domingo, 27 de maio de 2012

VIDA E OBRA DE MARIA ARCHER Vitor Manuel Ramalho



Tenho muito prazer em receber todos os familiares de Maria Archer nesta homenagem e, também, todos os que não são familiares e se quiseram associar.
Uma palavra muito especial para a Dra. Maria Barroso que está sempre presente nestas iniciativas culturais e, em especial, nas iniciativas dedicadas às mulheres. Não posso deixar de referenciar isto: Tenho aprendido muito sobre pessoas que eu não conheci e que a Dra. Maria Barroso me vai fazendo eco como é o caso de Maria Archer.
Quero também saudar a Sra. Dra. Risoleta Pinto Pedro pela intervenção que teve e, obviamente, a Manuela Aguiar que teve a iniciativa de levar a efeito esta sessão, a Maria Rita e ao Sr. Dr. Mário Soares muito obrigado pela sua presença.
Eu, obviamente, sou o anfitrião e não vou dizer nada de especial a não ser o gosto que tive em ouvir as diversas intervenções, inclusive, esta última da Dra. Risoleta.
Queria, apenas, deixar duas notas. Duas notas que têm a ver com o seguinte: Sempre me tocou muito o conceito de Natália Correia sobre o que nós somos. Ela dizia que ”Nós não somos uma Pátria, somos uma Mátria.” Eu acho que é, rigorosamente, assim. Nós calcorreámos conceitos multiculturais ao longo dos encontros e dos desencontros com outros povos e outros países.
E esta homenagem é exemplo disso. Deste encontro secular com outros povos e com outros países, expresso através de uma mulher com muita força, que é testemunho daquilo que somos. Daquilo que somos na afetividade.
Porquê Mátria? Porque, efetivamente, quando nós fomos para a epopeia dos descobrimentos quem esteve na terra a sustentar essa epopeia foram as mulheres.
A mesma coisa, nos anos sessenta, quando houve a emigração. Esta ligação à terra foi sempre feita pelas mulheres.
A mesma coisa quando foi a guerra colonial. Naquela altura as mulheres não podiam, sequer, participar no Exército, nem nas Forças Armadas, em geral.
E, portanto, esta ligação traduz-se nos muitos fios de água a correrem todos numa mesma direção e que nos dá este conceito que a Natália Correia agarrou tão bem.

É um prazer estar aqui.
A segunda nota diz que, eu sou daqueles que nunca compreenderei na vida a razão de ser desta incerteza sobre o futuro que sinto a cada dia os portugueses traduzirem, seja na rua, seja no emprego, seja no desemprego.
E não percebo. Porque nós temos uma dimensão verdadeiramente fantástica. Nós somos a sexta língua mais falada no Mundo. Nós somos a terceira língua mais falada no ocidente.
Hoje, neste mundo global, quando nos dizem que nós somos periféricos, permito-me discordar. Considero que somos completamente centrais.
Nós somos o país continental mais próximo das Américas.
Nós somos o país que faz fronteira com África.
Nós somos o país que tem a segunda cidade mais importante no Centro da Europa – Paris.
Nós temos o colosso que é o Brasil e que há pouco ouvimos a nossa querida amiga falar.
Isto é, também, Maria Archer. Mas é mesmo.
Estava a dizer que só uma conceção universalista do que somos pode levar a uma mulher destas. É verdade.
Estava a pensar em personalidades da nossa história, como o padre António Vieira, cujo avô preto era brasileiro. Muitas vezes nós desconhecemos isso. Sim, o padre António Vieira. O avô era preto e era brasileiro.
Isto é algo que só nós conseguimos fazer. Transportar realmente esta miscigenação não é uma coisa abstrata, é uma coisa real.
E Maria Archer falou, também, daquilo que é a minha terra. Eu tenho uma dupla pertença. Não. Eu tenho uma tripla pertença. Sou angolano. Nasci lá. Ninguém renega a mãe. Não o posso renegar. Sou simultaneamente português, europeu e lusófono. E é este mundo que nós temos hoje aqui, também, nesta homenagem.
Estou muito grato à Manuela Aguiar por ter trazido esta iniciativa até este Teatro – o Teatro da Trindade. Um teatro com uma tradição cultural fantástica. Um teatro com peças que são também exemplo de cultura.
Muito obrigado pelo facto de terem preferido o Teatro da Trindade para levar a efeito esta homenagem que me é tão cara por esta relação lusófona.
Muito obrigado.

Vítor Manuel Ramalho


Lisboa, 29 de Março de 2012

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