5 - O ano de 2015
(15paginas mais. Total 40)
Sinopse de actividades:
. Lançamento do livro " Califórnia madrasta dos meus
filhos" Deolinda Adão
19 janeiro na Biblioteca José Marmelo e Silva
em Espinho e na Associação..... No Porto
. Comemoração do Dia Internacional da Mulher - 7 de
março no pavilhão Multimeios em Espinho
. Comemoração do Dia Internacional da Mulher na Venezuela e
na Argentina - (Graça Guedes nota sobre o dia na Argentina
e Venezuela). .
Falta
. Lançamento da Publicação da AMM 2014
- Porto , 22
abril no Café Guarany
-
Espinho, 13 maio na Biblioteca José Marmelo e Silva
- Lisboa ,
Universidade Aberta
falta
. colóquio maio e texto da Joana Miranda
e Rita - homenagem a CARLOS CORREIA
. Colóquio e exposição " Expressões de Cidadania
no Feminino " 5 de setembro Monção
. Concerto no Luxemburgo , outubro ( recortes de
jornal)
- Paris 10 setembro - Sorbonne
Homenagem a Maria Barroso( recortes de imprensa
- Maria Archer em Lisboa Elizabeth Batista outubro
(35 páginas)
Porto Mª Ant Jardim - liro
Outros lançamentos (Berlim, etc)
Colocar aqui os textos , desenvolvimento de cada
actividade
19 Janeiro
Texto que saiu no jornal sobre o lançamento do livro de
Deolinda Adão na Biblioteca José Marmelo e Silva em Espinho
"Deolinda Adão, professora e investigadora da
universidade de San José e de Berkeley na California através da recolha e
organização de cartas trocadas por Maria Ignacia e os seus filhos entre
1909 e 1916, revelou-nos uma historia da diáspora dentro da História .
Com apenas 15 e 16 anos emigraram estes jovens para o mundo novo, num período
de grandes transformações a nível mundial com o rebentar da primeira grande
guerra e em Portugal a implantação da república . A forma como estes
acontecimentos e as novas leis foram vividas no seio de uma família açoreana
despertou o interesse dos muitos jovens presentes nesta sessão , estudantes do
Agrupamento de Escolas Dr Manuel Gomes de Almeida, acompanhados pelos
seus professores.O problema da emigração cada vez mais actual, agora com
novos contornos foi também abordado e ficou no ar mais um novo projeto que a
Associação mulher migrante muito gostaria de colaborar: abrir novos horizontes
do outro lado do mundo, destinado a jovens das escolas de Espinho. Deolinda
Adão já colaboradora em projetos anteriores aderiu de bom grado.
Está de parabéns a Associação de Estudo, cooperação e
Solidariedade - Mulher Migrante por mais esta iniciativa e responsável
pela edição deste livro que dá a conhecer outra faceta da emigração
portuguesa, como referiu Manuela Aguiar, presidente da Assembleia da Associação
Mulher Migrante . Fazer o lançamento deste livro em Espinho foi uma
honra para a cidade como referiu Leonor Fonseca, vereadora da cultura, presente
na sessão e que tem sido apoiante destes projetos entre as escolas e a
Associação."
7 março em
Espinho
Dia
Internacional da Mulher em Espinho pavilhão Multimeios
A Associação de Estudo , Cooperação e Solidariedade - Mulher
Migrante associou-se a algumas iniciativas que marcaram a agenda do
Agrupamento de Escolas Dr Manuel Gomes de Almeida nas comemorações do Dia
Internacional da Mulher.
O desafio proposto por esta Escola com quem a
Associação tem já realizado trabalhos de cooperação, foi aceite e, na tarde do
dia 7 de março, no Pavilhão Multimeios de Espirealizou-se uma mesa
redonda com o tema " A revolução nas mulheres da
diáspora", com intervenção de três membros da Associação: Manuela
Aguiar, , Presidente da Assembleia Geral, Graça Guedes, Secretaria Geral
e Arcelina Santiago.
Isabel Nobre , professora e organizadora desta
iniciativa começou por fazer a apresentação, destacando o que de comum liga
estas três mulheres: a defesa dos direitos humanos, a luta pela igualdade das
mulheres, em particular, das Mulheres da diáspora .
Manuela Aguiar deu destaque a Maria Inácia Meneses
Vaz, personagem do livro "Califórnia , madrasta dos meus filhos",
publicação lançada recentemente pela Associação Mulher Migrante, com
enfoque na emigração pelo lado de quem fica. A faceta empreendedora desta
mulher, a forma como soube gerir o património foi alvo de relevo,
num mundo essencialmente marcado pelo masculino.
Graça Guedes abordou o tema da liberdade e da
democracia que aconteceu com a chegada de abril, as conquistas obtidas e as
mudanças no panorama das oportunidades para as mulheres. Lembrou que neste
desafio houve mulheres e homens que se destacaram e que não poderia deixar de
mencionar duas figuras femininas que a Associação homenageou
Maria Lamas e Maria Archer.
Arcelina Santiago, lembrou a longa caminhada nesta
luta pela igualdade, ainda não plenamente conseguida e para prova-lo ,
referiu os dados estatísticos recentemente publicados, que nos revelam que,
apesar das mulheres terem mais sucesso académico, com a conclusão dos cursos em
tempo devido e com melhores notas, são as que no mundo do trabalho, menos
integram cargos de nível superior e, em igualdade de funções, obtém salários
mais baixos do que os homens.
Fez depois uma breve apresentação a Maria Archer para
antecipar um pouco a representação .Lembrou que a Associação Mulher
Migrante homenageou esta mulher ,vanguardista para o seu tempo,
denunciadora e critica da situação da mulher. Esta sua posição em período
da ditadura, remeteu-a ao exílio.
Seguiu-se a entrevista imaginária a Maria Archer,
encantadoramente assumida pelas alunas do ensino secundário, Mariana Patela na
figura de Maria Archer , e Inês Pais, a jornalista. Esta não é a primeira vez
que encarnam estas duas personagens mas é sempre com muito entusiasmo e
perfeição que o fazem. O guião teve como fonte o trabalho de duas
investigadoras sobre a vida e obra de Maria Archer, Dina Botelho e Elizabeth
Battista.
O debate final e os elogios às diversas facetas da
jornalista e escritora, Maria Archer, e da mulher empreendedora, Maria Inácia
Menezes Vaz foi uma boa maneira de participar de forma reflexiva neste
Dia internacional da Mulher.
22 de Abril, Café
Guarani, 17.30-19.00 Manuela Aguiar
Num dos mais emblemáticos e antigos cafés da Baixa
portuense, no ambiente informal de tertúlia, o primeiro lançamento da nova
publicação da AEMM - publicação que constitui o relato possível do acontecido numa
série de debates, em Portugal e em comunidades portuguesas do estrangeiro,
sobre o significado da democratização da vida política no País, a partir da
revolução de 1974, sobre a sua projeção nas políticas de emigração, no
relacionamento com os cidadãos e as instituições da "Diáspora"..
Nesses debates, em auditórios de Universidades - Berkeley,
Universidade Aberta de Lisboa, Sorbonne, Toronto - de escolas do ensino
secundário - em Espinho, em Elizabeth, New Jersey - do MNE, dos Municípios de
Gaia e de Espinho, houve muitas oportunidades de ouvir mulheres e homens sobre
o quadro geral do fenómeno migratório, assim como sobre a evolução do papel das
mulheres nos movimentos de expatriação e de retorno e no movimento associativo:
partindo da história e da memória de sucessivas gerações até aos dias de hoje,
com a avaliação da dimensão atual do fenómeno, da sua componente feminina, das
novas formas de associativismo e de vivência das relações com as sociedades de
origem e de destino.
No Guarany, muitas participantes, e alguns participantes
também, dialogaram sobre o renascimento da democracia em Portugal e a sua
projeção no domínio das migrações de saída e regresso.
Moderou, como sempre muito bem, Nassalete Miranda, começando
rigorosamente às 17.30 e terminando, como previsto, um pouco depois das 19.00.
Foram cerca de 100 minutos de conversa animada, que passaram depressa demais.
Mas todos terão ocasião de falar do que ainda ficou por dizer na próxima
apresentação, em Espinho, na Biblioteca José Marmelo e Silva, no dia 13 de maio
às 16.00.
No Porto, estiveram as coordenadoras da publicação - Graça
Guedes e Manuela Aguiar, tendo Arcelina Santiago enviado mensagem do Alto
Minho, onde trabalho profissional a retinha,
Dos co-autores dos textos publicados, para além das
dirigentes da AEMM, há a destacar a presença e intervenção do dr Amândio de
Azevedo.
Entre as animadoras da reunião, uma maioria de
"mulheres d'artes", que têm colaborado, de uma forma contínua e
admirável, com a Associação. E entre as entidades parceiras da AEMM, a
presidente do Observatório dos Luso- descendentes, Drª Emmanuelle Afonso.
À despedida, um agradecimento especial para o Senhor
Barrios, o nosso anfitrião - o antigo emigrante no Brasil, que veio para o
Porto, restituir à cidade os seus mais belos cafés - o Majestic, o Guarany,
onde renasceu o ambiente, o espírito do "café-tertúlia".
Apresentação da
publicação em Espinho - 13Maio 2015
Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade -
Mulher Migrante apresentou mais uma publicação " 40 anos de migrações em
Liberdade " dia 13 maio 2015
Foi uma tarde marcada por uma forte presente, especialmente
por jovens das escolas secundárias : Dr Manuel Gomes de Almeida e Dr
Manuel Laranjeira
A Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade -
Mulher Migrante marcou de novo encontro na Biblioteca José Marmelo e Silva,
para apresentação da sua última edição, dedicada ao tema" 40 anos de
Migrações em Liberdade".
Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da
Associação agradeceu a presença da senhora vereadora da cultura, Leonor
Lêdo Fonseca , uma grande aliada da Associação, na defesa dos
direitos e liberdade das mulheres. Agradeceu também a presenca de
tantos participantes nesta sessão, em particular, aos inúmeros jovens das duas
Escolas Secundárias de Espinho e que estão retratados nesta edição por
textos por desenhos extraordinários que fazem parte da contracapa do
livro.
Graça Guedes congratulou-se por mais uma edição, a
juntar a outras tantas, reunindo um conjunto significativo de actividades
desenvolvida pela Associação ao longo do ano de 2014, ano marcado para celebrar
as migrações em liberdade com o 25 de abril.
Arcelina Santiago, referiu a honra em ter participado
na equipa de coordenação desta edição, constituída por duas fantásticas
mulheres, conhecedoras como ninguém do fenómeno português da diáspora. Lembrou
o papel da Dra Manuela Aguiar, cidadã defensora de causas e com uma intervenção
política de grande relevo enquanto Secretaria de Estado das Comunidades
Portuguesas. Como acentuou, falar de emigração sem se referir o seu nome é
impensável.
Destacaram-se alguns dos textos do livro em análise,
nomeadamente o que refere a figura incontornável de Leonor Lêdo Fonseca ,
vereadora da cultura de Espinho
enquanto cidadã, mulher da cultura, política e
defensora de causas . Também as narrativas de vida de mulheres da
diáspora, algumas de sucesso, outras, vivências trágicas a lembrar
episódios presentes que jamais se pensaria ver repetidos - os desastres da emigração
no mediterrâneo e a situação dramática vivida pelos refugiados da guerra e da
fome.
O Projeto Berkeley/San José - Espinho foi posto
em relevo , tendo Arcelina Santiago agradecido a colaboração dos diretores das
Escolas envolvidas e dos professores, João Paulo e Carminda Costa, orientadores
deste projeto em articulação com a Professora Deolinda .Acima de tudo, referiu
o excelente trabalho dos alunos.
Depois, seguiram-se os testemunhos vivos e intensos da
experiência vivida pelos jovens. Referiram a experiência positiva , jamais
esquecida, proporcionada pela Associação com este projeto que juntou jovens de
dois países. Foi com muito alegria e dedicação que preparam os trabalhos
e se dedicaram a apresentá-lo com tanto entusiasmo, referiu a professora Carminda
Costa.
"Ainda hoje, mantemos laços com os jovens
americanos que nos visitaram " , " Jamais esqueceremos essa
experiência tão positiva e gostaríamos que houvesse uma continuação " ,
" foram momentos únicos que uniu alunos das duas escolas na preparação dos
trabalhos" , " procuramos dar a conhecer Fernando Pessoa e a
escolha do poema de Jorge Palma esteve presente o nosso sentido
patriótico" estes foram alguns dos testemunhos dos jovens
elucidativos da marca positiva deste encontro.
Seguiu-se um debate vivo e muito participado
pelos jovens, sobre , por um lado, as oportunidades da partida face ao
país sem perspectivas, mas por outro, as preocupações das expectativas
defraudadas.
Leonor Fonseca respondeu a algumas questões colocadas pelos
jovens , sobre a nova diáspora sentindo o quão frustrante era ver os
jovens partir e elogiando a coragem daqueeles que partem com um potencial
enorme, fruto de haver em Portugal um ensino de muita qualidade.
Manuela Aguiar referiu a preocupação da diáspora dos
que partem sem grande formação, armas para se defenderem num mundo novo e as
expectativa frustadas quando na emigração do passado era diferente.
Por fim, Leonor Fonseca sintetizou esta sessão tão
participativa com estas palavras: a Associação cumpriu o seu papel, está de
parabéns!
Em Lisboa (
textos de Vitor Gil e Joana Miranda)...
Desenvolvimento,
Migrações e Género
Joana
Miranda
Professora
Universidade Aberta/ Investigadora CEMRI
No mundo
actual as migrações, o desenvolvimento e o género constituem elementos
profundamente interrelacionados que se influenciam reciprocamente e cuja
dinâmica é constante e se encontra em permanente transformação, revelando a
cada momento novos dados e sugerindo novas leituras. Estes três elementos
configuram poderosos eixos de interpretação de um mundo marcado pela mudança
acelerada a todos os níveis e pela coexistência da globalização e da
homogeneização com a fragmentação, permitindo-nos aproximações deste período
que Balandier (1997) designa de "sobremodernidade", período de
mudança e ambivalência, de "mudança mais incerteza".
Na mesma
linha o sociólogo Zygmunt Bauman (2007) caracteriza a época em que vivemos como
"modernidade líquida"- leve, fluida, dinâmica mas incerta. Para
Bauman (2007:11) o que torna a modernidade líquida é a modernização compulsiva
e obsessiva, permanentemente em aceleração, através da qual nenhuma forma de
vida social, à semelhança dos líquidos, é capaz de reter os seus contornos
durante muito tempo.
Para o
autor, a terceira vaga de migração moderna (Bauman, 2007:18) que no momento
actual assume plena força e se encontra em crescendo conduz à “idade das
diásporas”: um “arquipélago mundial de povoamentos étnicos/religiosos/linguísticos
esquecidos dos caminhos queimados e trilhados pelo episódio imperialista
colonial”.
Ao mesmo
tempo que a globalização representa uma certa forma de interconexão e
interpenetração entre regiões e comunidades locais, marcada pela hegemonia do
capital e do mercado, ela faz-se acompanhar por uma procura de singularidade e
de espaço para a diferença e para o localismo (localização da cultura, Bhabha,
1994).
Neste
contexto são diversos os discursos em torno do desenvolvimento. O que é,
afinal, o desenvolvimento? O discurso dominante é o discurso economicista
focalizado na ideia de que o desenvolvimento económico e o crescimento do
mercado são as formas de iniciar um processo de desenvolvimento (em sentido
mais amplo) e de que, por seu turno, esse mesmo desenvolvimento estimularia o
desenvolvimento económico e o crescimento do mercado.
Vejamos o Human Development Report da ONU de 2014
com o título Sustaining Human Progress: Reducing Vulnerabilities and
Building Resilience. O índice de
desenvolvimento humano foi
criado em 1990 para enfatizar que as pessoas e as suas capacidades devem ser o
critério principal de avaliação do desenvolvimento de um país (por contraponto
com o PIB per capita). É um indicador social estatístico composto por três
parâmetros: Vida longa e saudável
(medida pela esperança de vida ao nascer), educação (medida através da taxa de alfabetização de adultos, da
taxa de escolarização e do número de anos de escolaridade obrigatória) e nível de vida (medido pelo PIB per
capita em dólares).
No relatório
de 2014, Portugal ocupa o 41º
lugar no ranking de desenvolvimento (o relatório de 2014 refere-se ao ano
2013). Em 2010 foram introduzidos índices complementares ao IDH, nomeadamente o
Índice de Desigualdade de Género (IDG).
O Índice de Desigualdade de Género (IDG) reflete desigualdades com base
no género em três dimensões - saúde reprodutiva, autonomia e atividade
econômica. A saúde reprodutiva é medida pelas taxas de mortalidade materna e de
fertilidade entre as adolescentes; a autonomia é medida pela proporção de
assentos parlamentares ocupados por cada género e a obtenção de educação
secundária ou superior por cada género e a atividade económica é medida pela
taxa de participação no mercado de trabalho para cada género. O IDG substitui os
anteriores Índice de Desenvolvimento relacionado com o Género e Índice de
Autonomia de Género. Ele mostra a perda no desenvolvimento humano que decorre
da desigualdade entre as conquistas femininas e masculinas nas três dimensões
do IDG.
O conceito
de vulnerabilidade é central no relatório. A vulnerabilidade varia ao longo do
ciclo de vida, sendo maior nas crianças, nos adolescentes e nos velhos. Varia,
ainda, consoante a zona geográfica, o género e a etnicidade, sendo grande nos
povos indígenas e nos que vivem na pobreza extrema. Mais de 2.2 billiões de
pessoas vivem ou estão perto de viver uma pobreza multidimensional, mais de 15%
da população mundial está vulnerável à pobreza multidimensional, 80 % não tem
proteção social, 5 a 12% (842 milhões) sofrem de fome crónica. Mais de 1.5
billiões de pessoas desenvolvem trabalho informal ou precário. Vulneráveis são
também os deficientes e as pessoas que habitam zonas geográficas que sofreram
alterações do clima. Entre 2000 e 2012 mais de 200 milhões de pessoas, a
maioria de países em desenvolvimento, foram atingidas por desastres naturais,
especialmente por cheias e por secas. Crises económicas, doenças, guerras,
desastres naturais são factores que criam vulnerabilidade.
Mas o
desenvolvimento humano engloba mais dimensões para além das avaliadas pelo IDH
como, aliás, a ONU reconhece e como explicitado na figura infra. O relatório
apenas avalia a dimensão assinalada na parte superior do esquema, não avaliando
a dimensão apresentada na parte inferior.
Fonte: ONU, Relatório
do Desenvolvimento Humano, 2014
Assim, o
desenvolvimento é um processo holístico, que deve visar a melhoria das
condições de vida da população, a expansão das oportunidades de educação, de
saúde e o acesso aos recursos, o desenvolvimento humano de pessoas, para as
pessoas e com as pessoas, melhorar o social nas suas diversas dimensões,
atender ao respeito pelos direitos humanos, criar sustentabilidade,
possibilitar a expansão das capacidades e das liberdades, a inclusão e o
empoderamento dos mais pobres.
O género
revela-se uma dimensão fundamental de análise. A feminização das migrações é uma das cinco características que
definiriam a actual era das migrações (Castles e Miller, 1998). A feminização
das migrações refere-se quer ao aumento do número de mulheres migrantes quer ao
empoderamento. De acordo com dados da ONU, aproximadamente 50% dos migrantes da
actualidade são mulheres, sendo o número de mulheres superior ao dos homens nos
países desenvolvidos. A migração das mulheres sofreu grandes alterações nas
últimas décadas. No cenário anterior jovens imigrantes masculinos atravessavam
as fronteiras, ocupando as mulheres uma posição passiva nos processos
migratórios, acompanhando os pais/maridos/companheiros em resultado das
decisões migratórias daqueles. As mulheres permaneciam na esfera doméstica, sem
acesso ao domínio público. Esta situação passiva das mulheres foi substituída
por um maior empoderamento, por uma maior participação pública das mulheres e
por maior poder de decisão política nos vários níveis, participação ou
liderança das associações de migrantes, papel no seio da família e no envio de
remessas para os países de origem, maior divisão das tarefas domésticas, papel
mais dinâmico nas redes sociais. Visões mais otimistas perspetivam as mulheres
como os “novos agentes do desenvolvimento”.
Quando se
coloca o empoderamento na balança e se procura avaliar o impacto das mulheres
na igualdade de género considera-se que existe empoderamento se existe poder de
tomada de decisão no seio da família, melhoria de qualidade de vida no país de
origem, acesso das crianças à educação, aumento de auto-estima, maior
autonomia, renegociação dos papéis familiares, aumento de estatuto na
comunidade, compra de casa ou de negócio e aumento do poder de compra. Pelo
contrário, existe desempoderamento se existe trabalho mal pago, abuso e
exploração, frustração, dificuldade em poupar dinheiro (auto-sacrifício), duplo
vínculo (trabalho produtivo e reprodutivo), isolamento, estigma da má mãe
(abandonando crianças no país de origem), invisibilidade (vozes não ouvidas),
capacidades não aproveitadas e dupla
discriminação mulher/imigrante.
As
representções das mulheres migrantes são muito extremadas variando entre, por
um lado, representações muito
pejorativas e miserabilistas e, por outro lado, representações idealizadas. De
acordo com estas últimas representações as mulheres migrantes seriam
coordenadoras das vidas familiares transnacionais, emissoras de remessas,
detentoras de espíritos sacrificiais e de grande altruísmo, protectoras e
nutridoras e trabalhadoras empenhadas.
Uma perspectiva de género do desenvolvimento não
se limita a desagregar os dados por sexo ou apenas considerar o género uma
variável da equação, tal como a idade ou o nível educacional. Há que entender
que as relações de género afectam e são afectadas por cada passo do ciclo
migratório. A análise deve ter em conta o nível das famílias, mas também o
nível das comunidades, das instituições, nacional e transnacional, tendo em
conta a diversidade de homens e de mulheres e as formas como os géneros são
construídos e reconstruídos ao longo dos processos migratórios. É também
importante considerar os comportamentos e as identidades dos homens - ou o que
é colectivamente designado por “masculinidades”- uma vez que também eles se
relacionam com o processo migratório.
Numa
perspectiva de género, de forma a compreender a complexidade do processo
migratório e do seu impacto no desenvolvimento há que ter em conta 4 eixos de
análise (Petrozziello, UN Union, 2013):
I. Género como
categoria central de análise (que não se focaliza apenas nas mulheres mas nas
relações de poder entre homens e mulheres, modificando e produzindo novas
identidades através dos processos migratórios)
II. Direito ao
desenvolvimento humano - visão holística das capacidades e da liberdade dos
indivíduos (diferente de desenvolvimento económico).
III. Dimensão
espacial do desenvolvimento – do transnacional ao local – Analisar “what is
happening there and what is happening here” de forma a identificar pontos chave
de intervenção.
IV. Migrantes como
protagonistas do desenvolvimento (lucrando com o desenvolvimento e com a
melhoria das condições de vida, intervindo activamente no processo de
desenvolvimento e decidindo sobre o processo de desenvolvimento).
Convem ter uma perspectiva mais realista da mulher migrante,
perspetivando-a como alguém que lucra com o processo de desenvolvimento, que intervem no
processo de desenvolvimento e que decide sobre o processo de desenvolvimento.
Enquanto
investigadores/investigadoras deveremos dar voz às mulheres. Dar voz é dar
poder. Dar oportunidades de romper o silenciamento, recorrendo a metodologias
participativas, recolha de histórias de vida, recolha fílmica em que a mulher
seja o centro da análise.
Referências
bibliográficas
Balandier,
Georges. (1997). A desordem: elogio ao movimento. Rio de
Janeiro: Bertrand.
Bauman, Zygmunt
(2007). Tempos líquidos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editora.
Bhabha, H. K. (1994). The Location of Culture. Londres e Nova Iorque: Routledge.
Castles, S. & Miller, M.J. (1998). The Age of
Migration: International Population Movements in the Modern World. Londres:
Macmillan.
ONU (2014). Human Development Report 2014. Sustaining Human Progress: Reducing
Vulnerabilities and Building Resilience. Nova Iorque: UNDP.
Petrozziello. A. (2013). Gender on the moove.
Working on a Migration Developement nexus from a Gender Perspective. UN Women.
Homenagem Carlos
Correia
Em Monção
(todos as comunicações )....
5 setembro
Iniciativas da AMM em Monção colóquio e exposição " Expressões
de cidadania no feminino"
Texto introdutório
Catálogo da exposição de pintura e escultura "
Expressões de cidadania no feminino"
Monção, terra minhota , traz na sua memória e génese uma
figura feminina de notável destaque - Deu-la-Deu Martins. O brasão da vila
contempla esta mulher lendária t que graças à sua inteligência e
perspicácia deu a esta terra, fronteira com Espanha, um futuro independente e
promissor.
Atualmente, ela está representada na escultura de João
Cutileiro, sobranceira ao rio Minho, figura imponente, desmultiplicada, aberta
a interpretações variadas que só a arte sabe oferecer: simboliza talvez
as múltiplas facetas da cidadania do feminino que tem uma força especial e
única na forma como as mulheres veem o mundo, e a importância e riqueza
do coletivo que faz um ideal erguer-se e ser vencedor.
Se esta exposição tem como base a inspiradora figura do
passado desta vila, figura da nação, que carrega consigo uma longa e vencedora
história de afirmação, as protagonistas nela representadas apresentam-nos,
agora, várias propostas. Estamos perante seis mulheres criadoras, com
diferentes formas de expressão, reflexo de vivências múltiplas, com algo em
comum - o olhar feminino do mundo que as rodeia, a sua sensibilidade estética
como expressão de cidadania.
Assim, estas obras de arte afiguram-se como metáforas
poéticas onde se pode contemplar o pormenor e o geral, o concreto e o
abstracto, o simbólico e o real, o particular e o universal. Busca-se
pelo traço, pelos efeitos cromáticos, pela luminosidade, pelos materiais e
pelas texturas, a dimensão das pessoas, dos seus rostos, sulcados de histórias
de vida; as formas, os movimentos, a leveza da expressão, enquanto seres
em mudança; procura-se na natureza e no enraizamento, necessário para nos
tornarmos mais Pessoas, a busca do pormenor e do geral, patente em descrições
de equilíbrio e serenidade que só as árvores, enquanto símbolo anímico
da vida, nos sugerem. Abraçar o abstracto faz-nos mergulhar nos sonhos e
nas utopias que alimentam a vida e a dimensão cósmica, permite-nos ter uma
visão ainda mais abrangente, onde o homem, elemento do universo, na dialética
constante vida-morte, espreita em várias telas . São apenas algumas propostas
de leitura que deixo em aberto...
Trata-se de pintura e escultura contemporânea, uma primeira
mostra em Monção de uma manifestação artística que quer promover o
debate de ideias em torno da expressão de cidadania no feminino que não se
esgota na arte, mas que tem nela um ponto alto da sua expressão, daí a
realização de um colóquio que antecede a exposição. Aliar esta exposição
ao debate sobre questões relacionadas com as expressões da
cidadania do feminino será uma forma de proporcionar reflexão e mobilizar para
uma sociedade mais justa e equilibrada.
E porque a arte e as questões do género dizem respeito
a homens e mulheres e porque os desafios da defesa dos direitos humanos devem
ser enfrentarmos lado a lado, integramos de forma simbólica, um artista da
terra monçanense que acompanhará esta coletiva de mulheres. - o pintor Ricardo
de Campos. Este jovem artista, já com uma caminhada de sucesso com obras
marcadas por simbolismos e expressões onde, do ecletismo das formas, texturas e
materiais, jorra uma intensa sensibilidade, criatividade, grandeza e
irreverência e onde as mulheres têm também um lugar de destaque.
Como comissária desta exposição, convido-vos a
apreciar a pluralidade da riqueza estética nela patente, observando o visível e
o invisível das propostas dos artistas, janelas abertas a novas
interpretações.
Arcelina Santiago
Colocar catálogo também e fotos
Comunicação do Senhor
Vereador da Cultura, Dr Paulo Esteves
Começo por saudar os distintos membros da Mesa e os
convidados presentes e apresentar , em nome da Câmara Municipal, sinceros
agradecimentos à Organização deste evento. Sentimo-nos honrados pelo
convite feito pela Dra Arcelina Santiago, membro da direção da Associação
Mulher Migrante e pelo facto de terem escolhido Moncão, terra cheia de
potencialidades em termos culturais e sempre aberta a novos desafios.
