UM CONGRESSO A ABRIR CAMINHOS DE FUTURO

O ENCONTRO MUNDIAL DE MULHERES MIGRANTES – GERAÇÕES EM DIÁLOGO Espinho, 1995
Graça Guedes
Professora Catedrática
Secretária Geral da AECS Mulher Migrante
Introdução

O Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo, realizado em Março de 1995, marca indelevelmente o início das atividades da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante, criada por escritura notarial em 2 de janeiro de 1994, razão pela qual valerá a pena revisitar este evento, decorridos já 20 anos, numa tentativa de evidenciar a sua importância, apesar de existirem publicações que o relataram, incluindo muitas das comunicações *.
Uma Associação, que se inspirou nas grandes conclusões o 1º. Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo organizado pela Secretaria de Estado da Emigração em 1985 e assim iniciou este caminho que vem percorrendo: de estudo e investigação que envolve a problemática da mulher portuguesa na nossa diáspora.
Este Encontro, que serviu para dar a conhecer a nossa associação, foi também a concretização de uma das recomendações do Encontro de Viana (1985), que visava a realização de um Congresso de Portuguesas no Mundo e, segundo Manuela Aguiar (2009), … com a finalidade de abordar áreas temáticas, tais como a presença feminina no associativismo, na comunicação social, no trabalho, no ensino da língua, na preservação da cultura, através das segundas gerações, na preparação do regresso a Portugal.
No Encontro Mundial de Espinho intitulado Gerações em Diálogo estiveram cerca de 400 participantes, muitas das quais vindas dos cinco continentes e na sua grande maioria dirigentes associativos, professores, investigadores, antigos conselheiros do CCP, jornalistas, políticos, jovens das comunidades e de associações espinhenses.
Tive a honra e a satisfação de ter sido desafiada pela Direção e pela Presidente da Assembleia Geral para organizar este primeiro Encontro, cuja tarefa foi facilitada pela extraordinária equipa que me apoiou.
Neste recuo de 20 anos, será relatada esta experiência magnífica e, provavelmente, evidenciados factos que marcaram este Encontro que terá aberto os caminhos de futuro da nossa Associação.

  • Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo. Comunicações (s/ data). Edição AECS Mulher Migrante. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal “A Voz de Azemeis”
  • Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As Ideias e os Factos Assinalados (s/ data). Edição AECS Mulher Migrante. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal “A Voz de Azemeis”
  • Mulher Migrante – O Congresso ONLINE (2009). M. Aguiar & T. Aguiar (Coordenação). Edição AECS Mulher Migrante. Porto: Rocha artes gráficas.lda.

Organização
Todas as tarefas são simplificadas, quando a equipa é coesa e dinâmica, interessada em tudo fazer para o êxito desta organização. Com diferentes vivências e formações académicas, muitos dos quais estudantes de doutoramento da minha Faculdade, propiciaram uma articulada intervenção para dar resposta a todas as necessidades.
Orgulho-me desta equipa que tão bem me apoiou e que muito justamente merece ser elogiada neste texto, com o meu maior agradecimento: Rosa Maria Albernaz, Isabel Aguiar, Maria José Vieira, Estefânia Ribeiro, Elsa Gaioso Vaz, Conceição Maia, Manuela Diniz, Sandra Prata, Manuela Barros Aguiar, Conceição Catarino, Sónia Teixeira, Mónica Silva, Iguatemy Lucena Martins, Luís Antonio Silva, Juarez Nascimento, Solange Nascimento, Joyce Stefanello, Wenceslau Leães Silva.
Desde o acolhimento no aeroporto, com o transporte fornecido pela Câmara Municipal de Espinho e que garantiu todas as chegadas, considerando a diversidade dos horários, instalação no Hotel Praiagolfe onde se realizou o Encontro, organização dos espaços e funcionamento das atividades definidas na programação, para



