segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Arcelina Santiago CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

Celebrando  o Centenário da República…
Uma forma de nos integrar nesta celebração, tão importante para o nosso país, foi  recolher informações sobre como era  a vida de homens e mulheres naquele período. Debruçámo-nos, em particular, sobre as mulheres.  Iniciámos, em Janeiro, o estudo biográfico de algumas mulheres da 1º República, tal como: Adelaide Cabete, Ana Castro Osório, Carolina Michaelis e Carolina Beatriz Ângelo. Participámos na Conferência “ O papel das mulheres na 1º República”, proferida pela Drª Maria Barroso no Multimeios de Espinho que nos deu a conhecer os papéis relevantes destas mulheres, numa sociedade marcada pelo masculino e que nos inspirou para o nosso trabalho. Quando aconteceu uma réplica de um serão republicano, no dia 22 de Abril, promovido pela Câmara Municipal de Espinho, fomos encarnar algumas destas personagens.
  Entretanto, estava prestes a chegar o dia 28 de Maio. Este dia era muito especial pois fazia 99 anos que a primeira mulher portuguesa votou. Ela foi pioneira em Portugal e na Europa. Com base numa carta que a própria Carolina Beatriz Ângelo escreve ao director do jornal  A Capital, tentando repor a verdade e esclarecendo sobre o que se passara no dia anterior, foi elaborada uma peça, recriando esse momento histórico. Vivemos intensamente toda  a envolvência da época, do vestuário ao local,  sentimentos,  opiniões, tomadas de posição, ou seja, um cenário revelador de um tipo de sociedade, numa República ainda a despontar.  Fomos convidados pela senhora Vereadora da Cultura para representar na Tertúlia “ O Papel das mulheres na República dos homens” na Biblioteca Municipal no dia 28 de Maio  e aceitámos  o desafio.
 Testemunhos dos alunos do 6º A :
“ Achámos didáctico, formativo e cultural. Representei a personagem do Senhor Constâncio de Oliveira, Presidente da mesa Eleitoral   e gostei muito. Tive de encarar a contestação do público presente  que se indignou pelo facto de eu ter dúvidas e consultar a mesa  sobre a legalidade da  votação de Carolina Beatriz Ângelo, situação deveras insólita. Por fim, tive de reconhecer à eleitora nº 2513, a sua coragem e determinação .”  Rui Marques
“Aprendemos imenso, foi uma forma diferente de o fazer. Encarnei o papel de Carolina Beatriz Ângelo. Foi emocionante! Nem tive dificuldade em decorar toda  a intervenção desta  mulher  fantástica, lutadora pela emancipação dos  direitos das mulheres. Este seu acto, revelador de inteligência e determinação  alerta-nos, hoje, para que assumamos o papel de eleitores conscientes, pois foi uma conquista muito difícil , muitas vezes esquecida nos tempos actuais. As palavras elogiosas proferidas  pelo  Presidente na  Mesa, no final, dedicou-as Carolina Betariz Ângelo a todas as mulheres, prometendo que as divulgaria junto das sufragistas de todo o mundo civilizado para que soubessem que os mais inteligentes homens portugueses compartilhavam do mesmo ideal.”   Mariana Patela
“ Aprendi, vivendo aqueles tempos, através da personagem, Joaquim Beja. Gostei do meu papel, defensor da causa das mulheres e, por isso, fui tão elogiado pelas onze mulheres, presentes naquela Assembleia eleitoral, pertencentes à Associação de Propaganda Feminista que acompanharam, nesse dia, a  sufragista. Acho que  mulheres  e homens devem ter os  mesmo direitos para que a sociedade seja mais justa e humana e, por isso,  foi com convicção que representei este papel.” Diogo Oliveira
“  Vivi aquele momento de forma emocionante! Viver as dificuldades das mulheres daquela época  quando eu nem imaginava que tal acontecesse levou-me a apreciar esta forma de aprender a história do meu país.  Representar para tanta gente foi também um desafio. Fui uma das mulheres da Associação de Propaganda Feminista, recebidas de forma cordial e simpática pelos homens presentes no enorme salão e interroguei um ilustre cavalheiro,  o Senhor Joaquim Beja, que manifestou solidariedade para com  a nossa representante que insistia em votar. Na verdade, não poderíamos deixar de saber o seu nome. Grato para mim foi  o  especial momento da votação,  com aplausos e vivas de todos.” Inês Pais
“Achei interessante a professora ter construído esta peça com base em dados históricos, a tal carta da personagem principal. Todos demos, depois, a nossa opinião sobre ela na aula  de Português. O tema era interessante, dando a conhecer o papel das mulheres e desta em particular, numa sociedade em que elas não tinham  os memos direitos que os homens.  No entanto, já havia homens que naquele dia mostraram  ser solidários com a luta pela  emancipação das mulheres. Daí, eu ter referido que ainda bem que havia em Portugal homens inteligentes e  lúcidos.”   Daniela Morado
“ Com esforço e dedicação de todos os colegas e, em especial da  nossa professora de Português, Arcelina Santiago e colaboração da professora Virgínia Leal  de Educação Musical, conseguimos realizar esta peça de teatro em pouco tempo, mas que valeu a pena! A minha personagem teve uma intervenção curta, mas disse algo de muito importante, ou seja, manifestei a minha posição de contrariedade sobre o que se estava a passar  naquela  assembleia dado que era contrária à  lei e à autoridade, isto porque  Carolina Beatriz Ângelo era portadora de uma sentença judicial, proferida pelo Senhor Doutor Juiz   João Baptista de Castro   referindo que “ onde  a lei não distingue , não pode o julgador distinguir”. Assim, não tinha a mesa de por em causa a aceitação do seu voto.” Carlos Pereira
Gostei muito de representar o  papel de  cidadão eleitor. Manifestei a minha posição de desacordo perante a situação a que a eleitora, presente a este acto eleitoral para a Assembleia Nacional Constituinte, conhecedora da lei,  é sujeita a  consulta, completamente desnecessária, por parte da mesa que tem dúvidas.” Joel  Pinto