A temática em torno da diáspora, cultura,
e igualdade do género combina com esta terra com longo historial de
emigração e integrada no projetos de igualdade de género. Por isso, foi
com muito prazer que aderimos de imediato, como parceiros desta iniciativa que
trará visibilidade a Monção e a desafiará para outros projetos.
O município tem vindo a tomar um conjunto de iniciativas, a
saber: assinou protocolo de cooperação com a CIG em Julho de 2014 e, na
mesma data, foram nomeados conselheiro e conselheira municipal para
a igualdade - Paulo Esteves e Cristina Dias respectivamente.
Com a assinatura do protocolo, o município
comprometeu-se a criar um plano municipal para a igualdade,
encontrando-se neste momento numa fase de diagnóstico junto dos/ das
colaboradores/as acerca da sua percepção face à igualdade de género, permitindo,
numa segunda fase, adaptar um plano face às necessidades identificadas.
Paralelamente, tem realizado actividades promotoras de
igualdade a nível interno, nomeadamente, sinalização do dia internacional
do homem (19 de Outubro ) e dia da mulher (8 de Março) com sessões
sobre saúde. No âmbito do protocolo alguns colaboradores e o
conselheiro e a conselheira tiveram formação sobre igualdade de
género, violência doméstica e tráfico de seres humanos.
A nível externo foram realizadas várias ações de
informação para jovens sobre violência no namoro, ações de
informação sobre violência doméstica dirigida a diferentes
públicos: forças de segurança, bombeiros, técnicos de
saúde e profissionais da área da educação.
Também foi comemorado o o dia internacional pela
eliminação da violência contra as mulheres.
Está a ser criado um guia para uma linguagem não
discriminatória a ser divulgado junto dos funcionários da autarquia
para que seja usada nos documentos da autarquia.
O município estabeleceu também parceria
com o GAF e o centro de atendimento a vítimas de
violência doméstica de Vila Praia de Âncora, para onde são
encaminhadas as vítimas e agressores.
O Município sabe que estes são pequenos passos, mas
que farão a diferença e continuará a trabalhar porque tem consciência de
que há ainda muito a fazer.
Estou também em representação do D. Arturo , Alcalde de
Salvaterra do Mino que não podendo estar presente louva está iniciativa.
Sobre Salvaterra a informação a que tive acesso é que em termos de género , no
município, 80% das pessoas que trabalham no serviço externo são homens e 20% do
serviço interno é assegurado por mulheres. Trata-se de um quadro muito
semelhante ao que acontece no nosso município. Daí concluirmos que há ainda um
grande trabalho a desenvolver nesta área.
Sobre o desafio que foi aqui proposto e já ventilado pela
Dra Arcelina Santiago em reuniões preparatórias , gostaria de declarar que a
Câmara Municipal está inteiramente de acordo e aceita o desafio proposto
- realizar uma Cimeira em 2016 sobre o tema " Expressões de cidadania no
feminino" de âmbito Luso Galaico, por isso, convidamos desde já,
todos os elementos envolvidos nesta iniciativa.
Comunicação
professora Luisa Malato
Comunicação da
Dra Manuela Aguiar
Comunicação professor Viriato Capela
Mulheres, figuras de Nação. Rosalía de Castro e Maria da
Fonte
José Viriato Capela
Prof. Catedrático
Presidente da Casa
Museu de Monção/Universidade do Minho
A ideia de Nação e Nacionalismo, como é sabido, é uma ideia
“moderna”, do nosso século XIX, depois levada ao paroxismo com os Estados-Nação
do século XX. Na base tem comumente o sentido de construção e reforço de
identidade nacionalista e patriótica dos povos, com horizontes expansionistas
assentes em múltiplos fatores, linguísticos, étnicos, geográficos, históricos,
económicos, entre outros.
Na Península Ibérica eles também atuariam no sentido de
reforço dos Estados e estão na origem da construção de Estados totalitários –
Franquista e Salazarista – que se formaram em paralelo dos violentos Estados
Fascistas italiano e nazi-alemão.
No que diz respeito a Portugal e Espanha, no seio da
Península Ibérica, eles serviram para firmar as identidades e claras separações
entre os dois Estados Peninsulares, isto sem embargo, algumas colaborações e
aproximações entre ambos os regimes. A construção do Nacionalismo unitário
franquista em Espanha teve, de algum modo, de se construir com e contra os
nacionalismos e autonomias regionais; em Portugal o Nacionalismo português não se
debateu com projetos de nacionalismos ou autonomias regionais. Reforçou a
identidade nacional face a Espanha, de algum modo também o todo unitário de
Estado colonial. E na Historiografia desenvolveu os estudos na perspetiva de
valorizar dos fatores da identidade e singularidade da História portuguesa no
conjunto peninsular.
A História Portuguesa, tem sido construída na base de uma
Historiografia escrita por homens. Em particular, esta História dos
Nacionalismos, que sendo um capítulo que envolve, de modo especial, domínios
ligados a Ação política e militar, tem sido escrita sobretudo com base na
História Política e militar e dos feitos heroicos dos portugueses.
As formas de nacionalismos, de base regional, que querem
exprimir a força e identidade dos povos, numa perspetiva da sua afirmação
particular em conjuntos mais vastos, que não passam necessariamente pela
construção de grandes Estados, é uma realidade que não deve ser esquecida da
História dos Povos, até porque eles põem em marcha outros agentes e referentes.
E relativamente a Espanha aí estão as múltiplas formas
históricas de lutas, com base nas suas identidades «nacionais», pelos
regionalismos, pelos estatutos autonómicos, pela própria independência
nacional. Em Portugal, as manifestações desta índole nunca foram além de
reivindicações regionalistas, sem horizontes políticos que não sejam o de
defesa e promoção dos interesses regionais e num vago Provincianismo de base
administrativa. A Língua Portuguesa – que é única e forte no todo nacional e
nas terras da Expansão Portuguesa – e a precoce construção de um Estado
centralizado nunca propiciaram desenvolvimento de entidades regionais. O que é
facto é que estes Estados fortemente centralizados provocam os maiores
desequilíbrios no desenvolvimento nacional, que tanto ou mais que outros
sentimentos de secundarização política, social, ou cultural, provocaram os
movimentos reivindicativos regionais.
São conhecidos em Espanha desde o século XIX as lutas de
algumas regiões, designadamente na nossa vizinha Galiza que desembocaram nos
Estatutos Autonómicos. São também conhecidos em Portugal as reivindicações
regionalistas da mesma etapa, que acabam por definir prosaicamente e
temporariamente a Província (1936) como entidade administrativa. A tradição
municipalista entre nós, desembocou, no Poder Local. A História dos movimentos
regionalistas e pela autonomia ou mais prosaicamente, pela defesa das tradições
e «liberdades» dos povos – face às Culturas e Estados Nacionais – escreve-se na
Galiza e em Portugal, também com o nome de duas mulheres, Rosalía de Castro e
Maria da Fonte. Elas vão associadas a processos de defesa e construção de
identidades nacionais no século XIX de base regional e deixam bases para o
futuro. Nessa perspetiva se lhes aplicará também o epíteto de Figuras de Nação,
porque vão associadas à construção das bases e ideias dos Nacionalismos para as
suas terras e regiões (caso de Rosalía) ou de outro modo de conhecer (defender)
a Nação tradicional Portuguesa face às mudanças do Liberalismo (Maria da Fonte).
Apesar destas circunstâncias, não parecerá a muitos
admissível a aproximação destas duas figuras, que exprimem a sua intervenção de
modo muito diferenciado. De facto, uma, Rosalía de Castro, figura histórica bem
fixada, na sua terra natal, na sua biografia, na sua obra literária e cultural;
outra, Maria da Fonte, de difícil se não impossível fixação pessoal –
identitária, mais expressão de movimento coletivo de mulheres, do que ação
individual, isto é, mais mito do que realidade.
Mas a razão desta aproximação decorre do papel que ambas as
figuras tiveram no processo de defesa e construção de identidades locais e
regionais, em tempo de ativa absorção estadual e cultural dos seus territórios,
a Galiza no grande Estado e Nação de Espanha, o Minho, e por ele uma certa
personalidade e identidade social e cultural, no Estado e Nação Portuguesa, no
século XIX.
São ambas contemporâneas do processo de abolição do Antigo
Regime e de construção do Liberalismo em Espanha e Portugal, de disputas entre
liberais e absolutistas e dos seus diferentes projetos de Sociedade. Atentam
ambas por meados do século XIX, num estádio já desenvolvido da implantação do
novo Estado Liberal, mais centralista que o Estado Absolutista do passado. E
vivem e refletem o quanto essa evolução política tem sido feita contra ou a
desfavor dos Povos e das Culturas das suas regiões e províncias.
Rosalía fixará por então desde meados do século XIX em prosa
e poesia a mais dolorida expressão a que está a ser votado o Povo Galego, pelo
desprezo e desclassificação a que está a ser votada a Língua galega e sua
Cultura no seio de outras Nações peninsulares, face a Castela, sobretudo. E
também, às forças económicas e anímicas da Galiza, que se estão a exaurir sob o
efeito da Emigração. Galiza que considera e elege como mais rica e úbere região
de Espanha se a libertarem dos estrangulamentos a que vai submetida.
Maria da Fonte, de armas na mão, a partir da Póvoa de
Lanhoso, também a meados do século, desde 1846, mobilizará o povo minhoto e
nortenho contra as instituições do Liberalismo e do Cabralismo em defesa das
«Santas Liberdades» que aqui são a uma expressão mobilizadora a defesa das
velhas tradições contra um Estado e Governo Ditatorial.
Aproxima então Rosalía de Castro e a Maria da Fonte o mesmo
sentido de defesa da autonomia das terras e das regiões e vontade da sua
afirmação política e cultural, em tempos, em que regiões e províncias
periféricas como a Galiza e o Minho estão a ser secundarizadas e diminuídas.
Estamos em face de movimentos de natureza diferente: um que
pelas Letras e Cultura quer defender e promover o seu povo e lançar os
fundamentos do resgate do Povo galego; outro que pelas Armas quer combater um
Estado centralista e opressor que governa contra a Nação, isto é, contra os
Povos.
São conhecidas as armas e as gestas militares da Revolução
da Maria da Fonte que logo se estenderá a todo o Minho e que tomará a
designação de Revolução do Minho.
Para Rosalía de Castro é a Cultura e a Língua que devem ser
as Armas defesa do Povo Galego. Vale a pena fixar aqui a apresentação de
Rosalía à sua mais notável obra que virará matriz do galeguismo, os «Cantares
galegos» (1ª ed., 1863; 2ª ed., 1872)..
«E a nossa língua não é aquela que bastardeiam e champorrem
torpemente nas mais ilustradíssimas províncias, com uma risa de mofa, que a
dizer verdade (por mais que esta seja dura), demonstra a ignorância mais crassa
e a mais imperdoável injustiça que pode fazer uma provincia à outra provincia
irmã, por pobre que esta seja. Mais é aqui que o mais triste nesta questão é a
falsidade com que fora daqui pintam, assim os filhos da Galiza como a Galiza
mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciado e feio de Espanha, quando
acaso seja o mais fermoso e digna de alabança».
Qual o diferente legado das ações e obras destas duas
figuras (movimentos)?
Em Rosalía de Castro o mais profundo sentido otimista do
destino do Povo e Nação galega. E também do papel e lugar da sua Língua que com
a sua obra será a verdadeira fundadora do Galego como Literatura Moderna. Na
Maria da Fonte e Revolução do Minho, o sentido da luta contra os autoritarismo
e despotismos e a defesa dos valores tradicionais dos povos e regiões.
A Maria da Fonte, como ação política teve efeito imediato no
Levantamento Minhoto, Nortenho e Nacional contra o Governo de Costa Cabral e
suas medidas, que levam à sua queda. A obra literária e poética de Rosalía de
Castro só será o fundamento da luta pelo nacionalismo galego, mais tarde,
porque a sua obra só será publicada lida e reconhecida, por finais do século
XIX e no século XX em que perduraria pela «atração insuperada dos seus versos
regionais».
De qualquer modo ambas tiveram um papel importante nos
processos dos ressurgimentos nacionais e nacionalistas de finais do século XIX,
que preparam os movimentos republicanos, em Espanha e Portugal, e que passam,
em ambos os casos pela valorização, papel e lugar que devem ter os territórios,
as províncias, as regiões no processo global dos Ressurgimentos Nacionais.
Rosalia de Castro virará a maior referência dos promotores
do Nacionalismo Galego. Maria da Fonte, suporte de um vago Regionalismo e
Provincianismo bandeira de forças liberais e conservadoras, na sempre expressão
da capacidade das terras e regiões de afirmar a sua identidade e tradição.
No final de contas, também, dois modos diferentes de intervir,
de base feminina: o literário, o cultural, da obra individual que mobilizará as
vontades a mais largo prazo do povo que contra e a quem se dirige; o belicoso e
guerrilheiro do movimento coletivo, de rutura e gestos violentos mas que sempre
também se perpetuam e vem à memória.
Comunicação de
Arcelina Santiago
Arte no Feminino
Os meus cumprimentos a todos os excelentíssimos
membros da mesa e convidados e um agradecimento muito especial ao Sr Prof Dr.
Viriato Capela e Dra Sandra por terem desde o começo abraçado esta iniciativa.
Fazendo a ligação entre os dois temas aqui abordados,
diáspora e literatura, com a arte, tema que tratarei, embora não seja
especialista de arte, mas sim apreciadora e considero-a mobilizadora de causas.
Começarei por mencionar Ana Harthely que reúne estas
três dimensões, uma forma singela também, de prestar homenagem a
uma mulher portuguesa da diáspora que ao deixar-nos, deixa o mundo cultural
português mais pobre. Artista plástica , poeta, romancista, ensaísta, estudiosa
da poesia barroca, "a pintora da palavra", como alguém a chamou, tem
mais de 400 poemas publicados." Tisanas " livro de pequenos poemas
foi o mais conhecido. Deixa-nos uma extensa obra , patente na fundação Calouste
Gulbenkian, no Museu de Arte contemporânea , Serralves , Museu do Chiado
e muitos mais.
Abordarei, então , a perspectiva da arte, fazendo a ponte
para a exposição que também nos traz hoje aqui a está Casa Museu e que
muito me apraz pois está casa faz parte da história da minha
família.
A arte é efetivamente aglutinadora de culturas, de
saberes e sentires e de reforço das relações humanas . Ela gera emprego,
propicia a socialização, e promove mais valia quando se cruzam culturas, como
tão bem referiu Isabel Ponce leão no Encontro Mundial da Diáspora, promovido
pela Associação Mulher Migrante, em 2013 " A arte apresenta-se como
um domínio propício a construções interculturais sendo, como é, expressão de
criatividades idiossincráticas. É justamente neste encontro de diferenças que
se gera a comunhão de saberes e de afetos e se demanda o cosmopolitismo de que
o século XXI não abdica . A arte assume por si só , a superação de
particularíssimos e difunde linguagens universais propiciadoras de um
ecumenismo prático. Tendo como certo que as políticas públicas e os seus
agentes podem e devem tornar-se mais amigos da criação artística de matriz
intercultural. (...) Identidades e diferença são conceitos que apontam para um
espaço continuo, sem fronteiras , onde o eu e o outro partilham crenças e estéticas
fazendo desmoronar posições dominantes e subalternas...
Assim , sobre a riqueza que pode trazer esta
multiculturalidade da arte no feminino, bem como a partilha de temas
relacionado com as mulheres, lançamos um repto cultural aproveitando a presença
dos excelentíssimos, representantes políticos e responsáveis do projeto
"Euro Cidade Monçao /Salvatera do Mino, a saber:
partilha e intercâmbio de âmbito galaico português nestes
moldes - exposição e colóquio numa cimeira a ser realizada de dois em
dois anos, com o tema "expressões de cidadania no feminino " . Temos
muito a partilhar e a debater sobre a forma como aconteceu a diáspora nos dois
países e a sua relação com a arte, uma tentativa de leitura do
mundo contemporâneo com vista à estruturação de uma cidadania multicultural ,
igualitária e emancipatória , de formação humanística cosmopolita.
Depois deste repto, lembro o passado e as mudanças que
aconteceram, provavelmente muito à semelhança do que se passou com as mulheres
do nosso país vizinho.
Da memória do passado, conservamos a imagem da mulher
doméstica com funções e divisão de papeis, marcada por uma construção meramente
social. A afirmação das mulheres foi uma caminhada árdua e ainda não acabada,
num mundo dominado pelo masculino. Ainda hoje, se há áreas em que a
discriminação foi praticamente ultrapassada, outras há em que um
longo caminho ainda vai ser necessário percorrer. Hoje as mulheres estão
presentes em todos os domínios: da investigação à economia, da tecnologia ao empreendedorismo,
da literatura à arte, da ciência ao desporto, do ensino à administração, do
direito à política . No entanto, a sua presença é ainda escassa em
lugares de topo, e os seus salários são quase sempre mais baixos em
relação aos homens , no desempenho de iguais tarefas. O sistema de
cotas imposto em alguns domínios veio obrigar a algum equilíbrio,
forçado, é bem verdade, mas as experiências de alguns países, mostram-nos
que pode ser um meio de estímulo para as mulheres e uma alteração do status
quo, construído em termos sociais com dominância no masculino.
Do passado lembramos também a quase inexistência da presença
de mulheres em certas áreas e a sua concentração em áreas sócias, dos
serviços e na educação. A nível de literatura por exemplo, aconteceu
escreverem com pseudónimos masculinos, para obterem melhores críticas e melhor
aceitação social. Maria Archer , jornalista e escritora, mulher da diáspora,
já homenageada pela Associação Mulher Migrante, teve a ousadia de não o
fazer e denunciou essa discriminação , que lhe valeu o exílio.
Felizmente que as conquistas de abril abriram portas
às mulheres na luta pelos seus direitos: liberdade, autonomia,
independência... A Associação Mulher Migrante com mais vinte anos de
existência tem contribuído para esta luta pela igualdade e visibilidade das
mulheres. Deu enfoque deste tema na sua última edição de 2014, com o título de
" 40 anos de Migrações em Liberdade " e dedicou o tema "
Expressões femininas da Cidadania" em 2013. Neste ano, no Encontro Mundial
de Mulheres na Diáspora colocaram-se em debate estas duas questões que volto a
trazê-las para este colóquio.
. Será que as mulheres terão de percorrer um caminho mais
árduo do que os homens para a sua afirmação no domínio artístico?
. Serão as artes um veículo com particular potencial para a
afirmação da agenda da igualdade de género?
Podemos constatar que, com a chegada de abril , também na
arte aconteceram mudanças desejadas. A liberdade de expressão e de
exposição pública deu às mulheres das artes possibilidade de darem o seu
grito de explosão criativa. A promoção da cultura e da divulgação da arte
no feminino tem sido um ponto forte de alguns municípios e associações,
contribuindo com eventos diversificados.
Os Estados vêm agora na cultura um grande potencial, um
poderoso soft power utilizados nos seus esforços de diplomacia pública para
afirmarem as suas identidades e potencialidades.
Quero salientar neste ponto, o contributo das mulheres
intelectuais tão importante na luta pela igualdade pois
transportaram para a ribalta trajetórias identitárias de mulheres que até
agora estiveram nas margens, como tivemos a oportunidadede constataremos
testemunho daprofessora Dra Luisa Malato.
No mundo das artes as mulheres têm sido lutadoras através do
acto criativo, construindo imagens pictóricas e metafóricas que invadem o nosso
imaginário e que nos fazem sonhar bem alto e que só a arte tem esse condão ,
como disse um dia o poeta Adolpho Rosse " depois escutai : não é a cotovia
quem canta ... é o pássaro cor do infinito" .
E se a pintura e a escultura é uma reorganização permanente
de metáforas,então, que elas inspirem os nossos sonhos! É esta a proposta
destes criativos e criadores que temos presentes na exposição hoje aqui a ser
inaugurada.
Sobre ela, acrescentarei que é essencialmente
feminina , não por acharmos que devemos discriminar os
homens, mas sim para se aproveitar a ocasião para chamar a atenção para a
questão da igualdade de género tema que a edilidade monçanense também abraçou.
A introdução de um artista monçanense, Ricardo de Campos,
foi simbólica. Por um lado , queremos homenagear esta terra minhota, por
outro, mostrar que nesta luta , homens e mulheres terão de estar unidos
porque deles depende a conquista de uma sociedade mais justa e
equilibrada e promissor, mais feliz.
Temos então propostas abertas a novas interpretações de
seis mulheres criadoras, no domínio da escultura e da pintura
contemporânea , com diferentes formas de expressão, reflexo de vivências
múltiplas, com algo em comum - o olhar feminino do mundo que as rodeia, a sua
sensibilidade estética como expressão de cidadania. Assim, estas obras de arte
afiguram-se como metáforas poéticas onde se pode contemplar o pormenor e
o geral, o concreto e o abstracto, o simbólico e o real, o particular e o
universal. Busca-se pelo traço, pelos efeitos cromáticos, pela
luminosidade, pelos materiais e pelas texturas, a dimensão das pessoas, dos
seus rostos, sulcados de histórias de vida; as formas, os movimentos, a
leveza da expressão, enquanto seres em mudança; procura-se na natureza e no
enraizamento, necessário para nos tornarmos mais Pessoas, a busca do pormenor e
do geral, patente em descrições de equilíbrio e serenidade que só as
árvores, enquanto símbolo anímico da vida, nos sugerem. Abraçar o
abstracionismo permite-nos mergulhar nos sonhos e nas utopias que
alimentam a vida. A dimensão cósmica, permite-nos ter uma visão ainda mais
abrangente, onde o homem, elemento do universo, na dialética constante
vida-morte, espreita em várias telas . São apenas algumas propostas de leitura
que deixo em aberto...Trata-se de pintura e escultura contemporânea, uma
primeira mostra em Monção de uma manifestação artística que quer
promover o debate de ideias em torno da expressão de cidadania no
feminino e que não se esgota na arte, mas que tem nela um ponto alto da sua
expressão, daí a realização de um colóquio que antecede a exposição.
É para mim uma honra ser comissária desta exposição. Vou
apresentar-vos as artistas, dando alguns breves tópicos, e certamente que os
detalhes ser-vos-ão transmitidos pelas próprias.
Luísa Prior, com a sua avassaladora perspetiva cósmica
do universo
Filomena Fonseca, retratista exímia da expressão
humana
Maria André, aguarelista da luminosidade e da mestria
do pormenor.
Teresa Heitor, com o destaque para uma intensa
força anímica da natureza - as árvores.
Lena Álvares, com a exuberância da arte em vidro
aliado ao poder e simplicidade dos troncos.
Filomena Bilber com as suas bailarinas cheias de
graciosidade e muita alma.
Ricardo de Campos com a sua arte irreverente, de
impacto, onde mulheres surgem despojadas de preconceitos
São as artistas desta coletiva, curiosamente, todas
elas representadas na Bienal de Gaia, evento de grande referência cultural, a
nível nacional e internacional. O mesmo acontece com Ricardo de Campos presente
nessa mesma bienal e também na Bienal de Cerveira. São membros da
Associação Mulher Migrante, mulheres criadoras que, com a sua arte
expressam a sua cidadania ativa, defensora de causas.
Termino, voltando a repetir o repto inicial: a
proposta da cimeira entre dois países vizinhos que têm certamente tanto para
partilhar sobre as dimensões das mulheres aqui focadas, mas muitas outras
existem.
Para dar corpo a esta iniciativa futura, porque
não começar com uma itinerância de arte e debate de ideias , no modelo aqui
apresentado, ainda tímido, mas com uma força de querer avançar com outra
dimensão?
Comunicação Dr Nassalete Miranda
Em vez dela uma nota da imprensa
Monção viveu no sábado , dia 5 de setembro , um momento
importante, colocando na agenda do dia, a discussão em torno dos direitos
humanos e da igualdade do género. A Associação Mulher Migrante foi a promotora
desta iniciativa em parceria com a Casa Museu, a Câmara Municipal, ao Jornal
Artes entre as Letras, a Quinta de Santiago em Monção e ainda a EPRAMI.
A inauguração da exposição e colóquio aconteceu na Casa
Museu da Universidade do Minho com o tema “Expressões de cidadania no feminino”
. Seis mulheres, pintoras e escultoras apresentaram-se juntamente com o
monçanense Ricardo de Campos, dando o seu contributo de cidadania através da
arte. Outas vertentes estiveram em debate.
Nassalete Miranda , foi a moderadora deste colóquio.
Directora de O Primeiro de Janeiro de 2000 a Julho 2008 e criadora do jornal
quinzenal “ As Artes entre As Letras” em Maio de 2009. O Jornal recebeu
em 2011 a qualificação dada pelo governo português de "publicação de
interesse cultural e literário para o país e mundo lusófono". Em Julho
deste ano recebeu a Medalha de Mérito Cultural, Grau Ouro, da Cidade do Porto,
graças à sua intervenção em prol da cultura.
A primeira intervenção foi a do senhor vereador , Dr. Paulo
Esteves, que esteve em representação do senhor Presidente da Câmara e
também em representação de D. Arturo de Salvaterra do Mino. A sua
intervenção foi orientada para o projecto que a edilidade abraçou sobre “
igualdade de género” tendo focado a sua preocupação até por ser a sua
área de intervenção profissional. Admitiu haver muito a fazer mas que pequenos
passos podem ser significativos para um melhor futuro nesta área.
Seguiu-se a intervenção da Professora Dra
Luísa Malato, professora catedrática da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, trazendo para a ribalta uma mulher -
Catarina de Lencastre - autora de muito géneros literários, líricos
e dramáticos, esquecida no cânone historiográfico português. Váris
questões foram lançadas em jeito de reflexão, com recurso a
exemplos histórico-literários, onde as mulheres do século XVIII foram
apresentadas como mulheres impulsionadoras de mudanças, mas que o
século seguinte as fez recolocar no seu papel tradicional.
A Dra Manuela Aguiar foi Secretária de estado das
Comunidades Portuguesas , teve cargos políticos importantes, e é Presidente da
Assembleia geral da Associação Mulher Migrante. Na verdade, ela é a
especialista das questões da diáspora. Apresentou-nos as características da
emigração portuguesa, dominada pela partida de homens “sós” aquilo que se
pode referir à primeira política de género , com a proibição da migrações no
feminino, absolutamente discriminatória. As migrações maciças no feminino
foram um fenómeno fortemente combatido, que cresceu, sem cessar a partir de
novecentos, nas correntes intercontinentais, e atingiu a quase paridade a
partir de meados do século XX, com o êxodo imparável de famílias inteiras para
a Europa e, em menor escala, para outros destinos transoceânicos. Apelou ao
estudo do papel central da Mulher nas novas diásporas, não suficientemente
estudado e reconhecido. Há como referiu “uma anacrónica invisibilidade a
dominar a verdade e o significado da emigração e da Diáspora feminina”.
Mulher Migrante foi a promotora desta iniciativa em parceria
com a Casa Museu, a Câmara Municipal, ao Jornal Artes entre as Letras, a Quinta
de Santiago em Monção e ainda a EPRAMI.
A inauguração da exposição e colóquio aconteceu na Casa
Museu da Universidade do Minho com o tema “Expressões de cidadania no feminino”
. Seis mulheres, pintoras e escultoras apresentaram-se juntamente com o
monçanense Ricardo de Campos, dando o seu contributo de cidadania através da
sua arte. Outras vertentes estiveram em debate.
Nassalete Miranda , foi a moderadora deste colóquio.
Directora de O Primeiro de Janeiro de 2000 a Julho 2008 e criadora do jornal
quinzenal “ As Artes entre As Letras” em Maio de 2009. O Jornal recebeu
em 2011 a qualificação dada pelo governo português de "publicação de
interesse cultural e literário para o país e mundo lusófono". Em Julho
deste ano recebeu a Medalha de Mérito Cultural, Grau Ouro, da Cidade do Porto,
graças à sua intervenção em prol da cultura.
