sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

2005 – 2009 " ENCONTROS PARA A CIDADANIA - a igualdade entre mulheres e homens"
MARIA BARROSO, O ROSTO DE UMA CAUSA
Em 1985, o "1º Encontro Mundial de Mulheres no associativismo e no jornalismo" da Diáspora foi o primeiro passo de uma política para a igualdade, que, após um hiato de 20 anos, seria relançada pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, em 2005.
Para presidir aos Encontros o Secretário de Estado António Braga convidou a Dr.ª Maria Barroso. Ninguém, como ela, poderia ser o rosto de um grande projeto de inclusão de género e geração na vivência plena da cidadania, nas comunidades portuguesas. Todo o programa foi desenvolvido ao longo de quatro anos em parceria com a AEMM, a Fundação Pró Dignitate e outras ONG’s do País e das comunidades do estrangeiro. Maria Barroso estivera presente nas iniciativas da AEMM, desde a primeira hora, como nós estivemos com ela nos quatro cantos do mundo nestes verdadeiros congressos, com que se fazia o progresso da democracia portuguesa, levando a aplicação das políticas públicas da igualdade para fora dos limites do território.
As portuguesas da Diáspora tinham perante si um símbolo vivo, a Mulher e Cidadã, que soube sempre, de uma forma tão caracteristicamente feminina, fazer muita coisa, ao mesmo tempo, e tudo muito bem – estar no centro da sua família e ter uma intensa vida profissional, dedicar-se à política e ao voluntariado pela cultura e pela paz..
Foi de facto, fundamental para a interiorização do espírito do projeto por cada uma e por cada um dos presentes o terem perante si a "Mulher-símbolo", encarnada numa pessoa simples, solidária, encantadora. A mensagem passava, com a beleza da sua palavra e do seu sorriso. Todas a sentíamos como “uma de nós”, sem nunca esquecer a sua absoluta excecionalidade.
De Buenos Aires (2005) a Estocolmo (2006), de Toronto (2007) a Berkeley e a Joanesburgo (2008), reunimos com representantes das comunidades de toda a América do Sul, das duas costas da América do Norte, da Europa, da África e, em 2009, em Espinho, pudemos concluir no “encontro dos encontros” o balanço desta experiência inédita, do ambiente em que fora vivida, das esperanças que despertara. O seu impacte prolonga-se até hoje, em novas realizações, deixando-nos a convicção de que há um período antes e depois deste encadeamento de congressos, no que respeita àa políticaa de Estado e seus resultados, na consciência das questões de género nas próprias comunidades e no florescimento de movimentos norteados pela ideia da paridade
BUENOS AIRES
Na Biblioteca Nacional, o auditório Jorge Luís Borges foi durante os dias do congresso um espaço luso-argentino, ouvia-se o português e o castelhano, falou-se de Regina Pacini, a portuguesa que foi até hoje, a única primeira-dama estrangeira do País. Maria Kodama foi presença assídua. A Embaixada e o Instituto Camões deram uma enorme colaboração.O Embaixador Ribeiro de Almeida e a Embaixatriz Isabel de Almeida participaram ativamente nas sessões O mundo associativo e o mundo cultural estiveram em evidência. A cobertura mediática foi excelente: RTP. RDP. TSF, imprensa nacional e regional. Nunca se falara tanto não só das mulheres como das comunidades portuguesas da Argentina! António Braga reconhecia que as questões de género tinham andado até li muito esquecidas. Respirava-se um ar de mudança!
No final, a Presidente Maria Barroso, como que sintetizando as conclusões, diria: "Considero que foi uma reflexão aprofundada sobre os problemas que dizem respeito às mulheres, e, em particular, às mulheres migrantes. Mulheres e Homens têm de assumir um papel onde ambos os géneros contribuem para a melhoria da sociedade"
A Mulher Migrante Portuguesa da Argentina, co-organizadora local do Encontro, estava de parabéns e comemorou, nesse fim-de-semana, o seu aniversário na associação portuguesa de Echevarria. Partimos de Buenos Aires, já em caloroso ambiente de convívio e festa, num modesto autocarro, que a presidente Maria Barroso insistiu em partilhar connosco.
