quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Graça Guedes Um novo associativismo para os mais velhos


UM NOVO ASSOCIATIVISMO PARA OS MAIS VELHOS

Graça Guedes

Professora Catedrática Aposentada da Universidade do Porto

Professora Catedrática da CESPU/ISCS-N

 

INTRODUÇÃO

 

Não é um lugar comum, nem uma frase de circunstância, dizer da honra e satisfação de participar neste Encontro EXPRESSÕES FEMININAS DE CIDADANIA – A MULHER PORTUGUESA NO RECIFE, pois sou de certa forma responsável pela sua realização ao ter provocada a Berta Fernanda para avançar com este projeto e que de longe procurei ajudar, sempre que o solicitou, propiciando esta partilha de saberes e de percursos de vida de portuguesas, de luso descendentes e de brasileiras. Partilha de saberes acerca da mulher na nossa diáspora, em que tenho tido a felicidade de participar em todos quantos e ao longo de mais de trinta anos, têm refletido estas questões.

São oportunidades de conhecimento e de reflexão, que se iniciaram em 1985 e pela mão da então Secretária de Estado da Emigração, Dra. Manuela Aguiar, naquele que foi o 1º. Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo e que representou um contributo no ano de encerramento da década das nações unidas sobre a mulher para conhecer a realidade feminina portuguesa no mundo.

Dez anos depois, a recém criada Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, dá-me a honra de organizar em Espinho o Encontro Mundial Mulheres Migrantes - gerações em diálogo. E, em 2009, novamente em Espinho, mas sem a dimensão mundial, o Encontro de Cidadãs da Diáspora.

Em Novembro de 2011 e na Maia, novo Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora e que se repetiu há cerca de três semanas atrás em Lisboa, no Palácio das Necessidades, intitulado EXPRESSÕES FEMININAS DE CIDADANIA.

            E porque esta nossa Associação não está parada, este Congresso Mundial atravessou o Atlântico e veio até ao Recife, especialmente destinado a retirar do anonimato e, consequentemente, a dar visibilidade ao contributo da mulher portuguesa no nordeste brasileiro, na disseminação da Ciência, da Literatura, da Saúde, da Arte, da Segurança Social, do Empreendedorismo, refletindo assim a sua projeção social e profissional neste espaço da nossa diáspora.

É mais uma iniciativa realizada neste espaço emblemático da cultura portuguesa – o Gabinete Português de Leitura - que celebra as comemorações do 20º aniversário da Associação de Estudos Cooperação e Solidariedade " Mulher Migrante" e que no Recife ganha um especial significado por se associar às comemorações do Ano de Portugal no Brasil.

 

 

O ASSOCIATISIMO E OS PORTUUESES NO MUNDO

 

O associativismo na diáspora portuguesa constituiu uma forma de conjugar indivíduos com interesses ou gostos análogos, que tem favorecido a implementação de objetivos comuns: convivência social, prossecução de práticas culturais, recreativas e desportivas, para além da defesa de interesses nos centros de saúde, do trabalho, das condições de vida, da política (Guedes, 1995).

As Associações portuguesas espalhadas pelo mundo, podem efetivamente ser consideradas como um processo globalizante de interpretações sociais e um meio privilegiado para o estabelecimento de um diálogo intercultural, que se alicerça no fortalecimento dos seus próprios valores culturais.

O elevado número de associações que abrange todos os continentes, reflete a espontânea necessidade em manter e cultivar a sua própria identidade, de forma a criar mecanismos próprios para defesa dos seus interesses, bem como para manifestar uma presença ativa no país de acolhimento.

Nos anos 80 e ao serviço da Secretaria de Estado da Emigração, tive a oportunidade de conhecer uma grande parte de Associações na Europa, em África, na América do Norte e Central, na América do Sul, na Ásia.

Nestes espaços de convívio que os portugueses criaram em todo o mundo e que se destinam à sua sobrevivência cultural, constatei o desenvolvimento de diferentes tipos de atividades, cuja diversidade está dependente das motivações de cada um deles e dos contextos onde estão inseridos.

