sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ABERTURA Maria Manuela Aguiar

ABERTURA DO ENCONTRO

Maria Manuela Aguiar

Obrigada por terem, todos, respondido à convocatória para este Encontro em Espinho, que é, afinal, um reencontro, a dar continuidade e a projectar numa dimensão futura os "Encontros para a cidadania - A Igualdade entre mulheres e homens, que, de 2005 a 2009 se organizaram nas comunidades portuguesas da América do Sul, da Europa, da América do Norte e da África do Sul

.Um agradecimento muito especial é devido:

À Dr-ª Maria Barroso, Presidente de Honra dos Encontros, que connosco percorreu o mundo da Diáspora Portuguesa, levando -lhe a força das suas palavras inspiradas e mobilizadoras e, também, do seu exemplo de vida.

Ao Presidente da Câmara de Espinho, Senhor José Mota, que, desde a primeira hora, nos encorajou e influenciou, decisivamente, a seguir em frente, com a sua solidariedade e apoio muito concreto. Fê-lo como alguém que é amigo e aliado, porque conhece e compreende a importância das migrações para esta cidade, para esta região e para o País, globalmente.

Ao Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. António Braga, a quem se fica a dever a própria ideia de realizar conferências e seminários, em diferentes continentes, para fazer um ponto de situação, no que respeita à questão de Género, antes desta reunião internacional de encerramento que, à semelhança das antecedentes, assumimos como uma iniciativa conjunta do Governo e de ONG's. Espera-se que, no olhar pela diversidade das realidades da emigração, em várias regiões e continentes, o método comparatista sirva, sobretudo, para promover um nivelamento pelo alto, através do efeito de atracção do paradigma superior.

Às representantes do Encontros para a cidadania, D.Maria Violante Martins, da Argentina, D. Claudia Ferreira, do Brasil, Dr.ª Maria Amélia Paiva, Cônsul-Geral de Portugal em Toronto, Dr.ª Manuela Baptita Rosa, da Àfrica do Sul e Profª Doutora Deolinda Adão, dos EUA. Vieram de longe para nos falar das suas comunidades, das vivências e perspectivas de evolução, nesta longa caminhada das mulheres no sentido da igualdade de intervenção cívica.

E, do mesmo modo, estamos gratos a todos quantos aceitaram ser parte nos debates que estão prestes a começar, trazendo-nos o resultado de reflexão e de estudo em universidades e centros de investigação, ou os seus saberes de experiência feitos, na militância de movimentos cívicos e associativos, assim como a sua vontade de construir uma sociedade mais tolerante e aberta à diferença, à alteridade, seja dos portugueses do estrangeiro, seja dos estrangeiros em Portugal.

NENHUMA PESSOA É ESTRANGEIRA NUMA SOCIEDADE QUE VIVE OS DIREITOS HUMANOS

Com este lema a Associação Mulher Migrante se apresentou há 15 anos, e com ele tem desenvolvido as suas actividades, numa trajectória de constante militância cívica. Igualdade e cidadania para os estrangeiros, para as mulheres, estiveram sempre e permanecem no centro das nossas preocupações. Olhamos as mulheres como cidadãs, face aos Países, de origem e de destino, no quadro singular de uma vivência repartida entre o país de origem e o de integração. Um vivência relativamente pouco conhecida, porque lhe não tem sido dada visibilidade suficiente, porque tem sido menos estudada... Bem vistas as coisas, as omissões que podem apontar-se, nesta área, constituem mais uma forma larvada de discriminação de "género". É nosso propósito combate-la no presente, erradica-la no futuro.

À reflexão e acção, neste domínio, convocamos não apenas as mulheres, porque entendemos que a atitude, por demais comum, de pôr as pôr a debater, entre si, questões ditas "femininas" pode marginalizar uma causa que é central, reduzindo o seu impacte e capacidade de desencadear transformações... Queremos mulheres e homens a pensar, em conjunto, coisas que dizem respeito a todos, à sociedade , ao País - como é o caso das migrações, que envolveram, sempre, ainda que em proporções variáveis, ambos os sexos, e que, ao longo dos tempos, fizeram e refizeram Portugal em outros espaços geográficos, assim como - o que é ainda menos reconhecido... - dentro do nosso próprio interior. Acreditamos que a mudança dentro de Portugal, tal como a sobrevivência e expansão das comunidades do exterior dependerá da inclusão de grupos tradicionalmente excluidos da tomada de decisão, do primeiro plano, do dirigismo : as mulheres e os mais jovens. Neste sentido alguns progressos se registam, já...

É o que indicia a história dos sucessivos congressos mundiais de Portuguesas da Diáspora, ao longo das últimas três décadas, bem como as conclusões de inúmeros seminários, colóquios, reuniões e trabalhos de investigação, a revelar o seu percurso gradualmente ascensional - não muito espectacular, talvez, mas consistente.

O Encontro Mundial, em 1985, em Viana do Castelo ( o primeiro que terá organizado, na Europa, o governo de um pais de emigração para a diáspora feminina...) dá-nos a imagem de mulheres conscientes do valor do seu papel, tanto quanto da falta de reconhecimento geral da sua verdadeira força matricial, nas comunidades. Década a década, no de 1995, em Espinho (organizado por uma ONG, acabada de nascer...) e, desde 2005, nos Encontros para a Cidadania ( uma parceria Estado/ONG's) vemos crescer os níveis de auto-confiança das mulheres, tanto como os níveis de partilha de responsabilidades e decisões, das emigrantes e dos emigrantes nos vários sectores da vida familiar e profissional, incluindo, mais lentalmente, em regra, no associatiativismo, nas instituições das comunidades.

Podemos falar de uma caminhada em frente, sem retrocessos, na prossecução de um projecto português cívico, humanista e feminista. Feminista, sim! Não tenhamos medo das palavras: o feminismo, que pomos em prática, é o humanismo no feminino.

Animadas destes espíritos, duas Portuguesa das Américas, Natália Dutra, da Califórnia, e Maria Alice Ribeiro, de Toronto lançaram, em 1994, a ideia da organização de um 1º Encontro de Mulheres, jornalistas e dirigentes associativas, de âmbito mundial, que a Secretaria de Estado da Emigração veio a concretizar, pontamente. Merecem ser lembradas aqui e agora.

Aqui, em Espinho, terra jovem, nascida, apenas, em fins e oitocentos, de um encontro de gente do mar (uma pequena colónia piscatória) e de gente de fora, os primeiros raros visitantes, que gostaram desta terra e deste mar. Alguns vieram passar o verão e acabaram por ficar para sempre. Em linguagem usada no domínio das migrações: Chegaram como "´sazonais", reconverteram o projecto de vida, ficaram e integraram-se, definitivamente!

Espinho, Cidade de convívio, Cidade-tertúlia, comunidade rica em instituições, num associativimo polivalente e dinâmio, como o da Diáspora. Cidade aberta, onde ninguém se sente estranho ou estrangeiro. Lugar ideal para acolher os congressos sobre emigração e cidadania. Foi a nossa escolha em 1995 e agora, de novo. Não queremos que seja última vez: haveremos de voltar!

Agustina Bessa Luís, uma das presenças inesquecíveis do mítico Encontro de Viana, perguntava: "Como se termina uma reunião feliz?" E respondia:"Não terminando!" É assim mesmo: com este "Encontro" se encerra um ciclo de trabalhos, mas não esgota o sonho e o projecto que nos move.

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