terça-feira, 7 de julho de 2009

MESTRE IVONE FERREIRA - Querer é poder…

As dificuldades inerentes a um estudo sobre as mulheres e os media da emigração

A representação das mulheres nos media da diáspora portuguesa é um tema pouco desenvolvido e estudado até hoje. E, no entanto, os jornais, as rádios e até algumas televisões, criadas por e para portugueses e seus descendentes, são um dos elos mais importantes de coesão entre os nossos compatriotas, em todo o mundo.

Começa por não existir uma base de dados credível de todos os órgãos de comunicação social que foram criados e mantidos por portugueses. Depois, os que são referenciados, por exemplo, no site da Secretaria de Estado das Comunidades, ou não têm formas de contacto mais rápido e actual, como, por exemplo, o email, como, se o têm, não está, na maioria das vezes, actualizado.

Quando se fala da representação das mulheres nos media das comunidades portuguesas, devemos ter em conta dois tipos de representação. O primeiro, o quantitativo. Quantas mulheres portuguesas existem nas comunidades a estudar, quantos órgãos de comunicação social lusa existem, qual a sua tiragem ou audiência e, finalmente, qual o número de mulheres que neles desenvolve a sua actividade profissional ou neles colabora, a tempo parcial. Este é um estudo estatístico que terá, naturalmente, repercussões sociológicas.

Depois, a segunda área de estudo, a representação das mulheres nesses mesmos media, através das notícias que, sobre elas, neles são publicadas. Como é que são referenciadas? Porque é que o são e quantas vezes. E ainda, se as noticias que se referem ao género feminino estão em capa, páginas interiores, pares ou ímpares e com que dimensão. Com fotografia ou sem ela. Todos estes pormenores, que por vezes podem parecer excessivos aos que têm uma visão generalista destes assuntos, são afinal, essenciais, para podermos determinar se podemos falar de uma verdadeira evolução para a igualdade de direitos e, claro, de deveres, ou se mantemos as tradições que pouco nos podem e devem orgulhar, da discriminação secular da mulher, ao longo da História.

O trabalho que tenho vindo a levar a cabo, sobretudo pela dificuldade de contacto, é moroso. Primeiro porque é necessário fazer o levantamento, tão exaustivo quanto possível, do maior número de órgãos de comunicação social existente em todo o Mundo. E sabemos bem que a expressão “em todo o Mundo” é correcta. Porque, muitas vezes, em locais que nem imaginávamos, existem portugueses, muitos ou poucos, mas que têm um pequeno espaço radiofónico, uma newsletter, um jornal ainda em formato de papel…

A segunda dificuldade é, depois do levantamento feito, a procura de um contacto correcto. Na Internet, de uma forma geral, os números de telefone já estão errados, não existe o contacto por email, e, muitas vezes, encontram-se endereços e nomes de órgão que até já nem existem…

É pois um trabalho lento, difícil, mas que acredito que deve ser continuado, com a persistência que deve ser posta em tudo o que possa vir a ser importante para o estudo da diáspora portuguesa nas suas mais variadas áreas.

Um outro ponto que seria relevante estudar, seria a forma como os media de cada um dos países, em que as nossas comunidades vivem e trabalham, as representam e, nessa representação, que papel têm as mulheres lusas. Este é um repto que gostaria de lançar a todos os que, nesses países, estudam em Universidades locais, que poderão contribuir para que, em Portugal, conheçamos e admiremos mais e melhor, o trabalho e o papel destes portugueses que, muitas vezes sem qualquer apoio, continuam a divulgar e defender a Língua e a Cultura portuguesas.

Voltando, no entanto, ao estudo de que já falei, e que desenvolvo há quase um ano, ele tem sido, apesar de todas as dificuldades já referidas e outras de que não vale a pena agora falar, um estudo produtivo e enriquecedor.
No final deste ano de 2010 penso começar a redacção final do trabalho que tentarei depois apresentar, pessoalmente, em vários locais.

A Associação Mulher Migrante tem sido um forte apoio deste estudo. Tenho conversado várias vezes, sobre o mesmo, com a Dra. Manuela Aguiar. Com as suas ideias, a sua experiência, tem-me ajudado a caminhar com maior acerto, nesta aventura. Tenho a certeza que, em parceria, (porque só partilhando é que construímos verdadeiramente), poderemos chegar a conclusões mais acertadas e encontrar mais e melhores espaços de debate para apoiar e desenvolver, cada vez mais, entre as nossas comunidades, a luta pela Igualdade e pelos Direitos de todos e de todas. Só Iguais somos Felizes.

Ivone Dias Ferreira

Sem comentários:

Enviar um comentário