segunda-feira, 30 de novembro de 2015

RECORDANDO LAURA BULGER
Neste ano de 2015, outra das nossas associadas e das mais antigas, nos deixou: Laura Bulger.
Conheci a Laura há trinta anos, em Viana do Castelo, no emblemático 1º Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo, organizado pela Secretaria de estado das Comunidades Portuguesas.
Veio em representação do Canadá e, especificamente, enquanto responsável pelos Estudos Portugueses na York University de Toronto, onde era Professora, para nos dar a conhecer a problemática da mulher imigrante numa sociedade pluralista, como é a do Canadá (In Actas do 1º Encontro de portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo. Porto: Edição do Centro de Estudos da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, pp. 49-51).
Algum tempo depois e a seu convite, conheci bem de perto os jovens que integram os Estudos Portugueses na York University, quando aí me desloquei para proferir uma conferência e percebi a dinâmica deste grupo que a Laura liderava, na prossecução da missão que encetaram - transmissão de uma herança cultural que seja adequada à realidade atual do país de origem. Efetivamente, os valores tradicionais transmitidos pelos seus Pais e com que se identificam, mantêm uma cultura transplantada de um Portugal de há mais de 25 anos e tal como Laura nos relatava em Viana do Castelo (p 51) … com elementos estáticos que os filhos não conseguem compreender nesta sociedade multifacetada e em constante evolução, pelo que a missão deste grupo de estudos universitários balizava adequar a nossa herança cultural a este País de acolhimento, politicamente multicultural e incentivador da participação ativa do imigrante na nova sociedade, sem ter de abdicar da língua e cultura de origem.
Conheci-a então melhor, não só no seu contexto de trabalho, mas também no seu ambiente familiar, pois fez questão que ficasse alojada em sua casa. Uma moradia antiga, victoriana, localizada num pacato bairro residencial de Toronto. Com o marido John e o seu gato Chomsky, partilhamos momentos fantásticos que nunca esquecerei, impregnados da sua inteligência e do seu sorriso sereno!
Aqui ficou consolidada a nossa amizade e que perdurou.
Encontrávamo-nos, sempre que vinha a Portugal e ao Porto, onde tinha residência.
Mais tarde e de regresso a Portugal, passou a integrar o quadro docente da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD), mas continuou com residência no Porto.
A Laura era licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, onde também obteve o seu doutoramento, com uma dissertação onde o objeto de estudos foi A Sibila (1954) de Agustina Bessa Luís, tornando-se uma grande especialista da obra magnífica desta grande mulher da literatura lusófona e também uma grande sua amiga.
Participou em muito eventos científicos organizados pela Associação Mulher Migrante, tais como em 1995 e em Espinho, no Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo, onde foi comentadora da Mesa Redonda A Mulher nas Literaturas de Língua Portuguesa, moderada por Agustina Bessa Luís. E também em 2011, na Maia, no Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora, onde interveio no Painel Cidadania e Cultura, com a comunicação intitulada Agustina revisitada… num relance (In Aguiar, M. & Guedes, G. Orgs. Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora. Edição da Associação Mulher Migrante. Espinho: Tipografia Meneses – Cooperativa Gráfica de Espinho, pp. 62-65).
Cidadania e Cultura, marcam a vida da Laura Bulger e marcaram todos e todas com quem partilhamos momentos de convívio ou de aprendizagens e que nunca esqueceremos.
O seu sorriso sereno e a sua simpatia perdurará em todos nós.

Graça Guedes

 

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