terça-feira, 24 de janeiro de 2012

COMUNICAÇÃO ORTELINDA BARROS

Trabalho e Empreendedorismo no Contexto da
Integração e do Regresso

Maria Ortelinda Barros Gonçalves
Universidade Portucalense /CEPESE/UP
ortelindabarros@gmail.com
ortelinda@upt.pt

Resumo

O regresso dos nossos emigrantes aos meios pequenos e rurais de onde partiram, e

de onde se continuam a registar elevadas taxas de emigração, poderá ser considerado

um fator potencialmente vantajoso para as áreas geográficas de origem, atenuando as

assimetrias regionais. No presente trabalho, questiona-se se os emigrantes regressados

têm capacidade de inovação e espírito empreendedor, e se aplicam estas potencialidades

no investimento e no desenvolvimento do seu local de origem. Baseando-nos na análise

dos dados de um inquérito por questionário feito a 51% dos emigrantes regressados

a um território do Norte de Portugal (303 indivíduos), verificamos que ressalta

dinamismo empresarial, especialmente de mulheres ex-emigrantes. Apresentaremos os

resultados de alguns inquéritos por entrevista.

1. INTRODUÇÃO

O possível regresso de emigrantes oriundos de meios pequenos e rurais, e com elevadas taxas de emigração, poderá

ser considerado como um fator vantajoso para as áreas geográficas de origem. Questiona-se se os emigrantes

regressados a um território rural do Norte de Portugal têm capacidade de inovação e espírito empreendedor e se

aplicam essas potencialidades no investimento e no desenvolvimento do seu local de origem, baseando-nos na análise

dos dados de um inquérito por questionário feito a 51% dos emigrantes regressados ao território em estudo (303

indivíduos).

Neste contexto, o presente artigo integra-se numa investigação que teve por base a recolha de dados em diversas

fontes de informação, numa lógica multimétodo, integrando técnicas de inquirição, de observação e de análise

documental. Esta complementaridade metodológica possibilitou à pesquisa uma maior amplitude de informação e

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uma maior riqueza, sendo construída, reformulada, testada e reconstruída por indução analítica.

O território que serviu de palco a esta investigação, ocupa uma área de 322 km². Nas últimas quatro décadas, sofreu

um decréscimo populacional de mais de metade da sua população, diminuindo o grupo de idade-jovem (0-14 anos)

sensivelmente o mesmo que ganhou o grupo de idade-idosa (> 65 anos). Trata-se de uma região com forte e longa

tradição migratória.

2. O EMIGRANTE REGRESSADO

Das respostas ao inquérito, 56,8% são homens (172 inquiridos) e 43,2% (131) são mulheres.

Dos regressados ao território de origem, 52,4% (153 inquiridos) têm mais de 60 anos de idade, seguindo-se a faixa

etária dos 50 aos 59 anos que atinge os 27,4% (80 inquiridos). A percentagem de jovens até aos 30 anos, que já viveu

a experiência de emigrante, é escassa, correspondendo a apenas 2,4%.Cruzando o género dos emigrantes regressados

com a sua idade atual, verifica-se uma certa homogeneidade de género. A maior discrepância encontra-se no intervalo

etário dos 30 -39 anos, no qual predominam as mulheres. Nas faixas etárias mais jovens (até aos 30 anos), denota-se

uma tendência para a proximidade de género, reflexo da feminização crescente dos fluxos migratórios.

A população inquirida apresenta baixo nível escolar. Do total de 292 inquiridos, 128 (ou seja, 43,8% da amostra)

concluíram a escola primária. No entanto, 21,2% (62 pessoas) não sabe ler nem escrever e 23,3% (68 pessoas) sabe

ler e escrever, mas não têm grau escolar. É residual, apenas 4 inquiridos, o número de indivíduos emigrantes com

estudos superiores.

Quanto ao nível de escolaridade, é notável a discrepância entre mulheres e homens, nos primeiros níveis de ensino,

sobretudo quanto aos indivíduos que sabem ler e escrever mas sem grau escolar: 35,3% do género feminino e 64,5%

do género masculino. A tendência para a homogeneidade acontece nos níveis de escolaridade mais avançados.

Apenas dois indivíduos ex-emigrantes, de ambos os géneros, frequentaram a universidade.

Este facto não causa admiração, já que a lei portuguesa só a partir de 1956 tornou obrigatória a escolarização até ao

4ª classe para os homens e, em 1960, para as mulheres. Dado que a maior parte dos inquiridos emigraram na década

de 60 e 70, ainda não tinham sido abrangidos por aquela lei. Os níveis de escolaridade são mais elevados nas camadas

mais jovens de emigrantes regressados, devido à cada vez maior aposta na instrução, através da escolaridade mínima

obrigatória, associada também a uma cada vez mais tardia inserção no mercado de trabalho.

2.1 DÉCADAS DE EMIGRAÇÃO DO EMIGRANTE REGRESSADO SEGUNDO O PRIMEIRO PAÍS DE IMIGRAÇÃO

Em todas as décadas, com exceção da década de 40 do séc. XX, a grande percentagem de emigrantes dirigiu-se

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para a França que foi, aliás, o principal país de acolhimento dos emigrantes provenientes do território em estudo.

Atente-se, ainda, que, na década de 50, embora 44,4% dos emigrantes tenham escolhido a França como país de

destino, também é significativo o número de emigrantes que partiram para o Brasil, (33,3%).