Todas as tarefas são simplificadas, quando a equipa é coesa e dinâmica, interessada em tudo fazer para o êxito desta organização. Com diferentes vivências e formações académicas, muitos dos quais estudantes de doutoramento da minha Faculdade, propiciaram uma articulada intervenção para dar resposta a todas as necessidades.
Orgulho-me desta equipa que tão bem me apoiou e que muito justamente merece ser elogiada neste texto, com o meu maior agradecimento: Rosa Maria Albernaz, Isabel Aguiar, Maria José Vieira, Estefânia Ribeiro, Elsa Gaioso Vaz, Conceição Maia, Manuela Diniz, Sandra Prata, Manuela Barros Aguiar, Conceição Catarino, Sónia Teixeira, Mónica Silva, Iguatemy Lucena Martins, Luís Antonio Silva, Juarez Nascimento, Solange Nascimento, Joyce Stefanello, Wenceslau Leães Silva.
Desde o acolhimento no aeroporto, com o transporte fornecido pela Câmara Municipal de Espinho e que garantiu todas as chegadas, considerando a diversidade dos horários, instalação no Hotel Praiagolfe onde se realizou o Encontro, organização dos espaços e funcionamento das atividades definidas na programação, para além de tudo quanto possa envolver as dúvidas e necessidades de cada participante, alguém estava atento e pronto para apoiar.
Mas para que os objetivos do Encontro se pudessem implementar, sobretudo para que houvesse uma significativa participação de mulheres vindas dos cinco continentes, foi fundamental ter tido apoios que importa salientar e reconhecer: Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, Secretaria de Estado da Juventude, Ministério da Educação, Sub-Secretaria de estado da Comunicação Social, Direção Geral da Família, Governo Civil de Aveiro, Governo Civil de Lisboa, Câmara Municipal de Espinho, Junta de Freguesia de Espinho, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, Comissão de Turismo Rota da Luz, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso-Americana, Fundação Luso-Brasileira, Fundação Oriente, Banco português do Atlântico, Praiagolfe Hotel, Salvador Caetano, Espinfor, Centralcer, Edgar & Irmão, Saer, Solverde.
Um Comissão de Honra que também nos prestigiou com as suas presenças e intervenções. Todas e todos tiveram um papel preponderante, que julgo ser inédito e de que muito nos prestigiaram
Participação
Concretizando uma das recomendações do Encontro de Viana (1985), que visava a realização de um Congresso de Portuguesas no Mundo, trouxemos a Espinho mulheres que foram criteriosamente escolhidas pela Direção da Associação ECS Mulher Migrante, dado o seu papel preponderante nas comunidades portuguesas onde vivem e mesmo membros do Conselho das Comunidades Portuguesas (Manuela Chaplin e Maria Alice Ribeiro). Do oriente (Malaca – Joan Marbeck, Goa – Fátima Garcia e Maria Lopes, Damão – Graça Rocha), ao ocidente e até á Califórnia – Mary Giglitto e Maria João Brantuas. Dos estados Unidos da América, Manuela Chaplin, Manuela Ferreira, Berta Madeira, Gabriela Vetter. Do Canadá, Conceição Freitas, Lourdes Lara, Alice Ribeiro, António Ribeiro e Idalina Silva. Do Brasil, Núbia Marques, Maria Pisolante e Benvinda Maria. Da Venezuela, Juliana Resende. Da Africa do Sul, Vera Nazaré e Maria Salgado. Da Europa, Mari Freitas (Holanda), Lígia Alvar, Olímpia Oliveira e Céu Cunha (França). Todas estiveram presentes, com intervenções magníficas.
Algumas já tinham estado em Viana, em 1985 (Eulália Salgado, Lourdes Lara, Juliana Resende, Manuela Chaplin, Berta Madeira, Mary Giglitto) e outras, agora a residir em Portugal, tais como a Laura Bulger (Canadá) e Leonor Xavier (Brasil).
Estiveram presentes cerca de 400 participantes, sendo 91 das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, muitas das quais sem terem o financiamento da Associação Mulher Migrante e indentificadas na separata do Jornal Lusitano (Edição nº 305 de 25 de Março de 1995) .
Programa
Elaborar o programa deste primeiro Encontro e mundial, que pretendeu propiciar um espaço de diálogo entre mulheres e homens de diferentes idades e provenientes dos cinco continentes onde moram ou moraram, com experiências de vida diversificadas, seria uma tarefa difícil. Mas não foi!
A Drª. Manuela Aguiar, que havia sido Secretária de Estado da Emigração e depois Deputada da Assembleia da República pela Emigração e eu própria, em poucas horas definimos os vários temas que seriam abordados em Conferências e Mesas Redondas, com os diferentes intervenientes a convidar (e que quase todos aceitaram), bem como para as Comunicações Livres, que a seguir se descriminam e que ocuparam os três dias de intensa atividade do Encontro.
