quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Maria do Rosário Loures Comunicação


É com muitíssimo gosto, poderia escrever honra ou prazer, que me encontro a escrever estas palavras sobre a minha participação no “Encontro da Mulher Migrante em Congresso”, e como não podia deixar de ser aqui Vos apresento mais de meia dúzia de palavras sobre a minha vida desde há um quarto de século na diáspora:

- Sou filha de um homem, negociante alentejano, que emigrou para a Alemanha nos anos 60 pelo seu descontentamento total com a situação em que se encontrava; tinha muitíssimos clientes, tanto na mercearia-padaria como na tasca-casa-de-pasto, mas a grande maioria deles não tinha um tostão para pagar a conta. A minha mãe continuou a dirigir o negócio, até que um ano depois o meu pai a  chamou para a terra das grandes indústrias; não me levou para que eu continuasse a ser uma menina de boas famílias e não tivesse que ir viver como filha de “Gastarbeiter”, o termo pejorativo para os  imigrantes na Alemanha,  e frequentar uma escola cujo sistema e professores eles não conheciam, a única do conhecimento de meu pai era a escola Berlitz, onde logo se matriculou para aprender as bases da língua do Goethe.  Como se diz na zona de Odemira, fiquei entregue aos meus avós e mais tarde fui para um colégio interno. As férias-grandes, essas costumava passá-las junto deles, na cidade do Julgamento, em Nuremberga.  A minha entrada na diáspora deu-se pelo meu casamento com o pai da minha filha, um alemão, germanista virado para a arte e que queria melhorar o mundo, era e continua a ser membro ativo do partido dos verdes “Die Grünen”, na mesma cidade onde meus pais viviam. Eu, uma vez que tinha estudado alemão na Escolar Superior de Tradutores e Intérpretes assim que a minha filha entrou para o “Kindergarten”//Jardim de Infância, comecei a trabalhar num escritório de advogados especializado em direito de estrangeiros e asilo-político tal como direito de família.  O meu, nessa época, ainda marido era o secretário-geral do conselho de estrangeiros da mesma cidade, tendo eu automaticamente a possibilidade de conhecer migrantes de muitas cidadanias e culturas, tal como os seus problemas politico-socias. Na minha ingenuidade entrei para o partido “Die Grünen” para melhor poder lutar pelos seus interesses. Também entrei para o grupo de trabalho “Mulheres” do mesmo partido.  No ano de 1991 fui eleita secretária da Associação Portuguesa de Nuremberga, onde até aí as mulheres, execepto a professora portuguesa que ajudou à criação da mesma, só serviam para trabalhar na cozinha. Um ano a seguir fui eleita por unanimidade como presidente da Associação.  Tentei durante esse período de tempo conseguir aqui e ali, ir mais além que os meus antecessores. Para além da gastronomia e da equipa de futebol, conquistas dos meus antecessores, dei aulas de alfabetizaç­ão, alemão escrito e falado para iniciados.  Uma vez que essa casa era frequentada por oriundos das antigas colónias portuguesas e tinha mandantes no escritório onde trabalhava, como requerentes de asilo-politico vindos de Angola e Moçambique, organizei uma sessão de esclarecimento sobre as eleições em Angola no ano de 1992, com a participa­ção e depoimento de um observador da ONU que lá tinha estado para essas funções. Muita coisa mais aconteceu e teve o seu lugar.  Muito mais teria para contar, mas não é esse o meu fim!   O mais importante é que a partir dessa altura os homens, sócios dessa comunidade aprenderam que uma mulher também pode desempenhar a fun­ção de presidente e ser membro da sua administração.

Não aceitei o convite a participar neste congresso para vir aqui contar simplesmente a minha vida na diáspora. E, como tal vou passar ao tema que muito me aflige, o Ensino da Língua Portuguesa para os filhos das Migrantes. É certo que a crise em que Portugal se encontram afeta todos os sectores da vida dos portugueses em Portugal e agora também na diáspora.  Numa altura em que a emigra­ção portuguesa está a crescer a olhos vivos foi reduzido o contingente de docentes, em 3 anos, de 625 a 355., e foi instituída uma propina de 100,-EUR por aluno para países como a Suiça, Luxemburgo, Reino Unido e Alemanha para 3 horas de “escola” por semana para aulas de “português para estrangeiros”.  Estes alunos, estas crianças, não só são filhos de portuguesas como também usufruem da cidadania portuguesa. Independentemente de qualquer teoria eles deveriam era de aprender o português como língua materna. 

E, eu a sonhar com a criação do sistema Pré-Primário a fim de evitar que não se repita o que aconteceu com a minha filha, que um dia por volta dos seus quatro anos quando íamos pela rua, eu a falar com ela a nossa língua materna e a menina levou as suas mãozinhas aos ouvidos e disse: - “Pára, mamã! A partir de agora não falas mais português comigo!”  “Porquê, Sarah?” “Porque não quero ser tratada como uma estrangeira e vir a ser discriminada como o papá diz.”  O que para nós migrantes portuguesas é uma utopia é para os filhos dos migrantes italianos e espanhóis uma realidade vera!

Alguém se esqueceu, que uma das principais fontes de divisas de Portugal vem dos portugueses e portuguesas na diáspora!

Vou terminar com uma frase do nosso grande mestre Fernando Pessoa

„ A minha pátria é a língua portuguesa”.

 

Nuremberga, 26.09.2013

Maria do Rosário N.G. Loures

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