Já na década de 90, apesar de o principal destino ser a França, também a Alemanha, os EUA e Andorra foram

países escolhidos. De destacar que, na década de 90, se começou a assistir a fluxos de emigração sazonal, fruto da

instabilidade económica vivida em Portugal, fenómeno este com contornos diferentes da emigração registada em

décadas anteriores.

Só a partir da década de 60 é que surge um segundo país de imigração. Entre 1960-1969, 66,7% dos emigrantes

(2) partiram para França e 33,3% (1 individuo) para Angola. Já na década de 70, os destinos de 4 indivíduos,

repartiram-se pelos EUA, Suíça, Canadá e Luxemburgo. Na década seguinte, a emigração dirigiu-se exclusivamente

para o Canadá. Nos anos 90, os dois países de destino para 2 indivíduos foram os EUA e a França.

A principal razão que determinou a opção de emigrar é uma razão económica (87,5%, 252 inquiridos). Os inquiridos,

independentemente do género e/ou da idade, emigraram, sobretudo, por questões financeiras. O panorama das

razões de emigração apontadas pelos inquiridos, “(…) corresponde, de algum modo, à imagem que se tem da

emigração portuguesa, originada fundamentalmente em motivos de ordem económica” (Silva, 1984, p.99). Nas “leis

de Migração de Ravestein" ou na “Teoria da Migração” de Lee (1969), a migração sempre foi encarada como a

resultante de um cálculo microeconómico entre as perspetivas oferecidas na sociedade de destino frente às condições

prevalecentes na sociedade de origem (Patarra e Cunha, 1987; Salim, 1992; Pacheco e Patarra, 1997). Neste balanço

microeconómico, pobreza, ausência de emprego e meios de produção constituem-se como fatores de expulsão. Por

outro lado, as oportunidades de emprego e melhores salários contrariam esta tendência. Mas não é exclusivamente

o fator económico a razão da emigração dos inquiridos em estudo; razões familiares, nomeadamente o facto de o

cônjuge ser já emigrante, são justificações de saída para onze indivíduos da amostra em estudo. Razões políticas e a

fuga ao serviço militar obrigatório aparecem de forma escassa e apenas nas décadas de 60 e 70.

2.2 MOTIVOS DE REGRESSO E QUADRO FAMILIAR DO EX-EMIGRANTE

Em diferentes partes do Mundo, vários investigadores têm estudado a emigração de regresso (Brettell 1979;

Gmelch 1980, 1983, 1987, 1992; Guarnizo 1997, etc.); e prestado atenção a tipologias da migração de regresso. Uma

distinção básica encontra-se entre os emigrantes, que visam a sua partida como permanente, e aqueles que tencionam

que seja temporária. Gmelch (1980) refere que a maior parte dos estudos indicam que os fortes laços familiares, em

vez dos fatores económicos, são o maior incentivo para o regresso.

De facto, a família desempenha um papel muito importante no indivíduo emigrante. Esta é o seu grande suporte

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e as ligações familiares parece solidificarem-se aquando da emigração. Assim, encontramos os motivos familiares,

nomeadamente a garantia da unidade familiar, como a principal razão do regresso do emigrante por nós estudado

(23,3%, 63 inquiridos). As saudades e o amor à terra natal surgem em segundo lugar, com 11,9%, (32 inquiridos), o

que é revelador da ânsia de regresso às raízes.

Quase sem relevância surgem as razões políticas (1,9%, 5 inquiridos) e a falta de condições de acolhimento no

país de imigração (0,4%, 1 inquirido).

Stack (1996, p.15), estudando os africanos na América do Norte, chega às mesmas conclusões quanto aos motivos

de regresso dos emigrantes, “(…) o resolver regressar a casa não é primeiramente uma decisão económica mas uma

mistura poderosa de motivos. As pessoas sentem uma obrigação de ajudar os seus parentes, ...”

No caso português (Brettell 1979), esta ideologia está ligada ao conceito, culturalmente intrínseco, de saudade –

nostalgia pela terra de origem. Feldman-Bianco (1992, p.145) afirma que saudade “é uma construção cultural que

define a identidade portuguesa no contexto de múltiplas camadas de espaço e tempo (passado).”

No nosso estudo, 48,5% dos inquiridos emigraram na companhia do cônjuge. Este facto revela a importância da

família para os inquiridos à data da emigração. Importante também é a percentagem de cônjuges (32,0%) que

emigraram mais tarde. Este facto leva a concluir que o indivíduo procurou, em primeiro lugar, criar boas condições

de vida para, num momento posterior, poder receber o cônjuge. Residual (2,0%) é a percentagem de inquiridos cujo

cônjuge “já lá estava”.

2.3 ( RE) INTEGRAÇÃO DO EX-EMIGRANTE NO LOCAL DE ORIGEM

Analisando o perfil socioeconómico do emigrante no momento da partida, verificamos que 76,7% dos inquiridos

eram trabalhadores familiares antes de emigrarem , dos quais 71,8% integravam o sector agrícola como principal

ocupação, 11,5% os serviços domésticos e 7% a construção civil.

A baixa percentagem de patrões que resolveram emigrar deve-se ao facto de a situação destes permitir melhores

condições económicas e mais estabilidade, o que reduz a necessidade de aposta na emigração. No grande conjunto

de trabalhadores familiares, os homens concentram-se entre os 20 e os 49 anos, com destaque para o grupo etário dos

30-39 anos; no género feminino, a distribuição é transversal a quase todas as idades.