Conferências:
. Gerações em Diálogo em Contexto da Emigração – Profª Doutora Engrácia Leandro
. História e Política da Emigração (1850-1930) – Profª Doutora Mirian Halpern Pereira
. A Família Dividida pela Emigração – Prof. Doutor Policarpo Lopes
Mesas Redondas:
. Exercício da Cidadania nas Várias fases do Ciclo Migratório – Moderadora: Drª Manuela Aguiar
. Discriminação, exclusão, racismo e Xenofobia nas Sociedades de Hoje –Moderadora: Drª Amélia Azevedo
. Regresso de Emigrantes e Desenvolvimento Económico em Zonas Rurais – Moderadora: Profª Doutora Manuela Ribeiro
. A Força das ONG´s – um novo olhar sobre a participação – Moderadora: Drª Ana Vicente
. Do Presente um Olhar Retrospectivo: perspectiva de diferentes gerações. Pioneiros e Descendentes – Moderador: Prof. Doutor Félix Neto
. Mulheres Migrantes – carreira, participação social e política – Moderadora: Celina Pereira
. A Mulher nas Literaturas de Língua Portuguesa – Agustina Bessa Luís
Comunicações Livres:
. Os Jovens na Construção de Comunidades de Língua e Cultura Portuguesa – Presidente: Dr. José Cachadinha
. Espaço de Associativismo e Comunicação Social nas Comunidades Portuguesas – Presidente: Prof. Doutor Salvato Trigo
. Mulheres das Sete Partidas do Mundo – Presidentes: Drª Rita Gomes e Profª Doutora Graça Guedes
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Muitas das comunicações foram posteriormente publicadas pela Associação, algumas na íntegra e outras em resumo (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Comunicações. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis).
Na sessão de abertura, presidida pela Secretária de Estado da Juventude, Drª Maria do Céu Ramos e depois das boas vindas do Presidente da Câmara de Espinho, José Mota, na qualidade de anfitrião, saudando todos os presentes e salientando o seu orgulho pela realização deste evento em Espinho, manifestou a sua felicidade pela opção pela sua terra, mas também por considerar a temática ser da maior relevância e oportunidade, a Drª Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação ECS Mulher Migrante, abre os trabalhos, expressando a vontade de ali se discutirem, em ambiente de grande abertura e informalidade, os problemas que preocupam as Comunidades Portuguesas do mundo inteiro, os problemas dos imigrantes em Portugal, os problemas da lusofonia e fez fé nas suas certezas. E acrescenta … Sabemos que as realidades das Comunidades mudam todos os dias, queremos estar a par, queremos que nos venham dizer hoje, em 1995, o que querem de Portugal, o que podem fazer por Portugal, qual é o papel de cada um de nós, num grande e ambicioso projeto de afirmação da língua e da cultura no Mundo (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As Ideias e os Factos Assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis. 9 p).
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A encerrar esta sessão de abertura, a Secretária de Estado da Juventude, numa intervenção longa e de improviso, parte da qual está também registada na publicação atrás referida, expressa assim as razões da sua presença: … a minha presença aqui significa o apoio incontroverso às mulheres de todo o mundo, mas em particular às mulheres mais jovens, que nesta relação de solidariedade estão a ser capazes de mostrar que os tempos são de mudança e que nos espera um futuro com mais igualdade de oportunidades, com maior respeito pela dignidade das mulheres, com mais solidariedade também para com os homens, porque nada se faz no mundo só com os homens ou só com as mulheres. Acima de todos, está o primado da pessoa e pessoas somos todos nós (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As ideias e os factos assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis. pp. 12-13).
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A sessão de encerramento foi residida pela Drª Maria de Jesus Barroso, esposa do Presidente da República, que desde então tem acompanhado as atividades da nossa Associação, presidindo à Comissão de Honra na grande maioria dos eventos que têm sido organizados ao longo destes vinte anos e neles participado ativamente, sendo nossa Sócia Honorária.

