A Rosinha da Foz Velha do Porto faz-me lembrar a "Babe" Didrikson Zaharias, uma de sete filhos de imigrantes noruegueses que foram fixar-se no Sudeste do Texas e se afirmou como uma mulher-gigante do Século XX, juntando-se em toda a sua magnificência a Margaret Mead - célebre autora e antropologista americana -, a Eleanor Roosevelt - quiçá uma das mais admiradas Primeira Dama dos Estados Unidos e decerto Primeira Dama do Universo, reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho e esforços humanitários e, finalmente, a Agnes Gonxha Bojaxhiu - a santíssima Mother Teresa nascida em 1910 em Skopje, então parte da Jugoslávia.
Quatro Mulheres-Gigantes do Século XX!
Há pontos de similaridade entre a nossa Rosa Maria ("Rosinha") Correia dos Santos Mota e a Mildred Ella ("Babe") Didrikson Zaharias.
Entre elas - colossais atletas! - há sinais e marcas distintivas comuns, que desde logo as colocam num horizonte, num trono e num “céu” inacessíveis a menos do que gigantes!
De aí que as diga fenómenos raros e as admire incondicionalmente.
De aí que as considere eminentes pelo seu talento, valor e coragem.
De aí que lhes reconheça qualidades de paridade com o Homem.
Curiosamente, são ambas de Junho. A Babe - que viveu apenas até 1956 - nasceu há 97 anos em Port Arthur no Texas e a Rosinha há 50 anos em Foz Velha do Porto.
Zaharias distinguiu-se no princípio - em competições nos seus primeiros anos de escola - como uma atleta tão dotada que excedia todas as outras a correr, saltar, jogar e a pensar - parecendo que a Natureza a produzira num rasgo de excepcional perfeição.
Na Universidade salientou-se nas equipas femininas de basquetebol e ténis e durante os Jogos Olímpicos de 1932 em Los Angeles - o mesmo ano em que Amelia Earhart se tornou na primeira mulher a voar solo sobre o Atlântico! - Zaharias conquistou medalhas de ouro, com recordes mundiais, no lançamento do dardo e nos 80 metros barreiras, enquanto um pormenor técnico a privou de terceiro ouro no salto em altura.
A Babe excedeu no Desporto a Mulher! Não conseguiu exceder-se a si própria porque foi inesgotável! O seu multifacetado e incomparável legado que a qualificou como a melhor atleta - homem ou mulher - da primeira metade do Século XX, nutre o aplauso público pela sua excelência em desportos tradicionalmente competitivos e absorve de um trago a plêiade que com ela e contra ela competiu.
Zaharias dominou em saltos aquáticos, softbol, golf, basquetebol e atletismo.
Zaharias desafiou noções consuetudinárias de feminidade com as suas arrojadas piadas à imprensa.
Zaharias dilatou os limites aceitáveis do que uma atleta podia e devia ser.
A biografia de Babe Didrikson Zaharias obriga o fascínio, dá razão a trabalho longo e torna delicioso escrever.
Como, porém, se torna igualmente delicioso escrever sobre uma mulher-gigante da Nobre Cidade Invicta, vou deixar por agora a Babe e falar da nossa Rosinha.
Irei falar da Rosa Maria como quem fala de uma das mais delicadas rosinhas-de-Portugal - como as que salpicam com cor suave tufos alindando o lindo da inigualável Sintra e despontam como a aurora entre o verde-alourado do musgo, o fresco dos limoeiros e a giesta a explodir uma sinfonia de amarelo.
Rosa Mota foi considerada como uma das melhores maratonistas do Século XX.
Rosa Mota corria como o vento.
Corria com a agilidade da gazela.
Com a intrepidez do menino Gavroche.
A Rosinha saltitava como a alvéloa.
Legou às estradas imagens de pura elegância.
Por pouco não transformou ligeireza em volátil.
Tratava o asfalto com reverente delicadeza.
Parecia não querer beliscar o betume negro e lustroso.
Corria como lume que ela ateava soprando.
Tinha no mínimo três pulmões, não apenas dois.
Corria-lhe nas veias sangue Lusitano.
A nossa Rosinha pediu asas emprestadas.
Tardou a devolvê-las e Portugal benfeitorizou.
Corria a Maratona como se fosse em passeio de Lordelo do Ouro a Cedofeita.
