sábado, 24 de outubro de 2015

MARIA LUISA COELHO Leitora do IC em Berlim


Para além dos clichés

 

(apresentação de um projeto)

 

 

Desde o começo da crise económica e da aplicação de medidas de austeridade que as imagens de Portugal e da Alemanha, nos respetivos espaços, sofreram modificações devido às novas dinâmicas económicas e sociais e às hierarquias de poder e dominação dentro do espaço europeu.

 

Este projeto ensaístico multidisciplinar da área político-social que organizei e apresentei, em colaboração com especialistas selecionados dos dois países, é composto pela edição de duas obras intituladas Contos por contar – Alemanha e Portugal (ed. Orfeu, Bruxelas, 2014) e Pontes por construir – Portugal e Alemanha (ed. Bairro dos Livros, Porto, 2015) e  exprime uma vontade de abrir um discurso novo sobre os dois países.

 

O objetivo é libertar as suas imagens, através de reflexões teóricas e narrativas de experiências, dos preconceitos negativos que penetram os discursos que os descrevem, sobretudo em Portugal. A oposição entre o discurso que nasce no interior e se confronta com o que cresce do exterior atravessa as obras e constitui um dos seus motivos dominantes. Os episódios históricos, políticos, sociais ou culturais contados ou discutidos acabam por tornar  visíveis os perconceitos  e os clichés que circulam sobre estes dois países para melhor os denunciar.

 

A variação de pontos de vista adotados nestas obras, assim como a sua estruturação por temas diversos constitui um dos seus pontos fortes. Abrindo o leque temático (História, Geografia, Política, Educação, Investigação, Identidade, Cultura, Realidade e Ficção), abrange um maior número de leitores. Com efeito, apreendido sob ângulos diferentes em função da pessoa que se exprime, nativa ou estrangeira, cada país acaba por melhor poder ser apercebido na sua globalidade.

 

Estas duas obras são acerca de Portugal e da Alemanha mas pretendem ser, principalmente,  sobre  os discursos que existem sobre estes países. Gostaria que levassem os leitores a  refletir sobre a forma que tomaram estes países no espaço discursivo sociopolítico português e alemão. Espaço esse, imaginário, onde a falta de conhecimento das realidades vividas pelo outro traz consigo um deficit de representações que arrastam e alimentam os mal-entendidos.

 

De facto, nesta situação, é a língua que – através dos media que com a sua função política, penetram o imaginário e permitem a hegemonia ou a submissão político-cultural – se torna o veículo das mentalidades da época. Este projeto que desagua num trabalho analítico quer provocar uma rutura no preconstruído inerente à circulação ideológica e abrir caminho ao conhecimento mútuo.

 

 

 

Luísa Coelho

 

Leitora em Berlim do Camões – Instituto da Cooperção e da Língua

 

 

Berlim, outubro de 2015

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