A primeira intervenção foi a do senhor vereador , Dr. Paulo
Esteves, que esteve em representação do senhor Presidente da Câmara e
também em representação de D. Arturo de Salvaterra do Mino. A sua
intervenção foi orientada para o projecto que a edilidade abraçou sobre “
igualdade de género” tendo focado a sua preocupação até por ser a sua
área de intervenção profissional. Admitiu haver muito a fazer mas que pequenos
passos podem ser significativos para um melhor futuro nesta área.
Seguiu-se a intervenção da Professora Dra
Luísa Malato, professora catedrática da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, trazendo para a ribalta uma mulher -
Catarina de Lencastre - autora de muito géneros literários, líricos
e dramáticos, esquecida no cânone historiográfico português. Várias
questões foram lançadas em jeito de reflexão, com recurso a
exemplos histórico-literários, onde as mulheres do século XVIII foram
apresentadas como mulheres impulsionadoras de mudanças, mas que o
século seguinte as fez recolocar no seu papel tradicional.
A Dra Manuela Aguiar foi Secretária de estado das
Comunidades Portuguesas , teve cargos políticos importantes, e é Presidente da
Assembleia geral da Associação Mulher Migrante. Na verdade, ela é a
especialista das questões da diáspora. Apresentou-nos as características
da emigração portuguesa, dominada pela partida de homens “sós” aquilo que
se pode referir à primeira política de género , com a proibição da migrações no
feminino, absolutamente discriminatória. As migrações maciças no feminino
foram um fenómeno fortemente combatido, que cresceu, sem cessar a partir de
novecentos, nas correntes intercontinentais, e atingiu a quase paridade a
partir de meados do século XX, com o êxodo imparável de famílias inteiras para
a Europa e, em menor escala, para outros destinos transoceânicos. Apelou ao
estudo do papel central da Mulher nas novas diásporas, não
suficientemente estudado e reconhecido. Há como referiu “uma anacrónica
invisibilidade a dominar a verdade e o significado da emigração e da Diáspora
feminina”.
O Professor Dr Viriato Capela, director da Casa Museu
e Professor catedrático do Departamento de História da Universidade do
Minho, referiu, tendo em conta a musa inspiradora desde coloquio e
exposição, Deu- la- Deu Martins, duas figuras de Nacion – Rosalia de
Castro e Maria da Fonte. Trazer a este encontro a memória e obra de
Rosalia de Castro, com biografia organizada e com ampla divulgação, face ao seu
distinto papel na construção da moderna língua galega, em contraste da Maria da
Fonte, onde pouco ou quase nada se sabe ao certo foi um desafio, uma
forma de provocar reflexão. Apresenta-se a mulher das letras e da cultura
em contraste com a mulher guerreira, mas o que as une é, sem dúvida, a
luta e a promoção da liberdade e autonomia do seu povo.
Fazendo a ligação entre os temas abordados neste
colóquio - história, diáspora, arte e literatura , Arcelina santiago,
comissária da Exposição, homenageou Ana Harthely que reúne todas estas
dimensões. Seguidamente, abordou a perspectiva da arte, fazendo a ponte para
a exposição. A arte como meio aglutinador de culturas, de saberes e
sentires e de reforço das relações humanas foi posta em destaque. Sobre a
riqueza da multiculturalidade, a arte no feminino, bem como partilha de
outros temas relacionado com as mulheres, foi mote para lançar um
desafio cultural, aproveitando-se a presença dos responsáveis políticos do
projeto "euro cidade" Monção
/Salvaterra do Mino".
Depois, descreveu a trajetória das mulheres na sua
árdua conquista pela liberdade e referiu-se ao papel das mulheres das artes ,
lutadoras através do acto criativo, construindo imagens pictóricas e
metafóricas que invadem o nosso imaginário e que nos fazem sonhar bem alto.
Com esta primeira mostra em Monção, de uma
manifestação artística, pintura e escultura contemporânea no feminino,
pretendeu-se promover o debate de ideias em torno da expressão de
cidadania no feminino, que não se esgota na arte, mas que tem nela um ponto
alto da expressão.
Luísa Prior, Filomena Fonseca, Maria André , Teresa Heitor,
Lena Álvares e Filomena Bilber são as artistas desta coletiva, membros da
Associação, mulheres criativas que expressam a sua cidadania ativa, defensora
de causas e curiosamente, todas elas representadas na Bienal de Gaia, evento de
grande referência cultural, a nível nacional e intencional. O mesmo acontece
com Ricardo de Campos, artista monçanense, simbolicamente representando a ideia
de que a luta pelos direitos humanos é feita por homens e mulheres.
No final, em resposta ao repto lançado por Arcelina Santiago
- realização de uma cimeira de âmbito galaico-português com este
mesmo tema e segundo estes moldes, de exposição e coloquio, foi dada uma
resposta pronta e firme de aceitação deste desafio por parte do senhor
vereador.
Muito trabalho teremos pela frente, mas será um bom
desafio que permitirá conhecer melhor as realidades entre os dois países e
dará visibilidade aos problemas da mulheres e quiçá a uma melhor
orientação para a sua resolução?
Comunicação da
Dra Rita
Expresssões de
Cidadania no feminino e Exposições de Pintura e Escultura
Monção, 5 de
Setembro de 2015
Algumas palavras de Saudação e
de Agradecimento
Estamos em Monção, famosa
pela lendária história de uma heroína portuguesa de seu nome Deu – la – Deu
Martins – que, como se sabe virou lenda de mulher corajosa.
E sendo este evento também uma
Iniciativa da Associação Mulher Migrante, foi uma excelente ideia terem-na
realizado neste belíssimo local.
Desta histórica vila, temos excelentes
recordações no que respeita a esta Associação e ao apoio a emigrantes.
A propósito, permito-me relembrar com
especial saudade que por duas vezes – Verão de 1998 e Verão de 1999, salvo
êrro- aqui estivemos em duas Grandes Festas do Emigrante, organizadas
pela Câmara Municipal de Monção e também pelo Jornal “ O Emigrante /Mundo
Português”.
Esta Associação foi então
convidada para proporcionar apoio informativo e outro aos portugueses que ali
se encontravam de Férias, trabalho esse que fizemos com o maior entusiasmo e
que incluía, nomeadamente Entrevistas à comunicação social, sobre a nossa
atividade em geral, bem como acerca da vantagem de nos disponibilizarmos para
participar nessas Festas.
Na altura estavam também presentes
várias Entidades Públicas e Privadas, pertencentes a vários Ministérios e
Secretarias de Estado que então se ocupavam direta ou indiretamente das
Migrações.
Num desses Encontros, viemos em
Parceria com o Instituto Português de Cardiologia Preventiva – criado pelo
Prof. Doutor Fernando de Pádua - que com os seus técnicos qualificados
proporcionou chec-ups a vários compatriotas, em regime de voluntariado….
E, a terminar, recordo que numa dessas
Fantásticas Festas Minhotas, entre as várias e os vários Portugueses emigrantes
que nos procuraram, encontrei, entre outras/os, uma Jovem lusodescendente –
a Profª Doutora Isabelle Oliveira, atual Vice-Reitora da Sorbonne
Nouvelle, que após uma larga conversa sobre a Associação e acerca dos apoios
que podíamos proporcionar – acabou por vir a ser, desde então nossa Associada.
E esse foi, por exemplo, um começo de
uma estreita colaboração que se tem intensificado, quer através da participação
em Encontros por nós organizados, quer ainda pela colaboração direta em
eventos, nomeadamente como os que se vão agora realizar em Paris ,
no próximo dia 10 de Setembro, em que para além de um Colóquio na Sorbonne
Nouvelle, haverá também um Concerto no Conservatório da Mairie de Puteaux,
de homenagem ao Maestro António Victorino de Almeida, pelos seus 75 anos.
E outros exemplos se poderiam referir, mas estes foram mencionados pela
sua ligação a Monção e pela proximidade a que estamos da referidas Iniciativas
em Paris.
É com este trabalho conjunto, em
regime de voluntariado e recorrendo às Parcerias e aos apoios financeiros
conseguidos, que temos vindo a evoluir ao longo destes 22 Anos de existência.
E, por último, na minha qualidade de
Presidente da Direção da «Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade», apresentamos os nossos agradecimentos à Mesa que participou e
dirigiu os trabalhos desta Sessão:
Ao Professor Dr. Viriato Capela,
digníssimo Diretor da Casa Museu de Monção da Universidade do Minho; à Drª Sandra,
que também pertence à Universidade do Minho e que se ocupou dos aspetos
logísticos; ao Vereador Dr. Paulo Esteves, que nos acompanhou, em representação
do Presidente da Câmara Municipal de Monção; à Profª Drª Luiza Malato, da
Faculdade de Direito da Universidade do Porto, à Drª Maria Manuela Aguiar – ex
– Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas – e atual Presidente da
Assembleia Geral da Associação Mulher Migrante e à Drª Nassalete Miranda, que
moderou a Mesa e que é Diretora do Jornal “ As Artes entre as Letras” e à
Mestre Arcelina Santiago, membro da Direção desta Associação.
Dirijo ainda Saudações Cordiais a
todas e a todos as/os participantes e a outras/os Intervenientes e em especial
à excelente Organização, permitindo-me salientar o trabalho desenvolvido,
designadamente pelas nossas Associadas Mestre Arcelina Santiago e também pela
Digª Pintora Luísa Prior.
Com a maior gratidão por nos ter sido
facultada mais esta oportunidade, me despeço.
Rita
Andrade Gomes
Lisboa, 05 de Setembro de 2015
Testemunho de quem
fotografou o evento em Monção
“ D U P L O O L H A R “
Fui professora, dedicada de corpo, alma e paixão às escolas
por onde passei ao longo de quase quarenta anos de atividade profissional
ligada às artes e aos muitos alunos com os quais partilhei muitos afetos e
saberes.
Desde sempre me dediquei à fotografia, mas agora, a entrega
é muito maior, preenchendo assim o vazio que ficou com a aposentação.
Fui convidada, pela minha amiga pintora Luísa Prior, para
fazer a reportagem fotográfica de um evento muito importante para mim, devido à
abordagem de temas que sempre me interessaram, e aceitei de imediato.
Agradeço muito a oportunidade que me foi dada. Fotografar e
assistir a tudo o que se passou foi para mim um duplo estar. Os nossos sentidos
gravam mas, com o tempo, vão esquecendo. Através da fotografia, os momentos
ficam registados com mais pormenor e para sempre, podendo a qualquer momento
ser revistos e lembrados.
À Luísa Prior, à curadora Dra Arcelina Santiago e à
“Associação Mulher Migrante” muitos parabéns e desejos de muitos sucessos.
Aos responsáveis pela Casa Museu de Monção e demais
entidades os meus agradecimentos.
Vila Nova de Gaia, 23 de outubro de 2015
Isilda Patrocínio
Testemunhos das
artistas
Luísa Prior
“EXPRESSOES DE CIDADANIA NO FEMININO”
Este projeto para a qual fui convidada pela Dra Arcelina
Santiago, sua mentora e curadora foi mais oportunidade de dar a conhecer a
minha obra, divulgando-a e levando-a para terras de interior, como mais-valia,
integrada na temática do feminino, que faz do meu dia-a-dia, uma das
minhas causas de intervenção Artística.
A abordagem deste tema que
desde sempre foi para mim muito importante e pertinente, assim como a
conjugação do colóquio/debate foi muito relevante ao aliar a Palavra às Artes
nas suas múltiplas expressões, patentes na exposição/mostra.
Monção, terra escolhida, e
patente na sua Casa Museu, além de ser uma forma de levar ao Portugal profundo,
um tema sempre atual e defendido deste tempos imemoriais, e com historias de
mulheres lutadoras que se perdem na memória, Deu-La-Deu, no Minho e Monção foi
uma mulher de causas, lutadora interventiva e defensora no seu meio e na sua época.
Esta participação ficará
registada para mim como sendo iniciar/continuado de um ciclo de compromissos
que, segundo o Sr. Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Monção, irá
seguir viagem para que possamos levar estes temas a outros cantos, a outras
gentes, no feminino e na igualdade do género, possibilitando a troca saberes de
conhecimentos, e porque não, também de afetos.
A exposição que
acompanhou o evento correspondeu ás minhas expectativas, tanto na organização,
na montagem, como à sua divulgação, deixo aqui os meus agradecimentos às
Artistas que me acompanharam , e a todos os que neste projeto
participaram, para que este se tornasse numa realidade.
Também ao Ricardo Campos
um muito obrigada pelo enriquecimento que deu às expressões de Arte e
Cidadania, com a participação da sua obra.
Um agradecimento muito especial à minha querida Amiga
Arcelina Santiago. À casa Museu de Monção um bem-haja pela forma carinhosa,
espontânea e aberta com que nos receberam a nós, e a nossa arte.
Vila Nova de Gaia, 23 de Outubro de 2015
Luísa Prior
Exposição de Pintura na Casa Museu de Monção
“Expressões de
Cidadania no Feminino”
Fui convidada a participar nesta exposição, por Luisa Prior.
Foi um tempo muito lindo, muito agradável, e a inauguração correu muito bem.
Participaram na exposição, cinco Pintoras da região do
porto, e um Pintor natural de Monção, de seu nome Ricardo de Campos, cuja
participação enriqueceu muito esta exposição.
Ricardo Campos, cuja quantidade e qualidade das suas Obras,
nomeadamente os seus “Cristos” e outras obras maravilhosas, tive a oportunidade
de conhecer no seu atelier, é reconhecidamente um grande artista.
O espaço ocupado pelos artistas, é muito agradável e muito
bonito, como podemos constatar após o encerramento da exposição. As salas
ocupadas pela exposição são muito boas e com muita luz. Destaco duas portas
centrais, uma em cada sala, que dão diretamente para a rua, onde na parede
cental exterior, havia sido colocada uma lona com o anúncio da exposição.
Tudo foi feito com grande rigor, dedicação e empenho, personalizado
na pessoa da Sra Dra Arcelina Santiago, comissária do evento, no qual, e em
tudo que fez colocou desinteressadamente toda a sua sabedoria.
O museu e os jardins que o envolvem são muito lindos.
Um muito obrigado Sra Dra Arcelina Santiago, pela
hospitalidade e pelo carinho que me dedicou, sempre com um soriso lindo e
acolhedor. Como gostei de a conhecer.
Para sempre grata pela atenção que me dispensou.
Maria André
,
No seguimento do seu pedido sou-lhe a dizer o seguinte:
Gostei muito da organização do evento que superaram todas as minhas
expectativas. Fiquei ainda muito satisfeita com o espaço e afluência à
exposição.
Obrigada,
Teresa heitor
Fazer texto introdutório
Questionário aos artistas
1. Voltando a velha questão que se coloca em vários domínios
artísticos, na escrita,na pintura e escultura : considera que há uma
forma artística marcada pelo género!
2. Até que ponto sente que a sua manifestação artística tem
contribuído para a defesa dos direitos humanos, em especial dos direitos das
mulheres, pela defesa da igualdade de género?
Respostas
1 - Na minha opinião a manifestação artística não é marcada
pelo género, muito pelo contrário, é talvez pioneira na igualdade de género e
respeito pela diferença. Ao longo dos tempos as diferentes manifestações,
nos diferentes domínios artísticos, afirmam-se pelo seu cariz
transdisciplinar, inovador e humanista.
2 - Sem querer chamar a mim ou ao meu trabalho qualquer tipo
de protagonismo que possamos ainda não ter nessa area, acredito que, ao longo
dos tempos, pelo menos, trabalhei no sentido de refletir sobre as injustiças
que assolam a humanidade de uma maneira geral. Neste sentido, uso o sem sentido
e o absurdo do sofrimento e da dor, como mote para grande parte da minha
produção. São homens fustigados e reprimidos pelos duros e tortuosos caninhos,
são mulheres que trabalham o campo, que carregam os filhos e que se deitam num
deleite de obrigações e silêncios.
Ricardo Campos
1. As manifestações artísticas acontecem
espontaneamente independentemente do gênero, espaço, tempo e das relações
interpessoais.
2. O meu percurso e a expressão artística,
pautam-se pela participação e intervenção em diversificadas
atividades culturais, pelas causas e defesa dos direitos de gênero,
principalmente no feminino.
Luisa prior
1. No âmbito artístico, o género
insere-se no processo de questionamento da grande presença de nomes masculinos
na História da Arte e disciplinas afins. Um mundo onde só os homens eram
chamados a exercer profissões ligadas aos vários tipos de arte, enquanto a
ocupação doméstica era tipicamente destinada à condição da mulher.
Tal como no
mundo do trabalho em geral, o preconceito latente, da mulher não ser vista como
ser pensante, era o grande impedimento para a sua inserção no mundo das artes.
À medida que foram criadas pontes de
diálogo com o universo feminino dentro do universo artístico, as mulheres
deixaram de ser simples musas e passaram a ser também artistas criadoras. Mas poucas
mulheres lograram atingir algum reconhecimento artístico, num mundo totalmente
pensado e dirigido por homens.
O movimento
feminista e a criação de um programa académico de arte feminista na América,
fez desenvolver o pensamento e a produção artística. A luta feminina pela sua
imposição nas artes, foi contribuindo para a conquista de uma paridade para com
os artistas masculinos, apesar das dúvidas que sempre suscitavam. Um caminho
árduo e difícil que se foi abrindo.
Através do
movimento das mulheres, surgiram novas perspectivas, questionando a
subjetividade de ambos os sexos e outras inquietações evidenciadas na
diversidade de linguagens, presentes na arte contemporânea, não importando qual
o sexo que a possa executar.
Podemos
então afirmar que agora estamos mais em pé de igualdade com os homens artistas,
havendo até uma grande proximidade de ideais comuns. A arte obedece às mesmas
leis que qualquer outra atividade livre do espírito, desafio em que muitas
vezes as mulheres superam os homens, provando, assim, suas capacidades outrora
tão escondidas ou mesmo desvalorizadas. Hoje a mulher tem o privilégio de tudo
poder questionar e explicitar qualquer tipo de sentimento sobre as coisas e as
suas expectativas. Uma abertura total na relação da sua arte com o mundo que a
rodeia.
2. Desde a infância, me apercebi das
dificuldades de muitas mulheres em conseguir autorização dos pais ou maridos
para estudar, trabalhar em algumas profissões ou seguir as carreiras que tanto
ambicionavam.
Também eu,
que já sentia inclinação para a área artística, fui desviada no tempo, para um
curso ligado à área dos serviços. Só mais tarde, depois de atingir a maioridade
e de me autonomizar, fui capaz de enveredar pelo caminho das artes,
satisfazendo assim a minha própria vontade. Uma forma de liberdade a que tinha
direito e assim dei início à minha dedicação artística. Primeiro em part-time
na área da pintura, depois a tempo inteiro, a que juntei também o gosto pela
escrita.
Através da
expressão plástica, vou libertando tensões e sigo as diretrizes dos meus
próprios pensamentos. Extravaso ideias, comunico intimidades. Incluindo na
maior parte dos meus trabalhos a
figura da mulher, de modo mais ou menos explícito, tento exaltá-la através das
formas, das cores ou de expressões sensíveis ou dramáticas que denunciam alguma
dor ou sofrimento. Algo por vezes ligado a certos tipos de violência contra as
mulheres e onde, penso, haver ainda muito por fazer.
Também na
escrita, em especial através da poesia, tento desmistificar o valor e a
transcendência da mulher na sociedade e a sua luta pela defesa da igualdade de
género.
Se a arte tem o dever de denunciar os valores e problemas sociais
do seu tempo, estas serão as minhas formas de contribuir para a defesa dos
direitos e reais interesses das mulheres.
Nota: Junto abaixo um poema e duas imagens de
pinturas sobre a mulher, os quais, se assim o entenderem, poderão ser
acrescentados às minhas respostas ao questionário.
Desvalorização
Nas aldeias
às vezes sem dormir
as mulheres esfregam o soalho
limpam a casa
pensam o gado
lavam os filhos
e cozinham exaustas
às vezes
os homens
esquecem-se delas
outras vezes
vingam-se nelas
(in: “Os Degraus da
Casa”)
FILOMENA FONSECA
“Drama “- Pastel s/ cartão-100x70cm
“Porquê eu?”- Pastel s/ cartão-100x70cm
Foto de alguns quadros expostos na capela e na adega
Da velha à nova adega
- janela aberta para a arte ( foto da garrafa na janela)
"Do
alto da casa senhorial deslumbra-se toda a paisagem em seu redor: o espigueiro,
a emblemática capela de S.João Batista e, mais adiante, o caminho das gloriosas
que nos conduz a uma grande poça onde repousam nenúfares embalados pelo som
melancólico da água da nascente que serve de regadio ao extenso vinhedo da
famosa casta branca - o Alvarinho."
É assim que começa a poética apresentação desta
quinta centenária, com 9 hectares, situada no Minho, mais precisamente na
sub-região de Monção e Melgaço, onde se produzem os melhores Alvarinhos do
mundo.
Joana Santiago, advogada, é a jovem empresária que
lidera com seu pai, este novo projeto de família. Fazem parte da família
vinhateira "Santiago" que produz os vinhos Quinta de Santiago
DOC. Um projeto familiar, que as 3 gerações da família Santiago,
abraçaram, associando a tradição e conhecimentos da geração mais antiga à
modernidade e entusiasmo da geração mais jovem na criação de vinhos
"Premium" que expressam as caraterísticas do terroir e, ao mesmo
tempo, refletem a personalidade desta casta autóctone portuguesa fantástica que
é o Alvarinho. Joana Santiago confessa: "Integrar este Projeto - Quinta de
Santiago tem sido um desafio apaixonante, mas difícil. Não é fácil o
mundo dos vinhos. O legado deixado por uma geração de viticultores é uma
responsabilidade imensa, mas acreditamos que temos uma equipa com os olhos
postos no futuro. Fazemos as coisas com paixão e com emoção, queremos preservar
as memórias, mas temos presente que a inovação é vital.
Assim, a quinta que vê nascer e crescer o "
Quinta de Santiago - Alvarinho", clássico e reserva faz parte da história
da família e há nela um imaginário fértil e poético. Contam-se histórias
secretas de carvalhos com tesouros escondidos, nascentes visitadas por sereias
encantadas, tudo supervisionado pela bela capela, aberta para as
festividades da família, aí foi baptizada, tal como o seu irmão, mas neste momento,
as suas paredes antigas e com histórias fantásticas acolhem uma exposição
moderna de arte sacra, múltiplas figuras de Cristo e da Pieta, autoria de
Ricardo de Campos, jovem artista monçanense com uma obra muito criativa e já
com reconhecimento nacional e até internacional.
Contrastando com a velha adega, a casa tradicional e
os muros antigos, irrrompe pelo vinhedo uma construção de linhas modernas, mas
com toques de ligação com o passado - a nova adega, acabada de construir no ano
passado.
Joana esclarece: Investimos numa adega nova,
dotada de toda a tecnologia de ponta. Na verdade, os tempos mudaram e da velha
adega tradicional e cheia de segredos sábios, legado da avó Mariazinha, mulher
minhota de garra, já não era suficiente. Havia que aliar o conhecimento
empírico ao conhecimento científico. Aliás, a primeira fase do
projeto em 2012, o lançamento do primeiro vinho, apenas para
promoção da marca, foi uma homenagem à matriarca, a avó Mariazinha
- daí ter o nome de Quinta de Santiago "Segredo d' avó
". Outra forma de a homenagear foi a escolha do rótulo, colocado
numa garrafa de formas femininas, bem diferente da comum nos vinhos verdes. O
rótulo contemporâneo guarda em si uma simbologia muito própria e tradicional -
o bordado do coração minhoto em homenagem à avó - uma excelente bordadeira e
minhota de gema. Significa também os afetos da família e a paixão desta
família na produção dos vinhos.
Mas a nova adega é também uma janela aberta para
outras dimensões que apreciamos e que queremos levar em frente. A ligação com a
arte através de exposições temporárias de pintura e escultura. Assim, as
paredes da ampla adega estão abertas para a arte. Muitos estrangeiros que nos
visitam ficam encantados com os nossos artistas. É este um contributo à
divulgação das obras de arte.
De salientar o
contraste entre a representação das mulheres na dimensão sagrada versus
profana, presente na criação de Ricardo de Campos. Da capela como já referimos
antes passámos para as telas da adega,
representando a sensualidade de
mulheres, despidas de preconceitos, aliadas à paisagem bucólica do
vinhedo que emerge da amplas janelas… Neste momento, temos algumas das obras
expostas na Exposição que decorreu em Monção, com o tema "Expressões de
Cidadania no Feminino", caso das criação encantadora da pintora Luísa
Prior.
A Quinta de Santiago foi parceira nesta iniciativa em
Monção, servindo um Alvarinho de honra nos Jardins da Casa Museu depois do
colóquio e da inauguração da exposição precisamente porque a dimensão da arte e
particularmente da arte no feminino é uma causa que defende.
Pensamos que poderemos continuar a manter este espaço
para iniciativas diversas que promovam a cultura e a cidadania.
Em Paris ....
Na Venezuela
Notícias de lançamentos de livros de autores da diáspora
Ester de Lemos MEMÓRIAS
DE UMA VIAGEM AOS AÇORES
Escrito por, Ester de Sousa e Sá
O arquipélago dos Açores; ilhas negras de montes e montanhas
escarpadas, cuspidas para a superfície do atlântico pelos choques térmicos de
vulcões inflamados que há milhares de anos, na sua raiva solta, vomitaram a
lava escaldante que está na sua origem.
Ilhas de bruma e maresia, ilhas de mistério, deitadas
preguiçosamente no oceano, numa ilusória mansidão, cobertas por mantos de
retalhos nos variadíssimos tons de azul e
da cor verde da esperança. Paisagens de sonho, que prendem o olhar e saciam
a alma, embalando-a no murmurar duma canção açoriana nostálgica e cadente.
E que dizer do seu povo? Depois desta viagem fazendo o
circuito dos Açores pelas principais ilhas; São Miguel, Terceira, Faial e Pico,
penso nas dificuldades dantescas enfrentadas por este povo vindo do continente
que após os descobrimentos vieram mar fora e nas ilhas arribaram, e aí se
estabeleceram. Povo corajoso, povo de rija tempera, que não desiste facilmente.
Povo manso calejado pelas dificuldades, e crente, duma fé inabalável que
perante os mistérios da vida, se refugiam no Deus Supremo, no Espírito Santo.
Os açorianos, eu vim a descobrir, são também um povo muito orgulhoso e
patriótico, assim já reza a nossa história.
Fez-me bem visitar estes mosaicos basálticos espalhados no
atlântico que também são Portugal, e em tempos idos foram os mais portugueses
de todos. Bem-haja aos Açores e suas gentes, que fez despertar em mim o
sentimento da nacionalidade que as minhas muitas vivências entre outras pátrias
como imigrante, fez adormecer. Hoje, considero-me uma cidadã do mundo, mas
acima de tudo sou Portuguesa.
Desde que regressei à mãe pátria, volvidos tantos anos desde
que, saí de Portugal ainda pequenina, sempre ouvi falar nos Açores e de como
eram lindos. Amante da natureza que pretensiosamente teimo passar para as telas
alvas, e digo pretensiosamente porque a natureza é demasiadamente bela e
perfeita para ser copiada por um simples mortal como eu com as minhas
limitações, fui sonhando de um dia poder visitar as Ilhas Açorianas. Como
sonhar é viver e, quem espera sempre alcança, finalmente esse dia chegou.
Numa manhã enublada e cinzenta partimos do aeroporto Sá
Carneiro, Porto, no avião da companhia aérea açoriana Sata, com destino a Ponta
Delgada, capital da Ilha São Miguel. Chegados nós a São Miguel, um grupo de
dezasseis pessoas vindo do Norte do Continente, esperava-nos um guia turístico
profissional, segundo rezava o crachá na lapela do casaco, desse senhor. Figura
de aspecto excêntrico; alto, magro, cabelos compridos grisalhos,
emolduravam-lhe a face barbada e afagavam-lhe o colarinho da camisa e do
casaco. Um inseparável chapelinho de aba curta cobria-lhe a cabeça. Porte
altivo, vaidoso, de face sulcada pelas intempéries da vida e, olhos
perscrutadores semicerrados e evasivos que despertava em nós uma curiosidade de
querer saber mais sobre tão misterioso personagem. Este ilhéu, veio a
verificar-se no decorrer da excursão, como sendo um homem amante da ilha do
Pico seu berço mas, vincado às restantes ilhas do arquipélago por sentimentos
profundos e laços de unidade fraternal. Homem intelectual e dotado de grande
sensibilidade, frequentemente enquanto seguíamos no autocarro a caminho da
próxima visita, nos embalava citando a poesia de grandes nomes das ilhas, e até
desconfio, alguma de sua própria autoria.