Nos recônditos do seu peito pulsou sempre um coração tão Nortenho quão Português.
Quando corria, a Rosinha sentia a voz dos nossos egrégios avós que haveriam de levá-la à vitória.
A Rosa Maria nunca esqueceu as nobres Comunidades.
Emigrante nos fins-de-semana, cumulou-as, diligentemente, de esperança.
Robusteceu-as de orgulho.
Fê-las acreditar.
Fê-las sonhar.
Levou-lhes, volta e meia, alegrias indescritíveis,
Incitou-as a trazer na lapela o emblema da Ditosa Pátria.
Com o verde e o encarnado, a esfera armilar e as cinco quinas.
O emblema mais bonito do mundo.
Em 1982, nos Campeonatos da Europa em Atenas, a Rosa Maria correu a sua primeira Maratona. O ouro - dizia-se - pertencia à Ingrid Kristiansen.
Erro crasso pois a corredora portuguesa prevaleceria conquistando na Grécia a sua primeira peça de sentido valiosíssimo e cara ourivesaria!
É assim em todos os desportos. Só ganha o ouro quem nasceu predestinado!
Na sua primeira Maratona Olímpica em 1984 em Los Angeles, a Rosinha sofreu um percalço. Trouxe bronze em vez de ouro. Um transtorno do ofício, remediável nas mãos dela.
Quatro anos depois, na Olimpíada de Seoul na Coreia do Sul, a Rosa Maria atacou a dois quilómetros da meta conquistando o ouro e deixando a prata para a Lisa Martin.
Ouro, ouro e ouro enriqueceram também o bolso da nossa Rosinha nos Europeus de 1986 em Estugarda e de 1990 em Split e no Mundial de 1987 em Roma.
Só ganha o ouro quem nasceu predestinado! É assim em todos os desportos.
Em 1987, 1988 e 1990 a Rosa Maria triunfou na Maratona de Boston e em 1985 repetiu em Chicago o triunfo de 1984.
Com a sua postura campeã privilegiou Roterdão em 1983, Tóquio em 1986, Osaka em 1990 e Londres em 1991, indo ali dizer que a Foz Velha do Porto e Portugal existiam e conquistar, categoricamente, o primeiro lugar. Sempre o primeiro lugar! Sempre o ouro!
É assim em todos os desportos. Só ganha o ouro quem nasceu predestinado!
Como as essências coníferas que predominam nas florestas do norte do hemisfério, entre 1982 e 1991 predominou no mundo a essência Rosa Mota!
Predominou a sua qualidade de maratonista extraordinária!
Predominou a sua genética propensão para vencer!
Para vencer sem se jactar!
Na excelência e humildade de Rosa Mota, Portugal resplandeceu!
A Rosinha da Foz Velha do Porto faz-me lembrar a "Babe" Didrikson Zaharias…
Ao escrever estas linhas tive sempre a Rosinha no pensamento.
E uma querida Amiga minha que de Espinho me pediu que as escrevesse.
E a infinita paciência da minha Mulher.
E a saudosa memória da minha Mãe.
Edmundo Macedo
24 de Fevereiro de 2009
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Sou sempre uma defensora da inclusão do tema "desporto" nos debates sobre cidadania, quando está em causa o "género", as discriminações que lhe são inerentes.
ResponderEliminarNa verdade, considero que o desporto é um campo, por excelência, de discriminação contra as mulheres, as crianças, do sexo feminino, as jovens. Uma discriminação que não é vista como tal, antes pelo contrário: "parece" determinada pela "natureza" do homem e da mulher... Lembram-se? Era o argumento com que o "velho regime" justificava, do ponto de vista constitucional, as desigualdades de direitos entre os sexos!
"Parece", pois, que é por opção voluntária que as meninas se afastam dos desportos mais competitivos, mais populares. Parece, mas eu acho que não é. Há uma predeterminação cultural, uma influência de pais e pedagogos - e não só.... Ou não há?
De qualquer modo, queria salientar que só para ler um texto como o que nos oferece o Sr. Edmundo Macedo, só para isso, valeria a pena abrir no programa esta temática.É simplesmente delicioso!
E prova como o desporto é terreno propício para a expressão (até para a expressão literária...) dos sentimentos e dos afectos!
Fantástico. Lê-se com imenso prazer.
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