Na sua intervenção e depois de ouvido atentamente as conclusões do Encontro, num improviso emocionado que galvanizou a assembleia e frequentemente interrompido pela forte ovação da sala, expressa assim as razões da sua presença neste Encontro para o qual foi convidada e que agradece: Tenho muito gosto em estar aqui ao lado das representantes das várias comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Eu própria, quando vou a qualquer parte do mundo, acompanhada pelo meu marido, tenho tido o cuidado de comunicar com as comunidades, para saber como vivem, saber o que sentem, saber o que sonham, conhecer os seus anseios. Uma coisa que me comove particularmente é perceber o carinho e o amor que continuam a dispensar a Portugal (in Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As ideias e os factos assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis. pp. 68-69). E acrescenta…Fico muito satisfeita porque os jovens estão também representados neste Encontro, desejosos e ansiosos de manter a ligação ao país de origem, seu e de seus pais. A eles direi que devem exigir, exigir e exigir aquelas condições que são indispensáveis para que possam continuar a falar a sua própria língua, para que não a percam nos países de língua completamente estranha.


anexo
Atividades culturais
Tal como aconteceu no Encontro de Viana em 1985 e bem explicado no livro de Atas publicado em 1986 pelo Centro de Estudos da Secretaria de Estado das Comunidades portuguesas (pp. 121-133) cujas atividades culturais incluíram Teatro, pelo Grupo Cá e Lá, Cinema, com a projeção do filme Portugaises d´Origine, Exposições – bibliográficas (organizadas pelo Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas, pela Comissão da Condição Feminina e pela Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros), fotográfica, intitulada Cantos e Recantos, da autoria de Esperança Marques, patentes no espaço de convívio do Encontro e ainda uma exposição patente em Braga, evocando a História da emigração e fixação portuguesa no Hawai, intitulada Os Portugueses no Hawai - no final primeiro dia do Encontro e depois da receção na Câmara Municipal de Espinho pelo então Presidente José Mota, foi inaugurada num espaço central da cidade, com acesso livre a toda a população, a Exposição Paisagem de um Povo, da pintora Fátima Melo e que pertence à Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, favorecendo assim uma ligação do Encontro com a cidade que o acolheu e que ficou aberta durante todos os dias .
Trata-se de uma coleção de pintura a pastel sobre papel, composta por 15 telas, representando diferentes regiões de Portugal e que havia sido encomendada à autora pela então Secretária de Estado da Emigração, Drª. Manuela Aguiar.
anexo
Este primeiro dia não terminou, sem uma oportunidade para todas se conhecerem melhor.
Houve um convívio cultural, onde não faltou o canto, a dança e a poesia, protagonizados pelo grupo Como Elas cantam e Dançam em Paços de Brandão, dirigido pela Dona Joana Ferreira Alves e considerado internacionalmente como o melhor grupo etnográfico português, pela Tuna Feminina da Universidade do Porto e pela poetisa Elsa Noronha, também interveniente na Mesa Redonda do Encontro intitulada A Mulher nas Literaturas de Língua Portuguesa, moderada pela escritora Agustina Bessa Luís.
Depois de três dias de intenso trabalho em Espinho, as participantes deslocaram-se para Lisboa, onde tiveram uma receção no Hotel da Lapa, oferecido pela Senhora Governadora Civil de Lisboa, Drª. Adelaide Lisboa, sem porém deixarem de passar por Aveiro, para um passeio turístico na Ria, num barco Moliceiro, oferecido pelo Governador Civil de Aveiro, Dr. Gilberto Madail e pela Comissão de Turismo Rota da Luz.

Conclusão
Seria exaustivo apresentar aqui as conclusões de cada um dos painéis que estão registadas na publicação frequentemente referida neste texto (Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – As Ideias e os Factos Assinalados. Oliveira de Azemeis: Oficinas Gráficas do Jornal A Voz de Azemeis) e ao longo de 11 páginas (pp. 75-86).
Seleciona-se uma e relativa às relações inter-geracionais, em homenagem à grande temática do Encontro: Gerações em Diálogo:

anexos
A terminar, será de registar na entrevista feita pelo Jornal Lusitano à Drª Manuela Aguiar e que intitulou Um Sonho Partilhado, a resposta dada à questão colocada acerca do que mais importante destacou do Encontro de Espinho: Quando olho para trás e vejo as pessoas que estiveram connosco, a quantidade e qualidade do trabalho efetuado, penso que aconteceu um milagre, pois era uma iniciativa extremamente difícil de gerir. O ambiente humano foi excelente, o que permitiu que todos dialogassem de uma forma fraterna, sem ter acontecido nenhuma hostilidade. Ainda por cima vive-se numa fase pré-eleitoral que é sempre conflitual e, estando presentes políticos de vários partidos, não houve nunca a tentação de politizar a reunião. E acrescentou, … O diálogo de gerações aconteceu.
E assim aconteceu em Espinho, em 1995.

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