ESTOCOLMO
Co-presidiram ao Encontro Maria Barroso e Anita Gradin, antiga Presidente da Internacional Socialista de Mulheres, Ministra da Imigração e do Comércio Externo em Governos de Olaf Palme, Embaixadora e Comissária Europeia. Duas grandes Mulheres!.Anita é, igualmente, um nome mítico no seu país, onde, por sinal, foi pioneira na defesa do sistema de quotas. Uma amiga de longa data da Dr.ª Maria de Jesus, e minha, desde as primeiras conferências de ministros do Conselho da Europa, na área das migrações. O Secretário de Estado da Presidência Jorge Lacão (que tutelava a Comissão para a Igualdade) e outros notáveis oradores tornaram o Encontro quase paritário. A Dr.ª Maria Barroso salientou o facto: "É muito importante que os homens estejam presentes, não queremos uma sociedade de mulheres, mas antes de homens e mulheres conscientes dos seus direitos e deveres".
Uma ênfase na ideia da cidadania feminina para o serviço da comunidade, que nos leva a vê-la, como uma mulher eminentemente moderna no século XXI, na linha precursora dessa plêiade de Portuguesas que, no começo de novecentos, projetaram o movimento feminista.
As comunidadse portuguesas da Escandinávia não eram das mais numerosas, mas a Suécia foi uma escolha justificada, antes de mais, por ser um país exemplar no domínio das políticas de género - pioneiro na implementação dos sistemas de quotas, adoptado pelo Partido Social Democrata e, depois, generalizado a outros, pioneiro na criação de um Ombudsman para a Igualdade, em que, de algum modo se inspirou a Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego, CITE - e, ainda por outra boa razão: ter aí surgido, em 1985, a primeira Federação de Mulheres Portuguesas e Lusófonas na Europa, a PIKO. Coube a PIKO a organização do Encontro, que se realizou no Museu Etnográfico, com um grande apoio e participação de várias Ong's suecas. Valeu a pena afrontar o inverno nórdico, que cntrastou com o clima humano. E, no fim, como acontecera nos dias anteriores, tomámos todas o grande autocarro fretado pela organização, na inesperada e muito agradável companhia de Jorge Lacão - oportunidade para continuarmos a refletir sobre o muito que, em parceria, ainda queríamos fazer.
TORONTO
A conferência para a igualdade atraiu ativistas dos direitos humanos, deputadas canadianas, universitários, investigadores, dirigentes associativos, mulheres e homens, e teve uma ampla cobertura dos “media” em língua portuguesa de Toronto (que são muitos e de qualidade), permitindo que as mensagens chegassem à comunidade inteira.
O Secretário de Estado Jorge Lacão, o Embaixador de Portugal, o representante dos Açores, a Cônsul-Geral Maria Amélia Paiva (unanimemente elogiada pela organização da" Conferência") e muitos outros intervenientes lembraram o caminho percorrido e o que falta percorrer. A lei da paridade esteve no epicentro do debate.
A Dr.ª Maria Barroso, falou dos ventos de mudança ("A Mulher de hoje pode governar uma Nação"), mas também das exigências de mobilização e persistência: “Temos muito que lutar para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade, mas tenho a certeza de que um dia venceremos. Já não será para mim, mas para aquelas que nos darão continuidade".
Na despedida, depois dos plenários de trabalho, das visitas a instituições da comunidade de Toronto, fica a frase de Jorge Lacão, de que a imprensa fez títulos : "Viemos ver coisas extraordinárias."
Antes mesmo da Conferência, Maria Barroso tinha aceite um convite de Montreal para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Chegara ao Canadá na noite anterior, levantou-se de madrugada para um voo matutino, cumpriu um programa extenso, visitas à Câmara Municipal, a organizações da comunidade, almoço num restaurante português, onde discursou, ao lado do Cônsul Geral e da Ministra da Imigração. Falou de democracia e de futuro. Recebeu uma infindável ovação! Muitos, emocionados, não continham as lágrimas.
