Em nome da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante, uma breve saudação de boas vindas.
Um agradecimento especial ao Senhor Presidente da Câmara da Maia, Engº António Bragança Fernandes, que tão bem nos recebe neste “Forum”, “ex libris” da modernidade da Maia e um centro da sua vida cultural. E, por isso, o melhor lugar para dizer ao Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr José Cesário, que nada do que vai acontecer nestes dias intensos seria possível sem o seu incentivo e apoio, de primeira hora - sem a vontade de que dá provas de querer avançar para uma nova e decisiva fase nas políticas para as comunidades, com uma vertente de género, com acento nas questões fundamentais da cidadania, da sua vivência por mulheres e homens, através do livre exercício dos seus direitos cívicos e políticos, que aqui vão estar no centro dos debates.
Obrigada Aurora Cunha por nos dar hoje, aqui, com tanta simplicidade e simpatia, o que vem dando ao País: tanto ou mais do que vitórias, que ficaram para a eternidade, em muitos campeonatos, em muitas maratonas, o exemplo de uma vida inteira de constante intervenção cívica, de solidariedade, de capacidade de ultrapassar limites, que é, afinal, a essência do desporto em estado puro, e, igualmente a essência da luta por quaisquer ideais servidos com paixão.
Aurora Cunha, um rosto feminino para a nossa história, para a história que se escreve com grandes feitos desportivos. A primeira mulher portuguesa campeã do Mundo de atletismo, tricampeã do mundo, (faz neste Novembro de 2011, precisamente 25 anos!). É uma honra ter entre nós a Mulher encantadora, sincera e vibrante, que humaniza e feminiza o mito vivo, que é a desportista!
Obrigada a todas e a todos pela vossa participação, de um enorme significado, porque com ela, se vai traçar, inteiramente, o destino este Encontro Mundial, na prossecução dos seus objectivos. O primeiro dos quais é criar um espaço de reflexão sobre as formas de transformar a sociedade portuguesa, de a abrir à consciência da sua verdadeira dimensão, que não cabe num pequeno rectângulo europeu e nas ilhas atlânticas. Portugal é muito mais mar do que solo pátrio. Portugal é muito mais a sua gente do que o seu território. Herança de uma história antiga que as migrações prosseguiram, até nossos dias, com homens e mulheres – cada vez mais mulheres - que se dispersam no mapa mundi da geografia, mas permanecem enraizados na cultura de origem e nos afectos.
É desse sentimento de pertença que nascem as comunidades portuguesas, numa emigração de famílias inteiras, como é a nossa. Um movimento caracterizado pelo equilíbrio de género e geração, alcançado desde meados do século passado, e anunciado por um crescendo da emigração feminina já nas décadas anteriores. Um crescendo, então, como se sabe, denunciado e combatido por políticos e estudiosos do fenómeno migratório porque receavam que a presença da mulher reconvertesse o projecto de torna viagem num projecto de integração definitiva no estrangeiro, em "pura perda" para o nosso país. E decretaram medidas de fortes restrições da liberdade de saída das mulheres, que praticamente duraram até a democratização do regime...
E, todavia, só parcialmente tiveram razão, na estrita medida em que se aperceberam da maior propensão para a consolidação de situações de vida em sociedades estrangeiras, para a estabilidade e o bem-estar económico, que a mulher traz à aventura de expatriação no plural. Mas não adivinharam que nessa aceleração do processo de integração devido às migrações familiares - muito directamente à presença das mulheres- se haviam de gerar as comunidades, através das quais Portugal se expande universalmente. O que representa um proveito superior a quaisquer perdas...
Em tempo de crise profunda e regressão económica, cá dentro, como é bom constatar que uma grande parte da Nação Portuguesa progride lá fora, sempre pronta a dar-nos razões de esperança! Assim saibamos ir ao seu encontro, que é justamente um dos objectivos que nos move hoje, aqui…
Não estamos numa reunião em círculo fechado de mulheres a falar sobre mulheres migrantes, mas sim globalmente sobre emigração, diáspora, Portugal, sem, porém, omitir, como é coisa corrente a componente feminina, quase sempre, esquecida e marginalizada. E justamente porque tem sido marginalizada comporta maiores virtualidades de operar mudanças e assegurar progresso.
A paridade está há muito conseguida na proporção homens/mulheres nas comunidades portuguesas. Todavia, não se reflecte ainda de um modo equitativo e eficiente num poderoso e multifacetado movimento associativo, sobretudo no que respeita aos seus centros de decisão e de poder formal. Pelo contrário, a divisão de trabalho dentro desse todo organizacional, suporte originário e consistente das comunidades, tende ainda a reproduzir na "casa comum", que é a associação, os papéis de cada um dos sexos na casa ou na família tradicional. É ainda um universo predominantemente masculino, conservador de mentalidades, de costumes e de valores - uns intemporais que merecem a nossa admiração, mas outros anacrónicos, que importa deixar para trás - caso das discriminações de género e de geração, que condicionam o crescimento das comunidades, através da metade feminina, tão pouco aproveitada, e dos mais jovens, ainda insuficientemente envolvidos num dirigismo associativo que, com todas as virtudes que se lhe reconhecem , envelheceu no poder, um pouco por todo o lado...