Partimos do aeroporto de autocarro com destino a Ponta
Delgada e fomos largados no centro da cidade junto à marginal, onde cada um
teve tempo livre para almoçar onde lhe apeteceu. Depois, a hora e local
combinado, tornamos a juntar-nos e de novo, de autocarro regressamos ao
aeroporto para esperarmos o grupo do sul do continente, vindos do aeroporto de
Lisboa. Éramos ao todo trinta e nove personagens, cada qual com a sua individualidade
e maneira de ser que durante oito dias, com as ilhas como palco, conviveram de
perto uns com os outros, em relativa harmonia e franca camaradagem. Sempre ouvi
dizer, que as pessoas fazem a diferença, e mais uma vez se provou ser verdade.
Entre nós viajava também um certo cavalheiro e sua esposa, por sinal um casal
muito simpático, vindos do Norte, mais propriamente de Matosinhos. Foi graças a
este personagem, possuidor dum talento muito especial para contar anedotas que
parecia ter sempre uma, duas, três ou mais para cada ocasião que punha toda a
gente às gargalhadas que, reinou entre nós a constante boa disposição. O homem,
foi impagável e, além do belo passeio às ilhas, graças a ele, a semana
revelou-se também excelente na terapia do riso. Por fim, até o nosso guia
quebrou a sua austeridade e já se ria com vontade. Nunca durante umas férias me
ri tanto! Bem-haja meu amigo! Que Deus lhe dê muita saúde, porque pessoas como
você fazem muita falta neste mundo sisudo e cheio de tanta maldade e desaforo.
À tarde, directos do aeroporto, já com o grupo completo,
seguimos com destino para oeste da ilha, para o maciço montanhoso das Sete
cidades. O autocarro subia a estrada, serpenteando por entre os verdes dos
arbustos e árvores endémicas e, as hortenses que principiavam a floração,
davam-nos as boas vindas. Por entre brumas do alto do miradouro “Vista do Rei”,
vislumbramos parcialmente uma cratera escancarada, escarpada e, no fundo a
magnifica Lagoa Verde e Azul que as algas invasoras roubaram as cores da sua
designação de outros tempos. Sempre acompanhados de matizes verdes, descemos a
montanha até à base da cratera para apreciarmos a dita Lagoa mais de perto e a
freguesia das Sete Cidades, plantada aos pés da mesma. Igreja caiada de branco,
de torre alta revestida a cantaria de pedra negra de basalto, lugar de culto
dedicada a São Nicolau, a atracção mais proeminente do lugar. Como o nevoeiro
continuava a formar uma cortina sobre as terras mais altas,
impossibilitando-nos as vistas de outros miradouros agendados, continuamos o
nosso passeio de autocarro pela estrada de baixo, directos a Fajã de Baixo para
observarmos de perto uma plantação de ananases em estufa, e provar licores do
mesmo. Daí partimos com rumo ao aeroporto e embarcamos para Angra do Heroísmo, capital
da Ilha Terceira.
Pernoitamos a primeira noite no Terceira Mar Hotel, lugar de
repouso, idilicamente plantado na orla costeira. Em frente, como gargantilha de
invulgar beleza, uma enseada rendilhada de rocha basáltica, o atlântico
banhando-lhe os pés, abrigada pelo Monte Brasil que se apresenta do lado
esquerdo como sentinela altaneira.
Antecipando-nos à bruma quase sempre presente nestas Ilhas,
após o pequeno-almoço, deslocamo-nos de autocarro e visitamos o referido Monte
Brasil que nessa manhã, visto do hotel se nos apresentava desanuviado,
recortado contra o azul celeste límpido do céu. Do
topo do Monte Brazil, com Angra de Heroísmo, a capital, deitada aos seus pés,
vislumbram-se quinhentos anos de história na sua arquitectura, destacando-se
torres altas de igrejas cinzeladas por entre o casario. Monte Brazil, cercado
por quatro quilómetros de muralhas, o forte São João Baptista, a maior
fortaleza do Atlântico, com 400 peças de artilharia que noutros tempos
defendiam dos piratas dos mares, os tesouros que pertenciam ao que foi um dia
um vasto império. Angra era o porto universal a que todos amaravam no mar do
oeste, onde o novo mundo se cruzava com o velho. Era o lugar de negócios mais
importante na Idade Moderna. A
visita à Igreja e ao convento de São Gonçalo, maior conjunto conventual da
Ilha, revelou-se bastante interessante, pelas obras valiosíssimas ali expostas.
Os tectos, obra de verdadeiros artistas, trabalhados com madeiras de árvores
endémicas, têm muitos cortes e entalhes a formar espinha, devido ao pequeno
porte dessas mesmas árvores utilizadas. Foi interessante ver no Convento a
minúscula divisão duplamente gradeada, o palratório, assim se chamava, onde as
freiras falavam com as suas visitas, não lhes sendo permitido qualquer
contacto. Porém, o que mais me impressionou foi ver na arcada principal do
convento, a roda onde vinham depositar as criancinhas indesejadas para as
freiras criarem. Gostei da visita
à Câmara Municipal de Angra e, particularmente de ver os três lindos vitrais ao
subir as escadas para o salão nobre.
Saindo da cidade sem perder de vista o mar à nossa direita,
passamos pela localidade de Serretinha, zona de pequenos vinhedos. A caminho de
Porto Judeu, um dos presumíveis locais de desembarque dos primeiros povos que
habitaram a ilha Terceira, brotam do oceano, duas pequenas formações solitárias
de rocha vulcânica, designadas pelos Ilhéus das Cabras. Mais adiante a Baía da
Salga na freguesia de S. Sebastião, palco da célebre batalha entre portugueses e
espanhóis, quando da crise de sucessão em que Portugal foi governada pelos
Filipes de Castela. A Batalha da Salga entre forças militares Castelhanas
desembarcadas e tropas que em nome de D. António I de Portugal, pretendente ao
trono de Portugal, que defendiam a ilha Terceira em oposição a Castela. Depois
dessa famosa batalha, as nossas tropas conseguiram resistir aos invasores
durante mais dois anos, período em que ilha Terceira foi o único território
português independente. Na
vila de S. Sebastião, visitamos a Igreja e observamos o exterior do Império do
Espírito Santo, pertença da irmandade do mesmo nome. A forma mais descritiva
que me ocorre para explicar o que são Impérios é a seguinte: são pequenas casas
de rés-do-chão e 1º andar pintadas garridamente de muitas cores, engalanadas
com bandeirinhas multicores que flutuam ao vento, onde a irmandade se reúne.
Soube pelos nativos que são pintadas assim garridamente porque, como
antigamente os meios escasseavam usavam todos os restos de tintas que sobravam
de pintar os barcos da pesca. O almoço foi num restaurante típico, no interior
da ilha a caminho da Serra do Cume. Foi-nos servido a sopa de espírito santo
seguida de alcatra com massa sovada, prato típico da ilha Terceira.
Enquanto subíamos a serra, espraiávamos a vista pela maior
planície dos Açores, o Vale da Achada, dividida por muretes de pedra negra em
parcelas, formando uma verdadeira gigantesca manta de retalhos, feita de todos
os matizes de verde de invulgar beleza. Gado bovino, bem nutrido,
tranquilamente pastoreava nesta paisagem de sonho recortada contra o azul do
céu. Ladeavam a berma da estrada, as hortenses viçosas de hastes vigorosas que
se preparavam para a floração. Algumas mais adiantadas no seu ciclo de
floração, brindavam o viajante com as suas grandes flores brancas tingidas de
manchas azul claro.
Visitamos o Algar do Carvão, localizado no interior da
Caldeira Guilherme Moniz. Foi impressionante visitar o interior deste vulcão
adormecido constituído por um cone vulcânico com cerca de 90 metros de altura,
descendo cerca de 200 degraus. A curiosidade aliada à vontade de não deixar
escapar este momento único de tal aventura, levou-me a descer, com um certo
respeito e maravilhada como uma inexperiente criança, até ao âmago deste vulcão.
Por entre cavernas de estalactites e formações calcárias, num ambiente de alto
grau de humidade, descia cautelosamente com respeito e, o temor que tal
aventura impunha. Ocasionalmente olhava para cima e, espreitava-me uma nesga do
azul do céu para lá da abertura rodeada de vegetação que, me amainava o bater
acelerado do coração. Descendo mesmo até ao fundo onde existe uma lagoa
subterrânea de águas cristalinas e tranquilas, fui invadida por uma emoção
forte que me fez reflectir e, senti-me humilde, subjugada pela força e encanto
da natureza.
À noite fomos jantar a um restaurante típico, no centro da
cidade e durante a sobremesa seguiu-se animação cultural por um grupo local;
grupo folclórico, “Os Bravos”. Lindas vozes que nos alegraram com seus cantares;
Olhos pretos são brilhantes/Semelhantes/Aos luzeiros que o
céu tem
Uns olhos pretos eu preferi/E nunca vi/De cor mais linda em
ninguém
Os teus olhos de chorar/Fizeram covas no chão/Ai os meus
choram pelos teus/Os teus por quem chorarão
No dia seguinte com tempo livre até á hora do almoço, fiz um
passeio e divaguei pelos jardins do hotel virados para o atlântico, cimentados
sobre uma cascata de lava negra que entrava pelo oceano dentro. Lugar
encantador, idílico para descanso, um pedaço de paraíso na terra. Gostava tanto
de lá voltar um dia!
Elizabeth
Batista colocar aqui ou noutro sÍio???Talvez nas iniciativas em
Lisboa
NAS TRILHAS DA “FILOSOFIA DE UMA MULHER MODERNA”:
CONFIGURAÇÕES DA VIDA SOCIAL E AS CRÔNICAS DE MARIA ARCHER.
Elisabeth Battista
Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT/Brasil.
Diretora da Faculdade de Educação e Linguagem – FACEL. Docente no Programa de
Pós-graduação em Estudos Literários – PPGEL, da Pós-doutora pela Universidade
de Lisboa – UL.
Esta leitura articula-se em torno da instigante produção
criativa e intensa atividade intelectual de Maria Archer para os meios de
imprensa, em meados do século XX, em Portugal, porque nos estudos que estamos
realizando sobre a participação de escritoras na imprensa e a circulação
literária entre os países que têm o português como língua de comunicação, temos
colhido gestos e presenciado a intensa movimentação com vistas à ampliação das
relações de trocas e possibilidades de abertura e aproximação cultural nas
relações literárias e culturais ibero-afro-americanas.
A coletânea Filosofia duma mulher moderna, de autoria
de Maria Archer foi publicada em Lisboa em 1950, pela editora Porto e compõe-se
de 27 narrativas. As crônicas literárias, em sua maioria voltam-se para o tema
da condição da mulher na sociedade portuguesa, fatos vivenciados por Maria
Archer, com base na observação da vida social, na qual faz um engajamento
literário nas suas obras. A articulação de elementos da vida social se torna um
dos muitos que interferem na economia do livro, ao lado dos psicológicos,
religiosos, linguísticos e outros.
É relevante afirmar que a produção e o lançamento
de Filosofia de uma mulher moderna (1950) é contemporânea ao
lançamento da obra O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, publicada originalmente
em 1949. A referida obra francesa, amplamente difundida, é construída em uma
perspectiva fenomenológica existencial de gênero, a autora volta-se para o
estudo da dinâmica das ações femininas e focaliza o conceito de “experiência
vivida”, que contribui para compreensão e o “desalinhamento” da perspectiva
do status quo. Em sua abordagem, Beauvoir será crítica dos
parâmetros discursivos da tradição, que se consagram em princípios lógicos e
ontológicos, Beauvoir propõe novas formas de abordagem sobre a condição da
mulher. Desta forma, na condição de autora, ao lançar um novo olhar sobre a
condição feminina, propiciou a reflexão e o surgimento de uma nova visão acerca
do perfil feminino.
Beauvoir recusava também enclausurar-se como pensadora e
como mulher na esquadria de um sistema de pensamento e, pois, de comportamento
já determinado pela história. A condição feminina deveria, então, se voltar
para novas vias de ação, de argumentação e de reflexão que não as mesmas
trabalhadas pelos homens na história da cultura. (SANTOS, 2012, p.928).
Vale lembrar que as lutas de caráter mais radical pelas
igualdades e a construção de uma identidade feminina, bem como o surgimento do
atuante movimento feminista, naquela altura, estavam apenas no início. Isto
porque os ensaios de Beauvoir em O Segundo Sexo produziram sobre o
público leitor um efeito prático, modificando a sua conduta, sua visão de mundo
e, sobretudo reforçando o sentimento do valor social da mulher. Para a lusitana
Maria Archer, contudo, em Filosofia de uma mulher moderna (1950), a vida
social e a condição feminina serão o “fermento orgânico“ de que resultarão em
fértil produção criativa e a expressão literária de uma diversidade coesa.
Isto porque, em suas páginas, a autora leva em conta o
elemento social como referência em suas crônicas produzidas para os jornais em
Lisboa e, posteriormente reunidas na referida coletânea. Neste sentido, a
captação do olhar fixado no território da escrita para os jornais serão a
expressão de uma certa época e de uma sociedade determinada, que permite
situá-la, não somente em seus aspectos sócio-histórico-culturais, mas como
fator preponderante na sua elaboração artística, ou seja, sua coletânea deriva
no registro literário que sinaliza a interpretação estética da vida social.
O ESBOÇO E O SURGIMENTO DE UMA NOVA MULHER
Nas narrativas para os jornais, a autora coloca em cena a
mulher na condição de dona de casa, trabalhadora do lar, viúva, separada, e
todos os seus atributos humanos como a ambição, a inveja, egoísmo, maledicência,
a mulher estigmatizada que se torna “mal vista” perante a preconceituosa
sociedade da época. Seus temas derivam para aquilo que afirma Alfredo Bosi
(1996, p. 11),
É nesse sentido que se pode dizer que a narrativa descobre a
vida verdadeira, e que esta abraça e transcende a vida real. A literatura, com
ser ficção, resiste à mentira. É nesse horizonte que o espaço da literatura,
considerado em geral como o lugar da fantasia, pode ser o lugar da verdade mais
exigente.
Um olhar ainda que superficial pela coletânea de narrativas
percebe-se um elemento curiosos e unificador: o absoluto predomínio de
personagens femininas na condição de protagonistas. Os homens assumirão papéis
secundários, enquanto a autora descreve a personagem feminina em dois ou mais
parágrafos, especificando as qualidades da mulher da época, ela descreverá o
homem em pouco mais de um período.
Outro aspecto que marca a coletânea composta de 27
narrativas é o registro de que o tratamento que será dispensado à mulher está
diretamente ligado ao seu estado Civil. Neste sentido, as mulheres casadas
obterão reconhecimento social, enquanto as desquitadas e divorciadas não
encontravam acolhida no seio social, ficando fadadas ao isolamento e impedidas
de contraírem uma segunda união conjugal, fora do plano da clandestinidade. Um
exemplo emana da regra explícita de que os funcionários públicos, sobretudo os
de cargo elevado, não poderiam contrair matrimônio com mulheres desquitadas ou
divorciadas.
A crônica Filosofia duma mulher moderna, atendendo ao
meio em que fora originalmente publicada, estrutura-se no âmbito de uma
linguagem coloquial, de fácil entendimento, a personagem feminina age com a
razão e não a emoção, fato que, no plano da narração, é justificado por
preferir perder o pretendente a marido, que fora promovido e terá que ser
transferido para fora do país, do que arriscar perder o domínio de um vantajoso
contrato de locação. Constitui-se uma crônica jornalística, pois ali o que
temos são quadros representativos da vida social contemporânea portuguesa.
Narrada a partir de uma visão por trás, narrador onisciente
intruso, portanto, é contada em 3º pessoa, conforme os estudos de Gancho
(2003), “um narrador que fala com o leitor e julga a conduta da personagem, que
fica bem explícito no trecho a seguir, [...] Uma maravilha”! Julgo que ela
preferia um ataque de bexigas negras, a queda do cabelo, mesmo o reumatismo, a
que lhe tirassem a casa [...] (ARCHER, 1950, p. 10). Ao mesmo tempo em que o
narrador avalia os desejos da protagonista Teresa, ele coloca a importância
que, mesmo alugada, a casa situada sítio nobre, representa para o conforto da
personagem e seu único filho e, portanto, abriria de mão de qualquer coisa,
entretanto, abrir mão de um antigo contrato que fixava o valor da renda muito
abaixo do valor que a casa representa, estaria fora de questão.
A personagem, aqui representante de uma classe, deriva para
aquilo que Abdala (2004, p. 40) define como: “O conceito de pessoa refere-se ao
indivíduo pertencente ao espaço humano, enquanto personagem refere-se à persona
(máscara) da narrativa. A personagem é um ser fictício, que se refere a uma
pessoa”. O ser da ficção, que é representado por uma pessoa, no caso aqui, a
Teresa, que tem seu valor para a economia da obra.
As personagens que compõem a narrativa são Teresa, sr.
Seabra, o filho deles, Eduardo, a mãe de Teresa e suas amigas. No entanto o Sr.
Seabra, as últimas personagens, e o filho de Teresa, são vistos neste espaço
como personagens secundárias, atuam na trama, porém, suas intervenções não
alteram significativamente seu sentido, diferentemente das personagens
centrais, que é o caso de Teresa e Eduardo. A Teresa por sua vez podemos
considerá-la ainda, como uma personagem plana, devido as características em que
ela se encaixa. Gancho (2003, p. 16) afirma que [...] personagens planos, são
caracterizados com um número pequeno de atributos [...] e que pode ser
reconhecido por característica típicas, invariáveis, quer sejam elas morais,
sociais, econômicas ou de qualquer outra ordem[...], reconhecemos essas
características quando a escritora nos descreve Teresa:
Como ia passar dois anos no estrangeiro mostrava-se
imensamente «snob» e impertinente. Exibia-se e luzia-se nos conhecimentos da
vida dos povos que habitam para lá do nosso modesto horizonte. Não se calcula
como nos irritava! E eram as minucias... Não se ia e vinha, como os caixeiros
viajantes... Demorava-se... Viveria num hotel de luxo... Compraria peles
preciosas... Vestidos... Perfumes... Voltaria com as malas cheias... Daria
passeios lindíssimos... Exercitar-se-ia a falar... Oh! O sotaque, numa língua,
dá o tom... (ARCHER, 1950, p. 9).
Dentre os elementos que estruturam a narração identificamos,
no tocante ao tempo, que a autora narra a sua contemporaneidade e esta se dá em
meados do século XX, momento em que Portugal vivia o regime austero da ditadura
Salazarista. Enquanto elemento estruturante, de acordo com Nunes (2002, p. 20),
ocorre um tempo cronológico, as cenas vão ocorrendo em uma ordem natural, do
início para o fim, “[...] Baseado em movimentos naturais recorrentes, como os
cronométricos a que já nos referimos, o tempo cronológico, por esse aspecto
ligado ao físico, firma o sistema de calendário [...]” (idem), pois, essa
cronometria é que coloca a ordem dos acontecimentos e os qualificas.
O espaço socialmente verificável em que a trama ocorre é na
cidade de Lisboa “[...] A mãe de Teresa deixara o sossego da sua casa da
província para viver em Lisboa esses dois anos, de guarda a casa da filha
[...]” (ARCHER, 1950, p.13). Abdala (2004, p. 48) diz que o espaço se articula
com as demais categorias da narrativa ao nível da história, e podem aparecer
ligadas a um lugar físico, onde circulam as personagens e se desenvolve a ação.
O ambiente do enredo é mostrado a partir do termino do
divórcio de Teresa com o senhor Seabra, já havia nascido um filho, com isso
após o desenlace ele deixara a Teresa na confortável casa alugada por uma renda
muito accessível. O narrador fornece detalhes do espaço situando-nos acerca do
nível de conforto do ambiente.” Imagine-se uma moradia com quintal, e jardim, e
um vestíbulo com ferros forjados, e aquecimento central, e três casas de banho,
e salas ligadas por arcadas-com o senhorio a morar no primeiro andar e a Teresa
no rés-do-chão.” (ARCHER, 1950, p.10).
Os elementos do espaço serão, para a economia da narrativa,
decisivos para a solução estética, como veremos adiante. Percebemos, pela
minuciosa descrição do espaço em que se desenrola o enredo da narrativa que
trata-se de uma casa ampla e, em muito bom estado de conservação onde Teresa
habita com o seu filho menor. Vale registrar que o ambiente eventualmente está
presente através de certas indicações que o artista faz, como descrições,
atitudes conscientes das personagens, regular disposição de acontecimentos,
inversão de fatos, descrição de lugares, resultado inesperado de certas cenas,
etc.
Este diz respeito aos aspectos sócio econômicos, ou seja, a
situação-ambiente constitui-se, muitas vezes um detalhe não atingível,
inapreensível objetivamente na obra, e resulta de uma observação do leitor em
torno dos elementos apresentados ou sugeridos pelo artista na combinação das
atitudes das personagens e na ação. Entretanto o ambiente faz referência
à vida da personagem. Essa descrição também pode considerar como
situação-ambiente conforme define Ataíde (1941): A situação ambiente é como um
pano de fundo que serve para o desenrolar da ação e a vivência das criaturas
ficcionais. É um resultado da experiência sobre o tempo e espaço. (p. 51).
Consideramos neste contexto a situação-ambiente, pois, é a
partir da fruição desta que veremos o desenrolar da exegese ficcional, além de
despertar o interesse pela leitura, aproximando a personagem da representação
literária da vida social. De certo modo é neste ambiente que ocorrerá o
conflito do enredo, criando o ponto culminante da a história, que podemos
chamar de clímax, ou seja, o momento em que a narrativa atinge seu maior ponto
de tensão, em seguida, temos o desfecho, a solução estética, o qual o autor nos
surpreenderá com um final feliz ou não. Solução esta que segundo Gancho (2003,
p. 11) “o desfecho é a solução dos conflitos, boa ou má, vale dizer
configurando-se num final feliz ou não. Há muitos tipos de desfechos:
surpreendente, feliz, trágico, cômico, etc”. O desfecho da narrativa, é
surpreendente, pois, Teresa tinha consciência que o Eduardo estava com
ela por causa do filho desta, (no seu primeiro casamento) o Quim, todavia, ela
não cogitou em levar o menino consigo.
Toda gente, nas relações do casal, compreendia o assunto e o
discutia. Mas toda a gente supunha, eu incluída, que a Teresa gostava do
Eduardo. Por isso estranhei a resposta dela, há dias, quando lhe perguntei se
levava consigo o filho: - Fica com minha mãe... O advogado insiste em que o
deixe ficar... Calei-me – mas os meus olhos devem ter sido eloquentes porque a
Teresa, logo em seguida, diz-me, como quem se justifica: - Olha, menina... Um
outro marido como o Eduardo arranjo eu... Uma casa como esta é que não...
(ARCHER, 1950, p.16).
O final, imprevisto para os padrões romanescos, sinaliza
para o valor que materialismo e a razão assumem em detrimento da vivência do
romance a sensibilidade, na vida da protagonista. No trecho acima,
percebemos que a casa era mais importante para Teresa do que seu companheiro,
no recorte selecionado, a importância dos bens materiais prevalecerá para a
personagem.
AS TRILHAS E A CONDIÇÃO FEMININA
A crônica é emblemática e sinaliza para o registro literário
do nascimento de um novo perfil de mulher, agora mais consciente e menos
dependentes dos ditames sociais e de um status quo. A crônica
selecionada por exemplo, permite-nos observar as relevantes mudanças no
comportamento da mulher portuguesa que vive no meio urbano, em contato
permanente e crescente com a instauração gradativa da modernidade,
principalmente no que tange ao processo de formação da sociedade capitalista.
A narrativa intitulada “Faça mal quem o fizer quem o paga é
a mulher”, à partida já se nota o um trocadilho, a apropriação da
linguagem coloquial, que sua estrutura pode ser separada em versos de forma que
temos “Faça o mal quem o fizer/ Quem o paga é a mulher”, este é formado
de redondilha maior, com rima rica, e de fácil memorização.
O conflito gira em torno da personagem Anica, que por ter
decidido deixar o marido opressor e acompanhar o amante, torna-se mal vista aos
olhos da sociedade. A personagem lança-se ao impulso de suas escolhas
emocionais. Anica – um nome próprio no grau diminutivo já é sintomático – será
guiada pelo sentimento da paixão, ao invés da razão, não se importando com o
futuro. A representação da personagem foi contemplada na ficção de Maria Archer
e deriva para aquilo que Anatol Rosenfeld (2011) afirma:
A ficção é um lugar ontológico privilegiado: lugar em que o
homem pode viver e contemplar, através de personagens variadas, a plenitude da
sua condição, e em que se torna transparente a si mesmo: lugar em que,
transformando-se imaginariamente no outro, vivendo outros papéis e
destacando-se de si mesmo, verifica, realiza e vive sua condição fundamental de
ser autoconsciente e livre, capaz de desdobrar-se, distanciar-se de si mesmo e
de objetivar a sua própria situação.
É neste sentido, pois que, em seu percurso, ao longo da
breve narrativa, Anica enquanto protagonista, será construída como personagem
esférica. As “personagens esféricas” não são claramente definidas por Forster,
mas concluímos que as suas características se reduzem essencialmente ao fato de
terem três, e não duas dimensões; serão, portanto, organizadas com maior
complexidade e, em consequência, capazes de nos surpreender, pois, conforme diz
Candido (2000, p.63):
A prova de uma personagem esférica é a sua capacidade de nos
surpreender de maneira convincente. Se nunca surpreende, é plana. Se não
convence, é plana com pretensão a esférica. Ela traz em si a imprevisibilidade
da vida, — traz a vida dentro das páginas de um livro” (Ob. Cit., p.75).
Decorre que “as personagens planas não constituem, em si, realizações tão altas
quanto as esféricas, e que rendem mais quando cômicas. Uma personagem plana
séria ou trágica arrisca tornar-se aborrecida” (Ob. cit., p. 70).
A narrativa breve indica sumariamente que Anica, embora
dispusesse de uma condição financeira estável, andava muito insatisfeita com a
vida que levava e, na ânsia de dar um novo rumo à sua existência, ao lado de um
novo companheiro, lança-se à nova experiência conjugal, sem, entretanto,
assegurar-se, muito menos estudar melhor o caráter do novo pretendente.
Desta maneira Anica, como veremos no trecho abaixo, a protagonista
inconscientemente assume os riscos, na medida em que não se importou se um dia
Ramiro a deixasse e ela viesse a perder tudo, se arrisca para viver uma paixão:
A Anica, desvairada de amor, fruia com intensidade o momento
presente e não pensava nas consequências temerosas dos seus passos de mulher
banida da vida das famílias nem no que poderia ser o seu futuro, um dia, se o
Ramiro a amasse menos, a amasse pouco, ou a abandonasse. (ARCHER, 1950, p.
193).
A narração é feita por um narrador testemunha, aquele que
participou e vivenciou os fatos do enredo, que pode ser justificado com a fala
dele, [...] Lembro-me bem daquele dia, há anos, em que o escândalo da sua fuga
com o Ramiro ribombou por Lisboa e deixou a sociedade – este meio de gente rica
e janota e preconceituosa que a si mesmo se classifica de sociedade – deixou-a
espantada e atordoada [...]( Idem, p. 191).
Ele narra em 1ª pessoa, mas é um “eu” já interno à
narrativa, que vive os acontecimentos aí descritos como personagem secundaria
que pode observar, desde dentro, os acontecimentos, e, portanto, dá-los ao
leitor de modo mais direto, mais verossímil. Testemunha, não é à toa
esse nome: apela-se para o testemunho de alguém, quando se está em busca da
verdade ou querendo fazer algo parecer como tal. (LEITE, 2002, p. 37).
