quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Drª LÚCIA BANDEIRA - painel "memória"

3 de Junho de 1973. Laura, como tantos outros portugueses e portuguesas, passou a fronteira, rumo a França. Levou os seus cinco filhos para os quais ela e o marido haviam planeado um futuro diferente daquele que Portugal lhes oferecia. A família integrou-se no seio da nova comunidade. Os filhos foram sempre motivados para o estudo; o pai trabalhava de noite e de dia, e Laura organizava a economia familiar. A convivência com a restante comunidade era reduzida; Laura nunca aprendera a falar francês, mas o percurso dos filhos na escola dava-lhe alento. A informação da revolução dos cravos chegara pela televisão a preto e branco. O casal suspirou de alívio: a guerra colonial acabaria; os filhos de Portugal voltariam para suas mães.
O deles tinha escapado e teria sido essa a razão da partida do casal com os filhos: evitar que ofilho fosse para a guerra.

Esta família, como tantas outras, constou de números para fins estatísticos sobre emigração. No entanto, cada português da diáspora apresenta vivências que os inquéritos e estudos não revelam; dramas e alegrias que a história ainda não registou porque as vozes não foram ainda ouvidas. Os filhos dos que ousaram partir têm agora consciência da proeza que foi a partida. De facto, eles foram tão longe e puderam dar aos filhos a visão de outro mundo; talvez a visão da fronteira entre a ignorância e o saber; entre a coragem e a inércia. Foi necessário partir para estar mais perto.

Laura é um caso entre casos.

Palavras-chave: partida, adaptação, comunidade, saber, estudo, educação, liberdade, regresso.

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