 

Porém, há necessidade de renovação e de novas formas de associativismo!

 

Há necessidade de novos protagonistas e de novas ideias, conducentes à projeção de novos modelos que irradiem novas formas de estar, envolvendo todos e todas, qualquer que seja a idade e o género, tais como vos trago aqui hoje e especialmente para os menos novos!

 

 

UM NOVO ASOCIATIVISMO PARA OS MAIS VELHOS

 

Esta ideia surgiu há cinco anos em Joanesburgo, em 2008, nos Encontros para a Cidadania: Mulher – vertentes de mobilidade numa perspetiva de diálogo intercultural, quando no debate, que sempre se pretende propiciar após a apresentação das comunicações temáticas, foi-nos apresentada a nova situação de grande parte das mulheres portuguesas, agora aposentadas, muitas delas limitadas ao seu espaço familiar, sem programas para a o ocupação dos seus tempos livres e, para a qual gostariam de conhecer uma solução. E foi com a maior espontaneidade que respondi UNIVERSIDADES SÉNIORES, lembrando-me da enorme expansão em Portugal, que são frequentadas por homens e mulheres, com cursos diversificados e muitos deles até ministrados pelos próprios alunos, aproveitando as suas formações e habilidades, ou mesmo os seus filhos que se interessem em colaborar; também visitas de estudo, viagens, festas de convívio.

Acharam uma ideia ótima e até pouco dispendiosa, que procurei ajudar a concretizar, recorrendo à Universidade Sénior de Espinho (USE) que me forneceu todos os elementos necessários à sua criação e legalização, com estatutos e procedimentos necessários.

           Curiosamente, esta Universidade foi criada em 1997, por um grupo de enfermeiras que tinha feito um estudo naquela cidade sobre a situação dos idosos e que identificaram uma carência de atividades que possam combater a solidão e o isolamento que originariam situações traumáticas. Com este projeto, iriam alterar o ritmo de vida desta população, tornando-a ativa e participativa, já que pressupõe uma calendarização própria e uma frequência obrigatória, melhorando significativamente a qualidade de vida. Para além disso, enriquecem-se sob o ponto de vista cultural, adquirem novos conhecimentos, fortalecem e alargam os seus relacionamentos.

Não só em Joanesburgo, mas também em outras cidades da África do Sul estão a funcionar estas universidades.

Em 2012, eleito o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade, a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas decidiu patrocinar a divulgação deste projeto que entretanto poderá ter outra designação – Academias de Artes e Saberes (ASAS) – mas com a mesma finalidade, dependendo dos contextos onde estão inseridas, bem como as atividades que desenvolvam, dependendo das motivações e das carências manifestadas em cada uma delas: curos temáticos (línguas estrangeiras, história, literatura, informática, artes plásticas, artesanato, grupo coral, dança, culinária, socorrismo, etc.), palestras, seminários, viagens de estudo, sessões de convívio (jantares e bailes), investigação (histórias de vida da diáspora, auto biografias), favorecendo também o diálogo inter-geracional e o estabelecimento de uma Rede entre todas.

A frequência dos cursos deverá ser regular e calendarizada, sem avaliação final (classificação), mas com a atribuição de diploma de participação. É fundamental que todos os participantes sejam interventivos e participativos, colaborando também nas suas direções, coordenações e mesmo na lecionação de cursos.

           

            Esta proposta que hoje vos trago pode ser implementada pela Folia das Deusas, que organizou este Encontro e em qualquer dos espaços magníficos desta cidade maravilhosa – Gabinete Português de Leitura, Clube Português, Real Hospital Português – contando já com outras Academias e Universidades em Buenos Aires, em Caracas, em Durban, em Joanesburgo, em Toronto e em outras que sejam criadas, com as quais poderão vir a estabelecer Redes para intercâmbios futuros.

 

 

CONCLUSÃO

 

Novos protagonistas e novas ideias, projetam novos modelos que irradiem novas formas de estar, envolvendo todos e todas, qualquer que seja a idade e o género e, neste modelo, os menos novos, que merecem uma atenção especial promotora de uma melhoria da qualidade das suas vidas!

 

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