Conhecemo-nos há mais de 40 anos. Vivia-se uma época de grande euforia, provocada pela libertação do país das amarras que nos tolhiam o movimento e o pensamento desde a nossa infância. Eram tempos com liberdade, democracia, igualdade, fraternidade, solidariedade, amor, amizade. Esta reganhava uma nova dimensão.
Era preciso saber construí-la e preservá-la.Calcorreámos, desde então, os caminhos da vida com enorme
frenesim, rapidez, confiança, mais libertos, mas também mais responsáveis.
Fomos cúmplices em múltiplas situações, cimentámos a nossa amizade, no emprego, no quotidiano, aprofundámos o conhecimento mútuo, no mesmo prédio, fomos vizinhos/amigos, colegas de profissão e
defensores dos mesmos interesses e direitos humanos. Tivemos uma paixão comum, que iria traçar o rumo das nossas vidas e, em determinadas ocasiões, afastar-nos geograficamente. As migrações também serviram de pretexto para aprofundar todos aqueles valores sublinhados e enfatizados. Dedicámos quase toda a nossa vida profissional, o nosso saber, os conhecimentos, o esforço, a dedicação, à defesa das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo fora.
Em boa verdade, fomos frequentemente Embaixadores de Portugal junto dos portugueses que no estrangeiro precisavam de estímulos, de apoio,de esclarecimentos de alguém que vinha do seu país.
Participámos em muitas acções, trabalhos, diligências - às vezes mal compreendidos pelos interlocutores - em benefício dos interesses e direitos dos nossos compatriotas. No final, concluíamos sempre que tinha valido a pena a nossa labuta, o nosso crer, a nossa dedicação.
E é por recordar tudo isto que penso que aquilo que conseguimos alcançar, despretensiosamente na vida, não constituiu um mero acaso, ou favorecimento. No que a ti diz respeito, posso garantir-te, fez-se justiça.
Claro, amigo, tivemos que lidar com pequenas divergências, defendemos, por vezes, pontos de vista diferentes, mas quando nos encontrávamos cá ou em qualquer parte do mundo, tínhamos a certeza que a nossa amizade perdurava e saía sempre mais fortalecida.
E é por tudo isto que, bem compreendes, me seja muito difícil redigir, tal como amigos comuns me pediram, um texto de homenagem a ti.
Sempre conseguimos transmitir um ao outro tudo o que era oportuno e julgo que tal continuará a acontecer.
Pela minha parte só te posso prometer que tentarei, do lado de cá, prosseguir o rumo que traçámos, defender tudo aquilo em que acreditávamos, fazer florescer as sementes que lançaste à terra. Estou certo que farás o mesmo, do lado de lá, no local que encontraste para descansar de todas as amarguras, esforços, trabalhos, dedicação, amor ao próximo, que sempre alimentaste. Estou também convicto que desejarás que continuemos a falar de ti e contigo como sempre o fizemos, sem alterar o tom de voz, que continuemos a rir das situações mais divertidas que vivemos (e se aconteceram...).
Afinal, a vida tem que continuar. Aquilo que nos unia mantém-se. Nós não estamos longe. Estamos perto no pensamento, embora, por enquanto, de lados diferentes da vida.
Por isso, não te quero incomodar mais com palavreado inútil, porque nunca conseguiria transmitir tudo aquilo que tu bem merecias, amigo.
Carlos,descansa em paz e até já!...
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