April
25, 1974, its goals and its objectives 40 years later
University of California, Berkeley
25 DE ABRIL – UMA
REVOLUÇÃO PARA AS MULHERES DA DIÁSPORA
Professora
Catedrática Aposentada da Universidade do Porto
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim.
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar.
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim.
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar.
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Chico Buarque – Tanto Mar
Introdução
É
com a maior honra e satisfação poder associar-me às comemorações do
quadragésimo aniversário da nossa revolução organizadas nesta prestigiada
universidade pelo Portuguese
Studies Program of the University of California, Berkeley e pela Luso-American
Education Foundation of Dublin, California, celebrando assim e tão dignamente,
este dia Inicial, inteiro e limpo,
como dizia Sophia de Mello Breyner e, implicitamente, recordar esse ato solidário
desencadeado há 40 anos pelos insubmissos capitães de Abril, que nesse dia de
primavera nos proporcionou a primavera da Democracia.
Uma
data que hoje e aqui celebramos e que permitiu traçar o caminho do nosso coletivo,
com sonhos que se concretizaram, ou que ficaram inacabados; com alegrias e
frustrações; com esperança e desilusões.
Democracia,
que é liberdade, cidadania, participação e ação. Efetivamente, porque liberdade
é democracia, somos nós, cidadãos de pleno direito e integral dever, que
construímos a Democracia”.
E
nós, mulheres, como a temos construído? Em Portugal e no mundo?
40
anos de democracia
Já
passaram 40 anos desde que a primavera da Democracia espalhou por todo o país o
aroma da liberdade e da esperança.
A revolução
dos cravos deixou-nos o legado da responsabilidade de aprender e praticar a
gestão do bem comum, sem subterfúgios nem desculpas.
Ao
longo destes anos temos percorrido um caminho traçado rigorosamente numa
Constituição, que foi elaborada por uma Assembleia Constitucional durante
longos meses de trabalhos, desenvolvidos em tempo de conflito, entre a
legitimidade revolucionária e a legitimidade democrática e que foi aprovada em
2 de Abril de 1976.
E a legitimidade democrática acabou por prevalecer.
Uma
Constituição, muito preocupada com os direitos fundamentais dos cidadãos e dos
trabalhadores, bem como com o equilíbrio do poder entre os Órgãos de soberania.
Uma
Constituição, que estabelece a igualdade para homens e mulheres, numa
multiplicidade de domínios e que possibilita um quadro jurídico novo, no que se
refere às mulheres e à igualdade.
Uma
preocupação que então já era pertinente, uma vez que 1975 foi uma data
internacionalmente marcante na evolução das questões relativas à condição
feminina e à igualdade: foi proclamado o Ano Internacional da Mulher das Nações
Unidas e realizou-se na Cidade do México a I Conferência Mundial sobre as
Mulheres.
Valerá
a pena salientar e com orgulho, que esta tomada de consciência que então se
começou a esboçar no mundo, em Portugal já remonta a 1970, quando apesar dos
constrangimentos políticos que vivíamos, é criado um grupo de trabalho para a
Participação da Mulher na Vida Económica e Social, ao qual se lhe seguiu, em 1973, a Comissão para a
Política Social Relativa à Mulher.
Esta
Comissão atravessa intocável a Revolução de Abril e, em Janeiro de 1975, por
iniciativa da Dra. Maria de Lourdes Pintassilgo, então Ministra dos Assuntos
Sociais, é substituída pela Comissão da Condição Feminina, ficando em regime de
instalação até 1977, altura em que é institucionalizada e são definidos os seus
objetivos, bem como as atribuições e competências – apoiar todas as formas de
consciencialização das discriminações contra elas praticada em ordem à sua
inserção no processo de transformação da sociedade portuguesa de acordo com os
princípios consignados na Constituição.
Em
1991, esta Comissão adota uma nova filosofia, com melhores possibilidades de
intervenção e passa a ser denominada Comissão para a Igualdade e para os
Direitos da Mulher (CIDM), na medida em que a Igualdade é um direito
fundamental dos homens e das mulheres
Valerá
também a pena salientar que em 1979
a então Secretaria de Estado do Trabalho, com a Dra.