Os emigrantes chegados ao país de destino, devido à pouca experiência, aos critérios seletivos usados pelos

empregadores, à escassa formação profissional adquirida no país recetor, ao desconhecimento dos mecanismos

de funcionamento do mercado de trabalho urbano, às próprias referências anteriores de sobrevivência bastante

precárias no local de origem, considerando inclusive as ocupações urbanas dotadas de mais elevado status, acabam

inserindo-se nas profissões de baixa qualificação da construção civil e dos serviços, normalmente sujeitos a processos

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contratuais precários (Alberts, 1997; Martine, 1997 e 1980ª). O deficiente domínio da língua estrangeira e a baixa

escolaridade dos inquiridos constitui também um obstáculo ao desempenho das funções exigidas.

Do total de inquiridos, 32,9% (96 inquiridos) foram para o estrangeiro trabalhar na construção civil e 21,6% (63

inquiridos) ocuparam-se em serviços domésticos. Em terceiro lugar surge a agricultura, com 12,0% (35 inquiridos),

percebendo-se que esta atividade sofre um acentuado decréscimo. Os sectores do comércio (5,5%, -16 inquiridos),

dos transportes e comunicações (2,1%, -6 inquiridos) e da restauração (2,7%, -8 inquiridos) reúnem baixas

percentagens.

A ocupação profissional com maior preponderância para o género masculino é a construção civil, concentrando-

se os inquiridos entre os 20 e os 49 anos. Nas mulheres, é claramente o sector dos serviços domésticos a englobar o

maior número de emigrantes, também nas faixas etárias dos 20 aos 49 anos.

A diferença nas ocupações profissionais no primeiro e no último emprego, no país de imigração, não são

significativas. O sector da construção civil, para os homens, mantém a liderança, aproximadamente com o mesmo

peso no conjunto da amostra, assim como os serviços domésticos, para as mulheres.

A ligeira exceção a este cenário centra-se no sector da jardinagem, que sofreu um ligeiro decréscimo do primeiro

para o último emprego no país de imigração, assim como no ramo da restauração que registou um leve aumento

percentual. Tendo em conta as ocupações profissionais dos inquiridos antes de emigrarem e as integradas no país

de acolhimento, encontramos apenas mobilidade estrutural (…), ou seja, de um sector profissional para outro”

(Leandro, 1995, p. 210). Concluímos que, se para alguns emigrantes a mobilidade geográfica se constitui como

uma inevitável estratégia de sobrevivência básica para garantir a sua posição na estrutura social, para outros, porém,

proporcionou-lhes uma melhor inserção socioeconómica. Quando questionados os emigrantes regressados sobre o seu

poder de compra e nível de vida no país de imigração em comparação com a respetiva situação antes de emigrarem,

encontramos visíveis melhorias.

Verificamos que 54,2% dos inquiridos alegaram ter “muito mau” poder de compra, no início, melhorando-o com

a emigração. No país de imigração, 37,2% dos inquiridos referem ter uma situação “razoável” (23,6%) e “mais que

razoável” (13,6%), indicando 17,2% dos indivíduos uma situação “boa” e “excelente”.

Analisando as mudanças ocupacionais, do emigrante regressado, ao longo da sua trajetória migratória (emigração-

regresso), verifica-se que, independentemente do género, estes estiveram sujeitos a níveis crescentes de mobilidade,

para ocupações mais acima ou mais abaixo na escala sócio ocupacional, mas também em direção à inatividade e

desocupação. Recordamos que, antes da emigração, a maior parte dos inquiridos eram trabalhadores familiares,

não existindo ninguém a viver de rendimentos. Após o regresso, muitos vivem na situação de reformado, enquanto

que outros vivem dos rendimentos auferidos no país de acolhimento ou se tornam patrões, sendo este estatuto,

relativamente à situação na profissão, a mudança mais significativa encontrada, com as consequentes implicações

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económico-sociais que daí advêm. Apresentando valores residuais, encontramos situações de desemprego após o

regresso. Acerca da situação na profissão dos emigrantes regressados, segundo o género, é de frisar que, em ambos

os géneros, predomina a situação de reformado, a que se segue a situação de doméstica, no caso das mulheres, e de

trabalhador por conta própria, quanto aos homens.

Este razoável número de domésticas “(…) evidencia uma clara tendência para a reocupação, por parte destas,

do seu papel de “donas de casa”, mesmo depois de terem exercido alguma profissão no estrangeiro” (Seruya, L.

M. et al. 1985, p.84). O facto de as mulheres, após o regresso, poderem ficar em casa sem terem necessidade de

trabalhar, poderá significar que a emigração foi bem sucedida, possibilitando viver dos rendimentos no regresso.

Não encontramos uma redefinição das responsabilidades de género na esfera doméstica. Estas tarefas mantêm-se

na esfera feminina, confirmando-se o estereótipo de género ao centrar o trabalho da mulher no contexto doméstico.