A evolução positiva que vai acontecendo, varia muito, nos vários continentes e países. A perspectiva ou visão comparativa, pode, a meu ver, contribuir para um acertar do passo, com a força dos paradigmas mais igualitários. Por isso, a partilha de resultados de estudos, de observação, a constatação da injustiça, onde quer que exista, e a mobilização para a combater, que se procura em congressos de âmbito alargado, como este, assume verdadeiro interesse estratégico.
Historicamente o que podemos designar por "congressismo", foi uma arena privilegiada de luta pela emancipação das mulheres - um espaço de diálogo, de concertação de esforços e união, de visibilidade e de protagonismo para elas e para as suas ideias. Na cena das convenções, dos colóquios, de sessões de esclarecimento, de comícios, se fez a transição de uma vivência restrita à esfera privada (ou, noutras palavras, de um regime de clausura doméstica...) para a esfera pública. Sair da sombra, sair do anonimato, foi um acto de extrema coragem e audácia para mulheres que se sujeitaram, a todos os riscos e formas de censura social, foi um acto portador de promessas de cidadania.
Elizabeth Cady Stanton, que, em 1848, presidiu à Convenção de Seneca Falls e, pessoalmente, redigiu, a famosa "declaração" , tem hoje a sua estátua no Capitólio, como a sufragista Emmeline Pankhurst faz jus a um monumento junto ao parlamento de Londres, cujas ruas tantas vezes percorreu em ruidosas marchas de protesto.
Nada de comparável, em termos de reconhecimento público, mereceram dos homens seus contemporâneos as notabilíssimas feministas da 1ª República, cuja evocação aqui quisemos trazer. Num "Encontro" pensado para nos levar numa viagem pela história das mulheres da Diáspora não é demais começar na origem remota de um movimento para a igualdade de género, ainda sem fim à vista. Mudam os tempos, o estatuto de direitos, as situações reais, mas os mesmos instrumentos podem servir em novos patamares de progresso civilizacional, particularmente nos domínios da Diáspora feminina. No que à nossa respeita, o congressismo teve a sua grande manifestação pioneira em Viana do Castelo, de 16 a 20 de Junho de 1985, no “1ºEncontro de Mulheres Migrantes no Associativismo e no Jornalismo”.
A Associação "Mulher Migrante" assumiu-se, desde a sua constituição, como herdeira das aspirações e das propostas dessa reunião, precursora de tantas outras: o Encontro Mundial de Espinho, em 1995, os "Encontros para a Cidadania - 2005-2009", e, pelo meio inúmeras iniciativas que cabem na definição ampla de Congressismo.
Contámos com a cooperação do Estado, assim como de ONG’, dentro e fora do País, para uma acção incessante, como tem de ser, para que se não deixe esmorecer a vontade de trabalhar em conjunto...
No ano passado, a Assembleia da República, na Resolução nº 32/2010 da autoria do então deputado José Cesário, veio reconhecer a necessidade de promover um amplo programa que conduza à plena participação das mulheres na vida das comunidades
No Governo, o Dr José Cesário não tardou a dar-lhe início de execução e, como na economia da Resolução se preconiza, em parceria com a sociedade civil.
As finalidades da “Resolução” são também os nossos, as de todas as instituições que se uniram para as levar a cabo, a partir deste Encontro Mundial.
Direi a concluir que este é um "Encontro" em que se entrelaçam muitos encontros:
Um encontro com as lições e ensinamentos do passado, em que lembramos aqueles que connosco estarão sempre na memória…
Um encontro de mundos, do mundo político com o da sociedade civil, do mundo académico com o dos protagonistas da aventura da emigração, e entre portugueses e portuguesas de dentro e de fora dos limites territoriais...
Um encontro de formas de viver a identidade nacional, encontro de culturas, em busca da definição do feminino na cultura – ou da cultura de que "constrói" o feminino. "On ne naît pas femme, on le devient", na lapidar e indesmentível expressão de Simone de Beauvoir…
Dar às mulheres o seu lugar na sociedade, iguais oportunidades de serem sujeitos da "história por fazer”, no País e na Diáspora, significa mais cidadania para elas, mais força para as comunidades, a certeza da expansão da língua e da cultura nacionais.
Queremos olhar a história das Mulheres Migrantes no seu devir, porque, como disse Agostinho da Silva, “toda a História que vale é do futuro”.
domingo, 27 de novembro de 2011
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