Conforme adianta o narrador testemunha, a qual faz o uso do
verbo lembrar, no pretérito, dá a perceber que o narrador conhecia Anica, e
vivenciou o fato ocorrido. Segundo Ataíde (1941, p.55) o ponto de vista da
trama é visto de modo externo, ou seja, está sendo apresentado por alguém que
sabe dos acontecimentos, mas não os vivenciou. Ao olhar para a construção da
obra, e para a sua ordem temporal veremos que esta obedece ao tempo
cronológico, ou seja, o enredo corre de maneira sucessiva, desde que Anica saiu
de casa, passou a viver com Ramiro, mudaram de cidade, e ao fim acaba sendo
gradativamente abandonada pelo parceiro e ficando sozinha, isto pode ser
percebido nos recortes: (ARCHER, 1950, p. 196) “[...] a Anica via-o partir dia
após dia, noite após noite [...] Meses consecutivos, com muitos dias e muitas
noites em cada mês[...], para Ataíde:
O tempo cronológico é aquele que se mede pelo relógio, pela
sucessividade dos dias e das noites, pelo movimento da terra e da lua, pela
alternância das estações. O tempo cronológico consiste num esforço do homem
para opor uma barreira ao tumulto subjetivo, às presentificações da memória à
duração interior que é imprevisível e incontrolável. (ATAIDE, 1941, p. 47).
A personagem experimenta dupla condenação: o isolamento
social por parte dos seus familiares e o afetivo, na medida em que vivenciará o
gradativo abandono por parte do amado. Tal constatação deriva do que pode ser
percebido na construção narrativa e nos dá a impressão de que os espaços
utilizados articulam-se com as demais categorias da narrativa ao nível da
história. Na obra são divididos em três sequências, no dizer de Abdala: “Num
sentido mais abstrato, é importante que seja considerado o espaço social, a
ambiência social pela qual circulam as personagens, e o espaço psicológico, as
suas atmosferas interiores”. (ABDALA, 2004, p.48).
Desta forma relacionamos os acontecimentos que ocorrera com
Anica, através destes espaços, ao qual, no início, ela circulava tacitamente
pelas ruas de Lisboa e fazia parte da alta sociedade, podendo relacionar este
como espaço social, em seguida ao fugir com Ramiro, se vê obrigada a passar por
sua irmã, e aos poucos acaba ficando isolada em casa, num país estrangeiro, não
tendo a liberdade de circular pelas ruas, ou seja, este se torna um espaço
físico restritivo, sua vida se restringirá aos limites da sua modesta morada. A
partir de então, dará vazão à dimensão do espaço psicológico, pois, a restrição
dos deslocamentos funcionará como elemento propulsor para Anica na tomada de
consciência do espaço que oprime e como estes podem se tornar espaços de fuga.
Assim, ao impacto das suas constatações, o desfecho da trama
se dá quando Anica deixa Ramiro, e volta para Lisboa sem o parceiro e despojada
dos seus bens materiais. Notamos a distinção existente entre os homens da
trama, enquanto o primeiro faz questão de dizer que é casado com Teresa, Ramiro
omite, ou seja, esconde o relacionamento com Anica, sob o pretexto de não
perder o emprego, pois o que predomina para ele é posição social, por não
aceitarem homens casados com mulheres que fossem divorciadas.
A Anica, nesses anos de peregrinação pelo estrangeiro,
desfalcara grandemente os seus haveres. Ao separar-se do Ramiro não dispunha de
meios que lhe permitissem fixar residência em Paris. Foi-lhe forçoso regressar
a Lisboa, limitar as despesas e viver de pouco. (ARCHER, 1950, p. 199).
As crônicas selecionadas são representativas de distintos
perfis femininos. A primeiro trata-se de uma mulher ambiciosa e racional que se
arrisca a perder o pretendente a marido, a perder a confortável casa onde vive,
e na segunda narrativa, temos a representação da mulher que, ao impulso de
viver a segunda experiência conjugal, não se importa com os bens materiais, foi
capaz de largar tudo para viver um amor.
TRILHAS QUE SE ABREM...
A coletânea Filosofia de uma mulher moderna, em seu
conjunto abordam temas como os vistos acima, exibindo o desafio vivenciado
pelas mulheres na luta pela libertação de sua condição de subalternidade, entre
outros. As mulheres dos meados do século XX, época da ditadura
salazarista, estavam sujeitas a uma hegemonia masculina, contentando-se apenas
com os serviços domésticos e a educação dos filhos. A mulher encontrava-se sob
um intenso domínio familiar, antes do casamento submissa ao pai e, após o
casamento, ao marido.
Historicamente, a mulher foi sempre mantida como uma figura
emudecida e marginalizada em diversos aspectos. O fato de ter sido tomada por
sua suposta fragilidade e incapacidade de viver fora do domínio patriarcal
implicou, não raro, o sacrifício de sua própria identidade. A tradição sócio
histórica relegou à mulher um papel secundário na sociedade. Na esfera
doméstica restavam-lhe as atividades de administração dos afazeres do lar e de
educação dos filhos de forma que reproduzissem e perpetuassem os papeis sociais
preestabelecidos. (ARAUJO, 2012, p. 14).
Da mesma forma, o registro literário na coletânea revela que
a condição e o papel reservado para a mulher na vida social daquele momento,
onde o lugar privilegiado era destinado aos homens e as personagens femininas,
dispunham de espaço restritivo e, não raro, para viver eram submetidas ao
regime no qual, sendo vistas como frágeis e incapazes, seu destino seria o
casamento. Dessa forma, a literatura de Maria Archer desprende-se do usual,
instaura um estilo próprio com seu distinto jeito de escrever, fará aquilo que
defende Teixeira: “buscando, por meio de seus personagens, estabelecerem
representações que questionam e contestam as posições ocupadas por homens e
mulheres na sociedade” (TEIXEIRA, 2008, p. 33 apud MOURA, 2012, p.3).
A representação literária de Archer recria o mundo a partir
da sua ótica e fala a por aqueles que não tem voz própria. Como se sabe, eram
poucas as mulheres que assumiam a profissão de escritoras naquela altura.
O papel da escrita literária de várias autoras feminina, vista deste modo, era
expor o comportamento dos perfis femininos, ligados ao período em que viviam,
desta maneira, em suas publicações a representação literária e o engajamento
era constante.
Ao recriar na literatura os diferentes grupos sociais é
importante um posicionamento condizente com as vivências de tais indivíduos.
Compreender o meio social a partir de um único viés não torna possível
representar de modo eficaz os grupos que o compõem, já que, mesmo mostrando-se sensíveis
e solidários a seus problemas, ainda assim estes não terão as mesmas
experiências de vida. (ARAUJO, 2012, p. 34).
A literatura pode ser considerada como uma instituição
social, que utiliza como expressão a linguagem, ela pode representar a vida,
esta é uma realidade social. O artista se apropria da literatura para através
dela fazer uma utilidade social, ou seja, apoia-se em suas vivências para se
dirigir ao público. Conforme exprimem Wellek & Warren, (1955),
ao discutirem a relação entre literatura e a sociedade, é costume
começar-se pela frase – derivada de De Bonald - que afirma que “a literatura é
uma expressão da sociedade”.
[...] Afirmar que a literatura é o espelho ou a expressão da
vida será ainda mais ambíguo. Um escritor não pode deixar de exprimir a sua
experiência e a sua concepção total da vida; mas seria manifestamente falso
dizer que ele exprime a vida total – ou até mesmo a vida total de uma certa
época - por forma completa e exaustiva. [...] (WELLEK & WARREN, 1955,
p. 114).
Desta forma, o artista não é obrigado a escrever sobre
aspectos que ocorreram em toda a sua vida, mas sim de determinada época,
descrevendo as implicações e relações sociais deste período. Dizer que a
literatura exprime a sociedade constitui hoje verdadeiro truísmo; no dizer de
Antonio Candido, mas houve tempo em que “foi novidade e representou algo
historicamente considerável”. Na atualidade não é necessário enunciar que
a literatura representa a sociedade, conforme defende Candido:
No que toca mais particularmente à literatura, isto se
esboçou no século XVIII, quando filósofos como Vico sentiram a sua correlação
com as civilizações, Voltaire, com as instituições, Herder, com os povos.
Talvez tenha sido Madame de Staél, na França, quem primeiro formulou e esboçou
sistematicamente a verdade que a literatura é também um produto social,
exprimindo condições de cada civilização em que ocorre. (CANDIDO, 2006, p. 29).
Assim, com base na sua produção e seu legado literário será
possível afirmar que Maria Archer recusava enclausurar-se como intelectual e
como mulher nos modelos impostos pelos ditames sociais. Essa atitude pode ser
colhida nas suas produções criativas, uma vez que a autora alinha-se a um
sistema de pensamento e de comportamento não previsto para a condição feminina
determinado pela história. Muito pelo contrário, sua atuação revela que a
condição feminina deveria se voltar para novas vias de ação, de argumentação e
de reflexão que não as mesmas trabalhadas pelos homens na história da cultura
do seu tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível entrever, por meio da representação literária,
na qual incumbe-se de exprimir “A filosofia de uma mulher moderna”, como as
mulheres, naquela altura, comportam-se perante seus dilemas e suas angústias
existenciais. Desde a escolha entre a razão e a emoção, diante do desafio de se
entregar a um novo amor, em que a personagem da primeira narrativa, ao mesmo
tempo em que ela decide recomeçar sua vida amorosa, ela teme em perder a casa,
agindo com a razão, ela decide deixar o filho, assim, estaria segura a sua
moradia com o aluguel muito abaixo do valor de mercado.
Paradoxalmente, a protagonista da segunda narrativa
selecionada, como amostra para a identificação do delineamento dos perfis
femininos, sob a ótica de Maria Archer, vimos que a personagem não imaginou que
seu romance poderia não vicejar, como seria evidentemente desejável para a
protagonista, desconsiderou a possibilidade de vir a perder o conforto em que
vivia. Ou seja, a protagonista peca por ceder ao primeiro impulso e ao excesso
de sensibilidade.
A contribuição literária de autoria de Maria Archer vem
sendo gradativamente estudada no âmbito de relação literária e cultural
ibero/afro/americana, vimos que autora muito tem contribuído para o avanço da
literatura nos países de Língua Portuguesa e pela representação feminina neste
contexto literário, uma vez que pela sua visão crítica, produz narrativas que
estão muito além da literatura considerada apenas como de “sensibilidade
contemplativa” e “linguagem imaginativa”. Suas narrativas são inquietantes
porque identificam a opressão, evocam a vida, buscam a emancipação da mulher e,
talvez por isso seu nome tenha sido gradativamente apagado e, até certo ponto
eclipsado na história da literatura portuguesa.
A representação literária na obra de Archer pode ser
considerada um genuíno produto de vida social, pois, através de sua criação é
possível entrever questões relacionadas a fatos históricos, sociais e
culturais, e que ao mesmo tempo pode ser vista ainda, como um modo de
comunicação e expressão do seu olhar sobre a sociedade, a qual, por meio do seu
gesto de interpretação estética, o conteúdo da mensagem pode alimentar um
desejo de mudança no meio social.
REFERÊNCIAS
ABDALA, Benjamim Abdala Junior. Introdução à análise
narrativa. Coleção Margens do texto. São Paulo: Scipione, 1995.
ARCHER, Maria. Filosofia duma mulher moderna. Porto.
Editora Simões, 1950.
ARAUJO, Adriana L. de,A representação da mulher no
romance contemporâneo de autoria feminina paranaense. Dissertação de
mestrado em Estudos Literários, Universidade Estadual de Maringá, Maringá,
2012.
ATAÍDE, Vicente de Paula. A Narrativa de ficção. 2.
Ed. São Paulo: McGraw-hill do Brasil, 1941.
BATTISTA, Elisabeth. Maria Archer – o legado de uma
escritora viajante. Lisboa: Edições Colibri. 2015. 380 p.
BATTISTA, Elisabeth. Entre a Literatura e a
Imprensa: Percursos de Maria Archer no Brasil. Tese de doutorado em
Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2007.
__________________., Literatura, imprensa e resistência
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Pedro Rui Costa falta
Mari ant jardim
Luisa da Alemanha
Leonor Xavier falta
'OUTRos acontecimentos relevantes da
diaspora
Direção nacional
da “Mulher Migrante” Luso-Venezuelana juramentou a comissão regional em Caracas
Na passada segunda-feira 19 de outubro, cerca de 50 mulheres
portuguesas e luso-venezuelanas em Caracas assistiram à 1ª tertúlia das “Companheira de Chá &
Café” em ocasião do dia mundial para a prevenção do cancro da mama,
data internacional instituída pelas Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial
da Saúde (OMS).
O momento foi propicio para que meio centenar de mulheres
debatessem sobre a importância “deste mal” que as afeta diretamente mas também
de falar abertamente sobre como ser mulher, mãe e esposa e viver atualmente na
capital da Venezuela.
A comissão regional em Caracas da “Mulher Migrante”
Luso-Venezuelana tomou posse publicamente entre as presentes e foi juramentada
nas suas funções associativas em prol da defesa da mulher portuguesa na
Venezuela pela Direção nacional.
A recente delegada principal da comissão regional em
Caracas, Mimí Coelho, constituiu a sua equipa e em coletivo aceitaram o desafio
proposto pela Presidente nacional e Conselheira das Comunidades Portuguesas,
Milú de Almeida.
A rede “Mulher Migrante” encontra-se presente em 13 países
no mundo. A associação luso-venezuelana foi criada em 2012 após o 1º congresso
nacional da mulher portuguesa na Venezuela e contou com a presença de Rita
Gomes (Presidente da “Mulher Migrante” em Portugal) e de Manuela Aguiar
(fundadora da “Mulher Migrante” Internacional e ex-secretária de Estado às
comunidades portuguesas).
As comissões regionais da “Mulher Migrante” Luso-Venezuelana
em todo o território nacional foram muito solicitadas pelas quase 150
congressistas presentes no 2º congresso nacional da mulher portuguesa na
Venezuela em 9 de novembro de 2015 e aprovadas à unanimidade nas recomendações
e conclusões finais do evento, propostas à votação geral pelos comissários
Vanda Pontes e Felipe Gouveia.
La comisión regional “Caracas/Miranda” de la asociación nacional “Mujer
Migrante” LusoVenezolana te invita a la 2ª tertulia luso-femenina de las
Compañeras de “Chá & Café” el jueves 19 de noviembre a las 02:30 pm
“La vida nacional
gira en torno de una taza” (Ernesto Belo Redondo, periodista portugués)
Día Mundial de la Filosofía
■
Conversatorio sobre la osteoporosis de los huesos con médicos especialistas
■
Debate: “Tema libre entre compañeras”
SE RESERVA EL
DERECHO DE ADMISIÓN | Pide tu entrada para asistir al
evento: 0412-3760424, 0414-2306458, 0414-1600001, contacto@mulhermigrante.org.ve
■ Contacto prensa: Mimí Coelho
(delegada regional principal), 0414-2159097, contacto@mulhermigrante.org.ve
Para deixar de receber as noticias e atividades da Associação Nacional “Mulher Migrante” na Venezuela (MM-VE)
www.mulhermigrante.org.ve/mailman/listinfo/noticias_mulhermigrante.org.ve
Associação Nacional “Mulher Migrante” na Venezuela (MM-VE): Contactos, Mail, Newsletter, Pagina Web e Redes Sociais (FaceBook e Twitter)
www.mulhermigrante.org.ve
Querida Amiga, aqui vão as fotos do Guarany e os Flyers ad
exposição de O Ovo do Sagrado feminino, que inaugura a 10 de Dezembro no
Palacete Viscondes Balsermão, com a presença do Sr. Vereador da Cultura da
Câmara Municipal do Porto.
Beijinhos e até para a semana, depois telefono!
Maria Antónia
“Somos Portugalidade”
“Milú” de Almeida encabeza la tercera opción por el
circuito electoral de Caracas-Oriente
Experiencia y juventud. Esta es la premisa de la actual
conselheira María de Lourdes Almeida, conocida en nuestra comunidad como
“Milú”, para encabezar la Plancha C en las elecciones del Consejo de las
Comunidades Portuguesas el próximo 6 de septiembre.
La presidenta nacional de la Asociación Mulher Migrante de
Venezuela, nacida el 18 de abril de 1953 en Pardilhó, Estarreja, Distrito de
Aveiro, estará acompañada por los candidatos principales Manuel Ramos, ex
presidente de la Filial 43 del FC Porto; Ana María Teixeira, vice presidenta
del Comité de Damas de la Asociación de Luso Descendientes de Venezuela; y
Simão da Rocha, relacionista público de la Associação Civil Amigos de Terras de
Santa Maria da Feria.
Los suplentes por esta plancha serán Ernesto Da Silva
Cardoso, tesorero de la Associação Civil Amigos de Terras de Santa Maria da
Feria; Monica Da Silva, directora del Grupo Folklórico de Danzas
Internacionales Dos Patrias; Felipe Gouveia, corresponsal de la Agencia Lusa en
venezuela; y Maria Assunçao Rodrigues, tesorera de la Asociación Mulher
Migrante de Venezuela.
Los integrantes de esta propuesta, llevan como bandera la
vocación de servicio. “Quien está en estas labores, sea quien sea, lleva en la
sangre la vocación de lucha por lo que considera que es necesario para su
comunidad” asegura la Licenciada en Idiomas Modernos por la Universidad
Metropolitana.
Interacción con los
portugueses y apoyo a la juventud
La primera línea de acción de la plancha C es promover la
interacción entre los miembros de la comunidad luso venezolana. “Creemos que es
necesaria una mayor interacción con la comunidad e incrementar el acercamiento
con los jóvenes. Esta interacción es extensiva a las redes asociativas de
nuestro círculo electoral” asevera la ex primera dama del Centro Marítimo de
Venezuela, agregando que aunque los clubes e instituciones son autónomos en sus
decisiones, es necesario el trabajo en conjunto para que no se pierda la
identidad portuguesa.
“Es importante aclarar que los portugueses en Venezuela no
son sólo los que están en los clubes: la mayor parte de nuestra colonia está
regada por todo el país y atraviesa grandes dificultades. Hay muchas
iniciativas que llevan a cabo grandes esfuerzos y pasan bajo la mesa; otras
veces, los jóvenes no muestran interés debido a la falta de incentivos. A
nuestra comunidad hay que entenderla y apoyarla, dándole a los jóvenes las
herramientas para sentirse incluidos” asegura.
Idioma, valores y
tradiciones
La cultura e identidad lusitana tienen un puesto de honor en
las líneas de acción de la Plancha C. “Proponemos seguir en la defensa de la
enseñanza de la lengua portuguesa y de la portugalidad, continuando la difusión
de los valores culturales y tradiciones de nuestros antepasados. Aquí
nuevamente los jóvenes tienen un papel fundamental, ya que creemos necesaria la
promoción de intercambios culturales” indica la también fadista y ex directora
del Grupo Folklórico Internacional Luso de la extinta Asociación Deportiva Luso
Venezolana.
En los últimos siete años, Milú se orientó a la parte
educativa en el Consejo de las Comunidades Portuguesas, motivo por el cual da
tanto peso a la Enseñanza del Idioma. “He trabajado en la defensa de la
enseñanza del idioma. Se logró un convenio con la Colegial Bolivariana para la
producción y distribución de textos, además del nombramiento de un coordinador
para la enseñanza. Sin embargo, continúa siendo un problema la enseñanza del
portugués: seguimos sufriendo la falta de profesores preparados, ya que
contrario a lo que muchos piensan, no es lo mismo hablar un idioma que
impartirlo” argumenta De Almeida.
Apoyo a la comunidad
y trabajo con las autoridades
Seguir vigilante con la parte socioeconómica de nuestra
comunidad, defendiendo a quienes necesitan ayudas socio económicas, es otra de
las líneas de acción de la Plancha C. “Para esto es necesario continuar el
trabajo conjunto con nuestras autoridades diplomáticas y consulares. Hay muchas
familias de escasos recursos de nuestra comunidad, lo que requiere que se haga
un trabajo exhaustivo, ya que para nuestro gobierno es difícil llegar a estos
casos” indica Milú.
“Hemos logrado mucho en el tema consular, gracias a la
coordinación entre los funcionarios y los consejeros. Ya no hay largas filas de
usuarios y los funcionarios disfrutan de mejorías. Las permanencias consulares
han beneficiado a las personas que están más lejos de los consulados, al igual
que la apertura de consulados honorarios. Siempre hay problemas que resolver y
debemos pensar en nuevas acciones que beneficien a nuestra comunidad” aseguró.
La consejera también considera importante la situación de
los pasajes. “Hemos trabajado en estos años, pero no es algo que esté en
nuestras manos. Yo soy realista en lo que digo y no puedo prometer cosas que no
puedo hacer. Los consejeros hemos informado a Portugal la situación preocupante
de los pasajes, sin embargo las compañías aéreas actúan bajo determinadas
políticas de la empresa. Nuestro deber es seguir alertando sobre cómo esto nos
afecta” explica María de Lourdes.
“La diferencia de la Milu del año 2008 y la de ahora, es que
hoy tiene la experiencia que antes adolecía y esto es algo muy importante para
estar aquí. Mi mensaje es que siempre sigan con la esperanza y la fe de que
vamos por buen camino. Es importante votar si queremos contar con Portugal. Acá
tienen una plancha que está dispuesta a alzar la voz ante las necesidades.
Queremos seguir trabajando, en conjunto con el circuito de Valencia, bajo una
misma ideología y en una misma dirección”.
Redes sociales: @PortugalidadCCP
HT oficial: #CCP2015
Antiga secretária de
Estado das Comunidades
“Governo tem de reconstituir uma máquina de
apoio aos portugueses no estrangeiro”
Manuela Aguiar
Foto: Alain Piron
Foto: Alain Piron
Publicado Quarta-feira, 10 Junho 2015 às 14:27
“O Governo português deve reconstituir a Secretaria de Estado
da Emigração” para dar resposta aos problemas dos emigrantes, como os novos
casos de exploração de portugueses na construção. A antiga secretária de Estado
da Emigração e das Comunidades, Manuela Aguiar, esteve no Luxemburgo e defende
que o Governo deve ter uma política virada para os portugueses que emigram, mas
também para os que regressam.
Maria Manuela Aguiar esteve quinta-feira em Esch-sur-Alzette, enquanto presidente da Assembleia da
Associação Mulher Migrante para acompanhar e coordenar a conferência-debate do
maestro António Victorino d’Almeida sobre a “Portugalidade” (ver pág. 20).
À margem da conferência, o CONTACTO confrontou a antiga
secretária de Estado da Emigração e das Comunidades (1980-1987) com os novos
casos de exploração de portugueses a trabalhar na construção. Um dos últimos
casos dá conta de subempreiteiros portugueses que exploram imigrantes
portugueses numa obra pública num estaleiro dos Caminhos de Ferro
Luxemburgueses, na cidade do Luxemburgo (ver pág. 5).
“É uma história clássica de portugueses explorados pelos
próprios portugueses. Nos séculos XIX e XX encontramos muitos casos desses e
julgamos que não se repetem, mas quando olhamos para estas situações terríveis
são muito iguais às do passado e acontecem em países onde menos se espera, como
o Luxemburgo, Noruega, Inglaterra ou Holanda. Este é um dos aspectos para o
qual sempre chamei à atenção quando estava no Governo”, recorda Manuela Aguiar,
que foi convidada em 1980 pelo primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro a
integrar o seu executivo.
Depois de ter deixado a Secretaria de Estado da Emigração e
das Comunidades, Manuela Aguiar continua a trabalhar com as comunidades
portuguesas no estrangeiro. Na Associação Mulher Migrante coordena vários
estudos sobre os emigrantes portugueses. Considerada uma das maiores
especialistas portuguesas da emigração, critica qualquer governo, mesmo do seu
PSD.
“O Governo tem a obrigação constitucional de reorganizar os
serviços de emigração, o Governo tem de reconstituir uma máquina de apoio aos
portugueses nos países onde estão, para combater estes fenómenos de
exploração”, defende Manuela Aguiar.
“Logo a partir de 74, a primeira coisa que os governos
provisórios fizeram foi criar uma Secretaria de Estado da Emigração e
reorganizar os serviços para servir os portugueses. Mas quando Portugal aderiu
à CEE [Comunidade Económica Europeia], achou que a emigração tinha acabado e
desmantelou os serviços de emigração. Neste momento, em que temos uma emigração
como nos anos 60, temos a obrigação de voltar a ter adidos sociais, que há
pouco tempo acabaram, ter pessoas que possam fazer relatórios ao Governo, que
possam seguir a situação dessas pessoas exploradas e indicar soluções também
para outros casos. Precisamos de novos serviços, à semelhança dos que tivemos,
adaptados aos tempos modernos”, propõe Manuela Aguiar.
Para a também antiga deputada eleita pelo círculo da Europa,
o Governo português deve também ter uma política virada para os que querem
regressar.
“O Governo tem de apoiar os que querem sair, mas também
apoiar de todas as formas possíveis os portugueses que querem regressar. Tem de
haver uma política de regresso, ainda que não seja um regresso imediato, e
chamar as pessoas à medida que for possível. É certo que neste momento são
muito mais os que querem sair do que os que querem regressar, mas os
governantes têm de adequar os instrumentos, os serviços e os meios
institucionais às realidades”, defende Manuela Aguiar, lembrando o “sinal
positivo” dado por Pedro Lomba, secretário de Estado do ministro-adjunto,
Miguel Poiares Maduro. “Ele apelou ao regresso dos portugueses e é bom que o
Governo não tenha apenas o discurso do ’vão embora’”.
Foto: Anouk Antony
MEIO MILHÃO DE PORTUGUESES SAÍRAM NO MANDATO
DESTE GOVERNO
Para a dirigente da Associação Mulher Migrante, Portugal
está a viver actualmente uma “situação demográfica dramática” e só durante o
mandato deste Governo cerca de meio milhão de pessoas já deixaram Portugal. “Há
uma emigração como nos anos 60, ainda que mais qualificada e mais dispersa.
Estão a sair entre 120 mil a 130 mil pessoas por ano, segundo os números do
actual secretário de Estado das Comunidades, José Cesário. Em média dá meio
milhão de portugueses durante o mandato deste Governo”, conclui Manuela Aguiar.
Se a política de regresso dos portugueses não for suficiente
para “refazer o tecido demográfico de Portugal”, a antiga governante defende a
imigração lusófona.
“Os imigrantes podem ser de todos os países de gente de boa
vontade, mas acho que seria fantástico que se fizesse dentro do mundo lusófono.
Já temos brasileiros cabo-verdianos, angolanos, etc., mas deveríamos reforçar
os laços da lusofonia através de imigrações em massa, de preferência imigração
altamente qualificada porque estamos a perder jovens altamente qualificados. É
um sonho que tenho, mas na prática só podemos fazer isso com o desenvolvimento
económico”, sublinha Manuela Aguiar, para quem Portugal é um “país exemplar na
política de imigração”.
“Só temos é de saber ensinar os imigrantes a gostar de Portugal.
Isso faz-se dando-lhes condições de vida, fazendo-os felizes, iguais, porque um
imigrante que se sente bem tratado, bem integrado, com boas condições de
trabalho e de convívio é um imigrante que adora o seu país de origem e que
adora o seu país de destino”, conclui.
SOUBE 30 ANOS DEPOIS QUE JUNCKER NÃO ERA
CONTRA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA
Manuela Aguiar foi quem negociou com Jean-Claude Juncker “a
cláusula de salvaguarda que o Luxemburgo queria impor à imigração portuguesa”
no início da década de 80. Diz que só passados 30 anos é que descobriu que
Juncker não era contra essa imposição.
“Foram as primeiras grandes negociações que tive com o
Luxemburgo e não foram fáceis. Houve uma imposição do Luxemburgo e da União
Europeia e Portugal não pôde fazer nada. Na altura, eu não sabia, mas o Juncker
contou depois numa entrevista na Gulbenkian, quase 30 anos depois, que ele era
dos que não queriam a cláusula de salvaguarda. Ele queria dar de imediato todos
os direitos aos portugueses. Três anos depois ele era primeiro-ministro e
acabou com a cláusula de salvaguarda”, conta Manuela Aguiar.
A responsável relembra também o problema do ensino. “A
dificuldade do ensino dos filhos dos portugueses em três línguas foi sempre o
grande problema que apresentei às autoridades luxemburguesas. A resposta que me
davam na altura é a mesma que dão hoje. Continuamos a ter crianças prejudicadas
no seu percurso académico por causa disso. O problema não está resolvido”,
conclui a antiga secretária de Estado das Comunidades.