No entanto, no regresso, observamos também alguma mudança na posição da mulher referente ao trabalho: de

doméstica antes de emigrar, se afirma agora numa situação que rompe com o controlo patriarcal e se integra no

mercado laboral como trabalhadora por conta própria (Hillmann, 1999, citado em Levent e Nijkamp, 2006; Pearce,

2005).Com exceção da situação de doméstica que obviamente abarca mais indivíduos do sexo feminino, as situações

de patrão, trabalhador por conta de outrem e reformado, independentemente do género, são as que recolhem mais

respostas por parte dos inquiridos. Assim, e relativamente ao país de acolhimento, confirmamos a existência de

mobilidade social ascendente, em virtude da mudança de estatuto e de situs no quadro das classificações sociais, com

melhorias socioeconómicas significativas.“… estatuto e situs constituem, de algum modo, as linhas de força dum

meio socioprofissional no espaço social” (Leandro, 1995, p.2119. É possível observar que a situação de trabalhador

por conta própria, independentemente do género, se encontra nas faixas etárias dos 20 aos 49 anos, e a de reformado

começa a apresentar valores relevantes a partir dos 40 anos. De realçar ainda o número considerável de inquiridos, no

intervalo dos 20-39 anos, a trabalhar por conta de outrem, o que vem reforçar o facto de muitos dos inquiridos terem

regressado ainda em plena idade ativa.

A ocupação profissional dos ex-emigrantes, após o regresso, é claramente a agricultura (53,7%). Este elevado

valor é justificado pelo facto de muitos emigrantes trabalharem na agricultura antes de emigrarem e, por isso, após o

regresso, sentirem apego à terra, sendo mais fácil a sua re (integração). Importa também não esquecer que muitos dos

emigrantes regressados voltam já numa idade avançada, difícil para ingressarem noutros empregos; e a agricultura,

no âmbito de uma economia doméstica, torna-se a atividade complementar do pecúlio amealhado no seu percurso

migratório. Os serviços domésticos surgem em segundo lugar, com 18,2%. O sector da construção civil atinge os

8,7%, sendo uma atividade habitualmente associada ao trajeto do emigrante no país de acolhimento. O comércio

aparece com 7,4%, atividade esta que permite uma certa mobilidade ascendente, autonomia e prestígio social. Os

transportes e comunicações, os têxteis, vestuário e calçado, surgem com 8,0%. Verifica-se uma certa mobilidade

intersectorial do ex-emigrante, relativamente às ocupações exercidas antes de emigrarem.

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O impacto do retorno sobre a dinâmica económica concelhia vê-se diminuído não só em razão da idade do

emigrante aquando do regresso, mas também em razão da baixa escolaridade e da forte inclusão no sector primário. À

medida que a idade vai avançando, a opção pela agricultura vai também aumentando, enquanto que a construção civil

vai diminuindo, percetível pelo facto de esta ser uma atividade com inerentes exigências físicas. O comércio, sector

de atividade que proporciona alguma autonomia e prestígio social, vai também decrescendo com o aumento da idade,

associado a um menor espírito empreendedor.

Pode concluir-se que, embora agente de poupança, o emigrante não o é tanto de investimento quando regressa

(Gonçalves, 2003, p.180). Há uma clara preocupação em viver do aforro/reforma conseguidos na emigração e uma

menor apetência pelo investimento.

A agricultura não só é o principal sector de atividade dos emigrantes regressados, é também o sector privilegiado

pelos dois géneros. Desta forma, enquanto os homens têm a agricultura como principal atividade, distanciando-se da

construção civil, as mulheres dividem-se entre a agricultura e os serviços domésticos.

Os ex - emigrantes inquiridos foram questionados sobre a sua perceção sobre o como seu poder de compra e o

nível de vida após a chegada, atualmente e por um período de 5 anos.

Verificamos que, após o regresso ao local de origem e após um período de emigração em que procuraram alcançar

melhores condições de vida, a grande maioria dos inquiridos indica como razoáveis o seu poder de compra e nível de

vida, 32,7%, (73 inquiridos). Apenas 27 inquiridos indicam como má ou bastante fraca a sua qualidade de vida após o

regresso. Também assumem valores relevantes os 44 inquiridos que afirmam ter um poder de compra e nível de vida

entre bom e excelente.

Observamos que, independentemente do tempo de estadia no país de acolhimento, a maioria dos inquiridos indica

como razoáveis o seu poder de compra e nível de vida após o regresso, não se verificando qualquer relação entre

ambas as variáveis. No entanto, os níveis mais altos de poder de compra e do nível de vida, assim como o “bastante

fraco” e “fraco”, concentram-se respetivamente nos intervalos até 5 anos e a partir dos 10 anos de emigração.

Constatamos que os ex- emigrantes com menor tempo de estadia no país de imigração demonstraram maior satisfação

relativa ao seu poder de compra e nível de vida aquando do regresso ao país de origem.

Atualmente, o poder de compra e o nível de vida mantém-se em patamares semelhantes aos indicados pelos

inquiridos após o fim do período de emigração, sem variações percentuais relevantes. Continuamos a constatar que

a maioria dos inquiridos indica como razoáveis. o seu poder de compra e nível de vida De salientar a continuidade e

consistência destes valores, igualmente nos patamares mais altos (de bom a excelente), daí poder-se concluir que este

item demonstra claramente que o objetivo principal da emigração (melhores condições económicas) foi cumprido,

tendo aliás proporcionado ao conjunto de inquiridos a manutenção desse nível de poder de compra e de nível de vida.

