quarta-feira, 2 de maio de 2012

A ATRIBUIÇÃO DO NOME DE MARIA LAMAS A UMA ESCOLA DO PORTO

Fina d’Armada Quando eclodiu a revolução dos cravos, em 1974, a gente quis voar como pássaros a quem libertam da gaiola. Tínhamos fome de mudança. Eu trabalhava como professora numa escola feminina do Porto que não tinha edifício nem nome. Era uma secção da escola preparatória Gomes Teixeira, com sede na Praça da Galiza, mas funcionava no edifício da escola “secundária” Clara de Resende, em frente ao estádio do Bessa. Com a revolução e a vontade de construir um mundo novo, os diretores das escolas foram substituídos por comissões de gestão eleitas. Ora, eu fui uma das eleitas. E um dos nossos objetivos foi lutarmos por uma escola independente. Para isso, precisávamos de arranjar um patrono. Como a escola era feminina, propuseram-se nomes de mulheres. Surgiram dois fortes – Guilhermina Suggia, uma violoncelista de renome mundial, e Maria Lamas, talvez sugerida por mim. A primeira estava dentro dos parâmetros da lei – era do Porto e falecida. A segunda não se enquadrava. Era de Torres Novas e ainda viva. Contudo, Maria Lamas tinha estado exilada em França e chegou com a revolução tal como Álvaro Cunhal e Mário Soares. Ao tempo, se Mário Soares era o pai da Democracia, Maria Lamas era vista como a mãe dessa era nova. Em reunião de assembleia de escola, ganhou Maria Lamas. E como era o tempo de “o povo é quem mais ordena”… A comissão de gestão travou uma luta árdua. Recordo que fomos duas vezes a Lisboa, à Direcção do Ensino Básico. Acho que o diretor era Rogério Fernandes. E fomos também várias vezes (eu recordo ter ido só uma vez, mas outros membros da comissão, éramos cinco, foram mais vezes) falar com o presidente da Câmara do Porto, que era o famoso Carlos Cal Brandão. A criação da escola preparatória Maria Lamas veio no “Diário de Governo”, a 1 de Abril de 1975. Eu escrevi um artigo no “Jornal de Notícias”, noticiando a nova escola com uma breve biografia de Maria Lamas, em 11 de Outubro de 1975. E foi a nossa insistência, as nossas idas a Lisboa, a revolução que tudo alterava, com a ajuda do presidente da Câmara do Porto e o diretor do Ensino Básico, que conseguimos atribuir a uma escola um nome “fora da lei”. Maria Lamas soube desde o início dessa homenagem, nós telefonámos-lhe. A título de curiosidade, o nome “Maria Lamas” foi atribuído, pelo menos, a 16 ruas do País.

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