Henrique de Burgo
Associação Mulher
Migrante realizou primeira tertúlia
A associação procurou realçar a importância da mulher na
sociedade
Correio de Venezuela - oct 30, 2015 - Ommyra Moreno
A tertúlia começou com umas palavras de boas-vindas, proferidas
pela presidenta da direção, Milú de Almeida, que depois empossou a delegação
regional de Caracas e Miranda, encabeçada por Mimí Coelho.
A iniciativa foi levada a cabo no quadro do Dia
Internacional da luta contra o Cancro da Mama e contou com um debate sobre
prevenção, que esteve a cargo da Dra. Zoraida Méndez, a quem as participantes
colocaram dúvidas e pediram esclarecimentos sobre mitos relacionados com esta
doença.
Milú de Almeida aproveitou a oportunidade para anunciar as
próximas atividades que serão promovidas pelas delegações da associação a nível
nacional, assim como o Encontro Regional das Mulheres Portuguesas no Estado de
Mérida, em parceria com o Consulado de Portugal em Mérida, a 31 de Outubro. No
Estado de Miranda está agendado um outro encontro para 14 de Novembro, desta
vez com a colaboração do Consulado de Portugal em Los Teques.
As companheiras, como são conhecidas na associação,
compartiram uma agradável merenda durante o evento, que foi concluído com a
entrega de certificados às participantes e apresentação das conclusões do
debate, as quais salientaram a prevenção oportuna do cancro da mama.
A Associação “Mulher Migrante” foi oficializada em Fevereiro
de 2014, com o fim de promover, aprofundar e dinamizar o intercâmbio entre mulheres
da comunidade luso-venezuelana e pessoas interessadas nos aspetos históricos,
sociais, culturais e jurídicos das migrações.
EM AGENDA
A Associação Mulher Migrante, o Consulado de Portugal em
Mérida, a Casa Portuguesa e a Fundação Luso-venezuelana “Casa Madeira” levarão
a cabo o 1º Encontro Regional da Comunidade Portuguesa no Estado de Mérida e a
tomada de posse da 1ª Comissão Regional em Mérida, no sábado, 31 de Outubro,
pelas 03:30 pm. O ato terá lugar no Salão “Tibisay” do Hotel “La Pedregosa”,
situado no final da avenida Los Próceres, zona industrial. Os interessados em
participar deverão contactar os organizadores pelos telefones (0412)329785,
(0414)7448746 e (0414)7172180, ou escrever para o endereço de correio
eletrónico: contacto@mulhermigrante.org.ve
Para deixar de receber as noticias e atividades da Associação Nacional “Mulher Migrante” na Venezuela (MM-VE)
www.mulhermigrante.org.ve/mailman/listinfo/noticias_mulhermigrante.org.ve
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Área de anexos
Junto enviamos trabalho de Manuela Rosa - Pretoria, Africa
do Sul
Com os melhores cumprimentos,
Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul
Curriculum vitae resumido
Manuela Baptista Rosa nasceu a 3 de Janeiro de 1942, na Madeira onde estudou até concluir o Magistério Primário e onde leccionou no Ensino Básico até 1972. Emigrou então para a África do Sul e, desde 1973 até 1997, foi professora e directora pedagógica da escola portuguesa da Associação da Comunidade Portuguesa de Pretória. Volta à Madeira onde exerce no 1o ciclo do Ensino Básico até 1999. Regressa à África do Sul leccionando, então, português como língua estrangeira, nas escolas locais até 2006. Entretanto, termina em 2004 a licenciatura em Formação Científica e Pedagógica pela Universidade Aberta.
Na África do Sul, participou de várias formas no trabalho com a comunidade e no movimento associativo. Foi directora cultural, fundadora do Rancho Folclórico e presidente da Casa Social da Madeira; membro fundador e vice-presidente da secção feminina da Sociedade de Beneficiência "Os Lusíadas"; membro fundador, honorário e presidente executivo nacional da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul; membro desde a fundação da Mulher Migrante. Foi Conselheira das Comunidades Portuguesas e é Conselheira das Comunidades Madeirenses. Desde 1980, foi membro da Sub-Comissão organizadora das Comemorações do Dia de Portugal em Pretória, sendo desde 1996 membro da Comissão de Honra. Recebeu a Medalha de Mérito da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e o Grau de Comenda da Ordem de Instrução Pública.
Intervencao no congresso de Espinho:
A INTEGRACÃO DA MULHER PORTUGUESA NA ÁFRICA DO SUL
Através dos contactos que tenho tido com a comunidade em geral, e com a feminina, mais em particular, e com todo o Associativismo na África do Sul, aprendi a viver a sentir muitos dos seus problemas.
A Mulher, parte do agregado familiar, ao sair de Portugal, por circunstâncias várias, trouxe consigo dois grandes anseios:
1o. Ajudar a família a vencer na vida.
2o. Poder um dia voltar às suas origens, à sua aldeia, aos seus familiares.
Com estes anseios acompanhou o marido e enfrentaram juntos grandes dificuldades, desde as económicas, linguísticas, aos diferentes costumes e tradições as condições de trabalho e as práticas religiosas e até mesmo as condições climáticas.
O emigrante ao chegar aos países de acolhimento tentou minimizar o seu isolamento agrupando-se para fundar associações relacionadas com a sua identificação de origem e clubista para assim falar na sua própria língua, das memórias e da saudade de tudo o que ficara para trás - a paisagem, os seus familiares, o seu clube preferido, as festas, as romarias, etc.
O casal chegou na flor da idade com uma esperança dominante de realizar rapidamente os seus sonhos, mas que, de uma maneira geral, nem sempre conseguiu tão facilmente.
Sabemos que as memórias do passado colectivo, garantem a continuidade de um ser, mas na situação do emigrante, estas memórias são muito mais acutilantes.
O emigrante criou verdadeiros monumentos - padrões de portugalidade neste país - criou escolas, ranchos folclóricos, organizações de solariedade social, encontros gastronómicos e culturais para assim se identificar. Hoje muitas destas associações estão a sofrer por falta de assiduidade relacionada com os movimentos migratórios da comunidade e por vezes por falta de interesse da juventude e problemas de gestão.
E agora pergunto eu: Qual é o papel da mulher em todo este percurso?
A mulher, a esposa, a mãe, a dona de casa, a operária, a empregada que ao lado do marido trabalha e trabalhou no comércio e nas fazendas,e que lado a lado lutou para que a associação por ela criada, pudesse crescer e desenvolver, estava votada ao esquecimento, tinha um papel secundário nesse sector, com as tarefas mais duras e desgastantes nas cozinhas, nas limpezas, sem nada reclamar e sem nunca ser incluída nos corpos directivos das mesmas organizações.
O emigrante português trouxe consigo a sua identificação e pertença, mas o modelo patriarcal como fora criado, estava bem arreigado no seu ser - até mesmo hoje nos seus descendentes. Dificilmente aceitou uma mulher como presidente da associação a que pertence.
No entanto estas ideias tem-se atenuado um pouco ao longo dos tempos. Em algumas instâncias, infelizmente muito poucas, a mulher portuguesa de hoje já não é só reconhecida pelo seu impecável papel de mãe e de dona de casa, é um elemento integrado na vida social, económica, política (neste sentido ainda tem muito para lutar), desportiva e cultural na África do Sul, (principalmente as camadas mais jovens), mas com uma sensibilidade superior que a distingue do homem!
Como dirigente tem dado provas de grande responsabilidade e competência, muito em especial na integração da juventude nas associações, com actividades que atraem jovens de ambos os sexos.
O NASCIMENTO DA LIGA
Um grupo de mulheres portuguesas sensível ao isolamento de muitas das nossas conterraneas ( temos que recordar aqui que não havia na altura qualquer acesso televisivo em lingua portuguesa), formou-se 1988 a Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, com o lema "Contribuindo para um mundo melhor". É uma organização com múltiplos objectivos entre eles promover a coesão das mulheres portuguesas, promover, desenvolver e preservar a cultura e tradições portuguesas através da divulgação e discussão dos mais variados tópicos assim como a mulher no seu desenvolvimento individual, defender os seus direitos e sempre que necessário, actuar em sua defesa, dos seus filhos e de toda a sua família. Nesse ano criaram-se os Estatutos. A 20 de Maio de 1989 realiza-se a 1a. reunião pública à qual aderem cerca de 230 mulheres portuguesas, no Hotel Boulevard da mesma cidade. Dois anos mais tarde formam-se as filiais de Durban, Cidade do Cabo e Rustenberg.
Através da Liga, fomentou-se ainda a integração da mulher com outras comunidades tornando-se mais sensível e conhecedora dos problemas que a rodeiam, e mais consciente do seu papel neste país visto enfrentar problemas comuns. Estes convívios são um manancial de enriquecimento cultural e colaboração, outro dos objectivos da Liga da Mulher.
A identidade de um povo está ligada à sua lingua e cultura e nesse sentido, a Liga luta pela defesa continua desses ideais. Como mãe e educadora, a mulher é a pessoa certa para transmitir esses nobres valores a toda a familia. Acreditamos que educar uma mulher é educar uma sociedade.
Enquanto que a sociedade portuguesa em Portugal, e a nível Europeu, evoluiu em termos do papel e importância da mulher nas várias facetas da sociedade (o que aliás é a situação que actualmente vivemos também na sociedade sul africana- na nova e democrática África do Sul) este não é o caso propriamente dito na sociedade emigrante portuguesa neste país.
Nota-se a existência de uma separação entre as 1as. e 2as. gerações a que me referi no início desta apresentação e as chamadas 3as. e 4as. gerações ou seja - jovens mulheres já nascidas neste país e que vivem portanto num mundo de dualidade - um existir patriarcal arreigado no seio familiar - de pais e avós - e uma maior abertura na sociedade em geral em que estão inseridas, que é a sociedade que profissionalmente lhe vai assegurar o futuro - seu e da sua família. O que acontece é que estas jovens acabam por não se identificarem com estes valores ultrapassados da sociedade portuguesa neste país e estão a perder o contacto com a língua portuguesa.
A Liga continua na sua luta pela valorização da comunidade. Procuramos soluções para as gerações mais jovens, e acreditamos que este congresso poderá ser um manacial de ideias e experiências noutros países da diáspora.
Foi o último Encontro para a Cidadania- Congresso da Mulher Migrante na África do Sul, que incentivou um sonho antigo que tenta dar resposta à situação em que se encontram as primeiras gerações.
Assim, ao comemorar os seus 20 anos de existência na África do Sul (a 7 de Dezembro de 2008) e atenta ao facto de que o grupo das 1as gerações está numa nova etapa da sua vida, a Liga está a desenvolver um projecto de criação de uma universidade sénior que se chama Boa Esperança por acreditarmos que trará mais confiança e ânimo aos seus alunos como o dobrar do Cabo trouxe aos marinheiros portugueses em 1488. A universidade sénior portuguesa está a suscitar grande entusiasmo na África do Sul e confiamos que dará boas oportunidades a todos, principalmnete aqueles que pela sua condição de vida têm mais tempo disponível para dar e receber novos connhecimentos. Força porque ainda somos úteis! A universidade é um espaço privilegiado para cada qual poder partilhar a sua experiência os seus conhecimentos e talentos.
Apesar de já existirem universidades séniores na África do Sul justifica-se esta em português pois a comunidade lusófona da classe etária para a qual a universidades séniores se dirige isolou-se ao nível da lingua e do convívio porque as prioridades inicialmente eram outras.
A propósito da universidade senior, mencionei o último Congresso da Mulher Migrante realizado na África do Sul e trago-vos, em nome da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, algumas impressões sobre este evento.
ENCONTROS PARA A CIDADANIA - ÁFRICA DO SUL
Honrou-nos com a sua presença um grupo de ilustres visitantes, nomeadamente a Sra. Dra Maria Barroso, a Sra. Dra Manuela Aguiar, a Sra Dra Rita Gomes, a Sra. Dra. Beatriz Rocha Trindade, a Sra. D. Carol Marques, a Sra. Dra.Vera Moreno e a Sra. Dra. Graça Guedes, todas pertencentes a Associação Mulher Migrante.
Estes membros da Associação Mulher Migrante apresentaram os diversos temas e foram moderadoras das intervenções a nível local.
Além do sacrifício de uma viagem de tantas horas de avião, estas “Mulheres Extraordinárias” trouxeram consigo, ensinamentos profundos, baseados na sua vasta experiência de trabalho com a Mulher Migrante no Mundo.
Trouxeram também consigo, calor humano, amizade, simpatia e interesse pela causa da Mulher particularmente da Mulher Migrante. Trouxeram também algo de maravilhoso que foi a nossa Lingua. Foi tão bom ouvir falar bom Português! Adoramos estar convosco.
Nas várias sessões de trabalho foram partilhadas vivências e situações de outras Comunidades Migrantes Portuguesas e não só, que nos mostraram que muitos dos problemas e desafios que enfrentamos não são únicos a nossa Comunidade, mas verificam-se quase a nível geral de Migração.
Reiteraram os problemas que as mulheres ainda encontram no mundo actual devido à desigualdade de género e crenças e práticas culturais de discriminação. Foram discutidos aspectos de identificação e de pertença como factores importantes na dinâmica integracional da mulher migrante nas comunidades de acolhimento.
Foram também focados o papel da mulher no trabalho e no associativismo e a sua contribuição não só para a sua comunidade mas também para o enriquecimento da comunidade de acolhimento. Falou-se ainda do percurso da mulher no ensino escolar e universitário que tem vindo a melhorar com as novas gerações e verificou-se também que a participação da mulher no desporto é uma realidade cada vez maior e que a mulher é capaz de grandes conquistas nesta área .
Por outro lado, os Encontros, facultaram a um grupo de mulheres na Africa do Sul a oportunidade de dialogarem umas com as outras e partilharem assuntos de interesse comum ficando também mais esclarecidas sobre vários aspectos relacionados com a sua condição de Mulher Migrante.
ENCONTROS PARA A CIDADANIA - CONCLUSÄO
Os encontros para a cidadania que são encerrados neste Congresso, e que ao longo destes 4 anos se realizaram nos diferentes países da diáspora, com o maior sucesso, foram um alerta à Mulher Migrante da sua importância, do seu papel como cidadã portuguesa, como cidadã do mundo! Tornar a mulher mais consciente, mais conhecedora dos seus direitos e deveres, no mundo em que está integrada. A mulher não pode ficar alheia aos problemas sejam eles ligados à família, à economia ou à política! Tudo está interligado! A mulher portuguesa sempre foi conhecida por ser excelente mãe e esposa, exímia dona de casa, mas nunca se envolveu profundamente na política. Talvez ocupava simplesmente o lugar que lhe era indicado pelos maridos. Hoje, tudo se transformou e encontramos mulheres muito mais envolvidas nesses sectores e até com cargos de chefia, nos mais diversos postos de trabalho.
Na África do Sul, nas novas gerações é isso que está a acontecer. No entanto foram muitos os anos de isolamento a que a mulher foi votada por esses países de emigração. A RTP Internacional veio dar um grande impulso, uma grande companhia a muitas mulheres que passavam os dias isoladas, enquanto os maridos saíam para os seus empregos. Ouvem falar a sua língua diariamente através da TV e ficam a par daquilo que se passa em Portugal. É um elo de ligação, é uma globalização que nos une aos nossos irmãos que ficaram na nossa terra natal! Ao mesmo tempo mostra o caminho a seguir em muitos sectores da vida do país- temos de nos integrar, temos de acordar e mostrar quão importante é ser Bom Cidadão! E dar a nossa opinião válida da qual podem depender muitas resoluções. Com a nossa colaboração directa tudo pode mudar - para melhor ou pior- conforme nos consciencializamos desse papel!
Com os melhores cumprimentos,
Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul
Curriculum vitae resumido
Manuela Baptista Rosa nasceu a 3 de Janeiro de 1942, na Madeira onde estudou até concluir o Magistério Primário e onde leccionou no Ensino Básico até 1972. Emigrou então para a África do Sul e, desde 1973 até 1997, foi professora e directora pedagógica da escola portuguesa da Associação da Comunidade Portuguesa de Pretória. Volta à Madeira onde exerce no 1o ciclo do Ensino Básico até 1999. Regressa à África do Sul leccionando, então, português como língua estrangeira, nas escolas locais até 2006. Entretanto, termina em 2004 a licenciatura em Formação Científica e Pedagógica pela Universidade Aberta.
Na África do Sul, participou de várias formas no trabalho com a comunidade e no movimento associativo. Foi directora cultural, fundadora do Rancho Folclórico e presidente da Casa Social da Madeira; membro fundador e vice-presidente da secção feminina da Sociedade de Beneficiência "Os Lusíadas"; membro fundador, honorário e presidente executivo nacional da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul; membro desde a fundação da Mulher Migrante. Foi Conselheira das Comunidades Portuguesas e é Conselheira das Comunidades Madeirenses. Desde 1980, foi membro da Sub-Comissão organizadora das Comemorações do Dia de Portugal em Pretória, sendo desde 1996 membro da Comissão de Honra. Recebeu a Medalha de Mérito da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e o Grau de Comenda da Ordem de Instrução Pública.
Intervencao no congresso de Espinho:
A INTEGRACÃO DA MULHER PORTUGUESA NA ÁFRICA DO SUL
Através dos contactos que tenho tido com a comunidade em geral, e com a feminina, mais em particular, e com todo o Associativismo na África do Sul, aprendi a viver a sentir muitos dos seus problemas.
A Mulher, parte do agregado familiar, ao sair de Portugal, por circunstâncias várias, trouxe consigo dois grandes anseios:
1o. Ajudar a família a vencer na vida.
2o. Poder um dia voltar às suas origens, à sua aldeia, aos seus familiares.
Com estes anseios acompanhou o marido e enfrentaram juntos grandes dificuldades, desde as económicas, linguísticas, aos diferentes costumes e tradições as condições de trabalho e as práticas religiosas e até mesmo as condições climáticas.
O emigrante ao chegar aos países de acolhimento tentou minimizar o seu isolamento agrupando-se para fundar associações relacionadas com a sua identificação de origem e clubista para assim falar na sua própria língua, das memórias e da saudade de tudo o que ficara para trás - a paisagem, os seus familiares, o seu clube preferido, as festas, as romarias, etc.
O casal chegou na flor da idade com uma esperança dominante de realizar rapidamente os seus sonhos, mas que, de uma maneira geral, nem sempre conseguiu tão facilmente.
Sabemos que as memórias do passado colectivo, garantem a continuidade de um ser, mas na situação do emigrante, estas memórias são muito mais acutilantes.
O emigrante criou verdadeiros monumentos - padrões de portugalidade neste país - criou escolas, ranchos folclóricos, organizações de solariedade social, encontros gastronómicos e culturais para assim se identificar. Hoje muitas destas associações estão a sofrer por falta de assiduidade relacionada com os movimentos migratórios da comunidade e por vezes por falta de interesse da juventude e problemas de gestão.
E agora pergunto eu: Qual é o papel da mulher em todo este percurso?
A mulher, a esposa, a mãe, a dona de casa, a operária, a empregada que ao lado do marido trabalha e trabalhou no comércio e nas fazendas,e que lado a lado lutou para que a associação por ela criada, pudesse crescer e desenvolver, estava votada ao esquecimento, tinha um papel secundário nesse sector, com as tarefas mais duras e desgastantes nas cozinhas, nas limpezas, sem nada reclamar e sem nunca ser incluída nos corpos directivos das mesmas organizações.
O emigrante português trouxe consigo a sua identificação e pertença, mas o modelo patriarcal como fora criado, estava bem arreigado no seu ser - até mesmo hoje nos seus descendentes. Dificilmente aceitou uma mulher como presidente da associação a que pertence.
No entanto estas ideias tem-se atenuado um pouco ao longo dos tempos. Em algumas instâncias, infelizmente muito poucas, a mulher portuguesa de hoje já não é só reconhecida pelo seu impecável papel de mãe e de dona de casa, é um elemento integrado na vida social, económica, política (neste sentido ainda tem muito para lutar), desportiva e cultural na África do Sul, (principalmente as camadas mais jovens), mas com uma sensibilidade superior que a distingue do homem!
Como dirigente tem dado provas de grande responsabilidade e competência, muito em especial na integração da juventude nas associações, com actividades que atraem jovens de ambos os sexos.
O NASCIMENTO DA LIGA
Um grupo de mulheres portuguesas sensível ao isolamento de muitas das nossas conterraneas ( temos que recordar aqui que não havia na altura qualquer acesso televisivo em lingua portuguesa), formou-se 1988 a Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, com o lema "Contribuindo para um mundo melhor". É uma organização com múltiplos objectivos entre eles promover a coesão das mulheres portuguesas, promover, desenvolver e preservar a cultura e tradições portuguesas através da divulgação e discussão dos mais variados tópicos assim como a mulher no seu desenvolvimento individual, defender os seus direitos e sempre que necessário, actuar em sua defesa, dos seus filhos e de toda a sua família. Nesse ano criaram-se os Estatutos. A 20 de Maio de 1989 realiza-se a 1a. reunião pública à qual aderem cerca de 230 mulheres portuguesas, no Hotel Boulevard da mesma cidade. Dois anos mais tarde formam-se as filiais de Durban, Cidade do Cabo e Rustenberg.
Através da Liga, fomentou-se ainda a integração da mulher com outras comunidades tornando-se mais sensível e conhecedora dos problemas que a rodeiam, e mais consciente do seu papel neste país visto enfrentar problemas comuns. Estes convívios são um manancial de enriquecimento cultural e colaboração, outro dos objectivos da Liga da Mulher.
A identidade de um povo está ligada à sua lingua e cultura e nesse sentido, a Liga luta pela defesa continua desses ideais. Como mãe e educadora, a mulher é a pessoa certa para transmitir esses nobres valores a toda a familia. Acreditamos que educar uma mulher é educar uma sociedade.
Enquanto que a sociedade portuguesa em Portugal, e a nível Europeu, evoluiu em termos do papel e importância da mulher nas várias facetas da sociedade (o que aliás é a situação que actualmente vivemos também na sociedade sul africana- na nova e democrática África do Sul) este não é o caso propriamente dito na sociedade emigrante portuguesa neste país.
Nota-se a existência de uma separação entre as 1as. e 2as. gerações a que me referi no início desta apresentação e as chamadas 3as. e 4as. gerações ou seja - jovens mulheres já nascidas neste país e que vivem portanto num mundo de dualidade - um existir patriarcal arreigado no seio familiar - de pais e avós - e uma maior abertura na sociedade em geral em que estão inseridas, que é a sociedade que profissionalmente lhe vai assegurar o futuro - seu e da sua família. O que acontece é que estas jovens acabam por não se identificarem com estes valores ultrapassados da sociedade portuguesa neste país e estão a perder o contacto com a língua portuguesa.
A Liga continua na sua luta pela valorização da comunidade. Procuramos soluções para as gerações mais jovens, e acreditamos que este congresso poderá ser um manacial de ideias e experiências noutros países da diáspora.
Foi o último Encontro para a Cidadania- Congresso da Mulher Migrante na África do Sul, que incentivou um sonho antigo que tenta dar resposta à situação em que se encontram as primeiras gerações.
Assim, ao comemorar os seus 20 anos de existência na África do Sul (a 7 de Dezembro de 2008) e atenta ao facto de que o grupo das 1as gerações está numa nova etapa da sua vida, a Liga está a desenvolver um projecto de criação de uma universidade sénior que se chama Boa Esperança por acreditarmos que trará mais confiança e ânimo aos seus alunos como o dobrar do Cabo trouxe aos marinheiros portugueses em 1488. A universidade sénior portuguesa está a suscitar grande entusiasmo na África do Sul e confiamos que dará boas oportunidades a todos, principalmnete aqueles que pela sua condição de vida têm mais tempo disponível para dar e receber novos connhecimentos. Força porque ainda somos úteis! A universidade é um espaço privilegiado para cada qual poder partilhar a sua experiência os seus conhecimentos e talentos.
Apesar de já existirem universidades séniores na África do Sul justifica-se esta em português pois a comunidade lusófona da classe etária para a qual a universidades séniores se dirige isolou-se ao nível da lingua e do convívio porque as prioridades inicialmente eram outras.
A propósito da universidade senior, mencionei o último Congresso da Mulher Migrante realizado na África do Sul e trago-vos, em nome da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul, algumas impressões sobre este evento.
ENCONTROS PARA A CIDADANIA - ÁFRICA DO SUL
Honrou-nos com a sua presença um grupo de ilustres visitantes, nomeadamente a Sra. Dra Maria Barroso, a Sra. Dra Manuela Aguiar, a Sra Dra Rita Gomes, a Sra. Dra. Beatriz Rocha Trindade, a Sra. D. Carol Marques, a Sra. Dra.Vera Moreno e a Sra. Dra. Graça Guedes, todas pertencentes a Associação Mulher Migrante.
Estes membros da Associação Mulher Migrante apresentaram os diversos temas e foram moderadoras das intervenções a nível local.
Além do sacrifício de uma viagem de tantas horas de avião, estas “Mulheres Extraordinárias” trouxeram consigo, ensinamentos profundos, baseados na sua vasta experiência de trabalho com a Mulher Migrante no Mundo.
Trouxeram também consigo, calor humano, amizade, simpatia e interesse pela causa da Mulher particularmente da Mulher Migrante. Trouxeram também algo de maravilhoso que foi a nossa Lingua. Foi tão bom ouvir falar bom Português! Adoramos estar convosco.
Nas várias sessões de trabalho foram partilhadas vivências e situações de outras Comunidades Migrantes Portuguesas e não só, que nos mostraram que muitos dos problemas e desafios que enfrentamos não são únicos a nossa Comunidade, mas verificam-se quase a nível geral de Migração.
Reiteraram os problemas que as mulheres ainda encontram no mundo actual devido à desigualdade de género e crenças e práticas culturais de discriminação. Foram discutidos aspectos de identificação e de pertença como factores importantes na dinâmica integracional da mulher migrante nas comunidades de acolhimento.
Foram também focados o papel da mulher no trabalho e no associativismo e a sua contribuição não só para a sua comunidade mas também para o enriquecimento da comunidade de acolhimento. Falou-se ainda do percurso da mulher no ensino escolar e universitário que tem vindo a melhorar com as novas gerações e verificou-se também que a participação da mulher no desporto é uma realidade cada vez maior e que a mulher é capaz de grandes conquistas nesta área .
Por outro lado, os Encontros, facultaram a um grupo de mulheres na Africa do Sul a oportunidade de dialogarem umas com as outras e partilharem assuntos de interesse comum ficando também mais esclarecidas sobre vários aspectos relacionados com a sua condição de Mulher Migrante.
ENCONTROS PARA A CIDADANIA - CONCLUSÄO
Os encontros para a cidadania que são encerrados neste Congresso, e que ao longo destes 4 anos se realizaram nos diferentes países da diáspora, com o maior sucesso, foram um alerta à Mulher Migrante da sua importância, do seu papel como cidadã portuguesa, como cidadã do mundo! Tornar a mulher mais consciente, mais conhecedora dos seus direitos e deveres, no mundo em que está integrada. A mulher não pode ficar alheia aos problemas sejam eles ligados à família, à economia ou à política! Tudo está interligado! A mulher portuguesa sempre foi conhecida por ser excelente mãe e esposa, exímia dona de casa, mas nunca se envolveu profundamente na política. Talvez ocupava simplesmente o lugar que lhe era indicado pelos maridos. Hoje, tudo se transformou e encontramos mulheres muito mais envolvidas nesses sectores e até com cargos de chefia, nos mais diversos postos de trabalho.
Na África do Sul, nas novas gerações é isso que está a acontecer. No entanto foram muitos os anos de isolamento a que a mulher foi votada por esses países de emigração. A RTP Internacional veio dar um grande impulso, uma grande companhia a muitas mulheres que passavam os dias isoladas, enquanto os maridos saíam para os seus empregos. Ouvem falar a sua língua diariamente através da TV e ficam a par daquilo que se passa em Portugal. É um elo de ligação, é uma globalização que nos une aos nossos irmãos que ficaram na nossa terra natal! Ao mesmo tempo mostra o caminho a seguir em muitos sectores da vida do país- temos de nos integrar, temos de acordar e mostrar quão importante é ser Bom Cidadão! E dar a nossa opinião válida da qual podem depender muitas resoluções. Com a nossa colaboração directa tudo pode mudar - para melhor ou pior- conforme nos consciencializamos desse papel!