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Quando questionados acerca do seu poder de compra e nível de vida dentro de 5 anos, observamos que os

patamares indicados após o regresso e atualmente sofrem uma retração bastante visível talvez fruto da atual

conjuntura económica nacional, com perspetivas de desenvolvimento a nível local algo limitadas. Os inquiridos

concentram as suas respostas entre muito mau e razoável poder de compra e nível de vida

Um dado que não pode nem deve ser ignorado nesta questão, provavelmente consequência da instabilidade e

imprevisibilidade económica atual do país, é que 40,6% dos indivíduos (123 inquiridos) não responderam a esta

(116 inquiridos).

Quando questionados os emigrantes regressados sobre os problemas que encontraram a nível da reinserção local, é

notório, independentemente do género, o predomínio de problemas relacionados sobretudo com: assistência médica,

inadaptação à vida atual e falta de emprego.

Independentemente do género, o ex-emigrante continua a revelar, após o regresso, fraca apetência para o

investimento económico, alegando como desmotivação para esta atitude, entre outros motivos, a ausência de

incentivos e apoios, e a falta de mercado. As poupanças são gastas essencialmente em itens de consumo.

Ao nível do investimento das poupanças antes da emigração, verifica-se que 67% dos inquiridos,

independentemente do género, indicaram não ter qualquer tipo de poupanças que lhes permitissem investir. Os

pequenos investimentos que efetuaram dispersaram-se pela agricultura, construção ou compra de casa própria e

educação dos filhos, áreas estas de investimento sem destrinça de género.

Após o regresso, o ex-emigrante continua a revelar baixa propensão para investir na indústria e no comércio. O

principal investimento das poupanças é a construção de casa própria, seguido da agricultura e de algum comércio

local. O depósito no banco e a educação dos filhos seguem-se, mas com valores percentuais menos significativos,

no conjunto da amostra. Contudo, numa visão global, todos estes valores levam-nos a crer que o emigrante procura

estabilidade à chegada e realizar investimentos sem risco, assegurando o futuro da família. Donnan e Werbner

(1991); Gardner (1995); Gmelch (1980), nos seus estudos sobre as remessas dos emigrantes e a migração de regresso,

são unânimes em considerar que as poupanças dos migrantes são frequentemente gastas em itens de consumo, em vez

de investimento económico, acrescentando, inclusive, que as qualificações adquiridas no estrangeiro não podem ser

facilmente aplicadas ao contexto rural de origem.

Analisando o investimento auferido pelos inquiridos da nossa amostra segundo a idade de regresso, observamos

que são os homens, no intervalo dos 30 anos a 59 anos, a enfatizar que o investimento passa pela construção ou

compra de casa própria. Por seu lado, as mulheres manifestam a mesma vontade mas em idades mais baixas,

entre os 20 e os 39 anos. As restantes intenções de investimento das poupanças distribuem-se equitativamente

entre homens e mulheres, independentemente dos intervalos etários, não se verificando nenhum valor percentual

de relevo no conjunto da análise. A inexistência de políticas integradas de desenvolvimento rural, com destaque

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para o investimento em infraestruturas locais, de criação de parques industriais em colaboração com o Município,

assim como a escassez de centros de formação profissional, tem levado os ex-emigrantes a depositar no banco as

suas poupanças, não sendo assim potenciada a sua capacidade de mobilização/investimento, inibindo-os de se

constituírem como agentes de desenvolvimento local.

Assim, quando questionados sobre a aplicação de investimentos futuros,

independentemente do género, alega não ter poupança. Os emigrantes geralmente são pouco vocacionados para

atividades de risco. Dos inquiridos, 57,4% não pensam investir devido à idade avançada, 19,6% devido à falta de

incentivos e apoios, tendo 15,2% referido a falta de mercado. Quando integrados na análise dos intervalos etários,

observamos que a grande maioria afirma não ter poupança, sendo transversal a todas as faixas etárias, ainda que com

maior incidência entre os 30 e os 49 anos. Os emigrantes regressados, com idade avançada e com melhores condições

económicas após a emigração, centram a preocupação no futuro dos filhos.

Quando questionados sobre as inovações introduzidas após o regresso à origem, indicam que a principal se prende

com a habitação, que é, aliás, o seu grande investimento à chegada. Seguem-se os hábitos alimentares, as formas de

vestir, as relações pessoais e, por fim, os tempos livres. Apesar de haver uma readaptação ao estilo de vida antes da

emigração, há, claramente, uma introdução de novos hábitos por parte dos emigrantes regressados, introduzindo uma

certa urbanidade local. Quer a nível de género quer a nível de idades, não se verificam diferenças relativamente às

inovações introduzidas. Tanto os homens como as mulheres consideram que a maior inovação introduzida, após o

regresso ao país de origem, se prende com a habitação.

A principal inovação introduzida pelo emigrante na agricultura foi a aposta em equipamentos novos, com 51

inquiridos, seguindo-se os novos processos de trabalho, com 39 inquiridos e as novas formas de produção, com 31

inquiridos, e, em último lugar, as novas matérias-primas, com 6 inquiridos.

Não se notam diferenças significativas de género, ao nível das inovações introduzidas na agricultura. Analisando

estas inovações, segundo a idade de regresso, observamos que a introdução de novos equipamentos é indicada pelos

inquiridos com idades compreendidas entre os 30 e os 49 anos; a inovação de processos de trabalho pela faixa etária

dos 40-49 anos; e as novas formas de produção e cultivo pelos inquiridos entre os 30 e os 49 anos.

