segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Arcelina Santiago sobre MARIA BARROSO


MARIA BARROSO EM ESPINHO - Arcelina Santiago professora

Conhecer Maria Barroso pessoalmente foi para mim a confirmação daquilo que eu imaginava desta cidadã que se afirmou na sociedade portuguesa pela sua ação e postura. Sempre a admirei muito e penso que é um sentimento generalizado a todos os portugueses. Habituamo-nos a admirá-la não apenas pela sua ação enquanto primeira dama do país, como mulher do primeiro ministro, e depois como mulher do Presidente da República, mas por aquilo que ela foi enquanto cidadã, defensora de causas, pedagoga, mulher sensível e com uma capacidade de comunicação excepcional.

Foi em Espinho, na altura do Encontro Mundial da Associação Mulher Migrante. Cumprimentámos-nos e sorrímos. Encetámos uma conversa onde temas diversos foram aflorados. Mais adiante, revelámos projetos, e trocámos ideias. Parecia que nos conhecíamos-nos há muitos anos. Certamente que tínhamos muito em comum, mas a empatia que se apoderou de nós foi determinante. E não me esqueço da expressão acolhedora, simpática , sempre atenta e atenciosa, escutando tudo serenamente. No fim, disse-me " tem já tanta experiência, faz tantas coisas e é tão novinha!" Foi um elogio marcante, embora eu lhe tenha dito que não era assim tão nova...
Mais tarde, outra vez em Espinho, encontramos-nos nas comemorações do Centenário da República. Maria Barroso presenteou-nos com uma comunicação fantástica, fazendo jus às mulheres mais marcantes da Primeira República.
Apresentei-lhe um grupo de alunos que ansiavam conhecê-la. Maria Barroso foi a inspiradora da vontade destes alunos quererem estudar a vida dessas mulheres naquele período da nossa história. O papel das mulheres na Primeira República apresentado pela Dra Maria Barroso deu-lhes a conhecer os papéis relevantes de mulheres numa sociedade marcada pelo masculino. Quando mais tarde aconteceu uma réplica de um serão republicano , promovido pela Câmara Municipal de Espinho, alguns destes alunos encarnaram algumas dessas personagens. Entretanto, estava prestes a chegar o dia 28 de Maio. Esse dia era muito especial pois fazia 99 anos que a primeira mulher portuguesa votou. Ela foi pioneira em Portugal e na Europa. Com base numa carta que a própria Carolina Beatriz Ângelo escreveu ao director do jornal A Capital, tentando repor a verdade e esclarecendo sobre o que se passara no dia anterior, foi elaborada uma peça, recriando esse momento histórico. Vivemos intensamente toda a envolvência da época, do vestuário ao local, sentimentos, opiniões, tomadas de posição, ou seja, um cenário revelador de um tipo de sociedade, numa República ainda a despontar. Fomos convidados pela senhora Vereadora da Cultura , Dra Manuela Aguiar, para representar na Tertúlia “ O Papel das mulheres na República dos homens” na Biblioteca Municipal no dia 28 de Maio e aceitámos o desafio. Poderemos concluir que tudo isto aconteceu inspirados pela Dra Maria Barroso.
Os alunos ficaram surpresos com a sua jovialidade, entrega, simpatia e simplicidade. Na verdade, todos concordaram que estavamos perante uma grande senhora que ficará para sempre na memória coletiva de um povo.
Foi uma mulher inspiradora, mulher de pensamento e de ação. Mulher sábia, mulher solidária , mulher acolhedora, mulher de paz, mas mulher guerreira na defesa de causas e valores. Partiu, mas deixou-nos um precioso legado, um exemplo como pessoa e cidadã . Foi para mim um privilégio conhecê-la de perto e ter tido a honra de estar em algumas iniciativas promovida pela Associação Mulher Migrante. A última aconteceu em Lisboa na Fundação Pro Dignitate que acolheu a exposição de arte no feminino e onde celebrámos os vinte anos da Associação e os da nossa inesquecível anfitriã - Maria Barroso!

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