Conclusões do II Congresso Nacional da Mulher Portuguesa na
Venezuela
1.
Considera-se que o associativismo feminino português
nasceu da vocação de serviço de apoio à comunidade.
2. Anotou-se
uma grande restrição ao nosso gênero por parte do público masculino, convencido
de que as mulheres seriam incapazes de assumir papéis importantes ou
significativos na nossa sociedade.
3. A
mulher Lusa aprendeu a organizar-se, sem abandonar a sua responsabilidade e o
seu rol familiar, a gerir o seu tempo para juntar-se ao associativismo, ao
conseguir uma pequena independência e assim poder ajudar os mais necessitados.
4. Identificou-se
a perda da língua portuguesa nas novas gerações e da nossa Portugalidade devido
a que os portugueses quando chegaram à Venezuela eram na sua maioria
agricultores, construtores, e eram ridicularizados verbalmente obrigando-os a
aprender a língua do país de acolhimento e assim evitar que o mesmo sucedesse
aos seus filhos
5. Apontou-se
que o abandono do Governo Português durante muitos anos provocou que as
famílias luso-venezuelanas se afastassem das suas tradições, perdendo assim
parte da nossa idiossincrasia e por tanto a nossa Portugalidade.
6. Defendeu-se
a igualdade a todos os níveis da inclusão da mulher luso-venezuelana como
impacto fundamental no associativismo, na rede empresarial, na cultura do lar e
na profissionalização dentro das carreiras universitárias
7. Apoiar
as ações da Federação dos Centros Portugueses na Venezuela (Feceporven) como
coordenador nacional da inclusão associativa, desportiva, cultural e artística.
8. Citou-se
J. Pereira (2012): “A portugalidade vive em cada canto do “mundo português”, em
cada utilizador da língua de Camões e é extensível a qualquer individuo que,
por diversos motivos, apoia-se nesse código de comunicação que arrastra seculos
de memória e identidade”
9. A
saudade levou a mulher portuguesa na Venezuela a gerar sentimentos emocionais
na procura da recreação de toda a bagagem cultural, social, religiosa que
tivera que deixar atrás
10. Enalteceu-se a
obra sociocultural das diretivas femininas luso-venezuelanas como pilar fundamental
na defesa da identidade e da portugalidade.
11. Verificou-se
que na Venezuela existe uma percentagem mínima de estruturas teatrais
lusos-venezuelanas devido à falta de apoio e motivação dos diretivos das
associações.
12. Observou-se um
crescimento de oportunidades para as novas gerações devido ao nível académico
superior alcançado na atualidade.
13. Tomou-se em
consideração a crescente presença do movimento associativo e folclórico nas
redes sociais permitindo uma maior interação da juventude luso-venezuelana e da
aproximação da portugalidade.
14. Lamentou-se a
ausência da missão diplomática e postos consulares nas redes sociais, o que
permitiria uma maior aproximação dos serviços públicos portugueses e dos
cidadãos.
15. Felicitou-se a
comunidade portuguesa no seu geral como um coletivo de orgulho português.
16. Reconheceu-se o
excelente trabalho dos clubes e grupos folclóricos portugueses durante décadas
em prol da portugalidade.
17. Entristeceu a
atual situação e a falta de orientação do atual CCP como único órgão eleito
pela diáspora portuguesa no mundo.
18. Reconheceu-se o
trabalho dos conselheiros da Venezuela na promoção da iniciativa para a
abertura dos Consulados Honorários em Ciudad Guayana, Los Teques e Mérida, e o
agendamento de dezenas de jornadas consulares no país.
19. Louvou-se o
apoio da SECP/DGACCP, do Consulado Geral de Portugal em Caracas, das empresas
portuguesas e da rede associativa que permitiu a realização com êxito do II
Congresso Nacional da Mulher Portuguesa na Venezuela
20. Agradeceu-se a
disponibilidade e a participação ativa dos congressistas presentes.
Caracas (Venezuela), domingo 9 de novembro de 2014
Presença das associadas da AEMM-Norte
. As tertúlias da cooperativa Nascente. 1 de
Abril
Portugal Cais do mundo? 1 de abril
Convidada Drª Maria Manuela Aguiar. Moderador; Mestre
Teixeira Lopes
. III Bienal Internacional Mulheres
d'Artes , 25 de abril FACE 16.00.
Participação de algumas das Artistas Plásticas que têm
colaborado com a AEMM - e mulheres migrantes, como Ana del Rio e Ludmilla,
Alvarenga Marques, Ana Maia, Ariadne Papucciu, Inês Abrantes, Ny Machado, Paula
Robles, Setas Ferro,Yessica de Sousa
Exmº Senhor
Dr. José Arantes
Digº Diretor da RTP África
Com os nossos melhores cumprimentos, vimos solicitar a V. Exª o texto da Intervenção que teve a amabilidade de fazer no Colóquio " Diálogos sobre Cultura, Cidadania e Género, na Universidade da Sorbonne Nouvelle, no passado dia 10 de Setembro de 2015.
Pedimos desculpa, mas, como não temos conseguido contatar com a Profª Doutora Isabelle Oliveira e temos um curto espaço de tempo para completar a Publicação sobre as Atividades da Associação relativas a 2015, vimos solicitar a V. Exª o favor de nos enviar o seu valioso texto, a fim de o integrarmos nessa nossa Publicação.
Ficamos, desde já muito reconhecidas por mais esta atenção..
Com o nosso maior reconhecimento e sempre muito gratas/os
Pela Associação Mulher Migrante
Rita Gomes
Dr. José Arantes
Digº Diretor da RTP África
Com os nossos melhores cumprimentos, vimos solicitar a V. Exª o texto da Intervenção que teve a amabilidade de fazer no Colóquio " Diálogos sobre Cultura, Cidadania e Género, na Universidade da Sorbonne Nouvelle, no passado dia 10 de Setembro de 2015.
Pedimos desculpa, mas, como não temos conseguido contatar com a Profª Doutora Isabelle Oliveira e temos um curto espaço de tempo para completar a Publicação sobre as Atividades da Associação relativas a 2015, vimos solicitar a V. Exª o favor de nos enviar o seu valioso texto, a fim de o integrarmos nessa nossa Publicação.
Ficamos, desde já muito reconhecidas por mais esta atenção..
Com o nosso maior reconhecimento e sempre muito gratas/os
Pela Associação Mulher Migrante
Rita Gomes
6 - O
CCP (15 páginas)
texto de Vitor Gil
Memória do 1º CCP Manuela Aguiar
As Mulheres no CCP
Eleições 2015 : Entrevistas as mulheres conselheiras
MULHERES MIGRANTES no Conselho das Comunidades Portuguesas
MARIA VIOLANTE MARTINS, presidente da Associação das Mulher
Migrantes Portuguesas da Argentina, MILÚ DE ALMEIDA e FÁTIMA PONTES, Presidente
e Vice-presidente da Associação da Mulher Migrante da Venezuela, concorreram às
eleições para o CCP, neste mês de setembro de 2015, como cabeças de lista e venceram.
Entraram no Conselho pelo voto das suas comunidades e entraram também na
história desta instituição e na do movimento associativo, que lhe dá força
identitária e personalidades com um saber de experiência feito em terra
estrangeira..
Chegam as três de um associativismo feminino, que, pela
primeira vez, na nossa Diáspora ultrapassa as fronteiras de uma região ou de um
país, e inclui nos seus principais objetivos a igualdade de participação cívica
e política das mulheres. Pela primeira vez, vimos as suas dirigentes a tomar a
iniciativa de constituir listas para o CCP - listas abertas, paritárias - a fim
de assumirem a defesa dos intereses das comunidades a que pertencem e dos seus
compatriotas no interior do órgão que os representa face ao governo de Portugal.
O CCP foi inicialmente um universo de homens, que dominavam
as intituições das comunidades - sua primordial base de recrutamento, nos
termos da lei fundadora. Aliás, ainda hoje, num modelo de eleição por sufrágio
universal, a maioria dos seus membros são homens, a que acresce uma minoria de
mulheres, quase todas e todos provenientes do viveiro de lideranças e de
notoriedade, que é o associativismo.
É certo que, desde o começo do século XX, coexistiam em
algumas das então chamadas "colónias" da emigração portuguesa um
amplo círculo das organizações masculinas e um pequeno círculo feminino, uma
elite pioneira, que, em casos contados, deu vida a empreendimentos de ampla
dimensão - por exemplo, as sociedades fraternais da Califórnia. Todavia, as
mulheres dirigentes de ONG's, qualquer que fosse o seu poder de facto, nos anos
80, não se sentiram suficientemente motivadas para intervir numa instância
consultiva, à qual o Governo reconhecia uma enorme importância, como plataforma
para debate de questões prioritárias e definição das grandes linhas das
políticas públicas neste setor. A que se deve o alheamento mais ou menos
voluntário das mulheres? Não é fácil dar respostas a uma interrogação que, de
início, não se colocou, talvez por se considerar - tal era a desproporção da
sua presença no todo institucional - uma inevitabilidade. Talvez pelo facto de
funcionarem em paralelo, à margem do associativismo-padrão, onde pontificava o
outro sexo. Ou - é uma outra hipótese plausível - por terem o seu enfoque
matricial em domínios que julgaram fora das prioridades do CPP - a entreajuda
entre as próprias associadas, o voluntariado beneficente, o puro bem-fazer, em
conformidade com a tradição.
Como sabemos, o movimento feminista de novecentos veio
colocar a tónica na defesa dos direitos de cidadania e no acesso à educação e
ao trabalho profissional ( sem abandonar a vocação beneficente e humanitário),
mas não curou nunca, diretamente, da situação das mulheres migrantes. Estas
foram, de facto, insolitamente esquecidas. Marginalização, na altura, tanto
mais definitiva quanto nas Diásporas, não surgiu, de uma forma autónoma e
espontânea, militância num ativismo norteado pela ideia da igualdade, no campo
político e social. O obra visível das portuguesas expatriadas na esfera pública
floresceu, como dissemos, sobretudo, em moldes menos reivindicativos, mais
consonantes com uma configuração consevadora dos papéis de género.
As primeiras conselheiras do CCP ganharam o lugar nessa
magna assembleia de líderes comunitários, não pela dinâmica coletiva
(feminina), antes tão só pela vontade de intervenção cívica e pelo prestígio
individualmente grangeado entre os seus pares. Não é surpreendente que tenham
vindo sobretudo do jornalismo - caso de CUSTÓDIA DOMINGUES, de MARIA ALICE
RIBEIRO, desde 1983 e , depois, de MANUELA DA LUZ CHAPLIN, advogada, que
mantinha uma colaboração regular e importante na imprensa luso americana..
Creio que MANUELA DA ROSA, fundadora da Liga da Mulher
Portuguesa da África do Sul, terá sido a primeira conselheira oriunda de uma
estrutura feminina (aliás não "feminista", no sentido revolucionário
ou, pelo menos, fortemente reivindicativo, da palavra). Não tendo tido,
provavelmente em razão do sexo, acesso a cargos de relevo na hierarquia do
Conselho, nem por isso deixou de ter sempre uma voz influente, tal como aquelas
cujos nomes acima lembrámos.
A uma conselheira deve o CCP o ficar na história como o
improvável, mas autêntico, impulsionador do embrião de políticas atentas às
especificidades da situação das migrantes . Foi Maria Alice Ribeiro, quem
propôs, em 1984, uma audição governamental de portuguesas da Diáspora, que a
SECP levou a cabo logo em 1985. Foi um auspicioso primeiro passo, que se queria
continuar, com a formação de uma organização internacional, no plano da
sociedade civil, e, a nível das políticas governamentais, através de
conferências periódicas na órbita do Conselho - uma forma hábil de inclusão das
mulheres na vertente consultiva do Conselho.
A Associação "Mulher Migrante" foi criada, quase
uma década depois, em 1993, para reavivar aquela valiosa herança, levando por
diante o projeto de ampla cooperação transnacional para uma participação
igualitária na vida das comunidades e do país.
O segundo CCP é posterior (1996) e não tem manifestado, até
agora, particular propensão para agir no domínio da igualdade de género, apesar
de em muitos outros campos ter sido um poderoso e insubstituível instrumento de
co -participação nas políticas de emigração, de expansão da língua e da cultura
portuguesas, de aprofundamento dos laços com o País de origem e de integração
no país de residência.
É a hora de o CCP se preocupar mais com os fenómenos de
exclusão não só da metade feminina, como também dos mais idosos e experientes,
dos jovens, da nova emigração. Para isso, contamos com a intervenção das
Mulheres Migrantes e com os aliados que, com toda a probabilidade, encontrarão
no interiror do Conselho.
Apesar de a Associação Mulher Migrante - a que está sedeada
em Lisboa, com ramificações pelo mundo - não ter tido qualquer interferência na
apresentação das candidaturas ou nas campanhas vitoriosas das suas associadas
da Argentina e da Venezuela, vè nelas a comprovação da eficácia de uma
estratégia de envolvimento cívico das portuguesas do estrangeiro, desenvolvida,
em colaboração com sucessivos governos, sobretudo a partir dos "Encontros
para a Cidadania", nas Américas, África e Europa entre 2005 e 2009,
continuados com os Encontros mundiais de 2011 e 2013 e outras ações integradas
no que podemos chamar "congressismo". Daí que partilhemos o sabor e o
significado destas vitórias, com um sentimento de esperança num CCP mais
próximo da realidade das comunidades e mais eficaz, porque o equilíbrio de
género é, obviamente, uma mais valia. da representação democrática
ENTREVISTA
Entrevista a José Cesario
Entrevista a José Luís cordeiro
Homenagem
Entrevista ao Maestro
António Victorino d’ Almeida
(A propósito da Conferência/Concerto “A Portugalidade”
integrada na Digressão Internacional Comemorativa dos 75 Anos do Compositor sob
o Alto Patrocínio do Governo de Portugal – Secretaria de Estado das Comunidades
Portuguesas)
Com Miguel Leite e
Manuela Aguiar
ML – Maestro:
Completou este ano 75 anos de idade – muito embora um pouco contrariado com o
facto – mas a verdade é que a propósito deste aniversário realizou uma
Digressão Internacional Comemorativa (a Esch-sur-Alzette no Luxemburgo e a
Puteaux – Paris), tanto quanto sei num tipo de acção que até agora nunca tinha
acontecido, uma acção de estado, de um governo, neste caso do Governo de
Portugal…
AVA – Que eu me
lembre, foi realmente a primeira vez…
ML – … que
oficialmente, através da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas
decidiu por um lado homenageá-lo a si como grande figura da Música em Portugal
dos últimos 60 Anos e, por outro lado, - com uma ideia que todos nós
consideramos interessantíssima – que essa homenagem fosse dupla no sentido em
que pudessem ser também presenteadas as nossas Comunidades Portuguesas
espalhadas por esse mundo fora, uma vez que esta Conferência/Concerto lhes é
particularmente destinada…
A
Associação Mulher Migrante foi efectivamente a grande impulsionadora desta
iniciativa junto deste parceiro institucional e motor da actividade que foi a
SECP.
Assim,
e após esta primeira introdução explicativa que enquadra devidamente esta
entrevista, pergunto como é que o Maestro se sentiu intimamente com este gesto,
com esta acção, e como é que fruiu dela, uma vez que esta Conferência/Concerto
já se realizou no Luxemburgo e em Paris?
AVA – Esse
aspecto oficial devo dizer que me agradou e agrada-me sempre porque… - vamos lá
a ver – eu até admito que no fundo eu seja anarquista… Mas não exerço… E como
tal nós gostamos que o nosso País e aqueles que o representam nos tratem bem. É
verdade! Portanto não nos é indiferente… E eu creio que é mentira quando alguém
diz: Eu não quero homenagens!... Eu prescindo das homenagens!... Não, não… Nós
ficamos muito chateados é por sermos maltratados ou ignorados, porque quando
somos bem tratados temos razão para estar contentes em relação a esse
reconhecimento… E eu tive ocasião de dizer ao Sr. Secretário de Estado (José
Cesário) no almoço que tivemos em Paris que salvo um acontecimento recente em
que tive a assistir a um concerto meu o Sr. Presidente da República Portuguesa
(por razões institucionais dado tratar-se de um Concerto Comemorativo dos 40
Anos da Universidade do Minho), a verdade é que foi a primeira vez (que eu me
lembre) em 60 Anos de Carreira Artística que eu tive um membro do governo a
assistir oficialmente a um concerto meu…
E
cruzei-me imensas vezes com vários Ministros e Governantes dos mais diversos
Partidos em hotéis… E sempre muito delicadamente chegou a resposta: - “Desculpe
lá, tenho tanta pena de não poder ir assistir ao seu Concerto, mas tenho hoje
um jantar a que não posso faltar de maneira nenhuma…” Ou seja: nunca sabem de
nada… Nunca sabem de nada do que se vai passar… ou então têm sempre “uma pescada para descongelar”… (Alusão
humorística a uma frase do seu último Filme – Longa Metragem – “O Tempo e as Bruxas” – Farsa Absurda).
…E
portanto é evidente que não fui nada indiferente, muito pelo contrário, a esse
lado oficial de que esta homenagem se tem revestido.
ML – Muito bem.
Mas quanto à reacção do Público ao Espectáculo propriamente dito…
AVA – Em ambos os
casos a reacção foi muito boa. E devo dizer que tivemos o privilégio de ter
algumas figuras muito especiais entre os espectadores dos Concertos… Desde
logo, no Luxemburgo, com um público muito caloroso e entusiasta, constituído
fundamentalmente por portugueses, de entre os quais destaco o Sr. Embaixador de
Portugal no Luxemburgo – Dr. Carlos Pereira Marques, o Sr. Cônsul Geral de
Portugal no Luxemburgo – Dr. Rui Monteiro e a filha mais nova do herói do 25 de
Abril - Capitão Salgueiro Maia (1944-1992) – Catarina Salgueiro Maia –
Emigrante Portuguesa no Luxemburgo, para além de outras destacadas figuras da
vida portuguesa desse país… Em Paris, para além da já citada muito honrosa
presença do Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas quero destacar
também a presença da Sra. Profª. Doutora Isabelle Oliveira – Vice Reitora da
Université de Paris3 – Sorbonne Nouvelle – associada e parceira local da
Associação Mulher Migrante na realização desta iniciativa… E um facto que eu
efectivamente assinalei é que ser Vice-Reitor da Sorbonne não é propriamente a
mesma coisa do que dirigir a leitaria da esquina… E portanto termos uma
portuguesa como Vice-Reitora da Sorbonne é para mim e para todos nós (acho eu)
um grande motivo de orgulho!... Ainda por cima sendo uma Mulher… Nova… Muito
nova mesmo… Mantendo todas as suas características portuguesas de uma Mulher do
Minho… É claramente uma senhora de Barcelos e continua a sê-lo… E ter essa
posição é algo que tem de ser salientado e que a mim me agradou muito
verificar.
ML –
Relativamente ao aspecto do “Músico Emigrante”… O Maestro também foi de certo
modo um emigrante… Ou por outra, eu não sei se o Maestro foi realmente um
emigrante… Mas, a propósito disso, fale-nos por favor um pouco da sua
experiência dos anos em que viveu fora de Portugal, mais concretamente em Viena
de Áustria.
AVA – De facto eu
não acho que essa expressão seja sempre utilizada de uma forma correcta… Há o
emigrante personalizado pelo Charlot
Emigrante que é o que vai no navio, não é? E que é despejado - digamos
assim - numa terra estranha, sem quaisquer direitos, ou melhor, tendo que
conquistar todo e qualquer direito, começando pelo direito de comer, dormir…
Essa vida do emigrante é uma vida extremamente dura e então aí acresce
obviamente a nostalgia de uma casa… Ainda que a casa que deixou fosse uma casa
muito pobre numa aldeia, mas era a sua casa, a casa onde nasceu não é?... Agora
não se vai pensar que uma pessoa que vai para uma terra estranha com uma Bolsa de
Estudo, para uma cidade como Viena não é a mesma coisa que uma pessoa que
atravessa a fronteira a salto… Ainda que a Bolsa de Estudo fosse muito
fraquinha…
MA - Eventualmente
inferior ao correspondente ao Salário Mínimo Nacional desses tempos…
ML – Mas a
verdade é que inicialmente sentiu uma Viena inóspita…
AVA – Sim, está
bem, mas fui para lá porque quis ir para lá! É uma enorme diferença! Uma coisa
é a pessoa ser obrigada a emigrar… Outra coisa é a pessoa decidir ir viver para
uma cidade para estudar lá…
MA – Mas também
foi estudar para lá porque era melhor do que estudar cá, não é?
AVA – Sim. Isso
também é verdade.
MA – É que eu
estava agora a tentar fazer a
comparação com a nova emigração… É que com esses critérios não é emigração…
AVA – Pois, pois…
Efectivamente eu penso que neste momento há muita gente que está a ir embora e
não tenho a certeza que isso seja voluntário… São pessoas que foram
profundamente frustradas por aquilo que o 25 de Abril lhes prometeu e não deu!
E quando pensaram que iam ter uma vida onde pudessem efectivamente aplicar tudo
aquilo que aprenderam e que são capazes de fazer, são de facto obrigados a ir
para fora. Quanto a esse caso de ir estudar para outro país também não é
exactamente a mesma coisa… Quer dizer: Querem-se conhecer outros professores,
outras escolas… Ao passo que estes novos emigrantes que vão – mesmo que sejam
engenheiros e médicos – esses não vão para lá aprender nada… Vão para lá
trabalhar.
MA – Na parte dos
profissionais que vão para lá trabalhar porque ganham três ou quatro vezes mais
mesmo quando têm emprego aqui ou então quando aqui não têm emprego de todo, é
verdade! Mas também nós estamos a ter uma fuga de cérebros… Os nossos
cientistas estão a ser atraídos pelo estrangeiro porque encontram lá condições
de trabalho e de investigação muito melhores do que as que aqui existem. Se
calhar também foi esse o caso do jovem Maestro António Victorino d’ Almeida
porque realmente Viena é Viena, não é? Em termos de Música…
AVA – Praticamente
todos os da minha geração experimentaram essa ideia de ir para o estrangeiro: a
Maria João Pires (N. 1944) experimentou ir para Munique; a Olga Prats (N. 1938)
foi para Colónia e para Friburgo, o Sequeira Costa (N. 1930) para Paris e
depois para os Estados Unidos… Não fomos verdadeiramente emigrantes…
MA – Acha que
não? Sabe porque é que eu digo isso: É porque eu tive uma Bolsa da Gulbenkian e
estive dois anos em Paris… E adorei viver em Paris… Eu sou uma não-emigrante
forçada! E como tenho um Curso que não serve para nada, ninguém me queria em
França (sou formada em Direito), tive de voltar… Mas eu não queria voltar… Eu
queria ficar em Paris! No meu caso era o contrário! Eu não queria era voltar
para Portugal!
AVA – Mas eu
também não queria voltar de Viena… Eu também vim forçado…
MA – Os
emigrantes têm essa ideia. Para eles a emigração é um acto de dôr, de
sacrifício, de separação… É sempre terrível… E eu olho sempre para eles e penso
assim: Eles conseguiram na vida aquilo que eu gostava e não consegui…
AVA – É verdade,
é verdade. Eu se pudesse vivia em Viena!
MA – Eu também!
Eu também! Se pudesse vivia em Paris!
ML – O Maestro
viveu lá durante 27 anos…
MA – Seu fosse
médica, engenheira electrotécnica, física nuclear… eu estava lá, não é?
AVA – Não,
sinceramente… Eu visito algumas cidades estrangeiras e acho que devo
defender-me para não reagir como um cão!... Ou seja: babar-me de frente das
possibilidades que aquilo oferece e que aqui não existem, não é?
ML – Maestro:
Todos sabemos que foi Adido Cultural da Embaixada de Portugal na Áustria… Mas,
o último lugar, o último trabalho estável, o último emprego – se quiser – que o
Maestro teve em Viena antes de regressar definitivamente a Portugal foi…
AVA – Foi o lugar
de Compositor Residente do Burgtheater de
Viena – trabalhava regularmente (não era o único compositor-residente…
havia mais dois ou três, não sei…), mas eu era um deles… Portanto corresponde
ao nosso Teatro Nacional D. Maria II… O Achim
Benning (N.1935) que era então o Director do Teatro e que também era Encenador
tinha realmente um especial bom entendimento comigo e tenho uma carta dele que
muito me honra em que ele me diz que a sua melhor decisão como Director do
Burgtheater de Viena foi no dia em que me contratou… É bom!... Fiquei muito
contente com isso.
ML – E como é que
se comete a loucura de deixar Viena nessas circunstâncias decidindo vir para
Portugal largando um lugar desses?
AVA – Isso não
foi loucura… Foi uma questão emocional. Tinha que ser. Eu sou filho único. (E
não me arrependo!... Quer dizer…Não me arrependo não é de ser filho único! Não
me arrependo é do que fiz!). Realmente a minha mãe morreu e o meu pai ficou
completamente sozinho. Ou seja: Tinha as três netas em Paris e o único filho em
Viena… E eu acho que dei vinte anos de vida ao meu pai… E de vida boa!... E não
me arrependo nada disso. Acho até que fiz a única coisa que devia fazer e
continuo a dizer que não foi assim um sacrifício… E também não era um dever…
Tinha que ser. Foi uma inevitabilidade. Quando aconteceu a minha mãe morrer eu senti
e idealizei o que ia ser a vida do meu pai… Isolado na Parede (Cascais)… Longe
de todos… Eu disse: Não! Isto não pode ser! Falei á minha mulher e ela
concordou plenamente comigo e viemos para Lisboa… Sabendo todos os riscos que
corríamos e todas as dificuldades que iríamos encontrar…
MA – Quer dizer:
A emigração para Portugal foi muito pior do que a emigração para Viena…
AVA – Sim, sim!
Eu emigrei para Portugal. Só que desta vez eu já não fui surpreendido… Porque…
Houve duas vezes antes em que eu voltei para Portugal…
ML – Isso já foi
depois do 25 de Abril de 1974, não é verdade?
AVA – Sim, claro.
Muito depois do 25 de Abril. Houve uma vez, quando eu acabei o Curso de
Composição em Viena e tive a melhor nota, as coisas estavam a correr bem e
tudo, a minha primeira mulher e eu – lembro-me perfeitamente – andávamos a
passear no Graben de Viena e
pensamos: - Ouve uma coisa: E se fôssemos para Portugal? Tu com este canudo…
Facilmente vais para Professor do Conservatório… Se calhar um dia até acabas em
Director do Conservatório… E viemos para Portugal convencidos… Aí é que foi a
minha surpresa total. É que eles marimbaram-se para o meu Curso em Viena por
completo…
MA – Eles não
tinham portanto não sabiam… O que tem valor é o que eles têm…
AVA - Eu
falava-lhes de coisas que eles não entendiam e eles falavam-me de coisas que eu
não entendia… A certa altura, em pleno desemprego, total desemprego, a minha
sogra (na altura a Odete Saint-Maurice) foi meter uma cunha ao velho Balsemão
(Tio do Dr. Francisco Pinto Balsemão) do Jornal “O Diário Popular” para me
meter como crítico musical d’ “O Diário Popular”… E foi o primeiro emprego que
eu tive… Porque de resto, nada! Não consegui absolutamente nada de nada!
MA – O que
demonstra que muitas vezes Portugal também não consegue aproveitar a
valorização que os portugueses têm no estrangeiro… E isso se nós pensarmos
naquele hipotético regresso de todos os cérebros, de todos os génios e de todos
os talentos que estão a sair de Portugal vemos que será muito problemático o
seu regresso…
AVA – É
problemático. Pode ser muito problemático.
MA – Torna-nos
muito pessimistas em relação ao que estamos a perder e não vamos recuperar…
Isto é uma sociedade pequena que quer ser pequena… Portanto não nos interessa
muito progredir com aqueles que a podem fazer progredir… Não é assim?