Independentemente dos motivos que tenham induzido os indivíduos à emigração-regresso ao local de origem,

a integração nas estruturas sociais preexistentes do local de chegada pressupõe um ajustamento às regras e valores

vigentes. Perante a dificuldade individual de integração, os indivíduos congregam esforços e iniciativas com vista

ao alcance de objetivos comuns, agrupando-se em estruturas formais de âmbito mais alargado – as associações de

migrantes. O associativismo constitui uma atitude contrária ao individualismo, já que o indivíduo, em vez de se

isolar, descobre “o outro”, descobre a ação conjunta e a capacidade de organizar-se e de agir em grupo, tornando-

se um ator social unido por um ideal comum. “A condição de imigrado conduz em boa parte a uma certa indiferença

a maior parte dos inquiridos, e

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ou até ao isolamento social e são em boa parte as associações de carácter sociocultural que abrem o caminho para

uma reformulação das relações entre os imigrados mas também para uma mais fácil inserção na sociedade de

acolhimento” (Ferreira e Rato, 2000, p.211). O associativismo de migrantes constitui uma forma institucionalizada

de reforço do grupo perante ameaças exteriores, assim como de intervenção/manifestação perante a sociedade

recetora e respetivas instituições públicas. “Não há nada que a vontade humana desista de alcançar pela ação livre

do poder coletivo dos indivíduos unidos numa adesão pública de um certo número de indivíduos a estas ou aquelas

doutrinas ou interesses e no compromisso que assumem em contribuir de alguma forma para que elas prevaleçam”

(Tocqueville, 2001, p.236).

Na abordagem da problemática do associativismo dos ex-emigrantes no país de acolhimento e após o regresso ao

país de origem, a nossa amostra contempla, ainda que de um modo transversal, algumas questões que se prendem

com a natureza e com as motivações dos movimentos migratórios. Constatamos que o nível de participação

associativa dos emigrantes no país de acolhimento tem pouca expressão. No entanto, 40 inquiridos indicaram

ter algum tipo de participação associativa. O associativismo suscita maior interesse ao nível cultural, com 21

inquiridos a indicarem esse tipo de participação, talvez em razão da necessidade de aproximação a associações que

promovam o intercâmbio de culturas entre o país de origem e o país de acolhimento, com a criação de espaços para as

comunidades portuguesas.

Já ao nível desportivo, - um tipo de associação que geralmente agrega um grande número de intervenientes -, na

nossa amostra, apenas 5 inquiridos se associaram nesta modalidade de participação associativa, e apenas 1 inquirido

disse fazer parte de uma associação política. Observa-se uma maior participação dos homens, não se vislumbrando,

contudo, diferenças significativas quanto ao género, em termos de participação associativa. São sobretudo os

inquiridos que concluíram a escola primária, e independentemente do género, que revelam uma maior aptidão para

participar em associações preferencialmente do tipo cultural.

Quanto à participação associativa após o regresso, 51 inquiridos revelam ser, atualmente, membros de alguma

associação local, predominando as de âmbito cultural, o que reflete claramente a continuidade da experiência vivida

na emigração, na qual o contacto com as associações de portugueses sempre teve um papel importante na vida dos

emigrantes, servindo de elo de ligação quanto à língua, informações, costumes, informações, enlaces matrimoniais,

constituindo-se como meio de reviver a terra natal.

Analisando a participação associativa após o regresso segundo o género, verificamos que não se denota também

diferenças significativas em termos de participação, sendo as associações culturais e desportivas a colher os valores

percentuais mais significativos, quer no género masculino e quer no feminino. Curiosamente, ainda que sem grande

significado, a participação em associações de cariz desportivo é superior no género feminino que no masculino.

Também, em função dos níveis de escolaridade, não se denotam forças de correlação positivas ou negativas quanto à

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participação associativa. A participação associativa de cariz cultural concentra-se no nível de escolaridade do 1.º ciclo

do ensino básico (escola primária), quer no género masculino, quer no feminino.

No que concerne à participação política, 20,9% (58) dos inquiridos estão inscritos num partido político. Dos

inquiridos, 13,0% (36) ocupam um cargo político.

Relativamente à inscrição num partido político (por género), segundo o nível de escolaridade, verificamos que a

inscrição não se correlaciona com o nível de escolaridade, quer para os homens quer para as mulheres. Em ambos os

géneros, a inscrição num partido político concentra-se nos baixos níveis de escolaridade.

Neste contexto, observamos envolvimento dos ex-emigrantes na vida política local. Dos 36 inquiridos que ocupam

cargos políticos, 30 pertencem à Junta de Freguesia, 2 ocuparam o cargo da Presidência da Autarquia Local, 4

ocuparam outros cargos junto do poder local, verificando-se um certo empenho dos emigrantes regressados na vida

política local.

Correlacionando a ocupação de um cargo político (por género) com o nível de escolaridade, observamos não

existir uma correlação positiva entre as variáveis. O valor mais significativo concentra-se ao nível da ocupação de

cargo na Junta de Freguesia, em que 14 inquiridos do género masculino com a escola primária indicam ter ocupado

um cargo na Junta de Freguesia.