“Aprendemos a dar o valor a coisas que são agora banais, mas que foram muito difíceis de conseguir. Gostei de pertencer à Associação de Propaganda Feminista, por ter  ficado a saber da importância do seu papel na  luta pelos direitos das mulheres.” Patrícia Martins
“ Vestir aquelas roupas, foi uma sensação boa! Era como retroceder no tempo. Todos estavam muito bem vestidos.  Fui eu que perguntei e fiz questão em saber o nome do homem que mais nos defendeu  e que não considerava importante dar conhecimento do seu nome. Ele era conhecedor da lei, já que referiu o artigo 64º  “ nenhum cidadão  recenseado e reconhecido como o próprio , poderá ser inibido de votar, excepto se aparecer em manifesto  estado de embriaguez” . Ora, se a lei não focava expressamente a proibição das mulheres em votar e, reunindo Carolina todos os requisitos,   letrada, viúva  e por isso cabeça de casal, tinha pois esse direito. ” Tânia Valente
“ Gostámos muito de conhecer esta personalidade portuguesa , Carolina Beatriz Ângelo, nascida em  1877, na Guarda onde fez os estudos primários e secundários. Em Lisboa, estuda medicina, concluindo o curso em 1902. Viúva de  Januário Barreto e  mãe de uma filha menor reunia, desta forma, todas as condições para fazer parte da lista de recenseamento  e poder exercer o direito de voto e assim aconteceu, apesar de alguma resistência.” Bárbara Oliveira, Nazaré Santos de Diogo Santos
 “Foi merecida esta homenagem a Carolina Beatriz Ângelo, uma grande mulher que ficará para sempre na história do nosso país e da Europa. Coube-me a mim, como secretário da mesa eleitoral, anunciar  a abertura do reconhecimento dos eleitores  de S. Jorge de Arroios no Clube Estefânia, pelas dez horas daquele dia inesquecível,  dia 28 de Maio de 1911. ” Rui Nunes


“ Não participei  directamente na representação, mas aprendi muito e achei–a muito informativa. Apesar de pequena, foi tão simbólica que jamais esqueceremos! Gostei, em particular, da  personagem de  Carolina Beatriz Ângelo. Ela foi extraordinária e continuou  lutadora da causa, mesmo depois da lei ter sido alterada  a lei,  passando a constar expressamente que as mulheres não tinha esse direito, logo no ano seguinte. A maneira como ela foi ser determinada, informada e conhecedora das leis  fez com  vencesse. “  Francisca Sousa
 “A República estava a começar, mas muitas  injustiças permaneciam. A democracia que a República  tão recentemente implementada prometia, ainda não estava a  ser cumprida.”  Joana  Pereira
“ Foi interessante ver os meus colegas representar.  Esta primeira mulher  a votar,  marcou Portugal, neste inicio da República e no mundo, pois ela foi reconhecida noutros locais pela sua luta.” Pedro Santos
  Este acto marcou a história do feminismo em Portugal. Tratou-se  de um grande passo para um longo caminho, a nível nacional e mundial que estava ainda  para ser trilhado, na luta pela cidadania e pela emancipação da situação das mulheres. Foi longa a caminhada!  Passaram mais 20 anos e, curiosamente,  só com o Estado Novo,  (pelo decreto lei nº 19694 de 5 de Maio de 1931)  em 1931,  é que,  pela 1º vez, na história política do país, as mulheres foram consideradas como eleitoras, mas em termos muito, muito limitativos. O sufrágio universal feminino só acontecerá  com o 25 de Abril, onde foram, finalmente, abolidas todas as restrições à capacidade eleitoral dos cidadãos tendo por base o género.
Homens e mulheres devem por isto tudo, reconhecimento  a esta  mulher  portuguesa a quem prestámos uma simbólica homenagem - Carolina Beatriz  Ângelo.
Turma do 6º A
Professora  Arcelina Santiago


.





  

Sem comentários:

Enviar um comentário