Manuela Aguiar ao leme, prepara uma legislação que veio a instituir a Comissão
para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, que procurou assegurar as condições
de acesso e promoção da mulher em contexto laboral.
Foi
esta Constituição, que permitiu que 1980 Portugal fosse um dos primeiros países
a ratificar, sem reservas, a Convenção das Nações Unidas para a Eliminação de
todas as formas de descriminação contra as mulheres, adotada pela Assembleia
Geral em 1979.
Como
referia Jorge Miranda no Jornal Público, “ …é
uma Constituição garantia e uma constituição prospetiva ”. E também afirma:
“… a Constituição continua sendo
Constituição de liberdade e Constituição de solidariedade “ .
Se a
humanidade é composta por homens e mulheres, importará que haja igualdade em
direitos e em dignidade, independentemente das diferenças que lhes são
próprias. Importará que haja uma plena e igual participação de homens e de
mulheres em todos os níveis da vida social e política, incluindo os níveis de
decisão e de poder.
Mulheres e homens têm direitos iguais, porque
a Humanidade se desenvolveu, porque as ciências avançaram, porque as sociedades
evoluíram, porque a Justiça e a Democracia são assumidas como ideais em
constante aprofundamento (Guedes, 2006).
Avançou-se,
para combater a discriminação, para combater a desigualdade, com a aplaudida
eleição da problemática inclusão social como uma das grandes prioridades do Presidente
da República.
Hoje,
não é aceitável que às mulheres corresponda um estatuto com menos direitos dos
que são reconhecidos aos homens, como a título de exemplo, do acesso ou das
condições de trabalho remunerado, quando simultaneamente, têm acumuladas
responsabilidades familiares, que comodamente os cônjuges tantas vezes não
partilham.
AS MULHERES DA DIÁSPORA
O Encontro de Viana em 1985
Constatando uma enorme carência de dados acerca do papel
da mulher migrante portuguesa nos países de acolhimento a então Secretaria de
Estado da Emigração, organizou o 1º Encontro de Portuguesas Migrantes no
Associativismo e no Jornalismo, que teve lugar em Viana do Castelo em Junho de
1985. Para a Secretária de Estado, Dra. Manuela Aguiar, esta iniciativa
representava um contributo no ano de encerramento da Década das Nações Unidas
sobre a mulher – década em que a mulher migrante surgiu como tema autónomo
enquanto grupo desfavorecido – balizando proporcionar troca de experiências e
de conhecimentos que as mulheres portuguesas têm vivenciado no jornalismo e no
associativismo, de forma a que fosse conhecida a realidade feminina portuguesa
no mundo.
Tratou-se de um marco histórico que fez desencadear todo
um caminho que tem sido percorrido e que, inclusivamente, nos conduziu até aqui
e hoje!
Eu estive lá e conheci mulheres fantásticas que vieram de
todos os continentes e nos deram a conhecer os seus diferenciados papeis nas
diferentes comunidades e nos diferentes contextos onde intervinham.
Para Mª. do Céu Cunha Rego, que teve a difícil tarefa de
organizar este Encontro, … Manuela
Aguiar, então Secretária de Estado da Emigração, chamou a Viana do Castelo
mulheres das comunidades portuguesas que se tivessem distinguido no
associativismo e no jornalismo nos países que também tinham feito seus . E
acrescenta, … Antecipou assim, em cerca
de 10 anos, o que haveria de ser uma das principais recomendações da IV
Conferência Mundial das Mulheres organizada pelas Nações Unidas em Pequim, em
1995: a indispensabilidade do empoderamento das mulheres, de que são
pressupostos, a visibilidade e o reconhecimento.
Dar voz às mulheres, constatar as suas realizações, ouvir
as suas críticas e as suas vontades, registar as suas propostas, celebrar este
encontro em Portugal … foram objetivos conseguidos
Foram objetivos que se mantiveram e que encontraram na
Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante a forma de
lhes dar continuidade.