A ocupação de cargos políticos demonstra claramente que são os homens a terem uma intervenção mais clara

do que as mulheres. Apenas 7 mulheres já ocuparam cargos políticos, contra 29 homens. Destes, o cargo mais

mencionado foi no âmbito da Junta de Freguesia, sendo que, dos 30 inquiridos que já ocuparem cargos ao nível

da Junta de Freguesia, 27 são homens e apenas 3 são mulheres. Giddens 1984; Scott 1985, confirmam noções

largamente aceites no sentido de que constrangimentos culturais impossibilitam as mulheres imigrantes de se

ocuparem em atividades políticas e de liderança dentro das suas comunidades.

3. PERCEÇÃO DAS CARÊNCIAS LOCAIS POR PARTE DO EX-EMIGRANTE

Para 50% dos inquiridos, as perspetivas de desenvolvimento do local de origem são “pequenas”. Apenas um

indivíduo indicou grandes expectativas de desenvolvimento do local para onde regressou. Os dados são reveladores

de um certo conformismo dos ex-emigrantes e alguma descrença na evolução da sua freguesia de residência.

Avaliando a relação entre a opinião sobre as possibilidades de desenvolvimento local em função do género e

idade, não se observa a existência de correlação significativa. A concentração do maior número de respostas verifica-

se ao nível das “pequenas” perspetivas de desenvolvimento local, e, dentro destas, os homens assumem maior peso

12

No atinente à pergunta do inquérito “que tipo de ajudas gostaria de obter? ”, os inquiridos indicaram como

prioritária a assistência médica. Seguem-se, por ordem decrescente de importância, os subsídios, facilidades na

conclusão dos estudos dos filhos, facilidades administrativas, empréstimos a juros bonificados, apoio técnico e

informação sobre aplicação das poupanças.

Avaliando segundo o género, a distribuição apresenta-se equitativa nas três principais ajudas indicadas. De

salientar apenas que os homens denotam maiores preocupações em relação a questões relacionadas com empréstimos

e com facilidades administrativas. Estes valores poderão estar relacionados com o facto de serem geralmente os

homens a gerir estas questões com mais regularidade. Os inquiridos integrados no escalão etário dos 30 aos 49 anos

são os que solicitam mais ajuda.

Dos inquiridos, 80 sugerem, como medidas a implementar para melhorar a agricultura na região, mais subsídios/

ajuda financeira, 33,6%, enquanto que 19,3% apelam para que se garanta ao agricultor o escoamento dos produtos.

Mas não é despiciendo que 44 inquiridos (18,5%) não sabem ou não respondem a esta questão. Na opinião de

39 inquiridos, a implementação de qualquer tipo de indústrias, seria importante para o concelho de Boticas. Dos

inquiridos, 23 nomeiam as fábricas de produtos agrícolas, 19 a produção de fumeiro e 17 o turismo rural/agricultura

Quando questionados ex-emigrantes sobre as medidas a implementar, por ordem de prioridade, para

desenvolvimento do território em estudo, 40,7% indicaram como sua grande preocupação o emprego, para fixar os

jovens aos seus locais de origem. Apenas 106 inquiridos indicaram uma segunda medida a implementar no concelho:

a melhoria dos acessos, com 10,4%, que se concentra na faixa etária dos 20/29 anos. As restantes medidas indicadas

apresentam valores residuais. Como terceira medida a implementar, dos 55 inquiridos que responderam a esta

questão, 14,5% (8 inquiridos) indicaram que facilidades bancárias dariam um novo impulso às condições económicas

dos habitantes da região.

4. INICIATIVAS EMPRESARIAIS DOS EMIGRANTES REGRESSADOS – ESTRATÉGIAS E

PERSPETIVAS DE

DESENVOLVIMENTO LOCAL

O incentivo à iniciativa empresarial tem sido usado por alguns países como uma forma de combater a

exclusão e permitir a mobilidade social.

O dinamismo empresarial de alguns emigrantes regressados, no território em estudo, tem feito renascer os

mercados locais, gerando inclusive o aparecimento de novas atividades. Tendo como objetivo um aprofundamento

daquele, apresentamos seguidamente os resultados de seis inquéritos por entrevista feitos por nós a emigrantes

regressados dos dois géneros. Segundo Ruquoy (em Albarello et al. 1997) “as entrevistas permitem uma

13

compreensão rara e matizada das situações que se relacionam com a forma de ver o mundo, as intenções e crenças

dos indivíduos…” (Albarello et al: 1997, p.84). Esta análise integra quatro eixos de caracterização: (1) Identificação

do empresário – Características demográficas e socioculturais e história de vida (mobilidade geográfica, percurso

académico e profissional, motivações pessoais e constituição familiar); (2) Identificação, caracterização e evolução da

empresa; (3) Apoio institucional e perspetivas de desenvolvimento concelhio; (4) Avaliação global da empresa (grau

de satisfação, fatores de in(sucesso) e impacto da empresa a nível local.

4.1CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS, SOCIOCULTURAIS E PERCURSOS DE VIDA

Apesar de obstáculos, e alguns deles já referenciados pelos próprios, o dinamismo empresarial de alguns emigrantes

regressados ao território em estudo tem feito renascer os mercados locais, gerando, inclusive, o aparecimento de

novas atividades. Tendo como objetivo a análise deste dinamismo, apresentamos os resultados de alguns inquéritos

por entrevista.

Esta análise integrou quatro eixos de caracterização: (1) Identificação do empresário – Características demográficas

e socioculturais e história de vida (mobilidade geográfica, percurso académico e profissional, motivações pessoais e

constituição familiar); (2) Identificação, caracterização e evolução da empresa; (3) Apoio institucional e perspetivas

de desenvolvimento local; (4) Avaliação global da empresa (grau de satisfação, fatores de in(sucesso) e impacto da

empresa a nível local).

