domingo, 25 de outubro de 2015

Rita Gomes sobre MARIA ARCHER


 

LANÇAMENTO do Livro de Elisabeth Battista

“ O Legado de uma ESCRITORA VIAJANTE”

 

       Começo por felicitar a Profª Doutora Elisabeth Battista, pela coragem e empenhamento que tem dedicado ao Estudo sobre a Escritora ViAJANTE, Maria Archer,  como lhe chama neste seu Livro.

        Sinto que após a leitura do Livro que está agora a ser lançado, com os mais diversos pormenores que a Autora conseguiu recolher e que inseriu nos vários capítulos, fiquei francamente mais esclarecida sobre  Maria Archer, sobretudo muito mais sensibilizada para a sua história de vida.  E, isso, apesar do muito que fui conhecendo sobretudo através de meu pai e posteriormente acerca da sua vida no Brasil.

        Não tinha de fato o conhecimento que agora melhor me permite avaliar passagem de Maria Archer pelas diversas partes  do Mundo, sobretudo em África e pelas honras que mereceu, por virtude do seu trabalho, nem sempre reconhecido, mas também pelas  adversidades vividas que não merecia.

       Era eu muito nova quando a  conheci na minha casa, na Graça, onde vivi. Lembro-me ainda bem da sua beleza. Figura excecional de Mulher, de intelectual e de defensora de direitos humanos,  sociais e políticos, incluindo as Mulheres.

       Só agora soube que se fez representante da União das Mulheres Portuguesas Democratas, filiada no Movimento das Mulheres Democratas Portuguesas para que tinha sido eleita Presidente. Gostei muito de ter conhecido  esta sua decisão, através deste Livro.

       É chegada a altura de esclarecer que ao contrário do que consta do Programa e do Livro agora lançado, eu não sou sobrinha de Maria Archer, com o que teria muita honra, mas apenas prima em segundo grau. Meu pai era primo direito dela e foram muito amigos. O pai de Maria Archer era irmão de minha avó paterna- alentejana também.

       Foi através de meu pai  que começou a minha grande admiração  e até estima por Maria Archer, como Mulher, escritora e política. Na altura eu tinha uma mãe monárquica e um pai republicano e esse conflito de ideias, fazia parte do nosso dia a dia, convivíamos com a política, daí estar, desde então habituada ao debate sobre questões políticas.

      A sua capacidade criativa era a todos os títulos excecional e diversificada. Além dos escritos jornalisticos, Conferências feitas em diversas Instituições Culturais, Políticas e outras, saliento, a propósito  as conferências que, por exemplo, fez no Liceu Pedro Nunes para Jovens, que muito a admiraram – relato feito por meu marido  que foi aluno desse Liceu –  e que, desde então,  passou a ser um seu grande admirador.

      E um dia soube do seu infeliz regresso a Portugal, a seu pedido. Por eu  estar ligada a trabalhos sobre a Emigração fui sabendo um pouco mais sobre a sua Vida e Obra , o que melhor me permitiu apreciá-la.

     Recentemente, de forma inesperada e através de e-mail enviado do Brasil para a Drª Manuela Aguiar, conseguimos contatar em S. Paulo, durante uma Reunião da Associação Mulher Migrante, com  as 2 irmâs Blanche de Bonnville e Maria Jorge de Bonnevillle, que a tiveram como percetora na sua casa de S. Paulo. Ambas continuam a ter por ela  uma enorme amizade e reconhecimento.

     Como testemunho dessa amizade, estão publicados pequenos textos das duas referidas Senhoras, na Revista desta Associação, “ A vida e Obra de Maria Archer – Uma Portuguesa na Diáspora” sobre o Encontro realizado em Lisboa, em sua Homenagem, ( dia 29 de Março de 2012),  no Salão Nobre do Teatro da Trindade, que teve também como Parceiros a Fundação Inatel, a Fundação Fernando de Pádua, a Câmara Municipal de Espinho e a Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade.

