sexta-feira, 27 de dezembro de 2013


Gabriela Valente – Empreendedorismo feminino

 

Sou jornalista de formação, mas hoje o que eu menos faço no meu dia a dia é exercer o jornalismo. Hoje eu diria que sou mais publicitária e administradora de empresas do que jornalista. Mas não me arrependo do meu curso, talvez se eu não tivesse feito exatamente jornalismo eu não estaria onde eu estou.

 

Eu acredito que todo mundo nasce com um dom pra fazer alguma coisa, mas são poucos os que descobrem que coisa é essa. Outros até descobrem, mas não encontram meios de atuar na área. Eu tive a sorte de descobrir pra que eu servia na vida. Descobri cedo que meu negócio era na comunicação. Acho que poucos têm esse privilégio, essa sorte.

 

Meu primeiro trabalho foi em uma assessoria de imprensa. Passei dois anos nessa empresa, onde meu chefe dizia que eu sempre agi como dona. E eu sempre tive mesmo uma preocupação com o todo e não apenas com meu próprio trabalho. E essa eu acho que deve ser a primeira característica do empreendedor. Foi quando eu pedi pra sair dessa empresa e recebi o convite pra abrir meu próprio negócio. Eu ainda nem tinha terminado a faculdade, ainda faltavam dois períodos. Foram os meses que eu mais trabalhei na minha vida. Início de empresa, final da faculdade.

 

E eu acho que eu fiz isso na hora certa. Era a hora de arriscar, de trabalhar muito. E eu comecei a entender que estabilidade era o contrário de empreendedorismo. Enquanto a maioria dos meus amigos estavam na busca da estabilidade, ou estudando pra concurso ou em um emprego, eu estava me arriscando em uma coisa muito nova.

 

Eu tenho uma empresa de publicidade e marketing digital que foi uma das primeiras do mercado pernambucano com esse foco, o foco apenas no digital. E ao mesmo tempo que é bom olhar pra trás e dizer que fomos um dos primeiros, só nós sabemos o quanto foi e ainda é difícil. A empresa se chama Iris Agência Interativa e somos hoje uma equipe de quase 30 pessoas.

 

Quando me pediram pra falar de empreendedorismo feminino eu pensei logo que o foco seria nas diferenças e no preconceito que infelizmente, apesar da posição que a mulher já conquistou no mercado trabalho, ainda existe. Eu li um livro da mais alta executiva do Facebook e ela diz que um mundo realmente igualitário seria aquele em que as mulheres dirigissem metade das empresas e dos países e metade dos homens dirigissem os lares. Porque as mulheres enfrentam alguns obstáculos concretos mesmo no trabalho, como o machismo declarado ou sutil, a discriminação e até as vezes o assédio. E ela já entra com uma desvantagem que é muitas vezes a falta de estrutura e apoio à mulher mãe, dona de casa. Tem mulheres que comprometem suas metas profissionais pra dar espaço a companheiros e filhos que às vezes até ainda nem existem. Temos sim que aumentar nossa autoconfiança e fazer com que os parceiros ajudem mais em casa.

 

A mulher também é chamada a assumir comportamentos tipicamente masculinos para exercer o poder. Mas é preciso vencer essa imposição, aplicar a feminilidade em cargos de chefia e mostrar que é possível ser tão ou mais competente sem adotar os padrões convencionais de administração feito pelos homens e para os homens. Eu não acho também que deve ser lançada uma competição entre homens e mulheres no trabalho. Eu acho sim que eles devem andar juntos, a diversidade é fundamental.

 

Eu leio sobre o assunto e vejo alguns dados impressionantes, como: mulheres e homens no mesmo cargo, o homem ganha mais. Homens conseguem um cargo ou uma posição pela capacidade deles e a mulher pelo que ela já realizou. Essas duas coisas que eu falei que pra mim são muito emblemáticas, mostram um pouco desse preconceito que ainda existe. Mas ao mesmo tempo eu acho que as mulheres também devem que se impor enquanto profissionais e tentar sempre uma condição de igualdade. Eu tinha tudo pra sofrer muito preconceito, porque sou mulher e relativamente nova, tenho 25 anos, mas eu sempre tive muito respeito dos clientes, dos funcionários e dos meus sócios. Eu digo inclusive que tenho o privilégio de ter dois sócios homens, porque a gente se complementa. Deixando qualquer preconceito de lado, a gente não pode negar que os gêneros são diferentes, têm suas peculidaridades e eu acho que quando isso se soma em um ambiente de trabalho é muito positivo.

 

Pra fechar eu queria falar de algumas coisas que pra mim são essenciais quando falamos em empreender, agora esquecendo qualquer diferença de gênero:

 

·         Circular, conhecer, gente, fazer contato, ser como uma antena giratória captando sinais de todo canto. As melhores lições que eu apendi não vieram do ensino escolar, da universidade, tampouco dos livros. Muito veio da descoberta do dia a dia, das experiências não agendadas. E isso pra publicidade é muito importante. O processo criativo está atrelado a tudo o que vivenciamos, dos saberes que vamos armazenando em cada experiência.

·         Procurar ser criativo, independente de qual seja o seu negócio. Não ficar bitolado só naquilo, ler e procurar saber sobre coisas diferentes, se interessar por outras coisas, pois assim a gente vai montando repertório e um dia usamos tudo isso de alguma forma. Se tiver condições, viajar, sair do nosso ambiente de sempre, fazer coisas diferentes, abrir a cabeça, conhecer coisas novas. Isso estimula a nossa criatividade.

·         Ter disciplina.  Eu conheço gente ótima no que faz, talentosíssima, com ideias maravilhosas, mas que não tem disciplina, não respeita regras, prazos e limites. Muitos dos talentosos acham que por conta de suas qualidades estão dispensados de seguir disciplina. Eu discordo totalmente disso. Eu acredito mesmo que o sucesso depende de disciplina, dedicação e claro algum talento.

·         Contrate pessoas tão boas ou melhores que você e você terá uma empresa gigante. Tem muita gente bem melhor do que eu em várias coisas.

·         Ter foco, ser insistente, resiliente, perseverante. É difícil empreender, mas um bom empreendedor não pode desistir fácil. A cada duas histórias de sucesso que a gente ouvi pode ter certeza de que existem umas 1000 de insucesso, empresas que abrem e fecham todos os dias. E algumas sem dúvida fecham por uma falta de insistência.

·         Ser empresário é estar preparado pra ter uma vida instável. Ter medo de correr riscos, mas dosar um pouco este medo. Eu uma vez ouvi uma coisa interessante: quem tem medo, tem responsabilidade. E é verdade, o medo protege muito a gente em várias situações, mas o empreendedor tem que ter ao mesmo tempo um medo dosado, uma responsabilidade e um cálculo do risco, tudo ao mesmo tempo.

·         Pra finalizar, o mais importante: empreender na área que você gosta e não no que está na moda ou no que dizem que mais dá dinheiro. Se você empreende na área em que tem afinidades, a chance de dar certo aumenta. Eu nunca acreditei na equação “sou infeliz, mas ganho dinheiro”, eu quero é ser feliz! Até porque eu acho que só as pessoas felizes conseguem produzir bem, conseguem fazer grandes coisas. Tem gente que investe em empregos frustrados e sacrificam a coisa mais importante que elas tem que é a própria felicidade. Pra mim ser feliz no trabalho é tão importante quanto ser feliz em qualquer outra coisa na nossa vida.

 

Com 25 anos de idade eu ainda tenho mais a aprender do que a dizer, mas eu espero ter conseguido passar algo interessante e valioso.

 

Obrigada!

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