A ASSOCIAÇÃO MULHER MIGRANTE
A Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade Mulher Migrante, foi criada em 1993 e, tal como o seu nome
expressa, abraça as questões das migrações no feminino, que envolvem uma
multiplicidade de variáveis que estão definidas nos seus estatutos:
- estudo das matérias ligadas à problemática
das migrações femininas;
- proporcionar cooperação com as mulheres
profissionais e dirigentes de Associações das Comunidades Portuguesas no mundo
e com as imigrantes que vivem em Portugal;
- desenvolver atividades, visando combater
ideias e movimentos xenófobos;
- possibilitar apoio á integração das mulheres
na sociedade de acolhimento e defesa dos seus direitos de participação social,
económica e política.
Para
atingir estes objetivos, a Associação tem promovido ao longo dos seus 20 anos
de vida, a realização de Encontros, Seminários e outras iniciativas, sobre
temáticas sempre adequadas à conjuntura das migrações para as Mulheres
Migrantes, problemas sociais, entre outros, inicialmente em Portugal e já desde
há alguns anos nos diversos continentes.
Procuramos
assim o encontro direto com Mulheres Migrantes Portuguesas no seu mundo de trabalho e as “novas
oportunidades” que confrontam, mas que se alastre também aos Jovens, luso
descendentes ou não, numa perspetiva intergeracional que busca a inovação, a igualdade, a paridade e a
participação ativa e plena da Mulher nas mais diversas áreas.
Com
estas Iniciativas, fomo-nos aproximando das comunidades portuguesas,
transmitindo – lhes os conhecimentos que mais diretamente lhes podiam
interessar e em função do contexto em que estão inseridas.
Seria
exaustivo enunciar as inúmeras as Iniciativas que durante estes 20 Anos, não
deixando de salientar as que considero mais importantes.
1995 – Espinho: Encontro Mundial de Mulheres Migrantes –
Gerações em Diálogo, com a presença de mais de 200 pessoas;
2005/2007
- Encontros
para a Cidadania, realizados
na América do Sul, na América do Norte, na Europa e em África,
patrocinados pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas:
Buenos Aires (Novembro de 2005): A
Igualdade entre Homens e Mulheres nas Comunidades Portuguesas da América do Sul;
Estocolmo (Março de 2006): Conferência
entre Homens e Mulheres nas Comunidades Portuguesas, Europa;
Toronto (Março de 2007): Conferência
sobre a Participação Cívica e Política. Igualdade de Oportunidades, entre
Mulheres e Homens nas Comunidades Portuguesas – América do Norte;
Joanesburgo (Fevereiro de 2008): Mulher
– Vertentes para a Mobilidade numa Perspetiva de Diálogo Intercultural –
Continente Africano;
Espinho (Março de 2009): Encerramento dos Encontros para a Cidadania: Encontro Mulheres da Diáspora - Olhar Retrospetivo sobre Os Encontros
para a Cidadania
Para além destes Encontros para a Cidadania e a
partir de 2006, são de registar outras iniciativas:
2006
- Canadá (Montréal), Junho - Semana de Portugal em Montréal: Universidade do Québec: Conferência Retrato da Mulher Luso Descendente, organizada
por Jovens do Carrefour Lusophone e da Associação de Estudantes Lusófonos;
-
Conferência: A Violência Conjugal e a
Mulher Portuguesa.
2006
- EUA (Newark), Junho: Seminário Presença
da Mulher nas Comunidades Portuguesas na América do Norte e participação
nas comemorações do Dia de Portugal
2007- EUA e Canadá:
Seminários sobre Ação e representação das
Mulheres nos Multimédia;
2008, 2009 e 2010 – Seminários na
Europa: Amesterdão e Genebra;
2011 - Maia (Novembro): Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas da
Diáspora, com mostras bibliográficas sobre Maria Lamas e Maria Archer, cuja
homenagem foi incluída na programação. Neste Encontro iniciaram-se as Exposições
Coletivas de Pintura e Escultura – Feminino Plural.
2012 – Conferências Feministas da Diáspora: Maria Lamas e Maria
Archer.
2012 - Colóquio na Califórnia
(Abril) – organizado pela Universidade de Berkeley e de S. José: As Mulheres transmissoras de cultura.
2012 – Newark (Abril) - Encontro sobre Universidades Séniores, com
a colaboração do Consulado Geral de Portugal.