AVA – O Aquilino Ribeiro (1885-1963) é que dizia
que nós éramos tão amantes do pequenino, do diminuto que até a nossa mais
bonita província se chamava Minho (dos inhos – diminutivos). E de
facto eu tive realmente uma experiência extraordinária que foi esta: No dia em
que eu fui fazer o meu primeiro trabalho como crítico musical… Era o meu
primeiro emprego, não é? Nesse caso era mesmo o meu primeiro emprego… Em
Portugal e na Áustria… Porque essa foi a primeira vez que eu regressei a
Portugal… Onde passados alguns meses de desemprego lá a minha sogra me arranjou
esse posto de crítico musical… Que não era uma coisa fixa… Era pago à peça… E
eu pus a minha Casaca - porque o S. Carlos obrigava a que se usasse Casaca - e
lá fui eu para o S. Carlos e tive uma sensação: Finalmente estou a trabalhar!
Finalmente estou a fazer alguma coisa. Não era bem aquilo que eu queria… Mas
pronto: estava a trabalhar. Sentei-me, e logo por azar a Ópera era o Cavaleiro da Rosa de Richard Strauss (1864-1949) que é Viena
e Viena e Viena e Viena e eu…. Mal aquilo começou a tocar… Ouço uma voz em mim
que diz: - Eu quero ir embora! Eu quero ir embora! Quando cheguei a casa e a
minha mulher me perguntou: - Então, como é que correu? E eu respondi: - Não
sei. Eu quero ir-me embora! E, a partir daí, esses 6 meses em diante, foram
todos a lutar para voltar para Viena, não sem a perplexidade dos meus pais e
até com uma certa tensão com eles… Porque eles também não percebiam lá muito
bem porque é que eu queria voltar a Viena… Mas, está bem, ainda bem que voltei…
Porque realmente foi aí que eu comecei efectivamente a fazer coisas… Porque se
tivesse ficado aqui tinha ficado a fazer críticas no Diário Popular… E
sinceramente não sei se teria avançado muito mais do que isso… Porque aquilo
ainda dava trabalho… Fazer críticas no Diário Popular… Deitava-me às 6 da manhã
porque tinha que escrever as críticas para saírem no dia seguinte… Depois às
vezes havia concertos à tarde e concertos à noite… Enfim, era muito chato…
Muito chato…
MA – Um penoso
trabalho…
AVA – Sim, era um
penoso trabalho…
ML – Portanto: a
vida de crítico não é uma boa vida…
AVA – Não, não é
uma boa vida. Eu por acaso até acho que escrevi críticas engraçadas… As pessoas
parece que gostavam das críticas que eu fazia e se riam… Mas eu tenho absoluta
consciência de que escrevi muita asneira… Musicalmente falando…
ML – Houve assim
alguma que desse mais brado, de que se recorde?
AVA – Por exemplo
com o Messiaen (Olivier Messiaen
1908-1992): Eu chamei-lhe santeiro e coisas parecidas… Um disparate!
ML - … Mas depois
converteu-se!...
AVA – Claro!
ML – E houve
também um espanhol… O Ramón Barce
(1928-2008) …
AVA – Não, não
foi com o Ramón Barce, foi com o Tomás
Marco (N. 1942) … Isso aí eu fui verdadeiramente mau…
MA – Mas os
críticos é suposto serem verdadeiramente maus…
AVA – Aí era um
Festival de Música Contemporânea… E veio o Tomás Marco…Que é um Compositor Espanhol
de Música Contemporânea… (Eu não gosto nada desse nome… Porque pergunto sempre:
Contemporâneo de quem? Bem… Portanto normalmente já se é contemporâneo de uma
pessoa que até já morreu há 50 anos, mas está bem… Continua a ser Música
Contemporânea) … Mas eu fiz a crítica ao Concerto e disse: - Quanto à peça do
Compositor Tomás Marco não me posso pronunciar pois já não me lembro… O que era
verdade!...
MA – Mas isso é
de uma crueldade terrível!
AVA – É. Mas era
verdade! Mas é uma crueldade terrível… E aí eu vi realmente… Mais tarde… Meses
depois, não é?… Aquele “espanholismo”, aquela nobreza que os espanhóis têm… Têm
realmente alguma coisa… É que então aí sou eu que vou tocar a Espanha… E o
Crítico era o Tomás Marco… E fez-me uma crítica óptima!... Deu-me uma grande
lição!
ML – Mudando de
assunto… Foi o período que esteve em Viena que determinou que um Sportinguista
depois se tornasse num Benfiquista… Ou estou enganado?
AVA – Mas isso
foi logo ao início… Eu era um jovem estudantezinho de 20 anos, vivia num bairro
de Viena onde eu falava com as pessoas e ninguém sabia da existência de
Portugal, deste país… Ninguém! Portugal, Portugal…. Ah! Espanha! Não, não –
dizia eu: Portugal!... E eles: Yah! Espanha!... Não! Lissabone!.... Espanha!
Bem: nada a fazer!...
MA – Estavam
antes de 1640…
AVA – Eu bem sei
que há toda uma literatura inglesa que vem da Idade Média… A tramar-nos… A
contar as piores coisas e inclusivamente até coisas que eu acho que são
profundamente exageradas… Mas, não interessa… A verdade é que ninguém nos
conhecia… Ou conheciam-nos pelas piores razões… Pela Guerra Colonial… Bem, mas
isso era uma classe elevada, uma elite… Porque o resto ninguém sabia. Ora eu
tinha nascido no Campo Grande e portanto aos dez anos eu fui pela primeira vez
sozinho ao Estádio José Alvalade… (Nessa altura as crianças podiam ir ao
futebol sozinhas… Não havia nessa altura energúmenos que andavam por ali a
praticar o vandalismo… Eram pessoas que iam ao futebol e estavam por ali a ver
o jogo… Podia haver uma chapada ou outra, mas não havia claques!) Conheci toda
aquela equipa fantástica do Sporting: Eram os 5 Violinos! Tinha simpatia pelo
Sporting! … Chego a Viena e o Benfica ganha as 2 Taças de Campeão Europeu! Mas
quando o Benfica ganha a Taça ao Real Madrid eu fui para o café ver o jogo… Foi
realmente um jogo incrível! O Real Madrid meteu 2 golos. O Benfica meteu o 2-1
e o Real Madrid responde logo a acabar a 1ª Parte com o 3-1!... Era a acabar!
(Qualquer um desmoralizava). E o Benfica a perder 3-1 vai para a 2ª Parte e faz
3-2, 3-3, 4-3, 5-3… Bem! …E a partir desse dia eu passei a ser conhecido no
bairro como “der portugiesische“!... Eu adquiri a minha nacionalidade em Viena graças
ao Benfica! Lamento muito! Nada tenho contra o Sporting, mas...
MA – O que é certo é que se estivesse em Portugal isso nunca teria acontecido!
AVA – Não. Nunca tinha acontecido.
MA – Essa, é uma reacção de emigrante!
AVA – Pois.
MA – O Benfica acabou por ser um factor identitário...
AVA – Pois claro... Depois o Benfica abandonou essas lides... E passou a ser o
Porto.
MA – Mas nessa altura já não dava para mudar...
AVA – Não, não dava para mudar... No entanto, devo dizer que vibrei muito quando
o F. C. do Porto ganhou e daí o dar-me tão bem com o Pinto da Costa porque eu
fiz um Concerto no dia do jogo e pedi aos empregados de palco que me fossem
dando notícias do jogo... Eu estava a tocar e eles faziam-me gestos para eu ir
percebendo o resultado... E finalmente quando eles disseram 2-1... Eu...
Animei-me totalmente... E não fui jantar com os meus colegas e fui directo para
o aeroporto festejar com a equipa do F. C. do Porto, com o Artur Jorge (aí
fiquei amigo dele) e também do Pinto da Costa porque realmente eu fui
abraçá-los! Foi um grande jogo... O Madjer... O calcanhar do Madjer!
ML – Quanto á Música nos dias de hoje, no nosso país, a sua visão... A Europa...
As correntes musicais... E também as Mulheres na Música que é um aspecto
interessante aqui a realçar...Uma vez que há esta ligação à Associação Mulher
Migrante... O que é que nos pode dizer...
AVA – Se há uma coisa que é um documento da segregação que foi feita secularmente
às mulheres é na Música...
MA – A Música é pior ainda do que a Teologia! Os nomes das Mulheres... Há mais
Mulheres Teólogas do que Músicas Famosas... Ou não?
AVA – Quer dizer... Sim, mas as
Compositoras são muitas mais do que aquilo que se pensa!... Mesmo no passado!
MA – Mas são ainda mais segregadas do que as Teólogas... Eu acho que a Teologia
já é o assim o cúmulo dos cúmulos da segregação... Do reduto masculino... Mas
hoje há Teólogas importantes, não é? Mas Músicas e Músicas Compositoras...
AVA – A Clara Schumann (1819-1896) era
uma grande compositora, a Fanny
Mendelssohn (1805-1847) era uma grande compositora, a Cécile Chaminade (1857-1944) não era tão má compositora como se
disse... Enfim... Naquele estilo um bocadinho delambido... (Não com a pincelada
vigorosa...) Mas ainda assim escrevia muito bem, compunha muito bem... E
havia também muitos homens a compôr daquela maneira, naquela época, não é? E muitas
outras... Muitas outras que nós agora vamos começando a descobrir!
MA – Isso é um pouco a História da Mulher... A História Universal da Mulher é um
pouco isso, não é? Estava lá, mas ocultada...
AVA – Vivia na sombra do marido...
MA – Mas na Música não é mais assim ainda do que na Literatura, por exemplo?
AVA – Bem: Quer dizer... As Mulheres na Música como intérpretes já antes
brilhavam, não é?
MA – Mas eu digo como Compositoras, como criadoras de Música! (Embora como
intérpretes também fossem criadoras porque o intérprete também é de certa forma
um criador)...
AVA – Como Cantoras então... Essas desde sempre se destacaram até porque os
homens para terem aquela voz tinham de prescindir de alguns atributos...
ML – Mas também os houve, não é? Os Castrati...
AVA – Sim, também os houve... Mas aquilo soava...
MA – Com um preço demasiado excessivo a pagar...
AVA – Excessivo e com um resultado mínimo... Porque aquilo é horroroso...
ML – E pior de tudo, irreversível...
AVA – Irreversível... Sim... Bem... Mas voltando agora à Música em Portugal...
MA – Compositoras em Portugal?
AVA – Há... Há... Vamos lá a ver...
Não me interpretem mal... É que as Compositoras que há em Portugal sofrem
exactamente das mesmas pressões que os compositores... Que os jovens
compositores... Aparecem menos... Está bem... Mas a verdade é que hoje em dia
existe ainda uma falta de liberdade na Música... É uma PIDE que existe... (Lá
com os vanguardistas...) É uma PIDE! E as pessoas têm que fazer aquela Música
que ninguém quer ouvir! E há 90 anos que as pessoas estão a dizer: - Não quero
mais ouvir isso! Não quero! Estour farto! Não gosto! E eles: Sabe - Mas isto é
muito interessante! - Pos, está bem!
Então fique lá com isso! Parabéns à tia! ...E portanto há também várias
mulheres que estão metidas nessa história... A Clotilde Rosa (N. 1930) - por exemplo: Eu não tenho pachorra para
ouvir a música dela... Mas, o Franco [Flautista Carlo Franco], o marido dela...
ML – Gosta...
AVA – O marido não sei se gosta... Bem... A Maria
de Lourdes Martins (1926-2009)... Também foi, não é? Mas agora começam
efectivamente a surgir compositoras.... E começam a reagir... Também juntamente
com os homens... Sim, porque assim como o Nuno
Côrte Real (N.1971) já começa a reagir também...
ML – Agora há uma Compositora interessante... Uma tal Anne Victorino d‘ Almeida (N. 1978)...
AVA – A Ana começa a reagir... Começa a reagir... Realmente nesse aspecto, essa Inquisição não é dirigida especialmente
às Mulheres... É dirigida a todos!
MA – Mas secularmente, e até no nosso tempo, as mulheres compositoras não
apareceram nunca! Portanto se produziram alguma coisa, foi queimado!
AVA – Por acaso, felizmente, isso não é tanto assim... Queimou-se menos do que se
pensa. Porque estão constantemente a aparecer nomes e obras... Originais...
Muitos originais do Século XIX...
MA – Ou seja: As famílias vão aos baús, estão a ir aos baús e a trazerem a
público as obras dessas mulheres...
AVA – Sim, sim... Do Século XIX estão a surgir muitas... Aliás, na própria Idade
Média houve uma tal Condessa de Dia
que era uma excelente compositora...
MA – Condessa... Tinha de ser Condessa... Também se não fosse Condessa não sabia
música... O que significa que olhando para as médias concerteza que devia ter
havido muitas mais...
AVA – É evidente que sim! Mas não esqueçamos: O exemplo mais rebarbativo é que a
Orquestra Filarmónica de Viena...
ML – Sim, isso ainda hoje!
AVA – Ainda hoje, não! Acabou, acabou! Mas... eu já estava em Viena e ainda havia
proibição de mulheres a tocar na Orquestra Filarmónica de Viena!
ML – O que eu digo ainda hoje é que ainda hoje há muito poucas!
AVA – Não, hoje já não são assim tão poucas...
ML – Olhe que não Maestro. Olhe para lá, olhe para lá!
AVA – Sim, é possível...
ML – São totalmente minoritárias! Já tem mulheres, mas são totalmente
minoritárias!
MA – Eu acho que a Música é o campo de discriminação por excelência das
mulheres...
ML – Eu não sei... Isto agora em àparte... A Orquestra Sinfónica da Emissora
Nacional (a antiga) não tinha uma única mulher que eu me recorde, ou tinha?
AVA – Tinha. Tinha.
ML – Quem é que tinha? A Harpista?
AVA – Tinha. Tinha a harpista, tinha algumas senhoras... Violinistas... Sim. Não
eram muitas... Mas já havia. Era melhor, apesar de tudo, nesse aspecto, do que
a Filarmónica de Viena...
MA – E mais pianistas, não? Porque o Piano era aquilo que as mulheres aprendiam
mais... Como prendas... As meninas prendadas aprendiam piano e falavam francês,
não é?
AVA – As mulheres sempre compuseram... Dizia-se que a Clara Schumann sempre tocou e defendeu a música do Robert Schumann (1810-1856) do seu
marido, quando ela própria tem coisas perfeitamente autónomas e de uma
enormíssima qualidade!
MA – Portanto há mulheres que penetraram naquele universo... Que era um universo
mais ou menos dos homens...
AVA – O que é uma coisa espantosa!... Porque a Clara Schumann, com nove filhos (!), viúva, criou os seus nove
filhos como pianista... Como pianista e compositora! Só que as suas
composições, essas não iam para os programas...
MA – Sim. Ela tinha de tocar as músicas do marido...
AVA – Sim, do marido e não sei até que ponto tocaria as dela... Não há relatos,
não é? Bem: neste momento, em Portugal as mulheres podem ser compositoras,
podem ser maestrinas (a Joana Carneiro), quer dizer... Hoje em dia a castração
é outra... A castração é de ordem estética e não de género.
MA – O género emerge lentamente na Música...
AVA – Agora é constante enormalíssimo ver mulheres nas orquestras... Mulheres a
tocar Trompa, mulheres a tocar Fagote, mulheres a tocar Contrafagote, clarinete
baixo, contrabaixo... Aliás há aquele caso da Percussionista Elisabeth Davies
com aquela elegância extraordinária com que toca...
ML – Sim, a Elisabeth Davies é uma extraordinária percussionista e quase se pode
dizer que é em simultãneo uma bailarina não porque ela dance, mas porque faz ao
mesmo tempo uma espécie de coreografia que no seu modo natural de tocar que dá
uma enorme elegância à forma como toca.
AVA – E há uma contrabaixista cujo nome eu nem sequer sei, mas que nem é uma
mulher muito bonita, mas que é uma beleza aquela contrabaixista... O ar, o
empenho, a alegria com que ela faz música...
MA – Transfigura-se no palco...
ML – Nesse caso, como diria o Poeta Fernando
Pessoa (1888-1935), apaixonamo-nos pelo gesto...
AVA – Sim, e o gesto conta muito. É muito importante!
ML – E temos uma mulher extraordinária, aqui no Porto, que é a Violoncelista
Madalena Sá e Costa, que dentro de dias completará 100 anos!
AVA – A Madalena Sá e Costa que eu ainda conheci como uma senhora muito bonita...
É preciso ver que como eu tenho 60 anos de carreira... Há 60 anos atrás ainda
era uma senhora muito, muito bonita! Era violoncelista da Orquestra do Porto,
lembro-me perfeitamente... E também era muito bonita a tocar na Orquestra!
Mas... Espera lá: Na Orquestra da Emissora Nacional tocava: A Violetista
Anabela Chaves, a Violoncelista Maria José Falcão...
ML – A Anabela Chaves que é a primeira Viola da Orquestra de Paris!
AVA – Sim. E em Viena a crítica disse que ela era a maior viola de arco do mundo!
A melhor violeta do mundo!
ML – E a Maria João Pires tem uma notoriedade internacional imensa...
AVA – Está bem, mas a tocar piano... Isso já há juito tempo que havia...
ML – Mas é uma extraordinária Embaixatriz de Portugal pelo Mundo!...
MA – Não era interessante fazer-se um programa sobre as músicas da lusofonia?
AVA – Era, era... E iríamos encontrar muito mais coisas... Nós mesmos, os
autores...
Há dias
ofereceram-me o Cd do Alfredo Keil
(1850-1907) - pelo Pianista Japonês Tomohiro Hattta - e eu estive a ouvir... Não é brilhante!... Mas
há dezenas, centenas de compositores franceses, ingleses, belgas e austríacos
que também não são brilhantes! Mas é perfeitamente um compositor! Porque razão
é que nunca se gravou antes esta música?
MA – Das Áfricas ao Oriente... Portugal,
Brasil e os outros, não é?!...
AVA – É, exactamente... Os compositores da lusofonia... Incluindo Timor, não é?
Por exemplo: O Simão Barreto...
MA – Macau, Macau... Também?
AVA – Não, Macau não... Os macaenses nunca foram portugueses... Os chineses nunca
nos ligaram nada...
MA – Há um nucleozinho... Pode é não ser musical, não é?... E Goa também não?
AVA – Goa sim! Goa teve um dos maiores pianistas mundiais que foi o Noel Flores (1935-2012) que foi
totalmente escorraçado de Portugal! Nunca ninguém lhe ligou nada... A
Gulbenkian acabou-lhe com a bolsa e ele ficou com fome! Com fome! Com fome
mesmo! Quando não há dinheiro há fome! O que é que a gente há-de fazer?
MA – E ele emigrou...
ML – Não. Ele estava em Viena.
AVA – Sim, estava em Viena... E foram os amigos... Fui eu, foi o John Neschling,
foi o Hans Graf, que permitimos que ele fosse comendo... A mulher que é
brasileira abdicou de uma carreira de pianista muito razoável... Para se
empregar na Embaixada do Brasil... Ela abdicou de uma carreira... Ela não era
tão boa pianista como ele... Mas era o suficiente para fazer concertos na
Konzerthaus... Ouvi eu! A Regina... E abdicou completamente de uma carreira de
pianista para sustentar a família!...
ML – E ele foi depois Professor do Conservatório de Viena...
AVA – Não! Ele foi Director da Academia de Música de Viena!
MA – Que bonito que era fazer-lhe também uma homenagem da lusofonia, não era?
AVA – Claro que era! Claro que era! E o Flores sempre pretendeu ter ligações a
Portugal... Mas nunca lhe ligaram... Nunca lhe ligaram nada!
MA – Angola, Moçambique, Cabo Verde...
AVA – Um estudo sobre a lusofonia, um trabalho como esse é um trabalho em que nós
entraríamos com a perfeita consciência de que ignoramos muito!... Ou melhor: Eu
não digo que a mina esteja cheia... Mas a verdade é que nós nunca descemos à
mina... E sabemos que há uma mina!... Mas não sabemos o que é que lá está...
MA – E depois a Música tem esse poder de ser uma linguagem universal...
Universal e de criação... Há uma criação universal... E era muito interessante
fazer esse diálogo de culturas musicais...
AVA – E mais ainda - isto é uma teoria minha... -
O Brasil, a Música Brasileira... (Enquanto o Jazz foram os negros
americanos que fizeram... E depois alguns brancos conseguiram fazer também...)
Pelo contrário, eu acho que a Música Brasileira tem muito mais que ver
connosco... Com Portugal... Não tem nada que ver com índios nem com nada...
Enfim... Há elementos... Mas... Eu ontem estive a ouvir uma gravação de um
espectáculo que eu fiz com o Luiz Avellar – um grande pianista brasileiro – que
fizemos no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, onde fizemos uma
improvisação num só piano: em que ou toco eu ou toca ele mas nunca pára... E às
vezes tocamos os dois... E às vezes eu levanto-me e começo a fazer umas notas
aqui, depois ele levanta-se e faz ele, senta-se ele, sento-me eu... É uma
improvisação que dura uma hora e quarenta!... Mas ali nota-se bem a simbiose...
Quer dizer: a facilidade com que se passa de um samba para um fado!... Isto em
relação à Música Brasileira... Não me venham dizer que aquilo é dos índios...
ML – Como é que o Maestro via uma possível continuação desta digressão em sua
homenagem (uma vez que há este interregno por causa das eleições
legislativas)... E portanto não sabemos se o projecto continuará ou não... Mas
como é que via uma hipotética continuação com um espraiar da digressão aos
Estados Unidos, ao Brasil, ao Canadá e não ficarmos só pelas comunidades
portuguesas dos países europeus...
AVA – Tinha o máximo interesse nisso. Aliás eu sei que o SECP tem estado a ajudar
grupos portugueses, um dos quais me está indirectamente ligado... A minha filha
vai agora para a Namíbia com o grupo dela... (1)
MA – Aliás foi um sucesso, segundo me disse o próprio Secretário de Estado... No
Brasil tiveram um sucesso enorme!
AVA – E aquele espectáculo é muito bonito. É muito bonito!
MA – Mas é que a Secretaria de Estado não pode esquecer a Música... A emigração
é um mundo em que todas as valências devem estar presentes, não é?
ML – E em Paris acho que conseguimos fazer realmente uma coisa diferente, ainda
mais especial porque conseguimos juntar várias artes: com a questão da
Literatura e do Eça de Queiroz (1845-1900)...
Com a questão da Pintura e do Mestre
Adelino Ângelo (N. 1931) que também foi um momento muito bonito e de
homenagem a um grande pintor português... Foi interessante no sentido em que
sendo o Maestro Victorino d‘ Almeida o homenageado conseguimos também
homenagear um conjunto de outras figuras da Cultura Portuguesa... E esse
conjunto de figuras pode ser ainda mais alargado se fizermos a
Conferência/Concerto em mais sítios...
AVA – Só aqui do Porto há um conjunto de nomes que as pessoas conhecem, mas de
que só conhecem os nomes!... Não conhecem a música deles, desses compositores!
MA - A questão de género na Música...
Todos os espectáculos do Trindade foram magníficos, (2) mas eu lembro-me sempre (no dia em que foi Convidado o D.
Manuel Clemente) daquela discussão que foi suscitada entre a Música Feminina e
a Música Masculina... O Chopin, por
exemplo: É Música Feminina...
AVA – O Chopin claro, é Música
Feminina... É muito mais...
MA – A Mátria da Natália Correia
(1923-1993)... Muito mais a Mátria do que a Pátria, não é?
ML – Acho que não se poderia dizer isso do Bártok...
Não me parece nada feminino!
AVA – O Bártok é masculino, o Bach é masculino... A Música deles, não
é? Mendelssohn...
ML – Há tempos vi uma coisa extraordinária num canal de televisão estrangeiro
sobre o Bártok que não sei se o
Maestro sabe... Nós ouvimos a Música do Bártok
e imaginamos (pelo menos eu imaginava) uma pessoa irascível, colérica, um tipo
muito vivo... E acho que era uma pessoa delicadíssima... Falava sempre muito
baixinho... As pessoas, os alunos tinham até dificuldade em ouvi-lo... E a
Música é tudo ao contrário daquilo!... Pelo menos esse foi o testemunho de um
aluno dele que eu vi nesse documentário televisivo...
AVA – Sim. E também o Schostakovich...
Era um homem muito pequenino... E quando se sentava parece que enrolava as
pernas de uma forma que parecia uma rosca!... Enrolava-se todo assim, não é?
Mas era um homem que sabia muito bem aquilo que queria... E há uma história
muito engraçada com o Schostakovich...
Quando um dos melhores quartetos de cordas do mundo – acho que foi o Quarteto
Alban Berg porque foi o próprio Viola, o que me contou isso – quando foram
tocar para o Schostakovich um dos
seus quartetos de cordas (que são fantásticos) e ele lá se sentou numa cadeira
com as pernas todas enroladas... E diz o Viola: - Ó Maestro, há só aqui uma
coisa, o Maestro desculpe lá dizer-lhe... Vai-nos perdoar... Mas o Maestro pôs
aqui a indicação con legno (tocar com
o arco na madeira) e sinceramente nós achamos que esta passagem é tão
importante que com um pizzicatto, um pizzicatto com unha (é também um efeito,
uma forma especial de pizzicatto) isto resultaria muito melhor... E diz o Schostakovich: - Interessante, muito
interessante essa ideia... Está a ver – diz o Viola – a melodia sobressai muito
melhor com o pizziciatto do que com o con
legno... Perde-se ali... – Tem toda a razão (diz o Schostakovich), toda a razão, toda a razão... Mas façam con legno!...
ML – Maestro: Há poucos meses,
Portugal perdeu uma Grande Mulher, uma Grande Senhora... A Dra. Maria Barroso
(1925-2015)... Tanto quanto sabemos o Maestro conheceu-a... E gostávamos que
nos falásse um pouco disso uma vez que a Revista lhe vai também dedicar a sua
atenção... E sabemos que a Dra. Manuela Aguiar a homenageou no Colóquio de
Paris a que nós não pudemos assistir... Qual seria o seu depoimento sobre esta
pequena Grande Mulher?
AVA – Efectivamente a Maria Barroso agigantáva-se... Porque a imagem da Maria
Barroso nunca é a imagem de uma senhora muito pequenina (embora ela fosse de
facto muito baixinha, muito pequenina)... É a imagem de uma Mulher agigantada!
De uma lutadora! Foi uma lutadora incrível, indiscutível... Vencedora na Causa
da Liberdade em Portugal! Ela venceu! Ela venceu! Não se discute! Eu acho que o
25 de Abril deu-nos liberdade... Nós mantemos exactamente a mesma liberdade que
o 25 de Abril nos deu... Só que essa liberdade está doente... Está doente,
pronto, mas continua a ser a mesma liberdade... Agora está com tosse, com
coisas, com corrimentos, coisas assim.... Mas é a liberdade! Hiberna é um
bocadinho, não é?...
MA – É que a Liberdade é uma coisa que também permite o mal... O mal e o bem...
E nós estamos num período de crise e de mediocridade, não é?
AVA – É. É. E não há dúvida nenhuma que eu penso que pessoas como a Maria
Barroso ou o Mário Soares, realmente... Independentemente das pessoas estarem
de acordo ou em desacordo... Ou melhor: eles sempre defenderam o direito ao
desacordo!
MA – Até entre si...
AVA – Sim. Sempre defenderam, não é? Agora: Ela é um símbolo! E penso que para a
causa da liberdade das mulheres... da Mulher! Ela é um símbolo, é um símbolo!
Acho que ninguém põe isso em causa!
Siglas e Abreviaturas:
AVA – António
Victorino d’ Almeida
MA – Manuela
Aguiar
ML – Miguel Leite
SECP – Secretário
de Estado das Comunidades Portuguesas
Fotografias:
Agradecimento:
Cardosas Bar - Hotel Intercontinental-Porto Palácio das
Cardosas
Dra. Brenda Sá Ribeiro
(1) - Rumos Ensemble: “Tocando Portugal” – Recital
quase um Doc: Anne Victorino d’ Almeida (Violino); Luís Gomes
(Clarinete e Clarinete Baixo) e João Vasco (Piano).
(2) – “Ouvir
& Falar” – Ciclo de Conversas com Música * Miguel Leite; António
Victorino d’ Almeida; Luiz Avellar (Piano); D. Manuel Clemente (Cardeal
Patriarca de Lisboa) e Nicolau Breyner (Actor/Autor/Realizador) + Nádia Sousa
(Voz); João Lima (Piano); Carlos Lacerda (Poeta/Declamador) e Erika Pluhar
(Convidada Especial) – Ciclo de Espectáculos da Fundação INATEL/Teatro da
Trindade – Lisboa
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