Independentemente do género verificamos, relativamente às características demográficas, socioculturais e

percursos de vida, que:

- A idade média dos inquiridos é de 47,6 anos;

- Os empresários são autóctones ou ligados ao local em estudo por laços familiares;

- As habilitações literárias variam desde o 4ª ano até ao 12º ano;

- Apresentam formação diversificada adquirida no país de imigração;

- A maior parte dos empresários em estudo estão ligados a alguns tipos de associações;

- Registam mobilidade profissional ascendente;

- Foram imigrantes predominantemente em França;

- Se identificam como cidadãos europeus, exceto um dos entrevistados;

- Apresentam elevada mobilidade geográfica anterior ao regresso.

No

atinente

sistematizamos:

à

identificação,

caracterização

e

evolução

das

empresas,

14

- O ramo de atividade das empresas analisadas é diversificado, e referente

essencialmente à restauração e ao comércio;

- As empresas localizam-se na sede de concelho, à exceção de um dos hotéis;

- As empresas são de pequena dimensão e com baixo volume de vendas, mas

apresentando, na generalidade, evolução positiva;

- Todas as empresas apresentam forma jurídica em nome individual e estrutura familiar

quanto ao capital social e à composição dos recursos humanos;

- O Capital social provém essencialmente da poupança, embora também sejam referidos

o crédito bancário e fundos comunitários, respetivamente por dois e um inquiridos;

- As empresas apresentam boas perspetivas de crescimento e projetos futuros;

- As empresas são direcionadas para o mercado local e regional;

- A reação da comunidade à implementação das empresas em estudo segue uma

perspetiva determinista, face ao contexto territorial;

- A promoção da imagem das empresas é feita essencialmente pela rádio e pela Internet.

Relativamente à avaliação global da empresa, verificamos que:

- Os empresários encontram-se geralmente satisfeitos com as suas empresas;

- O impacto das empresas a nível concelhio é positivo e reflete-se na criação de:

emprego, riqueza, sinergias e investimentos.

Quanto apoio institucional e perspetivas de desenvolvimento local, salientamos o
seguinte:

- As empresas em análise revelam escasso apoio institucional. A generalidade dos

empresários desconhecem as vantagens/impactos dos fundos estruturais; consideram,

inclusive, a desadequação das exigências dos programas às realidades locais;

- O impacto das empresas a nível local é geralmente positivo, refletindo a criação de

emprego, de riqueza e sinergias locais;

- Os entraves ao desenvolvimento resumem-se em: despovoamento, débil marketing

territorial, falta de infraestruturas, escassa mão-de-obra especializada, falta de emprego,

forte envelhecimento populacional, salários baixos, burocracia e baixo poder de compra;

- As oportunidades de desenvolvimento para as empresas baseiam-se essencialmente

em: incentivos fiscais, proximidade fronteiriça, ambiente natural e mão-de-obra barata;

15

- As estratégias de dinamização da economia local passam pela implementação de

pequenas e médias indústrias ligadas à horticultura, à madeira, à produção de carnes

regionais, pelo fomento do turismo e revitalização da floresta e pela captação da energia

eólica.

Do referido, observamos que as mulheres emigrantes regressadas que

responderam a este inquérito por entrevista, revelaram, face aos homens:

- Habilitações literárias mais avançadas;

- Formação complementar mais diversificada;

- Percurso profissional mais variado;

- Grau de motivação mais elevado;

- Maior iniciativa e pro atividade.

CONCLUSÃO

Face ao exposto, consideramos oportuno potenciar (facilitando/apoiando) as forças/recursos dos espaços

territoriais esquecidos do nosso país, valorizando, inclusive, as capacidades, o know-how e as mudanças sociais,

económicas e culturais que os emigrantes regressados, e essencialmente as mulheres, induzem, de forma direta ou

indireta, nas comunidades locais, pondo em prática as condições de emancipação e de mobilidade social ascendente

que o percurso migratório lhes facultou.

Torna-se necessário fixar a população nos territórios desfavorecidos, travando o contínuo fluxo emigratório

e promovendo o regresso. A economia portuguesa, neste momento, está a sofrer ajustamentos que se traduzem

na diminuição do salário real, no desemprego, na perda dos direitos sociais, processo este que está também a

afetar as economias mais desenvolvidas da Europa Ocidental e Central. Este facto poderá constituir-se como uma

oportunidade de os nossos emigrantes aí residentes serem levados a relançar a sua vida em Portugal, nos territórios

de origem. Após estes ajustamentos, se esperam boas oportunidades de sucesso económico. Por isso, mais urgente

se torna, e em particular nas regiões deprimidas, a consolidação de estratégias de desenvolvimento local, apoiando

a criação de centros de inovação orientados para oportunidades de novos negócios/autoemprego, formação e

capacitação de potenciais empreendedores, criação de redes de mentores de apoio aos emigrantes regressados

empreendedores, a investigação e o desenvolvimento tecnológico.

Tornar os nossos territórios desfavorecidos espaços de atividade, de emprego e de criação de riqueza,

favorecendo a promoção dos nossos ex-emigrantes nos seus locais de origem, através de políticas de género pró-

16

ativas, deverá constar dos planos políticos de desenvolvimento.

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