quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Manuela Aguiar na sessão comemorativa dos 20 anos da AEMM

IPARTE III NTERVENÇÃO DE MANUELA AGUIAR
(em falta no texto recebido)


É uma alegria poder comemorar os 20 anos da AEMM neste espaço tão acolhedor da Fundação Pro Dignitate, tendo por anfitriã a Dr.ª Maria Barroso, que connosco esteve nas iniciativas mais significativas do percurso que agora lembramos.
Vir aqui é uma forma de lhe agradecer não só o estímulo que nos deu, desde a primeira hora, por acreditar em nós e nossos projetos, mas também a força do seu próprio exemplo de dedicação aos valores da paz, da liberdade, da igualdade entre mulheres e homens.
No longo caminho para a igualdade, ainda em curso, as histórias de vida daquelas que ousaram afrontar tabus, infirmar preconceitos, modelar costumes, civilizar e modernizar sociedades, surpreendendo-as com a verdade sobre os dons e as ilimitadas capacidades da Mulher em novos domínios, mantêm um enorme poder de inspiração. É o caso das que se converteram em símbolos  dessa Verdade, como Maria Archer e Maria Lamas, dois grandes nomes da Cultura Portuguesa do século XX, cujo talento literário serviu, de uma forma muito inteligente e muito militante, a causa da emancipação das mulheres do seu tempo, num Portugal encerrado num período de obscurantismo e de opressão sexista. Duas Mulheres de pensamento e de ação, para quem a escrita foi uma arma de intervenção cívica. A ousadia custou a ambas o exílio - que é sempre a expatriação onde se procura e reencontra a Liberdade.
 Como mulheres livres e libertadoras, com emigrantes as evocamos, nas nossas mais recentes publicações, que hoje apresentamos em Lisboa - como já fizeramos no Porto e em Espinho, em tertúlias, em colóquios nos auditórios de Escolas Secundárias, da Biblioteca Municipal, na feira do Livro... divulgando a sua personalidade e sua obra junto de públicos novos, diferentes, em espaços onde as migrações e as migrantes não têm, normalmente, visibilidade. Foram reuniões excelentes, debates muito participados, momentos inesquecíveis de descoberta de fascinantes perfis femininos, lembradas na sua singularidade, mas também no que têm de comum - vozes fortes que romperam o silenciamento imposto por uma ditadura particularmente misógina.
  As famílias de Maria Lamas e de Maria Archer deram, em muitos desses encontros, como hoje aqui acontece, o seu testemunho, tornando-as mais próximas de todos, num ambiente de simpatia e de afeto , em que queremos perpetuar a sua memória e o seu legado ético. A tenacidade é outro traço comum a ambas -  o saber aproveitar cada oportunidade do quotidiano para avançar na linha estratégica de combate pela dignificação da mulher, e das mulheres muito concretamente. Aproveitar oportunidades, criar oportunidades - quer, como Maria Archer, nas páginas de um romance, através de personagens de um impressionante realismo, quer, como Maria Lamas, na direção de uma revista de temas tão tradicionalmente femininos, como "Modas e Bordados", que transforma em meio de repensar o papel da Mulher,  de comunicar com as jovens, de lhes abrir horizontes. 
 
Estas recentes iniciativas da AEMM, em que procuramos fazer a ligação entre o pensamento e a ação das mulheres da diáspora em sucessivos períodos, em diferentes lugares do mundo, são uma das marcas de uma nova etapa do nosso trajeto.
Vou lembrar, brevemente, esse trajeto, em que  distinguirei duas fases - uma primeira em que fomos estabelecendo, a partir de um grande congresso mundial em 1995, uma rede de contactos nas comunidades portuguesas,  embora as ações desenvolvidas se tivessem centrado fundamentalmente em Lisboa, com a organização periódica de colóquios e seminários sobre temáticas de emigração/imigração feminina. Em fins de século XX e princípios de século XXI, a imigração liderava a agenda e traduziu-se em várias iniciativas pioneiras desenvolvidas em colaboração com municípios e regiões autónomas, com um apelo à solidariedade para com um número enorme de estrangeiros recém-chegados em situação irregular (uma das publicações desse altura tem por título "Problemas Sociais da Nova Imigração").
A segunda fase na vida da AEMM inicia-se em 2005, com o alargamento do seu campo de ação ao universo da Diáspora, numa colaboração sistemática com a SECP para a execução  do que costumamos designar por políticas de emigração com a componente de género.
 Até então a abordagem do fenómeno da emigração portuguesa fora mais focada no domínio do estudo ou levada a cabo através dos núcleos e representantes existentes nas comunidades e de deslocações esporádicas de dirigentes da Associação  (algumas muito bem sucedidas, como é o caso paradigmático da que serviu de mobilização para o associativismo feminino na região de Buenos Aires, com a criação da Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina, em 1998.
O novo ciclo de vida da MM, que nos vai levar aos quatro cantos da terra, fica a dever-se a uma conversa informal com  o SECP, Dr António Braga, em que eu lhe apresentava apenas uma proposta de realização de um congresso para comemorar a efeméride dos vinte anos do 1º Encontro de Mulheres  Migrantes no Associativismo e no Jornalismo (em Junho de 1985). A ideia de ir até às diferentes comunidades, ao longo da legislatura, de Encontro regional em Encontro regional, como preparação de um Encontro mundial, em 2009, foi do próprio SECP. Foi também ele que  convidou a A MM para a organização e a Drª Maria Barroso para a presidência de honra dos hoje já históricos "Encontros para a Cidadania - a igualdade entre homens e mulheres".
Logo que iniciou funções, em 2011, o novo SECP, Dr. José Cesário,  chamou-nos para uma renovação dessa parceria e para a preparação de um Encontro Mundial, ainda nesse ano. Como ele, nós acreditamos na eficácia da colaboração de sociedade civil e Estado em projetos que ultrapassam a fronteira das políticas de mero interesse partidário. Dissemos sempre "sim" ao que nos foi pedido. Somos uma pequena associação, que se tem transcendido, na chamada a missões importantes. Queremos continuar a assumir a responsabilidade de correspondes às expetativas que em nós colocam, sabendo que tudo o que conseguimos foi fruto de um trabalho solidário com outras organizações das comunidades. Temos sempre a preocupação de incluir as questões de género em eventos dirigidos às comunidades como um todo, onde, estas temáticas nunca tinham sido abordadas - por exemplo nas comemorações do Dia Nacional, em congressos  sobre lusofonia, sobre cultura, sobre juventude, sobre o envolvimento político na diáspora, em datas festivas de cada comunidade ou instituição, em Universidades, em escolas públicas, em  sindicatos ... Fazemo-lo sistematicamente, pois temos consciência de que estas matérias perdem em ser acantonadas num universo fechado de mulheres. Para nós, o associativismo feminino é uma ponte de transição para a paridade plena.
Vemo-nos como uma plataforma de diálogo de género e geração - foi o título do nosso primeiro congresso. Plataforma para a partilha de experiências, onde se concentra um movimento que vem do passado, de boas memórias, para um futuro de infinitas virtualidades.

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