     Como todos sabem e eu já o referi,  a capacidade criativa de Maria Archer, foi a todos os títulos excecional e diversificada.

     De fato, agora que mais recentemente tenho relido algumas das suas Obras , melhor posso confirmar  essa sua capacidade.

      Recordo, por exemplo, um texto por ela escrito em 1964, num Jornal do Brasil “Portugal Democrático”, nº 83, de Maio de 1964, sobre a Reforma Agrária no Séc X1V. em Portugal:

     Começa assim: “ Lendo há dias  a  CRONICA DE D. FERNANDO do venerável Fernão Lopes  ……                                  

     “…. É também de notar que no Portugal do século XIV  já se reconhecia o valor social da propriedade imobiliária e a prioridade desse merecimento sobre o direito de posse sempre que estivesse em causa a sobrevivência do Reino. O princípio político da encampação da empresa agrícola mal administrada ou, ou subtraída  à utilização pública, isto é, desviada do serviço social da Nação, ressalta nitidamente desta legislação medieval.

      Mais ainda: Encontramo-nos aqui na presença dum postulado que não aparece em nenhum dos projetos de Reforma Agrária contemporâneos e chegados ao meu conhecimento – o de que a indemnização devida ao proprietário ”constrangido” seja  “razoável “ e arbitrada pela Justiça, após o que não havendo entendimento entre as partes o direito de posse seria confiscado ao proprietário, e suas terras entregues ao “bem comum”.

     Não entendo integralmente este  termo “bem comum” por estar acentuado de “onde o houvesse” . Cuido que Fernão Lopes se referiu a bens concelhios ou municipais, não aos do Estado.  possivelmente logradoiros ou baldios. Se o cronista quisesse indicar bens do Estado teria empregado a palavra “Reino”….

     “Não pode haver qualquer dúvida, após esta breve leitura da secular existência, em Portugal, do princípio político da encampação da propriedade,  se a mesma tiver sido desviada do  seu fim  de utilidade social , e com indemnização ao proprietário. Se alguém voltar a afirmar- me que esse aspeto da questão agrária foi gestado pelas filosofias do materialismo dialético, protestarei e dando o seu a seu dono recomendarei ao ignorante que estude a legislação do século XIV.”

     E além disso, poderemos, por exemplo, encontrar nas Revistas Municipais de Lisboa, entre 1939, 1940, 1941. 1942, 1943 e 1945, artigos de Maria Archer entre os quais se abordam assuntos, como eles dizem “pitorescos e intimidades citadinas”

     Assim num Artigo de 1939 sobre “TIPOS POPULARES” é  referido que os traços que Maria Archer  documenta podem parecer-nos hoje comezinhos… mas terão para gerações vindoiras, justamente por terem aspetos flagrantes do viver de muitos, um interesse de “documentário  anedótico  .

     Entre os diversos TIPOS POPULARES, escreveu sobre:

     PORTEIRAS    Rev.  nº 2 Ano de 1939

     O ARDINA              nº3             1940

     A PEIXEIRA            nº4             1940

     A CRIADA              nº 5             1940

     O MOÇO DE RECADOS   nº 8/9   1941

     O COCHEIRO                    Nº 10    1941

     O PADEIRO                  Nº 11 e 12 1942

     OS  GANGAS            Nºs  13 e 14   1942

     O ENGRAXADOR     Nºs  24 e 25  1945

      Esta diversidade simboliza bem a capacidade crítica da autora, sobre Figuras Tradicionais do SÉC  XX  e que hoje quem com a minha idade se lembra, acha  FANTÁSTICA ESTA CARACTERIZAÇÃO Razão tinham aqueles que em 1939  se lembraram dos TIPOS POPULARES a pensar nas gerações vindoiras e no trabalho de Maria Archer, sobre esta realidade da vida desses tempos.

24 de Setembro de 2015

Rita Gomes

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