2012
– Londres (Junho) - Conferência O Céu é o
Limite, sobre a situação do ensino de português e Encontro com Mulheres Lusófonas, a fim de ser criada uma Associação
de Mulheres. Nessa oportunidade foi também tratado o Projeto ASAS – Academias
Sénior de Artes e Saberes.
2012
- Paris – Casa de Portugal; Bruxelas – Livraria Orfeu; Zaandam (Holanda): Encontros que integraram
Exposições de Pintura e Joalharia em que
participaram 6 artistas idas de Portugal (Porto).
2013
– Espinho (Maio): Inédita participação na 2ª BIENAL INTERNACIONAL MULHERES
D’ARTES, organizada pela Câmara Municipal de Espinho/Museu Municipal de
Espinho, que marcou o início das Comemorações dos 20 Anos da nossa Associação..
Nesta 2ª Bienal participaram 120 Mulheres de
várias artes, de diversos continentes e constituiu um excelente exemplo de
trabalho em Parceria. Estavam também presentes artistas das comunidades
portuguesas.
2013 – Lisboa (Palácio das
Necessidades): Encontro Mundial Mulheres da Diáspora - Expressões Femininas da Cidadania,
que contou com cerca de 130 participantes de Portugal e do Estrangeiro, e que
se realizou nos dias 24 e 25 de Outubro.
2013
– Recife: Encontro Expressões Femininas da Cidadania: A mulher portuguesa no Recife
Em
2013 foram lançadas Publicações editadas
pela Associação:
·
Atas do Encontro Mundial da Maia
·
Revista de
homenagem a Maria Lamas Entre Portuguesas
num mundo sem Fronteiras
·
Vida e Obra de Maria Archer, uma portuguesa da
Diáspora
·
Separatas da
revista Entre Portuguesas num Mundo sem Fronteiras :
- Na Nossa
Memória – percursos partilhados na emigração
- Sociedade
Portuguesa Rainha Santa Isabel
- Feminismo e
Cidadania
Segundo
Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação Mulher Migrante … A AEMM, consciente desta evolução assimétrica,
na generalidade dos países tem concentrado os seus esforços na mobilização das
mulheres para uma participação de vanguarda nas comunidades portuguesas, a fim
de que se convertam em espaço de expressão da cidadania e se expandam com a
inclusão de grupos marginalizados, invertendo a tendência para o seu declínio,
que tantos profetizam e justamente receiam.
MARIA LAMAS E MARIA ARCHER
Não
queria terminar sem evocar estas duas grandes mulheres da Diáspora Portuguesa, que
marcaram a primeira metade do século vinte e nos deixaram um testemunho de
cidadania, de coragem, de determinismo sobre as causas que abraçaram e que
constituem marcas indeléveis que a nossa Associação tem procurado divulgar em Encontros,
Seminários e nas publicações que já referi e cujos títulos tão bem as
carateriza:
·
Maria Lamas - Entre Portuguesas num mundo sem Fronteiras
·
Maria Archer, uma portuguesa da Diáspora
No
Encontro Mundial Mulheres Portuguesas na Diáspora, realizado em 2011 na Maia,
Salvato Trigo sintetizava assim o painel Feministas
da Diáspora para as homenagear: … estas
são certamente duas das mais lídimas (legítimas) e empenhadas representantes,
entre nós, do movimento pela dignidade pessoal e pela afirmação social e cidadã
da mulher.
Falar
de qualquer uma destas mulheres que tanto defenderam a igualdade de géneros, é
motivo para um Encontro ou Simpósio ou Conferência, tal como temos feito em
Portugal.
Seria
leviano da minha parte e elas não merecem, que utilizasse este pouco tempo que
me resta para falar destas lutadoras ativas, que usaram como arma a palavra
escrita e a palavra dita, com determinação e coragem nos vários mundos onde
foram forçadas a viver.
A melhor
homenagem que podemos fazer é ler os seus livros, é conhecê-las através da
leitura das nossas publicações que lhes são dedicadas e que estão à vossa
disposição nesta Universidade.
Partamos
assim ao encontro com Maria Lamas e com Maria Archer, para com elas nos
reencontrarmos!
Aceitem
este meu desafio.
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