Regressámos tarde a Toronto, sob neve e forte ventania. A Drª Maria de Jesus nâo dava mostras de cansaço, mas estava com um princípio de gripe, tinha febre, e não conseguimos que se resguardasse um pouco... Era assim mesmo, filha de militar, educada para o cumprimento preciso dos deveres e estava em pleno combate pelas suas causas.
JOANESBURGO
As mulheres predominavam nas belas instalações do “Lusito” (ou não fosse o Encontro da responsabilidade da “Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul", reconhecida pelas suas campanhas em favor da participação feminina ), mas havia um significativo número de homens, o Embaixador, o Cônsul-Geral, conselheiros do CCP, dirigentes das principais instituições comunidade.
A Presidente Maria Barroso desenvolveu o tema da situação das mulheres através dos tempos e no nosso tempo e lembrou-nos que "apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens, só a estes é dada relevância". Falou de uma nova agenda de temáticas em que as mulheres podem fazer a diferença - a denúncia da violência nos media, o racismo e a xenofobia, a indiferença perante tantos atropelos dos direitos humanos…
À margem dos trabalhos, a Dr.ª Maria Barroso reencontrou amigos que conheceu em circunstâncias dramáticas, aquando do grave acidente do seu filho. E, nas conversas com o Embaixador Paulo Barbosa, recordou anteriores momentos de convívio, durante a visita presidencial a Israel, que coincidiu com a trágica morte de Itzak Rabin, amigo de longa data de Maria Barroso e Mário Soares. Retalhos da história à qual ela pertence para sempre....
Na sessão de encerramento, o SECP António Braga destacou a importância do imparável movimento para a igualdade que ali se continuava a desenhar, e anunciou a realização de um Encontro Mundial de Mulheres em Portugal, em 2009.
ElLIZABEH E BERKELEY
Nos EUA, a caminho da costa oeste, começámos com uma breve estada em Elizabeth, NJ, a convite de Monsenhor João Antão, da paróquia portuguesa de Nossa Senhora de Fátima, em cujos salões se realizou um seminário de formação de jornalistas lusófonos, sobre as temáticas da Paz e da Igualdade. Seguiram-se visitas a Nova York (às Nações Unidas) e a um moderno Liceu de Elisabeth, que tem o nome de Monsenhor Antão (distinção extraordinária num país onde é raro atribuir o nome de pessoas vivas a instituições públicas).
Em Berkeley, o tema do Encontro era "O papel da Mulher no futuro do associativismo e movimentos cívicos da Califórnia", incidindo no paradigma de associativismo feminino português no oeste americano (com introdução da maior especialista neste domínio, a Profª Deolinda Adão), assim como nas estratégias para a colaboração intergeracional e no papel dos media na formação para a igualdade. Logo depois, na companhia do Dr António Braga, reunimos informalmente com estudantes e professores de Berkeley,e conversa prosseguiria, seguidamente, num jantar de confraternização.
Ao valorizar, em Berkeley e em Elizabeth, a importância da interculturalidade e da criação de novos laços de união nas Diásporas de diferentes países que se expressam em Português, Maria Barroso, mostrava acreditar que o entendimento entre as mulheres migrantes dos vários quadrantes da lusofonia pode fazer a diferença. No que todos nós a acompanhávamos.
Nos EUA, a campanha eleitoral para a presidência estava no auge. e ainda houve uns minutos para entrar na sede local de campanha de Obama, comprar lembranças e tirar fotografias com jovens ativistas...
No regresso a Portugal, uma segunda passagem por Elizabeth e pela paróquia portuguesa. Monsenhor João surpreendeu a Dr.ª Maria Barroso com a mais bela das homenagens: Roger Gonzalez, um talentoso artista americano, de origem galega, pintara o seu retrato, à entrada da ala da residência onde esteve hospedada.
Ao findar um périplo por tantas comunidades, a Presidente dos" Encontros para a cidadania" deixava, assim, o seu retrato num mural na América do Norte, tal como deixara, por todo o lado, o retrato de corpo e alma da cidadã, que, pela palavra e pelo exemplo, mobilizara as compatriotas para a construção de sociedades, mais livres, mais abertas a todos, mais humanas.
Maria Manuela Aguiar

Sem comentários:

Enviar um comentário